Lembra-se?
Maria Luís Albuquerque - “Se o ano acabasse agora esse crédito fiscal de sobretaxa será de 25%, mas se me pergunta a minha expectativa é que o resultado possa ser ainda melhor do que esse.”Jornalista –
“E não fará disso uma bandeira eleitoral na campanha?”Maria Luís Albuquerque –
“Não.”Esta conversa da ex-ministra das finanças com os jornalistas aconteceu no
final de agosto do ano passado. Um mês depois, a
25 de setembro – faltavam poucos dias para as
legislativas de outubro -, o Governo
subia a fasquia: afinal a devolução da sobretaxa podia ser ainda melhor.
Chegava já aos 35%.O resto da história já todos sabemos. Depois das eleições, a
devolução cai de 35% para 9% (“um embuste”, gritou a oposição), e nos meses seguintes percebemos todos que afinal ia ser
ZERO.
Fomos enganados? Sim, fomos. E entretanto passámos a confiar menos na máquina fiscal de
Maria Luís e de Paulo Núncio que tanto exigiu: os contribuintes não podem falhar, mas eles prometeram ao país um
cheque gordo (ao sabor da campanha) que afinal
não tem cobertura. E até lançaram um simulador (uma boa ideia, diga-se) que não serve para
NADA.
Maria Luís não foi a única a acenar-nos com mais uns euros na carteira.
Passos também fez das suas, e também na véspera das eleições:
“Assumimos este compromisso: se a receita fiscal no IVA e no IRS ficar acima do que nós projetamos, então tudo o que vier a mais será devolvido aos contribuintes. E sabemos hoje queestamos em condições em 2016 de cumprir essa normado Orçamento e que eles irão receber uma parte importante dessa sobretaxa,
27 de setembro de 2015.Pois, agora
é oficial. Os contribuintes
não vão receber qualquer devolução da sobretaxa paga em 2015, porque a evolução da receita de IRS e IVA durante o ano não foi superior à prevista no Orçamento do Estado de 2015.
Depois de tudo isto, pergunto-me: como é que Paulo Núncio conseguiu dizer em
novembro, no Parlamento, que a
“devolução da sobretaxa nunca tinha sido uma promessa”?Viremos de página e de ministro.
A agência de
rating Moody’s diz que o esboço do OE/2016 de Mário Centeno
é otimista e repete erros do passado. A notícia tem destaque no
Económico que escreve que a agência concorda com os riscos destacados pelo
Conselho de Finanças Públicas.
O
Correio da Manhã traz em manchete que a
Função Pública escapa a travão das reformas. Os trabalhadores do setor público podem continuar a reformar-se a partir dos 55 anos e 30 de descontos. Mas o Governo
vai voltar a congelar as reformas antecipadas no setor privado.
Entretanto, os
técnicos da Comissão Europeia já estão em Lisboa, para aquela que é a
terceira missão da Troika em Portugal desde que o país deixou o programa de assistência. As reuniões entre o ministério das finanças e os chefes de missão da Comissão, BCE e FMI – que servem para monitorizar a recuperação económica e financeira do país e a consolidação das contas públicas -
só devem arrancar amanhã ou na quinta.Do Terreiro do Paço, para Belém:
Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República eleito, quer
contar em livro toda a história da sua candidatura, desde o momento da decisão até à noite da vitória. Como nos revela
aqui o
Filipe Santos Costa, a obra será lançada ainda antes de Marcelo se instalar no palácio e terá palavras do próprio e fotos de
Rui Ochoa que o acompanhou na campanha.
O novo Presidente – que conseguiu o
inédito de ganhar em todos os distritos numa primeira eleição - andou ontem entre a Faculdade de Direito e a Fundação de Bragança, a que preside, a preparar a passagem de pastas. Pelo meio, ainda teve tempo de
dar boleia à SIC.
Na
reportagem do Pedro Benevides, Marcelo, enquanto
conduzia o seu carro, confessou:
“é uma vida diferente”– agora tem segurança -, mas
“não vou deixar de ser quem sou”. O novo PR contou que no domingo recebeu milhares de sms e voltou a garantir que não vai ter primeira-dama:
“O mundo está cheio de chefes de Estado que viajam sozinhos.”No capítulo dos derrotados, diz o
Negócios que as eleições abriram um buraco de
1,4 milhões nas contas de quatro candidatos. É que só os que conseguiram pelo menos 5% dos votos é que recebem subvenção pública – o que permite uma
poupança ao Estado de
dois milhões de euros.
“
Maria de Belém tem a maior fatura -
790 mil euros.
Edgar Silva, o candidato do PCP, previa receber
um apoio público de 378 mil euros.
Henrique Neto precisa de encontrar 199 mil euros para cobrir as despesas que orçamentou. E
Paulo Morais fica com um prejuízo de 61 mil euros.”
Morais já fez um
apelo a pedir donativos dos cidadãos para pagar a campanha. No caso de Maria de Belém, o
DN escreve que o PS não a vai ajudar: é
“um problema privado”, dizem
. A estas contas juntam-se as
faturas políticas. No
PS,
como escreve a Cristina Figueiredo, a fuga de eleitorado foi evidente. É verdade que são eleições diferentes, mas é impossível não reparar que entre as legislativas de outubro e as presidenciais,
o partido perdeu quase meio milhão de votos. Ainda assim, António Costa terá
suspirado de alívio com a eleição de Marcelo. Se houvesse uma segunda volta, o líder socialista teria de apoiar Nóvoa e ai a derrota do PS seria mesmo indisfarçável.
Ufa!No
PCP, o ambiente
não está famoso. A
Rosa Pedroso Limaadianta que
o acerto de contas começa hoje na reunião do Comité Central. E os comunistas têm muito para discutir:
Edgar Silva deu o pior resultado de sempre ao partido.Adiante, se é daqueles que gosta de se perder no
pormenor dos números, aconselho o trabalho da
Raquel Albuquerque e da Sofia Miguel Rosa que nos explicam como votaram os portugueses no último domingo. Está
aqui.
Na opinião.
Nicolau Santos atira:
“O dr. Costa deve estar muito preocupado, deve”.
Henrique Monteiro confessa:
“Sete coisas que eu sei sobre Marcelo”.
Daniel Oliveira titula:
“Marcelo é rei, Costa nas suas sete quintas e PCP mais nervoso”. E finalmente,
Henrique Raposo escreve que
“dos fracos reza a história”.FRASES“Marcelo não será um monge como Cavaco, um chato como Sampaio ou altivo como Soares”.
Vítor Matos, biógrafo do Presidente eleito ao
i“Se o secretário-geral diz que o PS não apoia nenhum candidato, acho que, por exemplo, o presidente do partido [Carlos César] deve coibir-se de tomar uma posição que diz ser a título pessoal. Nestas coisas não há posições a título pessoal. Ou se apoia um ou apoia outro ou as pessoas não apoiam ninguém”,
Vera Jardim, apoiante de Maria de Belém na
Renascença