domingo, 15 de maio de 2022

O ESCANDALO DO COSTUME - Álvaro Magalhães - N'O Jogo de 15.5.22 - 15 de MAIO de 2022

Com a devida vénia ao ÁLVARO MAGALHÃES meu amigo de há mais de 30 anos (e que se calhar já não se lembra de mim, pois já não nos vemos há mais de 20 anos), transcrevo neste blogue, a crónica que escreveu no JOGO de hoje sobre a 30ª vitória do F. C. Porto no Campeonato. Obrigado. 

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Os portistas festejaram ontem a conquista do 30º campeonato, num clima de grande orgulho tribal, durante e depois de um jogo-festa com o Estoril. Por uma vez, as mulheres que pensam que os homens vão ao futebol para se divertirem e passarem um bom bocado tiveram razão.

Mas se os portistas cantam e riem, benfiquistas e sportinguistas de todos os géneros e quadrantes desfazem-se em queixas, desculpas, acusações. Para eles, o F. C.. Porto é campeão da liga da farsa e do jogo fora das quatro linhas. RUI SANTOS, na CNN, disse que este era o campeão das pressões, internas e externas. LEONOR PINHÃO, no CM, explicou esta vitória  com as ajudas dos árbitros e dos VAR, que, diz ela, «jogaram» de azul e branco nos momentos mais difíceis. Por sua vez, RUI PEDRO BRAZ considerou que marcar um fora-de-jogo tão pequeno, de apenas 2 centímetros, a um clube tão grande, era uma «falta de respeito». E, enquanto outro BRAZ (João Braz Frade), ex-vice presidente do Benfica e comentador na CMTV, dizia que o árbitro Luís Godinho parecia a criada de servir de OTÁVIO. TITO ARANTES FONTES, o alucinado Presidente do Grupo Stromp, garantia que o VAR JOÃO PINHEIRO era o padrinho dos portistas. 

Estes cinco exemplos, ínfima parte de um coro vastíssimo, não diferem muito dos comentários rasos que os adeptos fanáticos deixam nas redes sociais e nas caixas do correio dos jornais. Afinal, eles são todos adeptos. E, embora usem modos de expressão diferentes, a intenção é a mesma: colocar a vitória portista no território da suspeita, longe, muito longe do mérito.

Por outro lado, não houve qualquer manifestação de «fair-play» desses rivais vencidos. E ainda bem, ou também teriam razão os que acham que o futebol deveria ser um exemplo de elevação e boas maneiras, quando se sabe que há actividades mais apropriadas ao exercício dessas qualidades.

O que não tem faltado por aí é aquela reflexão filosófica do tipo «ONDE É QUE FALHAMOS?». Vi um excerto de um programa, na CNN, em que a empertigada moderadora sugeria uma aliança dos dois clubes de Lisboa. Um triunfo do F. C. Porto é sempre escandaloso, uma anomalia, por ser o triunfo do provincianismo incivilizado sobre o centro luminoso e irradiante da vida. Logo, tem de haver explicações, planos para a correção da anomalia e, já agora, alguns culpados. Ainda não culparam a verdura da relva, o formato das balizas ou a excessiva redondeza da bola, mas já andam perto.

Acontece que, para os portistas, a observação deste muito visível incómodo dos rivais, que sinaliza a sua frustração, tristeza e azedume (há quem, resumidamente, lhe chama azia), faz parte do menu de degustação de mais este triunfo, ou seja do tal bom bocado. Afinal, foi o mau perder de LUÍS FILIPE VIEIRA que tornou o campeonato de 2010/11 inesquecível. E se, esta vez, a BTV tivesse mostrado os festejos dos novos campeões e a CMTV não preferisse falar da morte do adepto e dos incidentes na garagem do Dragão, se não tivesse soado, enfim, por aí a tal música lacrimejante dos perdedores, os festejos do 30º não seriam a mesma coisa.



(Transcrição do texto através do jornal O JOGO - 15-5-22)

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