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DIAS CONTADOS
Portugal é uma loucura
por ALBERTO GONÇALVESOntem
O Dr. Costa lembrou que foi através do "investimento" público que os EUA chegaram à lua. O PS já lá vive há imenso tempo. Descontadas ocasionais incursões pela realidade, o princípio das recentes sugestões para a economia é o de sempre: se o dinheiro é escasso, gasta-se mais. Dito assim, parece absurdo. Na prática, é mesmo absurdo, não só que alguém se lembre de elevar tamanho disparate a um programa político como, sobretudo, que alguém leve o disparate a sério.
Nisto, o PS não está sozinho - embora o pormenor de se autointitular o "partido do rigor" o torne um caso particularmente grave. Os restantes partidos também não. O ar que se respira no país é propício a alucinações, e o nonsense é língua franca. Há dias, vi na televisão um artista de variedades (que não vale a pena nomear: o discurso em voga varia pouco) atacar a Sra. Merkel sob o pretexto de que Portugal tem "uma história de séculos" e o português é falado nos "quatro cantos do mundo". Aliás, a prova de que as coisas não andam bem é que o filho do tal artista de variedades ("um músico talentosíssimo", na apreciação do pai) não arranja contratos com as autarquias. Um escândalo, de facto. No dia seguinte, um conhecido académico pedia que seguíssemos o exemplo da Grécia, cuja população sufragou a recusa de cedências à Alemanha e à "Europa". Pelo meio, PCP e BE arrastaram 17 infelizes para protestar contra um acordo de comércio entre os EUA e a UE.
Em suma, a austeridade é um tique evitável. O progresso e a felicidade exigem que o Estado semeie verbas avultadas em seu redor. O fornecimento das verbas é uma obrigação dos contribuintes alemães. Se os alemães rezingam, damos-lhes com o Viriato e Aljubarrota na cabeça. Se continuam a implicar com ninharias, recorremos a citações de Camões e de Pessoa, repletas de referências à saudade e ao mar salgado. Se, incrivelmente, nem isto resultar, desatamos a apelar aos formalismos: nós, que somos soberanos, exigimos viver à custa de estrangeiros hostis, que têm é de calar-se e patrocinar-nos o orgulho. Negócios, apenas com os estrangeiros amigos e falidos, tipo Venezuela.
Enormidades do género produzem-se a todas horas de todos os dias. E quase ninguém estranha nada, quase ninguém contraria a demência que se instalou por cá. Provavelmente, porque até os que armazenam um vestígio de bom senso percebem que quando se chega a este ponto é escusado esperar melhoras. Na falta de remédio, Portugal resiste graças a paliativos. Os paliativos não eliminam lunáticos.
Quinta-feira, 23 de Abril
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ANTÓNIO FONSECA