Mapa da guerra. O que se sabe sobre o 134.º dia de conflito
Mísseis russos atingiram a Ilha da Serpente e mataram soldados que ergueram bandeira da Ucrânia. Zelensky diz que armas doadas pelo Ocidente estão a ter impacto. Ucranianos agradecem a Boris Johnson.
Rockets russos atingiram a Ilha da Serpente nesta manhã de quinta-feira e, segundo as forças armadas russas, esse ataque terá matado os soldados que lá ergueram uma bandeira da Ucrânia. A Rússia atacou também Kramatorsk, numa região que ainda não está sob o domínio russo.
Volodymyr Zelensky deu o exemplo da reconquista da Ilha das Serpentes para afirmar que a Ucrânia “nunca se vergará”, Marcelo Rebelo de Sousa disse que a demissão de Boris Johnson demonstra que a guerra é um dos fatores externos de desequilíbrio, atualmente, nos países da Europa, e Vladimir Putin avisou que Moscovo ainda não começou “nada a sério” no conflito do leste europeu.
Em baixo os principais destaques neste 134.º dia de conflito na Ucrânia.
O que aconteceu no final da tarde e durante a noite?
- Um pequeno pedaço de terra que demonstra que a Ucrânia não pode ser vergada. Foi assim que Volodymyr Zelensky definiu o simbolismo do hastear da bandeira ucraniana na Ilha das Serpente, na sua declaração diária aos ucranianos.
- O ministro checo dos Negócios Estrangeiros, Jan Lipavský, disse hoje que a Comissão Europeia já está a preparar o sétimo pacote de sanções à Rússia pela invasão da Ucrânia, garantindo que as medidas restritivas “estão a ter efeito”.
- As autoridades turcas libertaram na noite desta quarta-feira o cargueiro russo que transportaria cereais ucranianos roubados de Berdiansk. O embaixador turco foi convocado em Kiev em consequência da fuga da embarcação russa.
- As forças russas bombardearam hoje várias cidades no Donbass – região onde intensificam os ataques para a tentar conquistar por completo – incluindo Kramatorsk, onde pelo menos um civil foi morto, segundo as autoridades locais.
- O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse hoje na Duma — a câmara baixa do parlamento russo – que “devem todos saber que, em geral, ainda não começámos nada a sério“, numa menção à guerra na Ucrânia. “Não nos recusámos a realizar conversações de paz, mas aqueles que se recusam a fazê-lo devem saber que quanto mais demorarem, mais difícil será para eles negociarem connosco“, alertou o chefe de Estado russo.
- O Parlamento Europeu apoiou hoje uma proposta para permitir aos refugiados ucranianos utilizarem a sua carta de condução nos países da União Europeia sem que tenham de trocar de licença.
- Bombardeamentos das tropas russas num bairro no nordeste da cidade de Kharkiv terão matado três pessoas e ferido outras cinco, afirmou o governador regional, Oleh Synyehubov.
- Vladimir Putin desafiou hoje o Ocidente a derrotar Moscovo no território ucraniano. “Hoje ouvimos que eles [o Ocidente] querem derrotar-nos no campo de batalha. Eles que tentem. Ouvimos várias vezes que o Ocidente quer lutar connosco até ao último ucraniano”, afirmou o chefe de Estado russo.
- A Amnistia Internacional responsabilizou hoje as forças russas pela morte de 21 civis num ataque, na semana passada, a um bloco de apartamentos e um hotel na cidade costeira de Serhiivka, no sul da Ucrânia.
- Marcelo Rebelo de Sousa afirmou hoje aos jornalistas que a guerra é um dos fatores para a saída de Boris Johnson de Downing Street. Embora inicialmente o chefe de Estado não se quisesse pronunciar “sobre a vida interna de um país que é o nosso mais antigo aliado“, Marcelo Rebelo de Sousa explicou que a situação do primeiro-ministro demissionário britânico “mostra que, além dos fatores internos, também os fatores externos” contribuíram para a queda de Boris Johnson.
- O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, reuniu-se hoje com a sua contraparte chinesa, Wang Li, tendo sido discutida a situação da guerra na Ucrânia. Ambas as partes “sublinharam a natureza inaceitável das sanções adotadas à margem da ONU”.
- A Letónia vai reinstituir o serviço militar obrigatório no país em consequência da invasão da Rússia à Ucrânia. O serviço militar obrigatório entrará em vigor no próximo ano e apenas será aplicado a homens, explicou o ministro da Defesa.
- O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, reuniu-se hoje com os senadores norte-americanos Lindsey Graham (republicano) e Richard Blumenthal (democrata) em Kiev.
- O Parlamento finlandês modificou esta semana as suas leis para fortalecer as barreiras na fronteira entre a Finlândia e a Rússia, quando o país nórdico iniciou seu processo de adesão à NATO, disseram hoje autoridades locais.
- As autoridades ucranianas desmantelaram uma rede de tráfico de mulheres cujo fim era a prostituição forçada, noticiou o jornal The Guardian. As mulheres recrutadas estavam em situação vulnerável, muitas delas mães desempregadas a criarem os filhos sozinhas.
- O governador do Donetsk, Pavlo Kyrylenko, escreveu no Telegram que os russos continuam a ter os civis como alvos, tendo matado, pelo menos, uma pessoa e ferido seis, depois de um míssil ter atingido Kramatorsk.
- A basquetebolista norte-americana Brittney Griner declarou-se hoje culpada de acusações relacionadas com tráfico de droga num tribunal russo, mas negou ter violada a lei de forma deliberada. O julgamento, que começou na semana passada, pode resultar em até 10 anos de prisão para a atleta dos Estados Unidos da América.
O que aconteceu até ao início da tarde?
Aumentam as vítimas na Ucrânia depois de militares russos terem matado sete civis em Toretsk, Avdiivka, Kodema e Siversk e de um míssil ter atingido o centro de Kramatorsk na região do Donbass. Tanto o governador de Donetsk como o governador do Donbass dizem não ter ainda o número exato de vítimas, nas respetivas situações.
Rússia e Ucrânia reagiram à demissão do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. Antes de confirmada a demissão, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse: “[Boris Johnson] não gosta de nós e nós também não gostamos dele”. Já o conselheiro da presidência da Ucrânia, Mykhailo Podolyak, agradeceu a Johnson por ter sido “o primeiro a chegar a Kiev, apesar dos ataques com mísseis” e por “estar sempre na linha da frente do apoio à Ucrânia”.
Numa conversa telefónica com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, Boris Johnson terá reiterado o apoio do Reino Unido à Ucrânia, apesar da crise política. No discurso que sucedeu à demissão, o primeiro-ministro disse estar orgulhoso pelo seu governo ter liderado a ação do oeste contra a agressão russa na Ucrânia.
O que aconteceu nas primeiras horas desta manhã?
O Ministério da Defesa russo confirmou oficialmente que atingiu a Ilha da Serpente, esta quinta-feira. O lançamento dos rockets, feito por um avião de guerra russo, aconteceu pelas 5h da manhã. “Por volta das 5h da manhã vários militares ucranianos chegaram à ilha através de um barco a motor e tiraram fotografias com a bandeira. A aeronave das Forças Aeroespaciais Russas lançou imediatamente um ataque com mísseis de alta precisão na ilha de Zmeiny, em resultado do qual parte do pessoal militar ucraniano foi destruído”.
Também esta manhã, caíram rockets em Odessa, atingindo zonas agrícolas e destruindo duas máquinas e 35 toneladas de cereais, afirmaram as autoridades locais.
O relatório diário do Ministério da Defesa britânico salienta que “continua o bombardeamento intenso” na região de Donetsk, mas os russos estão a fazer “poucos avanços” na zona. “É provável que as unidades envolvidas nos avanços da última semana estejam, agora, a reagrupar-se”, diz o mesmo documento.
As forças armadas russas estão a tentar recrutar habitantes das cidades “capturadas” de Lysychansk e Sievierodonetsk. De acordo com o governador de Lugansk, Serhiy Haidai, estão a ser publicadas ofertas de emprego para atrair homens com o intuito de os alistar no exército.
A União Europeia pediu à China que assuma “papel mais construtivo” no conflito na Ucrânia – foi o responsável máximo pela diplomacia da UE que deu essa indicação através do Twitter. Josep Borrell teve um encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, e nessa reunião um dos temas discutidos terá sido “como combater a desinformação que está a ser disseminada sobre as causas [do conflito] e sobre as consequências económicas globais do ataque russo”.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse ao final do dia de quarta-feira que “o armamento doado pelo Ocidente à Ucrânia está a começar a ter o efeito pretendido”. E pediu aos habitantes das zonas ocupadas, onde o acesso à Internet está bloqueado, que difundam as informações a que vão tendo acesso acerca da “verdade sobre o que se está a passar e sobre o nosso potencial [militar], que estamos a aumentar gradualmente.”