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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

OBSERVADOR - MACROSCÓPIO - 17-12-14

Macroscópio – A terça-feira negra do rublo e de Vladimir Putin‏

Macroscópio – A terça-feira negra do rublo e de Vladimir Putin

Observador (newsletters@observador.pt)
 
 
17-12-2014
 
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Para: antoniofonseca1940@hotmail.com
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Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!

 
 
Falámos aqui segunda-feira da queda do preço do petróleo e referimos que essa evolução estava a criar grandes dificuldades económicas para alguns dos países que dependem fortemente da produção e exportação de hidrocarbonetos. Passadas apenas algumas horas, a Rússia, um desses países, conhecia a sua “terça-feira negra” com uma queda a pique do rublo apesar dos esforços do seu banco central. Num primeiro balanço feito ainda na terça-feira, notámos aqui no Observador que desde 1998 que o rublo não caía assimJá hoje desenvolvemos, numa análise mais detalhada, essa ideia de que as dificuldades vividas pelas autoridades de Moscovo lembravam as dificuldades sentidas nesse ano de 1998. Nesse texto recordam-se os contornos dessa crise que marcou o começo do fim da era de Boris Ieltsin, que no ano seguinte, 1999, chamaria precisamente Vladimir Putin para seu primeiro-ministro, abrindo-lhe assim o caminho da Presidência da Rússia, que ocuparia logo em 2000.
 
Numa outra análise também mais longa, ainda aqui no Observador, destaque para o texto Xeque-mate a Putin?, cujo ponto de partida é o seguinte: “O ano de 2014 começou com o mundo a questionar-se até onde é que Vladimir Putin iria avançar. O mesmo ano termina com todos a questionarem-se até onde a Rússia pode cair.”
 
João Carlos Barradas, numa análise que publicou hoje no Jornal de Negócios – O rublo de Elvira –, também parte de uma comparação com o que se passou em 1998 para sublinhar as dificuldades que Putin e a governadora do banco central, Elvira Nabiullina, sentem para enfrentarem a derrocada. Porém, como nota, “quando em Moscovo se admite que a saída de capital possa ser equivalente este ano a 6% do PIB a Rússia nada pode esperar de bom.”
 
Hoje a evolução dos acontecimentos não foi famosa. Apesar de a acção das autoridades ter permitido estancar a queda do rublo, a verdade é que o banco central da Rússia admitiu que a situação era crítica e a desvalorização da moeda está a levar a uma corrida às lojas .
 
Mas vejamos melhor o que se passou, com a ajuda de algumas análises da imprensa internacional. O El Mundo preparou uma pequena secção de perguntas e respostas, ¿Por qué se hunde el rublo?, mas talvez o texto mais instrutivo e revelador seja um que encontrei no Financial Times, The roots of Russia’s Black Tuesday: the devil in the data. Com a ajuda de cinco gráficos, o FT trata cinco problemas diferentes: 1) The rates rise that did not stop the rout; 2) It’s the oil price, stupid; 3) Trouble ahead for inflation . . .; 4) . . . and for the economy; 5) What next for the central bank? Vale a pena consultar.
 
Num outro texto, mais opinativo, no mesmo Financial Times defendia-se a ideia de que Russia is heading into an economic storm with no captain. Nessa análise Sergei Guriev, “a former rector of the New Economic School in Moscow, is professor of economics at Sciences Po in Paris”, traça um cenário muito pessimista:
There are only two remaining certainties. First, unless sanctions are lifted and the oil price rebounds, the Russian economy will grow much worse in 2015. Second, we can predict that Moscow’s response — in both economic and foreign policy — will be unpredictable.
Ora, como sabemos, nem é previsível que as sanções sejam levantadas, antes podem ser agravadas, nem parece possível que o preço do petróleo regresse em breve aos níveis de há apenas um ano.
 
Numa peça cujo tom podemos considerar semelhante, o Wall Street Journal também salientava que Russia’s Economic Pain Is Just Beginning, Bank Group Warns. Ao discutir as hipóteses que se colocam às autoridades russas para inverter a actual crise, nesse artigo defende-se a ideia de que a Rússia terá de alterar a sua política face à Ucrânia:
And President Vladimir Putin could change the Kremlin’s Ukraine strategy to relieve sanctions pressure. If the Kremlin were to agree to stop backing separatists in Ukraine, help negotiate a peace agreement that includes a workable governance deal for the Eastern regions and agree on a financing package for Ukraine, the West might be willing to lift their sanctions against Russia. (Ukraine’s economy is also on the verge of collapse.)
 
Este foi precisamente o tema da mais recente crónica de José Milhazes aqui para o Observador, Que a história se repita. É uma opinião onde se parte do que escreveu o primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev no Nezavissimaia Gazeta para notar que “as intenções do Kremlin em relação à Ucrânia continuam a ser claríssimas: criar o máximo das dificuldades aos dirigentes de Kiev para que a situação económica, social e política se degrade ao ponto de serem os próprios ucranianos a, como gostam de dizer os ‘patriotas’ russos, ‘virem de joelhos pedir misericórdia e ajuda’”. Ou seja, não é previsível que, mesmo confrontadas com um desastre económico, os dirigentes russos alterem a sua política.
 
É por isso importante perceber as opções de fundo das autoridades de Moscovo, tentar entender as suas motivações. Há alguns textos cuja leitura nos pode ajudar a compor o quadro geral. Começo por um do Guardian, com uma componente mais económica: Russia has just lost the economic war with the west. Aí se defende a ideia de que nessa guerra houve uma concertação para fazer descer o preço do petróleo, uma tese que não é consensual, como vimos na segunda-feira. Pequeno extracto: “The west knows all about the vulnerability of Russia’s economy, its creaking factories and its over-reliance on the energy sector. When the introduction of sanctions over Russia’s support for the separatists in Ukraine failed to bring Vladimir Putin to heel, the US and Saudi Arabia decided to hurt Russia by driving down oil prices.”
 
Mais global e com uma perspectiva histórica mais profunda é a análise de Anne Applebaum, uma das maiores especialistas na história da região, editada pela Spectator: Putin's great gamble is about to backfire. Eis como procura enquadrar as opções de Moscovo naquilo que são as referências do seus líderes (extracto):
Once upon a time, the citizens of the Soviet Union really were willing to put up with terrible hardship in the name of defending their country. At the beginning of this crisis, some Russians sounded as if this were 1941, when Hitler invaded the USSR and the nation rallied round Stalin. The Ukrainians were said to be Nazis; Nato was said to be encircling. The head of a state polling agency told the Wall Street Journal, ‘If the West doesn’t like us, that means we’re on the right track.’ (…) Still, this is 2014, not 1941, and if nothing else, the past decade of high oil prices gave many Russians a standard of living that their Soviet parents and grandparents could never have imagined. 
 
Walter Laqueur, historiador de origem polaca, tem também um texto importante na Standpoint, Putin and the Art of Political Fantasy. É um ensaio onde se explora a tendência dos dirigentes russos para construírem fantasias e efabulações. Depois de evocar precedentes históricos como o caso dos Protocolos dos Sábios do Sião ou as alegadas conspirações que serviram de suporte às purgas estalinistas, o autor escreve:
In any case, there is a striking similarity between clinical and political confabulation: the deep conviction of the confabulators that they are speaking the truth, the elimination of doubt where doubt is called for. It is, to repeat, by no means a specific Russian phenomenon. But it has become particularly widespread in Russia, where it has been embraced not just by the more gullible and less educated section of society but by sections of the intelligentsia, trained not to engage in blind belief but to use a critical approach. 
 
Portugal não é a Rússia, mas não deixam de existir entre nós cronistas com uma razoável capacidade de efabulação. É importante por isso conhecer um texto como o mais recente de Boaventura Sousa Santos na Visão, A III Guerra Mundial. Deixo-vos apenas o arranque dessa crónica:
Tudo leva a crer que está em preparação a III Guerra Mundial. É uma guerra provocada unilateralmente pelos EUA com a cumplicidade ativa da UE. O seu alvo principal é a Rússia e, indiretamente, a China. O pretexto é a Ucrânia. (…) A escalada da provocação da Rússia tem vários componentes que, no conjunto, constituem a segunda guerra fria. Os componentes da provocação ocidental são três: sanções para debilitar a Rússia; instalação de um governo satélite em Kiev; guerra de propaganda. As sanções são conhecidas, sendo a mais insidiosa a redução do preço do petróleo.
 
Na mesma linha se escreve no Avante, o jornal do PCP: “Washington desenterrou o machado da Guerra Fria e tem vindo a manobrar no seio da NATO de forma a silenciar as vozes mais favoráveis a um entendimento com Moscovo.”
 
Ou seja, isto promete.
 
Bom descanso e boas leituras. 

 
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