Vergílio Ferreira
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Vergílio Ferreira | |
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Nome completo | Vergílio António Ferreira |
Nascimento | 28 de janeiro de 1916 Melo, Gouveia, Portugal |
Morte | 1 de março de 1996 (80 anos) Lisboa, Portugal |
Residência | Fontanelas; Avenida Estados Unidos da América, Lisboa |
Nacionalidade | Portugal |
Cônjuge | Regina Kasprzykowsky (1944 - 1996, 1 filho) |
Ocupação | Escritor e professor |
Prémios | Medalha de Honra de Gouveia (1980)
Prémio D. Dinis (1981)
Prémio Literário Município de Lisboa (1983) Prémio P.E.N. Clube Português de Novelística (1984, 1991) Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários (1984) Grande Prémio de Romance e Novela APE/IPLB (1987) Prémio Jacinto do Prado Coelho (1987) Prémio Femina estrangeiro (1990) Prémio Camões 1992 Prémio Bordalo de Literatura da Casa da Imprensa (1992) Grande Prémio de Romance e Novela APE/IPLB (1993) Prémio P.E.N. Clube Português de Ensaio (1993) |
Magnum opus | Aparição |
Vergílio António Ferreira GOSE (Gouveia, Melo, 28 de janeiro de 1916 — Lisboa, 1 de março de 1996) foi um escritor e professor português. Tem uma biblioteca com o seu nome em Gouveia, bem como uma escola em Carnide, a Escola Secundária de Vergílio Ferreira.
Professor liceal (vejam-se as referências em Manhã Submersa e Aparição), foi como escritor que mais se distinguiu. O seu nome continua actualmente associado à literatura através da atribuição do Prémio Vergílio Ferreira. Em 1992, foi galardoado com o Prémio Camões.[1]
A sua vasta obra, geralmente dividida em ficção (romance, conto), ensaio e diário, costuma ser agrupada em dois períodos literários: o Neo-Realismo e o Existencialismo. Considera-se que Mudança é a obra que marca a transição entre os dois períodos.
Biografia[editar | editar código-fonte]
Vergílio Ferreira nasceu em Melo, aldeia do concelho de Gouveia, na Beira Alta, a meio da tarde do dia 28 de janeiro de 1916,[2][3] filho de António Augusto Ferreira, fogueteiro, e de Josefa Ferreira, doméstica, que, em 1927, emigraram para o Canadá (ou Estados Unidos), em busca de uma vida melhor, ficando Vergílio com os irmãos mais novos, César e Judite. Esta dolorosa separação é descrita em Nítido Nulo. A neve - que virá a ser um dos elementos fundamentais do seu imaginário romanesco - é o pano de fundo da infância e adolescência passadas na zona da Serra da Estrela. Aos 12 anos, após uma peregrinação a Lourdes, entra no seminário do Fundão,[4] que frequentará durante seis anos. Esta vivência será o tema central de Manhã Submersa.
Em 1936, deixa o seminário e acaba o Curso Liceal no Liceu da Guarda.[5] Entra para a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, continuando a dedicar-se à poesia,[6] nunca publicada, salvo alguns versos lembrados em Conta-Corrente e, em 1939, escreve o seu primeiro romance, O Caminho Fica Longe. Licenciou-se em Filologia Clássica em 1940. Concluiu o Estágio no Liceu D.João III (1942), em Coimbra. Começa a leccionar em Faro. Publica o ensaio "Teria Camões lido Platão?" e, durante as férias, em Melo, escreve "Onde Tudo Foi Morrendo". Em 1944, passa a leccionar no Liceu de Bragança, publica "Onde Tudo Foi Morrendo" e escreve "Vagão "J" que, publicou em 1946, no mesmo ano em que se casou, com Regina Kasprzykowsky, professora polaca refugiada em Portugal, com quem Vergílio ficará até à sua morte. Após uma passagem pelo liceu de Évora (onde escreveu o mundialmente conhecido romance Manhã Submersa, corria o ano de 1953), fixa-se como docente em Lisboa, leccionando o resto da sua carreira no Liceu Camões.
A 3 de Setembro de 1979 foi feito Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.[7]
Em 1980, o realizador Lauro António adapta para o cinema, o romance Manhã Submersa e, Vergílio Ferreira interpreta um dos principais papéis,[6][8] o de Reitor do Seminário, contracenando assim com outros grandes vultos da cena portuguesa, tais como: Eunice Muñoz, Canto e Castro, Jacinto Ramos e Carlos Wallenstein. Em 1992 foi eleito para a Academia das Ciências de Lisboa; no mesmo ano recebeu, pelo conjunto da obra, o "Prémio Camões", o mais importante prémio literário dos países da língua portuguesa.[6] Vergílio morreu no dia 1 de março de 1996,[2] em sua casa, em Lisboa, na freguesia de Alvalade. O funeral foi realizado no cemitério de Melo, sua terra-natal e, a seu pedido, o caixão fora enterrado virado para a Serra da Estrela.
Existencialismo[editar | editar código-fonte]
“ | Um cantor fixa um tema. Mas esse tema, revelando, como revela, um interesse, revela sobretudo que foi só dele que o artista pôde realizar-se como tal. | ” |
Atravessa a sua obra o discurso da alegria e felicidade, como um dos aspectos mais profundos da condição humana, sempre acompanhado pelo ruido das escadas da sua antiga casa, que advém do abandono da sua primeira namorada
Diários[editar | editar código-fonte]
Durante treze anos (1981-1994) Vergílio Ferreira publicou nove volumes de diário,[9] ao qual pôs o título genérico de Conta-Corrente. Os textos contidos nesses volumes vão desde Fevereiro de 1969 (altura em que iniciou a sua escrita) até Dezembro de 1992 (altura em que terá abandonado o género). Os volumes subdividem-se em duas séries: a primeira composta por cinco volumes e a segunda composta por quatro volumes.
A publicação do diário de Vergílio Ferreira foi uma das poucas tempestades na bonançosa comunidade literária pós 25 de abril, como também é «um documento precioso sobre a evolução da ideias do século XX português. Vergílio Ferreira era um homem atento a tudo aquilo que o rodeava, quer tivesse interesse político, ou social, ou estético, ou literário. O seu diário veio, assim, agitar a comunidade portuguesa pensante, criando alguns focos de conflito por um lado e manifestações de apoio por outro.
O autor já tinha por várias vezes tentado escrever um diário, mas foi só em 1969 que leva o seu projecto em frente: «Fiz cinquenta e três anos há dias. (…) É a opinião do Registo Civil (…). E então lembrei-me: e se eu tentasse uma vez mais o registo diário do que me foi afectando?» . Esta frase é sem dúvida elucidativa das intenções do autor: primeiro, tentar escrever um registo diário; segundo, escrever nele tudo aquilo que o foi marcando. Nesta frase também se pode verificar que não é a primeira vez que o autor tenta escrever um diário: «e se eu tentasse mais uma vez».
O tentar escrever um diário é algo que está sempre presente, e, muitas vezes, a escrita desse mesmo diário torna-se difícil, pois o autor sente que se está a expor em demasiado perante o leitor, sente que o leitor pode “lê-lo”: «Extremamente difícil continuar este diário.(…) Que me leiam um romance, não me perturba. Mas não que me leiam a mim.» Existe a questão do íntimo sempre presente ao longo deste volume e o próprio autor refere que colocar ao alcance dos seus leitores a sua intimidade, os seus desabafos, não é propriamente algo que lhe agrada: «o desejo de “desabafar” não é propriamente um desejo sublime».
Obras[editar | editar código-fonte]
Ficção[editar | editar código-fonte]
- 1938 A curva de uma vida (póstumo 2010, do espólio)
- 1943 O Caminho Fica Longe
- 1944 Onde Tudo Foi Morrendo
- 1946 Vagão "J"
- 1947 Promessa (póstumo 2010, do espólio)
- 1949 Mudança
- 1953 A Face Sangrenta
- 1954 Manhã Submersa
- 1959 Aparição
- 1960 Cântico Final
- 1962 Estrela Polar
- 1963 Apelo da Noite
- 1965 Alegria Breve
- 1971 Nítido Nulo
- 1972 Apenas Homens
- 1974 Rápida, a Sombra
- 1976 Contos
- 1979 Signo Sinal
- 1983 Para Sempre
- 1986 Uma Esplanada Sobre o Mar
- 1987 Até ao Fim
- 1990 Em Nome da Terra
- 1993 Na Tua Face
- 1995 Do Impossível Repouso
- 1996 (póstuma) Cartas a Sandra
Ensaios[editar | editar código-fonte]
- 1943 Sobre o Humorismo de Eça de Queirós
- 1957 Do Mundo Original
- 1958 Carta ao Futuro
- 1963 Da Fenomenologia a Sartre
- 1963 Interrogação ao Destino, Malraux
- 1965 Espaço do Invisível I
- 1969 Invocação ao Meu Corpo
- 1976 Espaço do Invisível II
- 1977 Espaço do Invisível III
- 1981 Um Escritor Apresenta-se
- 1987 Espaço do Invisível IV
- 1988 Arte Tempo
- 1998 Espaço do Invisível V (póstumo)
Diários[editar | editar código-fonte]
- 1980 Conta-Corrente I
- 1981 Conta-Corrente II
- 1983 Conta-Corrente III
- 1986 Conta-Corrente IV
- 1987 Conta-Corrente V
- 1992 Pensar
- 1993 Conta-Corrente-nova série I
- 1993 Conta-Corrente-nova série II
- 1994 Conta-Corrente-nova série III
- 1994 Conta-Corrente-nova série IV
- 2001 Escrever (póstumo)
- 2010 Diário Inédito (póstumo, do espólio 1944-1949)
Ver também[editar | editar código-fonte]
Referências
- ↑ «Prêmio Camões de Literatura». Brasil: Fundação Biblioteca Nacional. Cópia arquivada em 16 de Março de 2016
- ↑ ab «Vergílio Ferreira». Porto Editora. Infopédia. Consultado em 1ª de março de 2014 Verifique data em:
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(ajuda) - ↑ Rodrigues de Paiva 2007, pp. 28.
- ↑ Silva Gordo 1995, pp. 121.
- ↑ Afonso Borregana 1999.
- ↑ ab c Rodrigues de Paiva 2007, pp. 706.
- ↑ «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Vergílio Ferreira". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 17 de fevereiro de 2015
- ↑ Martins, Luís; Ramos, Susana (2000–2002). «Manhã Submersa» (PDF). Universidade de Lisboa. Faculdade de Ciências. Consultado em 01 de março de 2014. Arquivado do original (PDF) em 10 de junho de 2007 Verifique data em:
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(ajuda) - ↑ Barbosa Machado 2014.
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- Afonso Borregana, António (1999). Aparição de Vergílio Ferreira: o texto em análise 2ª ed. [S.l.]: Texto Editora. 62 páginas. ISBN 9724711889
- Barbosa Machado, José (2014). Estudos de Literatura e Cultura Portuguesas revisada ed. [S.l.]: Ediçoes Vercial. 221 páginas. ISBN 9898392258
- Rodrigues de Paiva, José (2007). Vergílio Ferreira: Para sempre, romance-síntese e última fronteira de um território ficcional. [S.l.]: Editora Universitária UFPE. 720 páginas. ISBN 8573154594
- Silva Gordo, António da (1995). A escrita e o espaço no romance de Vergílio Ferreira. [S.l.]: Porto Editora. 128 páginas. ISBN 9720340835