quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

EUGÉNIO DE ANDRADE - POETA - NASCEU EM 1923 - 19 DE JANEIRO DE 2022

 

Eugénio de Andrade

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Eugénio de Andrade Gold Medal.svg
Eugénio de Andrade, por Bottelho
Nome completoJosé Fontinhas
Pseudónimo(s)Eugénio de Andrade
Nascimento19 de janeiro de 1923
Póvoa de AtalaiaFundãoPortugal
Morte13 de junho de 2005 (82 anos)
PortoPortugal
ResidênciaRua do Passeio Alegre, 584, Porto (última)

Rua Duque de Palmela, 111 - 2º, Porto (anterior)

Nacionalidadeportuguês
Estatura1,75 m
ProgenitoresMãe: Maria dos Anjos Fontinhas (Atalaia do Campo,08-06-1901 – Lisboa, 14-04-1956, cancro do pulmão)
Pai: Alexandre Infante Rato (Póvoa de Atalaia, 21-11-1903 – Lisboa, 11-11-1968)
EducaçãoLiceu Passos Manuel

Escola Técnica Machado de Castro

Ocupaçãopoeta
Outras ocupaçõestradutor e escritor
Profissãofuncionário público (inspector administrativo dos Serviços Médico-Sociais da Caixa de Previdência, 1947-1983)
Início da atividade1940
Fim da atividade2002
Principais trabalhosAs Mãos e os FrutosOs Amantes Sem DinheiroAs Palavras InterditasOstinato Rigore
PrémiosPrémio Seiva de Literatura (1983)

Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários (1985)
Prémio D. Dinis (1987)
Grande Prémio de Poesia APE/CTT (1988)
Grande Prémio Vida Literária APE/CGD (2000)
Gold Medal.svg Prémio Camões 2001
Prémio P.E.N. Clube Português de Poesia (2002)
Medalha de Mérito Cultural (2004)

Género literáriopoesia lírica
Causa da morteparagem cardíaca, após prolongada doença degenerativa neuro-muscular
Página oficial
Relâmpago

Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas GOSE • GCM (FundãoPóvoa de Atalaia19 de janeiro de 1923[1] — Porto13 de junho de 2005) foi um poeta português.

Biografia

O poeta nasceu na freguesia de Póvoa de Atalaia, no Fundão, no dia 19 de janeiro de 1923. Mudou-se para Lisboa aos dez anos devido à separação dos seus pais.

Frequentou o Liceu Passos Manuel e a Escola Técnica Machado de Castro, tendo escrito os seus primeiros poemas em 1936. Em 1938, aos 15 anos, enviou alguns desses poemas a António Botto que, gostando do que leu, o quis conhecer, encorajando-lhe a veia literária.

Em 1943 mudou-se para Coimbra,[2] onde regressa depois de cumprido o serviço militar convivendo com Miguel Torga e Eduardo Lourenço. Tornou-se funcionário público em 1947, exercendo durante 35 anos as funções de Inspector Administrativo do Ministério da Saúde. Uma transferência de serviço levá-lo-ia a instalar-se no Porto em 1950,[3] numa casa que só deixou mais de quatro décadas depois, quando se mudou para o edifício da extinta Fundação Eugénio de Andrade, na Foz do Douro.

Durante os anos que se seguem até à data da sua morte, o poeta fez diversas viagens, foi convidado para participar em vários eventos e travou amizades com muitas personalidades da cultura portuguesa e estrangeira, como Joel SerrãoMiguel TorgaAfonso DuarteCarlos OliveiraEduardo LourençoJoaquim NamoradoSophia de Mello Breyner AndresenAgustina Bessa LuísTeixeira de PascoaesVitorino NemésioJorge de SenaMário Cesariny, José Luís Cano, Ángel CrespoLuis CernudaJaime MontestrelaMarguerite YourcenarHerberto HelderJoaquim Manuel MagalhãesJoão Miguel Fernandes JorgeÓscar Lopes, e muitos outros.[2]

Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da chamada vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com «essa debilidade do coração que é a amizade».

Recebeu inúmeras distinções, entre as quais o Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários (1986), Prémio D. Dinis da Fundação Casa de Mateus (1988), Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1989) e Prémio Camões (2001).[4] A 8 de julho de 1982 foi feito Grande-Oficial da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico[5] e a 4 de Fevereiro de 1989 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito.[6]

Faleceu a 13 de junho de 2005, no Porto, após uma doença neurológica prolongada.[7] Encontra-se sepultado no Cemitério do Prado do Repouso, no Porto. A sua campa é rasa em mármore branco, desenhada pelo arquitecto seu amigo Siza Vieira, possuindo os versos do seu livro As Mãos e os Frutos.[8]

Obra literária

Em 1940, José Fontinhas, contava 17 anos, publicou Narciso (escrito em 1939), poema ao estilo de Botto e homossexualmente explícito, uma estreia que depressa achou embaraçosa.[9]

Em 1942, já sob o pseudónimo de Eugénio de Andrade, publicou Adolescente. A sua consagração acontece mais tarde, em 1948, com a publicação de As mãos e os frutos, que mereceu os aplausos de críticos como Jorge de Sena ou Vitorino Nemésio. A obra poética de Eugénio de Andrade é essencialmente lírica, considerada por José Saramago como uma «poesia do corpo a que chega mediante uma depuração contínua».

Ainda na década de 40 colabora no seminário Mundo Literário[10] (1946-1948).

Entre as dezenas de obras que publicou encontram-se, na poesia, Os amantes sem dinheiro (1950), As palavras interditas (1951), Escrita da Terra (1974), Matéria Solar (1980), Rente ao dizer (1992), Ofício da paciência (1994), O sal da língua (1995) e Os lugares do lume (1998).

Em prosa, publicou Os afluentes do silêncio (1968), Rosto precário (1979) e À sombra da memória (1993), além das histórias infantis História da égua branca (1977) e Aquela nuvem e as outras (1986).

Foi também tradutor de algumas obras, como dos espanhóis Federico García Lorca e Antonio Buero Vallejo, da poetisa grega clássica Safo (Poemas e fragmentos, em 1974), do grego moderno Yannis Ritsos, do francês René Char e do argentino Jorge Luís Borges.

Em Setembro de 2003 a sua obra Os sulcos da sede foi distinguida com o prémio de poesia do Pen Clube Português.

Tem uma biblioteca com o seu nome no Fundão.

Obras

  • Narciso, José Fontinhas. Lisboa: ed. do Autor, 1940.
  • Adolescente. Lisboa: Editorial Império, ed. do Autor, 1942.
  • Pureza. Lisboa: Lisboa: Livraria Francesa, 1945.
  • As māos e os frutos. Lisboa: Portugália,1948.
  • Os amantes sem dinheiro. Lisboa: Centro Bibliográfico, 1950.
  • As palavras interditas. Lisboa: Centro Bibliográfico,1951.
  • Até amanhā. Lisboa: Guimarães, 1956.
  • Coraçāo do dia. Lisboa: Iniciativas, 1958.
  • Mar de setembro. Fora de mercado, tiragem 115 ex., 1961. Lisboa: Guimarães, 1963, 2a ed.
  • Obstinato rigore. Lisboa: Guimarães,1964.
  • Obscuro domínio. Porto: Inova, 1971.
  • Véspera da água. Porto: Inova,1973.
  • Escrita da terra e outros epitáfios. Porto: Inova, 1974.
  • Limiar dos pássaros. Porto: Limiar, 1976.
  • Memória doutro rio. Porto: Limiar, 1978.
  • Matéria solar. Porto: Limiar, 1980.
  • O peso da sombra. Porto: Limiar, 1982.
  • Branco no branco. Porto: Limiar, 1984.
  • Aquela nuvem e outras. Porto: Asa,1986.
  • Contra a obscuridade. In PP-C, Lisboa: Círculo de Leitores, 1987.
  • Vertentes do olhar. Porto: Limiar, 1987.
  • O outro nome da terra. Porto: Limiar, 1988.
  • Rente ao dizer. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 1992.
  • Ofício de paciência. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 1994.
  • O sal da lingua. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 1995.
  • Lugares do lume. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 1998.
  • Os sulcos da sede. Madrid: Calambur-Editora Regional de Extremadura, 2001, texto portugués e Trad. de J. A. Cilleruelo; Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2007, 2a ed.
  • Poesia e prosa (1940-1979), 2 vol., 1980.
  • Poesia e prosa (1940-1980), 1981; 2a ed. e aumentada.
  • Poesia e prosa (1940-1986). Lisboa: Círculo de Leitores, 1987, 3 vol.

Prosa

  • Os afluentes do silêncio. Porto: Inova, 1950
  • História de égua branca. Porto: Asa, 1976. Com ilustrações de Manuela Bacelar.
  • Rosto precário. Porto: Limiar, 1979.
  • À sombra da memória. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 1993.

Traduções do autor

  • Poemas de García Lorca, Coimbra: Coimbra, 1946.
  • Cartas portuguesas (atribuídas a Mariana Alcoforado), Porto: Inova, 1969.
  • Poemas e fragmentos de Safo, Porto: Limiar, 1974.
  • Dez poemas de García Lorca, Porto: Inova, 1978.
  • Dez poemas de Yannis Ritsos, Porto: Inova, 1978.
  • Federico García Lorca, Amor de Dom Perlimplim com Belisa em seu jardim, Lisboa: Delfos, 1986.
  • Trocar da rosa, Lisboa: Regra do Jogo, 1980.
  • Pequeno retábulo de S. Cristóvâo, de F. García Lorca, Porto: O Oiro do Dia, 1980.

Referências

  1.  O assento de nascimento refere a data de "1 de Fevereiro de 1923". Contudo, todas as biografias e a própria página da Fundação Eugénio de Andrade Arquivado em 3 de junho de 2013, no Wayback Machine. indicam a data de 19 de Janeiro de 1923
  2. ↑ Ir para:a b «Eugénio de Andrade». www.citi.pt. Consultado em 1 de julho de 2009
  3.  O escritor Mário Cláudio que durante algum tempo foi seu colega no mesmo serviço, referiu que o ambiente laboral da época era muito desagradável e que o poeta teria sido vítima de prolongada e insidiosa homofobia: «O Eugénio de Andrade falava pouco, defendia-se. Não tinha nada a ver com aquele mundo, aquilo era um ganha-pão e ele preservava-se. Pelo facto de ser homossexual, era um homem que estava sujeito àquilo a que se chama a troça da canalha. A sua homossexualidade era constantemente sublinhada, os tiques imitados, contavam-se graçolas grosseiras e ele tinha consciência disso. Lembro-me de uma vez me ter dito: “Eu, aqui na Caixa de Previdência, tenho de me defender de ser penalizado pelas minhas fragilidades.”», in Teresa Carvalho (5 de novembro de 2019). «Mário Cláudio: "Não quero que as pessoas julguem que eu sou o fogueteiro da festa"». ionline.sapo.pt. Consultado em 18 de setembro de 2021
  4.  «Prêmio Camões de Literatura». Brasil: Fundação Biblioteca Nacional. Cópia arquivada em 16 de Março de 2016
  5.  «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "José Fontinha". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 17 de fevereiro de 2015
  6.  «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Eugénio de Andrade". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 17 de fevereiro de 2015
  7.  «PT»Jornal Público. Consultado em 1 de julho de 2009. Arquivado do original em 26 de dezembro de 2009
  8.  Hey Porto (2 de Março de 2017). «Eugénio de Andrade». Consultado em 28 de Março de 2018
  9.  Anos depois, Laureano Barros, matemático brilhante, proscrito pelo regime salazarista e imenso bibliófilo, insistiu em obter de Eugénio um exemplar da raríssima obra. O poeta, com imensa relutância, ofereceu-lhe a plaqueta, inscrevendo-lhe na última página: «Reli isto, Laureano. Que horror! Para que diabo quer você esta porcaria?».Paulo Pinto (2017). «Laureano Barros, Rigoroso Refúgio». rtp.pt. Consultado em 18 de setembro de 2021
  10.  Helena Roldão (27 de janeiro de 2014). «Ficha histórica: Mundo literário : semanário de crítica e informação literária, científica e artística (1946-1948).» (PDF)Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 3 de Novembro de 2014

Ligações externas

Wikiquote
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Precedido por
Autran Dourado
Prémio Camões
2001
Sucedido por
Maria Velho da Costa

FRANCISCO DE SALES - 19 DE JANEIRO DE 2022

 

Francisco de Sales

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Disambig grey.svg Nota: Para o município brasileiro, veja São Francisco de Sales (Minas Gerais). Para outros significados, veja São Francisco.
Francisco de Sales
Santo da Igreja Católica
Bispo de Genebra
São Francisco de Sales com Santa Joana Francisca de Chantal.

Título

ConfessorDoutor da Igreja
Atividade eclesiástica
OrdemOrdem dos Frades Menores Capuchinhos
DioceseDiocese de Genebra (extinta)
Nomeação15 de julho de 1602
PredecessorDom Claude de GranierO.S.B.
SucessorDom Jean-François de Sales
Mandato1602 - 1622
Ordenação e nomeação
Ordenação presbiteral18 de dezembro de 1593
por Dom Claude de Granier, O.S.B.
Nomeação episcopal15 de julho de 1602
Ordenação episcopal8 de dezembro de 1602
por Dom Vespasien Gribaldi
Lema episcopalNon Excidet
Brasão episcopal
CoA Francis de Sales.svg
Santificação
Beatificação8 de janeiro de 1661
Roma
por Papa Alexandre VII
Canonização8 de abril de 1665
Roma
por Papa Alexandre VII
Veneração porIgreja Católica
Comunhão Anglicana
Principal temploAnnecy, França
Festa litúrgica24 de janeiro
29 de janeiro (vetero-católicos)
AtribuiçõesSagrado Coração de Jesuscoroa de espinhos
PadroeiroImprensa católica; confessores; surdos; educadores; escritores; jornalistas; salesianos
Dados pessoais
NascimentoCastelo de Sales, Ducado de Saboia
21 de agosto de 1567
MorteLyonReino da França
28 de dezembro de 1622 (55 anos)
Nacionalidadefrancês
Funções exercidasBispo-coadjutor de Genebra (1602)
dados em catholic-hierarchy.org
Categoria:Igreja Católica
Categoria:Hierarquia católica
Projeto Catolicismo

Francisco de Sales, em francêsFrançois de Sales (Castelo de Sales, 21 de agosto de 1567 ─ Lyon28 de dezembro de 1622), foi um sacerdote católico saboiano.

Foi bispo de Genebra do século XVII e declarado santo e Doutor da Igreja pela Igreja Católica. Ficou famoso por sua profunda fé e por sua abordagem gentil aos conflitos religiosos que inflamaram sua diocese durante a Reforma Protestante. Escreveu também muitas obras sobre direção e formação espiritual, particularmente a "Introdução à Vida Devota" e ao "Tratado do Amor de Deus".

Vida

Primeiros anos

Francisco de Sales nasceu em 21 de agosto de 1567 no Castelo de Sales na nobre família dos Sales do Ducado de Saboia, território onde hoje está Thorens-Glières, na Alta Saboia, na França. Seu pai era François de Sales, senhor de Boisy, em Sales, e Novel. Sua mãe era Françoise de Sionnaz,[1] filha única de um proeminente magistrado de linhagem nobre. O pai de Francisco queria que ele, o primogênito de seis filhos, estudasse nas melhores escolas para prepará-lo para a magistratura. Por isso, Francisco teve uma educação diferenciada nas cidades vizinhas de La Roche-sur-Foron e Annecy.[1]

Educação e conversão

Em 1583, Francisco entrou para o Collège de Clermont (rebatizado depois Lycée Louis-le-Grand) em Paris, uma instituição jesuíta, para estudar retórica e humanidades. No ano seguinte, esteve presente numa discussão teológica sobre predestinação e se convenceu que estava condenado ao inferno, o que o colocou numa profunda crise de desespero da qual só saiu em dezembro de 1586. Durante este período, ficou tão doente a ponto de passar um tempo na cama sem poder se levantar. No mês seguinte, em janeiro de 1587, com grande dificuldade, Francisco visitou a antiga paróquia de Saint-Étienne-des-Grès, em Paris, onde se ajoelhou em oração perante uma famosa estátua de Nossa Senhora do Livramento (em francêsNotre Dame de Bonne Délivrance), uma "Virgem Negra", consagrou-se à Virgem Maria e decidiu dedicar sua vida a Deus através de um voto de castidade. Em seguida, tornou-se um terceiro da Ordem dos Mínimos.[2]

Em 1588, Sales completou seus estudos em Clermont e matriculou-se na Universidade de Pádua, na Itália, onde estudou direito e teologia. Seu diretor espiritual era Antonio Possevino, um sacerdote da Companhia de Jesus,[1] que o ajudou em sua decisão de também ser ordenado padre.

Volta para o Ducado de Saboia

Em 1592, Sales recebeu seu doutorado em direito e teologia de Guido Panciroli. Depois de peregrinar para Loreto, na Itália, famosa por seu Santuário da Santa Casa, voltou para Saboia e foi contratado como advogado pelo senado de Chambéry. Enquanto isso, seu pai assegurou-lhe várias posições, inclusive um cargo de senador, e também uma rica herdeira de linhagem nobre para ser sua noiva. Porém, Francisco recusou todos os planos, preferindo manter-se fiel ao caminho que havia escolhido. Seu pai inicialmente se recusou a acreditar ou aceitar que Francisco havia escolhido o sacerdócio ao invés de realizar suas próprias ambições através de uma carreira político-militar.[3]

Claude de Granier, que era na época bispo de Genebra, interveio e fez os arranjos para sua ordenação em 1593. Imediatamente, Francisco recebeu a tão esperada nomeação para ser o prepósito do capítulo catedrático de Genebra, a mais alta posição oficial na diocese.

Padre e prepósito

Na nova função, Francisco se envolveu ativamente nas campanhas de evangelização entre os protestantes de Saboia, conseguindo que muitos retornassem à fé católica.[3] Neste período, sobreviveu a diversas tentativas de assassinato.[4] Ele viajou para Roma e Paris para forjar alianças com o papa Clemente VIII e o rei Henrique IV da França. Depois de ser nomeado bispo coadjutor de Genebra, alistou-se na Arquiconfraria da Corda de São Francisco.

Bispo de Genebra

Em 1602, o bispo Granier morreu e Sales foi consagrado em seu lugar, mesmo morando em Annecy (atualmente na França), pois Genebra estava sob controle calvinista e, portanto, inacessível para ele. Sua diocese ficou famosa por toda a Europa por causa de sua organização eficiente, do clero zeloso e dos leigos muito bem educados, todas conquistas monumentais para a época.[5]

Francisco atuou ainda de forma muito próxima da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, que era muito ativa na pregação da fé católica em sua diocese. Eles apreciaram tanto a cooperação que, em 1617, fizeram dele um oficial associado da ordem, a mais alta honraria possível para alguém que não era membro. Diz-se que, em Évian, na margem sul do Lago GenebraSão Francisco de Assis, apareceu para ele e disse: "Desejas o martírio como eu também o quis. Mas, como eu, não o terás. Terás que te tornar um instrumento de teu próprio martírio".[4]

Durante seus anos como bispo, Sales ganhou fama como um pregador que provocava fascínio e também algo asceta. Ele era igualmente conhecido como amigo dos pobres e uma pessoa de afabilidade e compreensão sobrenaturais.

Escritor místico

Estas últimas qualidades transpareceram principalmente nas obras de Francisco, a mais famosa delas a "Introdução à Vida Devota", que - algo raro na época - foi escrita especialmente para os leigos. Nela, ele recomendava a caridade acima da penitência como forma de progressão na vida espiritual. Sales também escreveu uma obra mística, o "Tratado do Amor Divino"[6] e diversas outras valiosas cartas sobre a direção espiritual. Ele era famoso por sua clareza e estilo em francêsitaliano e latim.

Suas obras sobre a perfeição do amor de Maria como modelo de amor a Deus influenciou Jean Eudes a desenvolver a devoção aos Corações de Jesus e Maria.[7]

Fundador

São Francisco de Sales oferecendo seu coração à Virgem Maria com Santa Joana Francisca de Chantal.
Atualmente na Catedral de Saint-Siffrein, em Carpentras, no distrito de VaucluseFrança.

Juntamente com Santa Joana Francisca de Chantal, Sales fundou a Ordem da Visitação de Santa Maria (as monjas "Visitandinas") em Annecy em 6 de junho de 1610. Apesar de sua amizade com Denis-Simon de Marquemont, o arcebispo ainda assim restringiu as liberdades da nova ordem religiosa de Sales em 1616 ao comandar que seus membros vivessem enclausurados.[8]

Francisco de Sales também fundou uma pequena comunidade masculina, o Oratório de São Filipe Néri, em Thonon-les-Bains, com ele próprio como superior ou prepósito. Contudo, esta foi duramente aleijada por sua morte e logo desapareceu.[9]

Morte e veneração

Em dezembro de 1622, Sales teve que viajar com a corte de Carlos Emanuel I, o duque de Saboia, acompanhando o tour de Natal através de seus domínios. Ao chegar em Lyon, Francisco escolheu se hospedar na choupana do jardineiro do mosteiro visitandino da cidade. Ali sofreu um derrame que acabou provocando-lhe a morte em 28 de dezembro de 1622.[6]

Apesar da resistência da população de Lyon, o corpo de Sales foi levado para Annecy, onde foi enterrado no dia 24 de janeiro de 1623 na igreja do Mosteiro da Visitação, que ele havia fundado com Chantal, que também estava enterrada ali. Os restos dos dois eram venerados ali até a Revolução Francesa,[10] quando foram desenterrados e destruídos.

Contudo, o coração de Francisco de Sales permaneceu em Lyon para apaziguar o clamor popular, mas acabou sendo levado para Veneza durante a Revolução Francesa e lá permanece objeto de veneração até hoje.

Francisco foi beatificado em 1661 pelo papa Alexandre VII, que também o canonizou quatro anos depois. Ele foi declarado Doutor da Igreja pelo papa Pio IX em 1877.[11]

Igreja Católica Romana celebra atualmente a festa de São Francisco de Sales em 24 de janeiro, o dia de seu enterro em Annecy em 1624.[12] De 1666, quando sua festa foi incluída no Calendário Geral Romano, até a reforma em 1969, depois do Concílio Vaticano II, ela foi observada no dia 29 de janeiro, uma data que ainda é observada pelos vetero-católicos.

São Francisco de Sales é chamado de "o Santo Cavalheiro" por sua paciência e gentileza.[4]

Patronato

Em 1923, Pio XI o proclamou patrono dos escritores e jornalistas, pois Francisco de Sales fez amplo uso de folhetos e livros para apoiá-lo na direção espiritual e nos seus esforços para converter os calvinistas de sua diocese.[3] São Francisco também desenvolveu uma língua de sinais para conseguir ensinar a doutrina católica aos surdos e, por isso, é também considerado seu patrono.[6]

Tendo sido fundada como o primeiro grupo de freiras não enclausuradas depois da tentativa fracassada de Francisco de Sales com sua Ordem da Visitação, as Irmãs de São José (ordem fundada em Le Puys, França, em 1650) o considera como um de seus patronos.

Legado

No século XIX, a visão de Francisco de Sales sobre as comunidades religiosas passou por um renascimento. Diversas instituições foram fundadas no período, tanto para homens quanto para mulheres que quisessem seguir o caminho espiritual proposto por ele:

São Francisco de Sales é reconhecido como "exemplar" pela Igreja da Inglaterra, na qual sua memoria é observada em 24 de janeiro, e na Igreja do País de Gales, na qual seu memorial foi mudado para 23 de janeiro para não coincidir com o de São Cadoc.

Referências

  1. ↑ Ir para:a b c «CATHOLIC ENCYCLOPEDIA: St. Francis de Sales»www.newadvent.org. Consultado em 29 de dezembro de 2020
  2.  The Third Order of Minims
  3. ↑ Ir para:a b c Foley O.F.M., Leonard. Saint of the Day, Lives, Lessons, and Feast, (revised by Pat McCloskey O.F.M.), Franciscan Media, ISBN 978-0-86716-887-7
  4. ↑ Ir para:a b c «The Franciscan Book Of Saints, edited by Marion Habig, ofm, Franciscan Herald Press, 1959». Consultado em 4 de junho de 2014. Arquivado do original em 15 de maio de 2011
  5. ↑ Ir para:a b «"Oblate History", Oblates of St. Francis De Sales, Wilmington- Philadelphia Province». Consultado em 4 de junho de 2014. Arquivado do original em 28 de setembro de 2013
  6. ↑ Ir para:a b c "Our Heritage", DeSales University
  7.  Murphy, John F. Mary's Immaculate Heart, p. 24, 2007 ISBN 1-4067-3409-8
  8.  Boundaries of Faith: Catholics and Protestants in the Diocese of Geneva by Jill Fehleison (Truman State University Press, 2011)
  9.  Türks, Paul, C.O (1995). Philip Neri:The Fire of Joy. Edinburgh: T&T Clark. pp. 144–145. ISBN 0-567-29303-3
  10.  Diocese of Annency "Salesian Sites" Arquivado em 26 de setembro de 2013, no Wayback Machine.(em francês)
  11.  John J. Crawley. «St. Francis de Sales, Bishop, Doctor of the Church»Lives of SaintsEWTN. Consultado em 14 de janeiro de 2008
  12.  "Calendarium Romanum" (Libreria Editrice Vaticana 1969), p. 115

Bibliografia

Ligações externas

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