quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

OBSERVADOR - MACROSCÓPIO - 28 DE JANEIRO DE 2015

Macroscópio – Alexis Tsipras: mais sinais de ser como Chávez e não como Lula‏

Macroscópio – Alexis Tsipras: mais sinais de ser como Chávez e não como Lula

 
 
19:51
 
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Para: antoniofonseca40@sapo.pt

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!


O governo grego realizou ontem o seu primeiro Conselho de Mimistros e fê-lo de forma espetacular: em direto pela televisão. Foi um gesto de propaganda que, só por si, aproxima o estilo do novo primeiro-ministro, Alexis Tsipras, mais do de um Chávez do que do de um Lula, assim começando a responder às dúvidas que o Financial Times tinha formulado no dia das eleições e que já aqui referimos. Mas não foi o único sinal. Como o Observador foi referindo ao longo do dia, num liveblog muito concorrido e completo, Tsipras deu ordens para anular inúmeras medidas da troika. Ou seja, para subir já o salário mínimo, para travar as poucas privatizações em curso e para recontratar funcionários públicos despedidos. Ou seja, não veio de Atenas nenhum sinal de que a nova maioria grega tenciona contemporizar com a União Europeia – a qual já reagiu, negativamente, aos anúncios do novo governo, que não passaram por qualquer negociação –, o que gerou um quase pânico nos mercados: a bolsa caiu para mínimos de 2012, os juros da dívida voltaram a subir e há novas ameaças de donwgrading do rating da república grega. Isso e muito mais está no trabalho que os jornalistas do Observador foram enriquecendo ao longo do dia.
 
Para uma informação mais especializada, pode também ver o Wall Street Journal - Greek Markets Buckle –, o Financial Times -Greek markets hit as debt fears grow – e a página financeira do Telegraph - Markets tumble as Greek government backtracks on austerity.
 
Com este pano de fundo, vale a pena voltar à Grécia, centrando hoje o Macroscópio essencialmente em textos mais analíticos. Primeiro que tudo: quem é quem no novo governo grego? Apresentamos-lhe já, um a um, os ministros de Alexis Tsipras, sendo que da lista um nome se destaca: Yanis Varoufakis, que será o novo ministro das Finanças. Era um nome que se antecipava, pelo que logo na segunda-feira lhe falámos das suas três prioridades. Aí referíamos que era “um académico prolífico. Além de autor de múltiplos artigos académicos, publicou vários livros, com destaque para “O Minotauro Global: A América, as Verdadeiras Causas da Crise Financeira e o Futuro da Economia Mundial“. Tem também um blog pessoal onde discorre sobre “Pensamentos para um Mundo pós-2008″, o ano da crise financeira internacional.
 
Ontem o Financial Times referia-se a ele como um Blogger and austerity critic trades cyberspace for parliament, num texto onde se referia o sucesso do seu muito particular estilo: “Wearing his trademark dark leather jacket and jeans, Mr Varoufakis campaigned in crisis-hit Athens neighbourhoods, telling voters that Syriza would end what he called the country’s humanitarian crisis and crack down on the powerful oligarchs blamed for keeping fuel prices high.
 
Em Portugal o Público editou hoje um retrato muito simpático para esse académico e bloguer: Yanis Varoufakis: radical moderado e economista acidental. Nele se diz que “É um conhecedor da situação portuguesa. Foi um dos primeiros subscritores internacionais do manifesto pela reestruturação da dívida portuguesa, e um dos que mais assinaturas de colegas recolheram… É também membro da “rede Ulisses”, criada por Rui Tavares, que procura relançar a economia europeia através de investimentos no Sul.” O próprio Rui Tavares, na sua coluna no mesmo jornal, é directo: Ouçam este homem.
 
Relativamente à forma como se está a reagir na Europa, chamo a atenção para Ambrose Evans-Pritchard, do Telegraph, que nota:Germany's top institutes push 'Grexit' plans as showdown escalates. Destaco duas passagens:
  • In a clear warning, he [Mr Schäuble] said the eurozone is now strong enough to withstand a major shock. “In contrast to 2010, the financial markets have faith in the eurozone. We face no risk of contagion, so nobody should think we can be put under pressure easily. We are relaxed,” he said.
  • Officials in Berlin are irritated that Mr Tsipras has gone into coalition with the Independent Greeks, a viscerally anti-German party that seems to be spoiling for a cathartic showdown over Greece’s debt. “This increases the risk of a head-on collision with the international creditors,” said Holger Schmieding, from Berenberg Bank. Mr Schmieding said the likelihood of “Grexit” has risen to 35pc. He warned that Mr Tsipras could be in for a reality shock after making “three impossible promises to his country in one campaign”. 
 
Um tema a seguir com a maior atenção, até porque a questão grega pode tornar-se a questão alemã. Para mais informação, outra recomendação: um despacho de Berlim da Reuters,Germans in shock as new Greek leader starts with a bang. De resto uma das coisas que os deixa em choque é a forma como o novo ministro das finanças, numa entrevista ao jornal francês La Tribune, disse preto no branco que, no fim, os alemães pagam sempre: “Quoi que fasse ou dise l'Allemagne, elle paie, de toute façon”. É uma entrevista que tem vindo a ser repetidamente citada na imprensa alemã – com pouca simpatia.
 
Na Grécia alguns analistas começam a mostrar-se preocupados com o que pensam ser um choque com a Europa de consequências difíceis de prever. Uma boa descrição desses riscos é a de Yannis Palaiogolos, jornalista do Kathimerini, num artigo editado pelo Wall Street Journal (para assinantes): Greece Is Set on a Collision Course With Europe. Eis como conclui a sua análise:
An open collision between the new government and its creditors could trigger a massive flight of deposits from Greek banks, in a context in which the ECB will feel justified in not propping them up with liquidity support. Then Mr Tsipras would come up against the hardest constraint of all: the will of the vast majority of Greek voters (80% according to a January poll) to keep their country in the eurozone.
 
De resto a argumentação de que a dívida grega é insustentável também já está a ser contestada em vários países. De vários comentários que li, talvez a análise mais completa seja a do Telegraph que, em Three myths about Greece's enormous debt mountain, procura desmontar algumas ideias feitas e muito presentes no debate público europeu. Eis como enuncia esses mitos: Myth 1: They can never pay it back. Ever.; Myth 2: Greece is paying punitive interest rates; Myth 3: "Greece won't recover without debt forgiveness". É um trabalho informado que nos ajuda a colocar os números da dívida grega em perspectiva.
 
Por fim, de forma telegráfica, referência para alguns textos de opinião:
  • Martin Wolf apelou no Financial Times ao sentido de Estado dos políticos europeus: Greek debt and a default of statesmanship. A sua tese é que “Creating the eurozone is its members’ second-worst monetary idea, a break-up the worst”;
  • Vital Moreira, no Diário Económico, em Contrapartidadefende a ideia de que o Syriza, devido à evolução da situação europeia, “já não assusta”, mas que “não faz sentido” a reivindicação grega “de que aqueles a quem pretende "pregar o calote" lhe continuem a emprestar mais dinheiro para manter o défice orçamental!”;
  • Mais três textos no Observador: Maria João Avillez, Um desconhecido indesejado: “Como detesto fingir e me recuso a pousar um olhar manso sobre o que está assanhado, só posso juntar-me ao coro onde cantam os que estão preocupados: o momento é perigoso, sob vários pontos de vista.”;
  • João Marques de Almeida, O PS pode ter começado a perder as eleições: “António Costa não deve cair na tentação fácil de buscar créditos políticos em vitórias alheias. Se a receita do Syriza fracassar, os eleitores podem deixar de olhar para o PS como alternativa credível”:
  • Manuel Villaverde Cabral, A Grécia não é Portugal: “No contexto da globalização e da correlativa desregulação, a receita keynesiana de meter dinheiro público na economia já não funciona. Não faz crescimento. Só consumo interno e dívida, lamentavelmente.”
 
Despeço-me com mais duas sugestões, para dois artigos onde se exploram as relações entre o que se está a passar na Grécia e a situação portuguesa. Em E depois do Syriza? Sete dúvidas que ficam para Portugal, Liliana Valente explora as consequências políticas, para o nosso país, não apenas da vitória do Syriza, mas do que pode acontecer na sua negociação com a Europa. Já em A nossa esquerda radical e o Governo Syriza, Miguel Santos foi saber o que pensam algumas das principais figuras da esquerda que em Portugal fica à esquerda do PS sobre o novo governo e a coligalçao de Tsipras com um partido da direita nacionalista.
 
Por hoje é tudo, amanhã estarei de regresso. Boas leituras.
 
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