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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

NOTÍCIAS - OBSERVADOR - MACROSCÓPIO - (20-11) - 21 de Novembro de 2014


Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!

 
 
Chamei aqui ontem a atenção para a entrevista de Francisco Assisao Observador, assim como a uma primeira reação a ela do ex-bloquista Daniel Oliveira. Mas houve mais e com mais consequências, sinal de que o debate está aberto e vai prosseguir. A reação a que me refiro foi a de Tiago Barbosa Ribeiro, um jovem dirigente socialista do Porto, que também utilizou a sua página do Facebook para criticar Assis. E este respondeu no seu artigo de hoje no Público.
 
Que diz Tiago Barbosa Ribeiro? Entre outras coisas define o PS que quer:
Eu quero um PS concentrado na recusa do tratado orçamental, numa reforma fiscal que pese mais no capital do que no trabalho, numa revisão profunda do Código do Trabalho, na recuperação da iniciativa estatal, na regulação económica sobre sectores-chave, na renegociação da dívida impagável. E isto não é retórica, é mesmo para ser feito.
 
E como é que responde Francisco Assis? Assumindo que é realmente necessário saber de que PS o país precisa. E contra-ataca: para ele, o programa protagonizado “já existe e é da autoria do Bloco de Esquerda”. E contrapõe:
O que está em causa não é de somenos importância: a prevalecerem estas teses, o PS renegaria o essencial da sua trajetória histórica enquanto grande partido do centro-esquerda e autocondenar-se-ia a um estatuto de absoluta irrelevância no plano europeu. Para além de que em nada contribuiria para a superação dos verdadeiros problemas que um capitalismo desregulado tem vindo a provocar. O país não precisa de um PS iludido com a perspectiva de uma impossível unidade de esquerda, aliás historicamente desqualificada. O país carece de um PS empenhado na enunciação de um programa de governação sério, credível e exequível. 
 
Enquanto o PS – ou pelo menos uma parte do PS – parece agora com vontade de ter o debate que não teve durante o processo das primárias, uma outra parte da esquerda suspira por um Pablo Iglesias português – ou alguém capaz de replicar em Portugal o fenómeno do Podemos. Vamos então, como prometido, ao “partido dos indignados”.
 
O primeiro texto que vos recomendo tem já alguns meses. É de Jorge Almeida Fernandes e chama-se “Podemos: o “populismo de esquerda” que emerge em Espanha”. É um texto onde se analisa o bom resultado do partido nas eleições europeias, se apresenta o percurso de Pablo Iglesias e se discute a natureza dessa nova força política. Pequeno extrato:
Enric Juliana, do La Vanguardia, faz uma análise irónica do fenómeno: “Um intelectual marxista que saltou dos livros para o plasma, infiltrando-se nas tertúlias mais ruidosas com a astúcia de um bochevique do soviete de Petrogrado”. “Enquanto a Esquerda Unida permanece nas mãos da velha guarda comunista (...) o círculo de leitores de Slavoj Zizek [filósofo marxista esloveno) idealizava o partido de novo tipo. O Partido da indignação. O partido da raiva social. O Podemos é leninismo digital.”
 
Texto que também ajuda a enquadrar o Podemos na tradição populista espanhola é o de Rodrigo Carretero no Huffington Post castelhano, “¿Qué es el populismo y quién es populista en España?” É um texto onde se reúnem as opiniões de vários politólogos, sendo que “La gran mayoría de los expertos consultados afirman que la formación de Pablo Iglesias contiene elementos claramente populistas. Jerez subraya que Podemos "tiene un componente populista autoasumido, incluso dentro de un debate". 
 
Entre os entusiastas portugueses de Pablo Iglesias conta-se, como se esperaria, Boaventura Sousa Santos. No seu texto da semana passada na revista Visão, é claro ao considerar que “o novo partido Podemos constitui a maior inovação política na Europa desde o fim da Guerra Fria”. Mais: ao desejar um Podemos português:
É possível que surja em Portugal um Podemos. É bem necessário, dado o vazio. Portugal não tem a mesma tradição de ativismo que a Espanha. Será um partido diferente e, neste momento, terá pouca repercussão. Portugal vive o momento António Costa. (…) Mas é preciso preparar o futuro: para colaborar com o PS, caso este esteja interessado numa política de esquerda; ou para ter uma alternativa, no momento de descrédito do PS, que ocorrerá fatalmente se ele se aliar à direita. Por agora, a segunda alternativa é a mais provável.
 
Atento, Manuel Villaverde Cabral já lhe respondeu aqui no Observador: «Podemos»… Poderemos mesmo?. Nesse texto analisa várias passagens do texto do sociólogo de Coimbra, notando a dado passo:
BSS tem uma teoria já antiga a respeito do que ele designa por «epistemologias do Sul», das quais o «Podemos» seria a última emanação, numa linha que não imaginaríamos à primeira vista e que vai do «Foro Social Mundial» e dos «governos progressistas» da América Latina até à ainda mais duvidosa «Primavera árabe»…
 
Mas, para percebermos o Podemos, temos de ir à fonte. E nada como escutar a mais recente entrevista de Pablo Iglesias, dada aocanal de televisão La Sexta. Dura um pouco mais de uma hora, mas é muito reveladora. A jornalista, Ana Pastor, estava muito bem preparada, obrigou o líder do Podemos a explicar-se, procurou sempre que nunca ficasse apenas pelas proclamações, pediu-lhe com insistência que dissesse como poderia por em prática as suas política se chegasse a presidente do governo de Madrid. A entrevista resultou assim muito esclarecedora, como já referi em anterior Macroscópio ao recomendar um artido da Liberdad Digital, “Ana Pastor acaba en 50 minutos con el mito de Pablo Iglesias”.
 
Para além desta análise, há outra que vos recomendo: “Una entrevista hace perder los papeles y destapa al Pablo Iglesias más autoritario”. Neste texto analisam-se várias passagens da entrevista, notando: “No sabe ofrecer propuestas concretas para “proteger a los emprendedores”; “Es incapaz de explicar cómo financiará la propuesta estrella de Podemos”; “No rectifica sus elogios al chavismo y reafirma su defensa de ese régimen”; “Difama a la esposa de un preso político venezolano que le pidió ayuda”; “Quiere “proteger a los periodistas” poniéndoles a las órdenes de políticos”; e “Considera “un problema” que existan medios privados”. 
 
Um dos pontos retomado nesta análise é o das intenções de Pablo Iglesias relativamente aos órgãos de informação de propriedade privada, tema que já havia merecido uma fundamentada crítica de Pedro J. Ramirez, o histórico fundador e diretor do El Mundo, ctítica que o Macroscópio recomendou no passado mês de Julho mas que volto a referir: “El bueno de Jean Paul Iglesias”
 
Termino com uma referência a um vídeo que se tornou viral pela sua acutilância. Trata-se da intervenção de uma politóloga da Guatemala numa assembleia de jovens que se realizou em Zaragoza. Nela faz-se uma poderosa crítica a todo o tipo de populismos. A intervenção tem pouco mais de dez minutos e vale a pena ouvir do princípio ao fim. Mesmo assim deixo aqui um pouco da síntese feita pelo diário ABC:
El discurso que utiliza Podemos es «tu estás mal porque alguien está bien», pero Álvarez lo que propone es «rescatar el que todos podemos estar bien, que el hecho que una persona acumule riqueza no le impide a otra también acumularla», si bien para ello «se necesitan instituciones, seguridad jurídica, un estado de derecho, y sobre todo rescatar en nuestros parlamentos el respeto por el debate de ideas con argumentos, razón y lógica» y no dejarse llevar por las ciegas pasiones que despiertan el populismo.
 
E não vos tomo mais tempo. Bom descanso, boas leituras e, desta vez, boas visualizações.
 
 
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