“Quanto é que me paga para responder a essa pergunta?”: Carlos Queiroz foi questionado sobre a opressão às mulheres no Irão
As manifestações a favor da liberdade das mulheres, que não é uma realidade no Irão, marcaram os últimos tempos no país. O futebol não ignorou o que estava a acontecer e a seleção, este mês, recusou cantar o hino da nação durante um jogo. Carlos Queiroz, selecionador do Irão, concorda que os jogadores se podem exprimir através da modalidade, mas nada mais falou sobre o tema
Quando o tema são os direitos humanos, o Catar é um dos países mais polémicos do Mundial de 2022, mas não é o único. O Irão também chega ao torneio num momento em que lida com uma série de protestos nas ruas em defesa da liberdade das mulheres.
Nos últimos meses, o governo do país impôs penas de morte a cidadãos por participarem nas manifestações. Estima-se que cerca de 14 mil pessoas tenham sido presas pelas forças de segurança e que outras 320 tenham morrido em resultado das ações da polícia sobre as multidões. E quando tudo isto foi discutido no parlamento iraniano, prevaleceu o voto a favor do recurso à pena de morte para aqueles que protestam a favor dos direitos das mulheres, entre outras questões.
Esta onda de manifestações teve início depois da morte, num hospital, de Mahsa Amini, de 22 anos, a 16 de setembro, após ser detida por não usar corretamente o hijab em Teerão, capital do país.
Se a morte dos trabalhadores migrantes, as condições de trabalho a que foram sujeitos e a ausência de direitos humanos no Catar têm sido tema de destaque um pouco por todo o mundo, seria de esperar que também este tema fosse abordado. Em entrevistas recentes, o português Carlos Queiroz, treinador da seleção iraniana, optou por não discutir o assunto, mas os seus jogadores recusaram-se a cantar o hino nacional num amigável este mês, em solidariedade com os manifestantes. Com o Mundial cada vez mais perto, o tema voltou a ser abordado.
Conta o “Daily Telegraph” que o treinador foi questionado, numa conferência de imprensa, sobre trabalhar para uma nação que oprime as mulheres, ao que respondeu: “Quanto é que me paga para responder a essa pergunta? Quanto é que me paga? Fale com o seu chefe e dê-me a sua resposta. Não ponha na minha boca palavras que eu não disse. Estou a perguntar quanto dinheiro para responder”.
Ainda falando diretamente para o jornalista em questão, sugeriu-lhe pensar no que aconteceu no Reino Unido “com a imigração”.
O português fechou a porta a esta resposta, mas deixou-a bem aberta quando se trata de permitir que os seus jogadores continuem a protestar contra o que está a acontecer. “O Irão é exatamente como o seu país. Segue o espírito do jogo e as leis da FIFA. É assim que se exprime no futebol. Faz parte da forma como se exprime no futebol. Todos têm o direito de se exprimirem. Vocês ajoelham-se nos jogos. Algumas pessoas concordam, outras não concordam, e o Irão é exatamente o mesmo”, disse Carlos Queiroz.
Outra questão que não faltou na conferência de imprensa foi a recente entrevista de Cristiano Ronaldo. E o selecionador do Irão, que já foi treinador do jogador na seleção portuguesa, recusou-se a responder. Em 2010, coincidiram na equipa de Portugal que perdeu nos oitavos-de-final do Mundial da África do Sul.
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