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segunda-feira, 4 de maio de 2015

OBSERVADOR - MACROSCÓPIO - 4 DE MAIO DE 2015

Macroscópio – O fim-de-semana de Mário Centeno‏

Macroscópio – O fim-de-semana de Mário Centeno

Para: antoniofonseca40@sapo.pt



Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!

 
Mário Centeno, coordenador do grupo de académicos a quem o PS pediu que elaborassem cenários macroeconómicos capazes de enquadrarem o seu futuro programa eleitoral – um documento ambiciosamente intitulado “Uma década para Portugal” – desdobrou-se em entrevistas. Falou ao Expresso, à TSF e Dinheiro Vivo (suplemento de Economia do DN e do JN) e ao Jornal de Negócios. Vale a pena referi-las pois ajudam a perceber as prioridades e as principais preocupações daquele quadro s uperior do Banco de Portugal.
 
Eis uma breve revisita a essas entrevistas:
  • O Jornal de Negócios, onde saiu talvez a mais longa e completa das conversas, escolheu para título "Só há duas saídas: criar emprego ou cortar pensões". Nesse jornal a entrevista desdobra-se em mais quatro textos: Constitucional deverá aceitar cortes salariais no Estado em 2016"Não somos o país do escape: trabalhadores e empresas são sérios";"Queremos discutir as medidas que põem o país a crescer" e"Mexidas nas taxas contributivas criam cerca de 45 mil postos de trabalho". Eis a passagem que sustenta o título principal: “Do ponto de vista teórico e conceptual, estou de acordo que devemos, na medida do possível, financiar o que são benefícios que oneram a relação laboral junto da relação laboral, para que haja uma relação económica directa entre o benefício e o seu custo. Mas estamos postos perante desafios. O sistema perdeu oito mil milhões de euros nos últimos anos, deixou de ser auto-sustentável. Para que consiga ter o sistema de novo num t rajecto de sustentabilidade, só tem duas hipóteses: ou cresce o emprego ou corta as pensões.”
  • O Expresso editou a mais sintética das três entrevistas, com o título “Qualquer semelhança com a TSU de 2012 é mera coincidência” (link só para assinantes). Um dos temas abordados são as razões por que não se fala de aumento do salário mínimo nas propostas quando essa foi, até há poucas semanas, uma das bandeiras de António Costa. Eis parte da resposta: “Sobre o SMN, ninguém bom do juízo deverá pôr em causa a sua existência. As suas atualizações são outra história: quando são feitas de forma cautelosa e acompa nhando os ganhos de produtividade tem um impacto muito pequeno. Se falarmos em aumentos além da produtividade, obviamente que vai ter um impacto.” (A fotografia deste Macroscópio é a que ilustra essa entrevista, da autoria de António Pedro Ferreira.)
  • Já a escolha do Dinheiro Vivo para título foi Redução da TSU dos trabalhadores é como um empréstimoPequeno extracto, em que admitem os limites do exercício do grupo de especialistas: “Na verdade, as nossas medidas também não são milagrosas. As medidas que temos são muitas, é muito difícil fazer crescer um PIB de um país com medidas de política pública. É muito difícil, não é um e xercício trivial, mas se não se tentar nada, se não se propuserem alteração aos incentivos... Todas as medidas que aqui estão, ou praticamente todas, apontam para a alteração dos incentivos que na economia se dá aos agentes.”
 
Recordo que outro dos membros do grupo de trabalho, Manuel Caldeira Cabral, já apresentara no Observador, em texto de opinião, algumas das conclusões da equipa: Um crescimento urgente. Um crescimento diferente. Dele se destacava a seguinte ideia: “Este não é um documento sagrado, com verdades incontestáveis. Apresenta escolhas e desenha uma alternativa. É hoje um documento aberto ao escrutínio e a discussão. É isso que aqui estamos a fazer.”
 
Entretanto o debate tem prosseguido aqui no Observador, e de entre os textos que foram sendo publicados destaco a visão heterodoxa de Rui Ramos: Esqueçam os programas do Governo e do PS, porque a escolha é outra. O seu ponto é que a escolha que se colocará aos eleitores não será tanto a de saber se o crescimento vem mais do lado das empresas ou mais do lado do Estado, será antes saber como vamos conseguir continuar no euro. Ou seja, “é decidir qual a combinação parlamentar e qual o Presidente da República mais adequados para levar o país a cumprir os compromissos internacionais de que dependem a estabilidade monetária e, por essa via, a defesa das poupanças, pensões= C subsídios e salários contra a inflação devastadora de um novo Escudo.”
 
Mas deixo agora os temas domésticos para regressar a alguns dos grandes assuntos das últimas semanas.
 
Aqui vou começar por revisitar Piketty, que teve direito a uma edição inteira do Macroscópio a semana passada, a propósito da sua passagem por Lisboa e pala Gulbenkian. Faço-o para chamar a atenção para um texto do economista peruano Hernando de Soto, um intelectual escolhido este ano pelo diário financeiro alemão Handelsblatt como um dos mais influentes do mundo. Foi publicado domingo no El Pais - "Los pobres frente a Piketty". Desta vez não estamos perante a descoberta de erros nas contas do economista francês ou de um ataque às suas preocupações com a igualdade, mas de uma crítica porventura mais poderosa porque contesta a forma como foram recolhidos, tratados e analisados os dados recolhidos fora do mundo desenvolvido. De Soto considera que a análise de Piketty é “eurocêntrica” e que, olhando a partir daí, se percebe que o problema não está no capital, mas na falta de capital. Nota mesmo: “para la mayoría de nosotros que no pertenecemos al mundo occidental y, por lo tanto, no estamos sometidos a las categorizaciones europeas, el capital y el trabajo no son enemigos naturales, sino más bien facetas que se entretejen para formar un todo.” Um texto que recomendo vivamente e que merece ser lido com atenção.
 
A seguir volto à inevitável Grécia. Desta vez para notar que aum enta o número dos que defendem a sua eventual saída da zona euro. Pelo menos foi esse o cenário que Gideon Rachman tratou hoje de forma absolutamente frontal, no Financial Times, emGrexit may be the best end for a bad marriage. Eis dois dos seus argumentos: 1. “For Greece, leaving the euro would open up new economic and political possibilities. It would allow the country to default on some of its gigantic debts (or further restructure them, if you want to be polite about it). It would also enable Greece to devalue its currency and escape the fixed-exchange rate system that has helped to devastate Greek competitiveness.”; 2. “The effects of a Grexit could also be helpful for the rest of the eurozone. Successive bailouts for Greece have created cynicism and anger across the eurozone and fed the rise of Eurosceptic parties. A Grexit would re-establish the idea that the rules of the eurozone really do mean something. It could also encourage countries such as Italy and France to press ahead with some of the structural reforms that Greece failed to make.”
 
Complicado? O Wall Street Journal já começa a tentar explicar o que poderá acontecer: What Would Happen if Greece Defaulted?É um processo mais complicado do que parece, como verão.
 
Para terminar, duas pequenas diversões, ambas relacionadas com a Citroen, Ou, para ser mais exacto, com modelos clássicos da marca do “double chevron”, dois modelos que correspondem a preferências pessoais da minha adolescência e que não escondo. Primeiro para vos dize r que Dan Neil, do Wall Street Journal, escreveu uma convincente crónica em defesa desta ideia - The Citroën DS 19: Why It’s the Ultimate Classic Car. Isso mesmo, o eterno “boca de sapo”, o modelo que que também já foi considerado pelos melhores designers do sector como sendo “The Most Beautiful Car of All Time.” Ou seja, como escreve o cronista do diário de Nova Iorque, “Add all that up: technically unsurpassed, completely inimitable, great back story, most beautiful of all time. I’ve only got one wish, remember?” 

Mas se o DS foi um triunfo inesquecível, já um modelo ainda mais vangua rdista e elitista que a marca lançou no início da década de 1970, o SM, equipado com motor Maserati, foi um flop total. Mesmo assim Bill Wyman, um dos músicos que integrou os Roling Stones no início da banda, tem um na sua garagem e vai pô-lo à venda. A história está toda no Guardian - From the garage of a Rolling Stone, a trip into Wyman's world of rock-star wheels – e, para os interessados, a coisa deverá ficar por 35 a 40 mil libras. Uma pechincha, portanto, sem esquecer que é um modelo que exige andar com uma bomba de gasolina às costas.
 
E por hoje é tudo. Despeço-me com votos de bom descanso e boas leituras.
 
 
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ANTÓNIO FONSECA


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