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domingo, 24 de novembro de 2019

DIA NACIONAL DA CULTURA CIENTIFICA - 24 DE NOVEMBRO DE 2019

Método científico

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Esboço contendo os principais passos do método científico. O método começa pela observação, que deve ser sistemática e controlada, a fim de que se obtenham os fatos científicos. O método é cíclico, girando em torno do que se denomina Teoria Científica, a união indissociável do conjunto de todos os fatos científicos conhecidos e de um conjunto de hipóteses testáveis e testadas capaz de explicá-los. Os fatos científicos, embora não necessariamente reprodutíveis, têm que ser necessariamente verificáveis. As hipóteses têm que ser testáveis frente aos fatos, e por tal, falseáveis. As teorias nunca são provadas e sim corroboradas.
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método científico refere-se a um aglomerado de regras básicas dos procedimentos que produzem o conhecimento científico, quer um novo conhecimento, quer uma correção (evolução) ou um aumento na área de incidência de conhecimentos anteriormente existentes. Na maioria das disciplinas científicas consiste em juntar evidências empíricas verificáveis[1] — baseadas na observação sistemática e controlada, geralmente resultantes de experiências ou pesquisa de campo — e analisá-las com o uso da lógica. Para muitos autores, o método científico nada mais é do que a lógica aplicada à ciência. Os métodos que fornecem as bases lógicas ao conhecimento científico são: método indutivométodo dedutivométodo hipotético-dedutivométodo dialéticométodo fenomenológico, etc.
Descrições de métodos são encontradas desde as civilizações antigas, como no Antigo Egito e na Grécia Antiga, mas só foi na sociedade árabe, há cerca de mil anos que as bases do que seria o método científico atual foram sendo construídas, com o trabalho do cientista Ibn Al- Haytham nos seus estudos sobre ótica, fazendo ele ser considerado por muitos "o primeiro cientista". O método utilizado por ele já contava com similaridades com o método de Descartes e o atual como: a observação e a pesquisa teórica anterior ao fazer do experimento, a separação em categorias e comparar a hipótese de acordo com os resultados.[2]
A metodologia científica se reforça no pensamento de René Descartes, que foi posteriormente desenvolvido empiricamente pelo físico inglês Isaac Newton. Descartes propôs chegar à verdade através da dúvida sistemática e da decomposição do problema em pequenas partes, características que definiram a base da pesquisa científica.[nota 1] Compreendendo-se os sistemas mais simples, gradualmente se incorporam mais e mais variáveis, em busca da descrição do todo.
Círculo de Viena acrescentou a esses princípios a necessidade de verificação e o método indutivoKarl Popper demonstrou que nem a verificação nem a indução sozinhas serviam ao propósito em questão – o de compreender a realidade conforme esta é e não conforme gostar-se-ia que fosse – pois o cientista deve trabalhar com o falseamento, ou seja, deve fazer uma hipótese e testar suas hipóteses procurando não apenas evidências de que ela está certa, mas sobretudo evidências de que ela está errada. Se a hipótese não resistir ao teste, diz-se que ela foi falseada. Caso não, diz-se que foi corroborada. Popper afirmou também que a ciência é um conhecimento provisório, que funciona através de sucessivos falseamentos. Nunca se prova uma teoria científica.[3][nota 2] Thomas Kuhn percebeu que os paradigmas são elementos essenciais do método científico, sendo os momentos de mudança de paradigmas chamados de revoluções científicas. O método científico é construído de forma que a ciência e suas teorias evoluam com o tempo.
Não apenas recentemente mas desde os primórdios a metodologia científica tem sido alvo de inúmeros debates de ordem filosófica, sendo críticada por vários pensadores aversos ao pensamento cartesiano,[nota 3] a citarem-se as críticas elaboradas pelo filósofo francês Edgar Morin. Morin propõe, no lugar da divisão do objeto de pesquisa em partes, uma visão sistêmica, do todo. Esse novo paradigma é chamado de Teoria da complexidade (complexidade entendida como abraçar o todo). Embora tal paradigma não implique a rigor na invalidade do método científico em sua forma geral, este certamente propõe uma nova forma de se aplicá-lo no que se refere às particularidades de cada área quanto ao objetivo é compreender a realidade na melhor forma possível.

Evolução do método

Metodologia científica literalmente refere-se ao estudo dos pormenores dos métodos empregados em cada área científica específica, e em essência dos passos comuns a todos estes métodos, ou seja, do método da ciência em sua forma geral, que se supõe universal. Embora procedimentos variem de uma área da ciência para outra (as disciplinas científicas), diferenciadas por seus distintos objetos de estudo, consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o método científico de outros métodos encontrados em áreas não científicas, a citarem-se os presentes na filosofia, na matemática e mesmo nas religiões.
A história do método científico se mistura com a história da ciência. Documentos do Antigo Egito já descrevem métodos de diagnósticos médicos. Na cultura da Grécia Antiga, os primeiros indícios do método científico começam a aparecer. Grande avanço no método foi feito no começo da filosofia islâmica, há cerca de mil anos, com a contribuição de Ibn al- Haytham, cientista árabe, que em sua pesquisa sobre ótica, organizou o que muitos consideram as bases do método científico moderno que se consolidaram com o surgimento da Física nos séculos XVII e XVIII. Francis Bacon, em seu trabalho Novum Organum (1620) — uma referência ao Organon de Aristóteles — especifica um novo sistema lógico para melhorar o velho processo filosófico do silogismo.[Ref. 1][Ref. 2]
A metodologia científica tem sua origem no pensamento de Descartes, que foi posteriormente desenvolvido empiricamente pelo físico inglês Isaac NewtonRené Descartes propôs chegar à verdade através da dúvida sistemática e da decomposição do problema em pequenas partes, características que definiram a base da pesquisa científica.
Lê-se no livro o Discurso do método[Ref. 3]
...E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os vícios, de sorte que um estado é muito melhor governado quando, possuindo poucas, elas são aí rigorosamente aplicadas, assim, em lugar de um grande número de preceitos dos quais a lógica é composta, acrediteis que já me seriam bastante quatro, contanto que tomasse a firme e constante resolução de não deixar uma vez só de observá-los
O primeiro consistia em nunca aceitar, por verdadeira, coisa nenhuma que não conhecesse como evidente; isto é, devia evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção; e nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão claramente e tão distintamente ao meu espírito que não tivesse nenhuma ocasião de o pôr em dúvida.
O segundo – dividir cada uma das dificuldades que examinasse em tantas parcelas quantas pudessem ser e fossem exigidas para melhor compreendê-las.
O terceiro – conduzir por ordem os meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e fáceis de serem conhecidos, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo certa ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros.
E o último – fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais, que ficasse certo de nada omitir."...
Correntemente estas regras são: 1) da evidência; 2) da divisão ou análise; 3) da ordem ou dedução; e, 4) da enumeração (contar, especificar), classificação.

Contexto de uma pesquisa

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Primeiramente os pesquisadores definem proposições lógicas ou suposições - as hipóteses - para explicar certos fenômenos e observações, e então desenvolvem experiências ou observações a serem feitas em que testam essas hipóteses. Se confirmadas, as hipóteses podem gerar leis, e juntamente com as evidências associadas, geram as teorias científicas. Embora as hipóteses sejam geralmente formuladas em cima de um subconjunto de fatos de particular interesse ou relevância, vale ressaltar que o método impõe a integração entre todo conhecimento produzido. A rigor não há inúmeros subconjuntos de evidências, cada um particular a uma teoria restrita, mas sim um conjunto único e universal de evidências, com as quais, qualquer que seja, uma hipótese válida não pode conflitar, quer seja esteja esta hipótese associada a um sistema em particular que busque esta ser uma explicação geral para os fenômenos naturais. Integrando-se o conjunto de fatos e as hipóteses de diversas áreas em uma única e coerente estrutura de conhecimento formam-se teorias cada vez mais amplas e abrangentes, e ao fim do que se denomina por ciência. Com tal imposição do método, colocam-se as hipóteses sempre que possível em um patamar bem mais amplo de abrangência, podendo estas virem a receber o título honorífico de leis científicas e as teorias pertinentes virem a ser reconhecidas consensualmente pela comunidade científica como um paradigma válido à época em questão.
Outra característica do método é que o processo de produção do conhecimento científico precisa ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretação dos resultados. Sobre a objetividade, que consiste em se atentar às propriedades do objeto em estudo e não às do sujeito que as estuda (subjetividade), é conhecida a afirmação de Hans Selye, pesquisador canadense que formulou a moderna concepção de stress: "Quem não sabe o que procura não entende o que encontra" referindo-se à necessidade de formulação de definições precisas (a essência dos conceitos) e que possam ser respondidas com um simples sim ou não, e aos cuidados que se deve ter com a subjetividade inerente ao ser humano. Tanto a imparcialidade (evidência) como a objetividade foram incluídas por René Descartes (1596 – 1649) nas regras lógicas que caracterizam o método científico.
Além disso, o procedimento precisa ser documentado, tanto no que diz respeito à fonte de dados como às regras de análise, para que outros cientistas possam reanalisar, reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados. Assim se distinguem os relatos científicos (artigos, monografias, teses e dissertações) de um simples estilo (padrão) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracterizam as normas da Retórica ou o estudo do uso persuasivo da linguagem, em função da eloquência.
É comum o uso da análise matemática ou estatística de forma direta ou mediante aproximação por modelos abstratos idealizados ao qual se acrescem gradualmente as variáveis necessárias para satisfazer à complexidade do problema enfocado e precisão desejada, precisão que depende do objetivo da pesquisa (identificar, descrever, analisar, etc.). Embora os estudos preliminares possam ter natureza qualitativa, o enfoque final deve ser quantitativo, e este é essencial à ciência, sendo "o universo do mais ou menos" um universo, a rigor, alheio ao método científico.
A divisão da ciência em grandes áreas, áreas de estudo, cadeiras e disciplinas científicas distintas têm levado em consideração, em vista do debatido acima, as adequações dos diferentes pormenores da metodologia científica exigidas pelo alvo dos estudos em cada situação. É comum a afirmação de que em função da evolução e definição atual do método científico, num extremo têm-se a física e química seguida da biologia, da geologia, e demais cadeiras das ciências naturais, e no outro, se não violando mantendo-se contudo na fronteira dos rigores do método científico, as ciências sociais, a citar-se a psicologia e as ciências jurídicas, estas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenças (senso comum) ou ciências do espírito (sistemas mítico - religiosos), estas últimas já certamente alheias ao que se denomina de área científica de estudo.
Contudo pensadores contemporâneos veem nessas duas abordagens uma oposição complementar, enquanto que as pesquisas quantitativas que visam descrever e explicar fenómenos que produzem regularidades mensuráveis são recorrentes e exteriores ao sujeito (objetivos), na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) é da mesma natureza que o objeto de sua análise e, ele próprio, uma parte da sua observação (o subjetivo).
É importante ter em mente que as pesquisas científicas se relacionam com modelos, com uma constelação de pressupostos e hipóteses, escalas de valores, técnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade científica num determinado momento histórico, ou seja, a um paradigma válido à época em consideração.

Elementos do método científico

Estátua de Charles Darwin em Londres
"Ciência é muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos." - Carl Sagan
"...ciência consiste em agrupar factos para que leis gerais ou conclusões possam ser tiradas deles." - Charles Darwin
O método científico é composto dos seguintes elementos:
  • Caracterização - Quantificações, observações e medidas.
  • Hipóteses - Explicações hipotéticas das observações e medidas.
  • Previsões - Deduções lógicas das hipóteses.
  • Experimentos - Testes dos três elementos acima.
O método científico consiste dos seguintes aspectos:
  • Observação - Uma observação pode ser feita de forma simples, ou seja, é realizada a olho nu, ou pode utilizar-se de instrumentos apropriados. Todavia, deve ser controlada com o objetivo de que seus resultados correspondam à verdade e não a ilusões advindas das deficiências inerentes próprias dos sentidos humanos em obter a realidade.
  • Descrição - O experimento necessita ser replicável (capaz de ser reproduzido). É importante especificar que fala-se aqui dos procedimentos necessários para testarem-se as hipóteses, e não dos fatos em si, que não precisam ser antropogenicamente reproduzidos, mas apenas verificáveis.
  • Previsão - As hipóteses precisam ser tidas e declaradas como válidas para observações realizadas no passado, no presente e no futuro.
  • Controle - Para maior segurança nas conclusões, toda experiência deve ser controlada. Experiência controlada é aquela que é realizada com técnicas que permitem descartar as variáveis passíveis de mascarar o resultado.
  • Falseabilidade[Ref. 4] - toda hipótese deve conter a testabilidade, e por tal falseabilidade ou refutabilidade. Isso não quer dizer que a hipótese seja falsa, errada ou tão pouco dúbia ou duvidosa, mas sim que ela pode ser verificada, contestada. Ou seja, ela deve ser proposta em uma forma que a permita atribuir-se a ela ambos os valores lógicos, falso e verdadeiro, de forma que se ela realmente for falsa, a contradição com os fatos ou contradições internas com a teoria venha a demonstrá-lo.
  • Explicação das Causas - Em todas as áreas da ciência a causalidade é fator chave , e não tem-se teoria científica - ao menos até a presente data - que viole a causalidade.[nota 4][Ref. 5] Nessas condições os seguintes requisitos são vistos como importantes no entendimento científico:
    • Identificação das causas
    • Correlação dos eventos - As causas precisam ser condizentes com as observações, e as correlações entre observações e evidências devem realmente implicar relação de causa efeito.[nota 5]
    • Ordem dos eventos - As causas precisam preceder no tempo os efeitos observados.
Na área da saúde a natureza da associação causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877 para demonstração da relação causal entre microrganismos e patologias, fundando-se a proposta de Koch basicamente nos mesmos princípios enunciado acima, ou seja: força da associação, ou conectividade (correlação nem sempre implica causalidade); sequência temporal (assimetria); transitividade (evidência experimental); previsibilidade e estabilidade dos resultados.
Uma maneira linearizada e pragmática de se seguir o método científico está exposto a seguir passo a passo. Vale a pena notar que é apenas uma referência, podendo haver, em acordo com a situação, passos necessários, contudo nesta lista não relacionados ou mesmo passos listados; cujos cumprimento não se faz necessário. Na verdade, na maioria dos casos não se seguem todos esses passos, ou mesmo parte deles. O método científico não é uma receita: ele requer inteligênciaimaginação e criatividade. O importante é que os aspectos e elementos apresentados anteriormente estejam presentes.
  • Definir o problema: estes problemas podem ser de três (3) tipos: (1) Teóricos que se centra a produzir novas teorias, enquanto que se pretendemos transformar uma situação específica o proble será (3) prático e, finalmente, existem aqueles que se adequam aos dois sendo assim designados teórico-práticos.[4]
  • Recolhimento de dados.
  • Proposta de uma ou mais hipóteses.
  • Realização de uma experiência controlada, para testar a validade da(s) hipótese(s).
  • Análise dos resultados
  • Interpretar os dados e tirar conclusões, o que serve para a formulação de novas hipóteses.
  • Publicação dos resultados em monografiasdissertaçõesteses, artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade científica.
Observe-se que nem todas as hipótese podem ser facilmente confirmadas ou refutadas por experimentos ou evidências e que em muitas áreas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretá-los já é uma grande tarefa como nas ciências humanas e jurídicas (criminologia), contudo a necessidade de fazê-lo é inerente à ciência.

Ciências humanas

A limitação ética da realização de experimentos com seres humanos, o estudo das subjetividades ou do essencialmente subjetivo, individual e particular psiquismo humano, ou a natureza histórica do objeto das ciências sociais, conduziram os pensadores a distintos caminhos ou proposições de estudo para o método científico. Contudo, parafraseando Minayo,..."uma base de dados quando bem trabalhada teórica e praticamente, produz riqueza de informações, aprofundamento e maior fidedignidade interpretativa"...[Ref. 6]
As principais divergências na análise dos resultados de pesquisas em ciências sociais ou humanas se dão no plano da contextualização dos dados ou informações obtidas em campo nos diversos sistemas teóricos, ou seja, conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos momentos históricos e/ou segmentos das comunidades científicas. Nas ciências sociais identifica-se três grandes correntes de pensamentos:
Para Haguette[5] a individualização das ciências sociais que se deu a partir do séc. XIX, trouxe consigo a questão política como problema, mais especificamente o advento do marxismo como práxis ou possibilidade de intervenção no curso da história. Ainda segundo essa autora, apenas no séc. XX desenvolveu-se as chamadas metodologias de pesquisa qualitativa não limitadas aos aspectos explicativos da realidade como vistos até então.
As metodologias de pequisa qualitativa, a exemplo do interacionismo simbólico, as etnometodologias e por excelência a pesquisa-ação (pesquisa-participante), derivam da convicção de que a ação social é fundamental na configuração da sociedade, ou seja não mais dissociada do processo histórico-político que a conduz.

O acidente

Ver artigo principal: serendipidade
É comum considerar alguns dos mais importantes avanços na ciência, tais como as descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming, como tendo ocorrido por acidente. No entanto, o que é possível afirmar à luz da observação científica é que terão sido parcialmente acidentais, uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a "pensar cientificamente", estando, portanto, conscientes de que observaram algo novo e interessante.
Os progressos da ciência são acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso, que segue um caminho mais ou menos sistemático na busca de respostas a questões científicas. É este o caminho denominado de método científico.

Hipótese

Hipótese é uma proposição que se admite de modo provisório como verdadeira e como ponto de partida a partir do qual se pode deduzir, pelas regras da lógica, um conjunto secundário de proposições, que têm por objetivo elucidar o mecanismo associado às evidências e dados experimentais a se explicar.
Literalmente pode ser compreendida como uma suposição ou proposição na forma de pergunta, uma conjetura que orienta uma investigação por antecipar características prováveis do objeto investigado e que vale quer pela concordância com os fatos conhecidos quer pela confirmação através de deduções lógicas dessas características, quer pelo confronto com os resultados obtidos via novos caminhos de investigação (novas hipóteses e novos experimentos).
No método científico, a proposição de hipóteses é o caminho que deve levar à formulação de uma teoria. O cientista, na sua hipótese, tem dois objetivos: explicar um ou geralmente um conjunto de fatos e prever outros acontecimentos e fatos dele decorrentes (deduzir as consequências). A hipótese deverá ser testada frente a fatos obtidos de observações sistemáticas e controladas resultantes de experiências laboratoriais e de pesquisa em campo. Se, após muitas dessas experiências, os resultados obtidos pelos pesquisadores não contrariarem a hipótese, esta então será aceita como válida, promovida à lei se for simples contudo de abrangência geral, e integrada à teoria e/ou sistema teórico pertinente.
A promoção da hipótese ao patamar de integrante de uma teoria ou sistema teórico pertinente não lhe aufere, contudo, o título de dogma. Todas as hipóteses científicas estão em perpétuo teste frente aos fatos naturais, frente aos resultados experimentais e frente aos rigores de consistência lógica com as demais hipóteses aceitas como válidas no presente momento! Uma hipótese indubitável hoje pode ser falsa amanhã, e isto vale para todas as hipóteses científicas, independente dos "títulos honoríficos" que possuam. Mesmos as leis científicas não passam de meras hipóteses neste contexto.

Crenças e o método científico

Pontos importantes a se considerar são a necessidade da falseabilidade das hipóteses científicas e as consequências advindas desta restrição. Considere como exemplo as seguintes proposições: "A salamandra e o rato são anfíbios" e "A maça é verde ou não é verde". A primeira admite os valores lógicos falso e verdadeiro, sendo possível demonstrar que seu valor lógico é em verdade falso ao constatar-se experimentalmente que o rato não é um anfíbio. Contudo a segunda expressão não é testável pois, conforme proposta, ela sempre será verdadeira, independente da cor da maça obtida experimentalmente. Analise com cautela o exemplo e perceba que, em essência, frases não falseáveis não carregam informação útil (ou seria não carregam informação alguma?), pois uma informação sempre pode ser falsa ou verdadeira. Por tal a primeira é condizente com uma hipótese científica, a segunda não.[Ref. 7][Ref. 8]
Um exemplo de hipótese científica - testável - e até o presente momento com valor lógico verdadeiro é "O valor da velocidade da luz é uma constante que independente do referencial inercial adotado" (ver relatividade restrita).[Ref. 9] Esta hipótese é testável pois admite os valores lógicos falso e verdadeiro e pode ser mostrada falsa por experimentos, bastando encontrar-se experimentalmente um referencial inercial onde não se verifique o que ela afirma. Como, contudo, até a presente data, este não foi encontrado, esta é, até a presente data, para todos os efeitos, verdadeira.[Ref. 9][Ref. 10]
Seguindo-se os exemplos, mas agora tocando em um assunto delicado para alguns, a hipótese "Há um Deus transcendental, onisciente, onividente, onipresente e onipotente que controla tudo" não é, por princípio, uma hipótese testável frente aos experimentos e fatos naturais pois, qualquer que seja o resultado experimental, ele é condizente com a onisciência, onipotência, onipresença e onividência de Deus, e, conforme postulado pela própria hipótese, Deus diretamente mostra-se inacessível aos experimentos naturais devido à sua transcendência, de forma que se fosse verificado diretamente a existência de Deus por algum experimento, a frase estaria falsa em virtude de sua transcendência ser falsa, e mantida a sua transcendência, a frase não é testável. Visto que nunca verificou-se a existência direta de Deus - sendo em verdade esta a razão lógica da transcendência figurar na hipótese - a hipótese é em verdade uma frase não falseável - não testável - e por tal transcende também o escopo da ciência.[Ref. 7][Ref. 8]
Em resumo: Deus não é testável e por tal "a ciência não entra no mérito de Deus", sendo a ciência expressamente cética, por definição;[Ref. 7][Ref. 8] tal consideração coloca praticamente todas as religiões, monoteístas ou não, além do mérito e alheias à ciência. Por definição, não há lugar para as religiões dentro da ciência, embora uma religião possa utilizar-se de conhecimento científico para justificar suas premissas.

Ver também

Notas

  1.  Trata-se da metodologia reducionista, certamente em larga escala difundida em várias áreas científicas modernas: compreenda primeiro cada uma das partes e como estas interagem entre si para então compreender o todo. Embora o alicerce de muitas cadeiras científicas, com destaque certamente para as ciências naturais como físicaquímica e biologia, esta metodologia não é em absoluto necessária à definição do método científico, havendo metodologias de trabalho não reducionistas que também mostram-se completamente compatíveis com o método científico em sua forma geral, a citar-se a metodologia atrelada às teorias complexas, como a teoria do caos.
  2.  "... qualquer teoria em Física [científica] é sempre provisória, no sentido de que é apenas uma hipótese, você nunca pode prová-la em definitivo. Não importa quantas vezes os resultados das experiências estejam de acordo com algumas teorias, não se pode ter a certeza de que na próxima vez o resultado não irá contradizê-las. Por outro lado, você pode refutar uma teoria por encontrar uma única observação que não concorde com as suas previsões" - Stephen Hawking - Conforme publicado em Uma breve história do tempo
  3.  Existem várias e várias áreas do conhecimento em que os métodos científicos não se aplicam – ou cujos métodos transcendem os definidos pela metodologia científica – e como exemplo pode-se citar a própria Filosofia. Em ambos os casos tais áreas não se caracterizam, contudo, como áreas de estudo científicas, e no caso particular das críticas filosóficas à metodologia científica a ciência geralmente responde de forma enfática: "Ciência é o que você sabe. Filosofia é o que você não sabe" (Bertrand Russell); "A filosofia da ciência é tão útil para o cientista quanto a ornitologia para os pássaros" (Richard Feynman) - conforme relatado por Simon Singh - Big Bang - pág. 459.
  4.  Nem mesmo as ideias e fatos associados à mecânica quântica, área da física moderna que trouxe à tona consideráveis debates sobre a validade ou não de diversos pressupostos inerentes ao método científico, foram capazes de derrubar a validade da causalidade, e tão pouco da localidade a esta associada (o postulado segundo da relatividade restrita), como princípios básicos para a descrição da natureza. Conforme encontrado em Griffitsh, David J. -Introduction to Quantum Mechanics, encontrando-se subentendido no texto por "Influências causais" todos os entes capazes de estabelecer relação de causa e efeito, quer seja informação, quer energia, ou mesmo matéria: "Influências causais não podem propagar-se mais rápido que a velocidade da luz", mesmo no âmbito da mecânica quântica, de forma que o evento causa e o evento efeito sempre ordenam-se adequadamente no tempo. Para mais informações, vide: Griffith, David J. - Introduction to Quantum Mechanics - pág.: 381, entre outras. Ver também o artigo Tempo.
  5.  É relevante perceber que nem toda correlação implica causalidade. Um excelente exemplo foi explorado por Bobby Henderson em sua carta ao conselho educacional do estado norte-americano do Kansas que culminou na fundação de uma nova religião, o Pastafarianismo. Nela o autor compara a correlação existente entre o aumento nas temperaturas médias anuais nos últimos séculos - associado ao aquecimento global - e o decréscimo do número de piratas no mesmo período, demonstrando que há uma correlação precisa entre os dois.

Referências

  1.  Rosanna Gorini. “alHaytham the man of experience. First Steps in the Science of Vision”. JOURNA OF THEINTERNATIONAL SOCIETYFOR THEHISTORY OF ISLAMIC, Institute of Neurosciences, Laboratoryof Psychobiologyand Psychopharmacology, Roma, Itália, Vol 2.No 4. Outubro de 2003, 53-55, p. 55.
  2.  HAWKING, Stephen. Uma breve história do tempo. Lisboa: Gradiva, 1988. ISBN 972-662-010-4. Rio de Janeiro: Rocco, 1988. ISBN 85-325-0252-0.
  3.  DESCARTES, René. Discurso do método. Tradução, prefácio e notas de João Cruz Costa. São Paulo: Ed de Ouro, 1970. Disponível para download em: Domínio Público e eBooket -IntraText René Descartes - e-books
  4.  «Estudos do método científico» (PDF)[ligação inativa]
  5.  GRIFFITHS, David J. Introduction to Quantum Mechanics. Printice Hall, 1994. ISBN 0-13-124405-1.
  6.  MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.); DESLANDES, Suely Ferreira; GOMES, Romeu. Pesquisa social, teoria método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
  7. ↑ Ir para:a b c Buckingham, Will; [e demais colaboradores] - O Livro da Filosofia - Coleção As Grandes Ideias de Todos os Tempos - Globo - São Paulo - 2011 ISBN 978-85-250-4986-5
  8. ↑ Ir para:a b c Mosley, Michael - Uma História da Ciência - Zahar Editora - 1ª Edição - 2011 - ISBN 9788537804575
  9. ↑ Ir para:a b Einstein, Albert - A Teoria da Relatividade: sobre a teoria da relatividade especial e geral (para leigos) - L&PM Editores - Porto Alegre, RS - 2013. ISBN 978-85-254-2850-9
  10.  Castelvecchi, Davide - Neutrinos vão além da velocidade da luz? - Scientific America Brasil - 16 de dezembro de 2011 - Cópia eletrônica acessada às 21:15 horas UTC de 15 de março de 2014: http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/neutrinos_que_vao_alem_da_velocidade_da_luz_.html
  1.  SINGH, Simon. Big Bang. Rio de Janeiro; São Paulo: Editora Record, 2006. ISBN 85-01-07213-3. Capítulo "O que é ciência?", e demais.
  2.  Sobhi Rayan. (2014). Analogical reasoning roots in Ibn al-Haytham's scientific method of research. pg 321-322.
  3.  HAWKING, Stephen. Uma breve história do tempo. Lisboa: Gradiva, 1988. ISBN 972-662-010-4. Rio de Janeiro: Rocco, 1988. ISBN 85-325-0252-0.
  4.  «Pesquisa científica: primeiros passos - Augusto Bene»Augusto Bene. 15 de agosto de 2017
  5.  HAGUETTE, Teresa Maria F. Metod


Cultura

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Disambig grey.svg Nota: Para outros significados, veja Cultura (desambiguação).
A expressão simbólica humana começou a se desenvolver na pré-história.
religião e a arte são importantes manifestações da cultura humana.
Celebrações, rituais e padrões de consumo são significantes aspectos da cultura popular.
A organização política e social varia entre diferentes culturas.
As tecnologias, como a da escrita, propiciam a expressão cultural num alto grau de complexidade.
Cultura (do latim cultura)[1] é um conceito de várias acepções, sendo a mais corrente, especialmente na antropologia, a definição genérica formulada por Edward B. Tylor segundo a qual cultura é "todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade".[2][3] Embora a definição de Tylor tenha sido problematizada e reformulada constantemente, tornando a palavra "cultura" um conceito extremamente complexo e impossível de ser fixado de modo único. Na Roma antiga, seu antepassado etimológico tinha o sentido de "agricultura" (do latim culturae, que significa “ação de tratar”, “cultivar” e "cultivar conhecimentos", o qual originou-se de outro termo latino, colere, que quer dizer “cultivar as plantas”), significado que a palavra mantém ainda hoje em determinados contextos, como empregado por Varrão, por exemplo.[4]
A cultura é também comumente associada às formas de manifestação artística e/ou técnica da humanidade, como a música erudita europeia (o termo alemão "Kultur" – "cultura" – se aproxima mais desta definição).[5] Definições de "cultura" foram realizadas por Ralph Linton, Leslie White, Clifford GeertzFranz Boas, Malinowski e outros cientistas sociais. Em um estudo aprofundado, Alfred Kroeber e Clyde Kluckhohn encontraram, pelo menos, 167 definições diferentes para o termo "cultura".[6] Clifford Geertz, discutia negativamente a quantidade gigantesca de definições de cultura, considerando um progresso de grande valor o desenvolvimento de um conceito que fosse coerente internamente e que tivesse um argumento definido[7]. Assim, definiu cultura como sendo um "padrão de significados transmitidos historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas por meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação a vida."[7]
Por ter sido fortemente associada ao conceito de civilização no século XVIII, a cultura, muitas vezes, se confunde com noções de: desenvolvimento, educação, bons costumes, etiqueta e comportamentos de elite. Essa confusão entre cultura e civilização foi comum, sobretudo, na França e na Inglaterra dos séculos XVIII e XIX, onde cultura se referia a um ideal de elite.[5] Ela possibilitou o surgimento da dicotomia (e, eventualmente, hierarquização) entre "cultura erudita" e "cultura popular", melhor representada nos textos de Matthew Arnold, ainda fortemente presente no imaginário das sociedades ocidentais.

Principais conceitos

  • Ciências sociais - do ponto de vista das ciências sociais (isto é, da sociologia e da antropologia), sobretudo conforme a formulação de Tylor, a cultura é um conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais artificiais (isto é, não naturais ou biológicos) aprendidos de geração em geração por meio da vida em sociedade.[8] Essa definição geral pode sofrer mudanças de acordo com a perspectiva teórica do sociólogo ou antropólogo em questão. De acordo com Ralph Linton, "como termo geral, cultura significa a herança social e total da Humanidade; como termo específico, uma cultura significa determinada variante da herança social. Assim, cultura, como um todo, compõe-se de grande número de culturas, cada uma das quais é característica de um certo grupo de indivíduos".[9] Enquanto a definição de Tylor é muito genérica, podendo causar confusão quando se propõe uma reflexão mais aprofundada do que é cultura, outras definições são mais restritivas. Os autores debatem se o termo se refere mais corretamente a ideias (Boas, Malinowski, Linton), comportamentos (Kroeber) ou simbolização de comportamento, incluindo a cultura material (L. White).[10] Vale lembrar que, em algumas concepções de cultura, o comportamento é apenas biológico, sendo a cultura a forma como esse conjunto de fatores biológicos se apresentam nas sociedades humanas. Em outras concepções (como onde cultura é entendida como conjunto de ideias), cultura exclui os registros materiais dos homens como tais da classificação (ex. um sofá ou uma mesa não seriam “cultura”) – posição fortemente criticada por White.
  • Filosofia - cultura é o conjunto de manifestações humanas que contrastam com a natureza ou comportamento natural. No cotidiano das sociedades civilizadas (especialmente a sociedade ocidental) e no vulgo costuma ser associada à aquisição de conhecimentos e práticas de vida reconhecidas como melhores, superiores, ou seja, erudição; este sentido normalmente se associa ao que é também descrito como "alta cultura", e é empregado apenas no singular (não existem culturas, apenas uma cultura ideal, à qual os homens indistintamente devem se enquadrar). Dentro do contexto da filosofia, a cultura é um conjunto de respostas para melhor satisfazer as necessidades e os desejos humanos. Cultura é informação, isto é, um conjunto de conhecimentos teóricos e práticos que se aprende e transmite aos contemporâneos e aos vindouros. A cultura é o resultado dos modos como os diversos grupos humanos foram resolvendo os seus problemas ao longo da história. Cultura é criação. O homem não só recebe a cultura dos seus antepassados como também cria elementos que a renovam. A cultura é um fator de humanização. O homem só se torna homem porque vive no seio de um grupo cultural. A cultura é um sistema de símbolos compartilhados com que se interpreta a realidade e que conferem sentido à vida dos seres humanos.
  • Antropologia - esta ciência entende a cultura como o totalidade de padrões aprendidos e desenvolvidos pelo ser humano. Segundo a definição pioneira de Edward Burnett Tylor, sob a etnologia (ciência relativa especificamente do estudo da cultura) a cultura seria "o complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade". Portanto corresponde, neste último sentido, às formas de organização de um povo, seus costumes e tradições transmitidas de geração para geração que, a partir de uma vivência e tradição comum, se apresentam como a identidade desse povo.

Descrição

O uso de abstração é uma característica do que é cultura: os elementos culturais só existem na mente das pessoas, em seus símbolos tais como padrões artísticos e mitos. Entretanto, fala-se também em cultura material (por analogia a cultura simbólica) quando do estudo de produtos culturais concretos (obras de arte, escritos, ferramentas etc.). Essa forma de cultura (material) é preservada no tempo com mais facilidade, uma vez que a cultura simbólica é extremamente frágil.
A principal característica da cultura é o chamado mecanismo adaptativo: a capacidade de responder ao meio de acordo com mudança de hábitos, mais rápida do que uma possível evolução biológica. O homem não precisou, por exemplo, desenvolver longa pelagem e grossas camadas de gordura sob a pele para viver em ambientes mais frios – ele simplesmente adaptou-se com o uso de roupas, do fogo e de habitações. A evolução cultural é mais rápida do que a biológica. No entanto, ao rejeitar a evolução biológica, o homem torna-se dependente da cultura, pois esta age em substituição a elementos que constituiriam o ser humano; a falta de um destes elementos (por exemplo, a supressão de um aspecto da cultura) causaria o mesmo efeito de uma amputação ou defeito físico, talvez ainda pior.
Além disso, a cultura é, também, um mecanismo cumulativo. As modificações trazidas por uma geração passam à geração seguinte, de modo que a cultura transforma-se perdendo e incorporando aspectos mais adequados à sobrevivência, reduzindo o esforço das novas gerações. Um exemplo de vantagem obtida através da cultura é o desenvolvimento do cultivo do solo, a agricultura. Com ela o homem pôde ter maior controle sobre o fornecimento de alimentos, minimizando os efeitos de escassez de caça ou coleta. Também pôde abandonar o nomadismo; daí a fixação em aldeamentos, cidades e estados.
A agricultura também permitiu o crescimento populacional de maneira acentuada, que gerou novo problema: produzir alimento para uma população maior. Desenvolvimentos técnicos – facilitados pelo maior número de mentes pensantes – permitem que essa dificuldade seja superada, mas por sua vez induzem a um novo aumento da população; o aumento populacional é assim causa e consequência do avanço cultural.

Mudança Cultural

A cultura é dinâmica. Como mecanismo adaptativo e cumulativo, a cultura sofre mudanças. Traços se perdem, outros se adicionam, em velocidades distintas nas diferentes sociedades. Dois mecanismos básicos permitem a mudança cultural: a invenção ou introdução de novos conceitos, e a difusão de conceitos a partir de outras culturas. Há também a descoberta, que é um tipo de mudança cultural originado pela revelação de algo desconhecido pela própria sociedade e que ela decide adotar.
A mudança acarreta normalmente em resistência. Visto que os aspectos da vida cultural estão ligados entre si, a alteração mínima de somente um deles pode ocasionar efeitos em todos os outros. Modificações na maneira de produzir podem, por exemplo, interferir na escolha de membros para o governo ou na aplicação de leis. A resistência à mudança representa uma vantagem, no sentido de que somente modificações realmente proveitosas, e que sejam por isso inevitáveis, serão adotadas evitando o esforço da sociedade em adotar, e depois rejeitar um novo conceito. O ambiente exerce um papel fundamental sobre as mudanças culturais, embora não único: os homens mudam sua maneira de encarar o mundo tanto por contingências ambientais quanto por transformações da consciência social.

Cultura pública

Segundo Bernhard Peters, cultura pública pode ser entendida como senso comum, porém não no sentido pejorativo, e sim como um conjunto de símbolos e sentidos disponíveis publicamente e compartilhados pela sociedade ou por uma comunidade específica. Sendo assim, a cultura pública também se relaciona com a ideia de comunicação pública, no sentido de ser livre de restrições ou condições e não ser privada ou confidencial. A comunicação pública é o pano onde a cultura pública ganha visibilidade e se desenvolve, pois é debatida e reproduzida. [11]
A cultura pública pode ser discursiva ou expressiva. Ela será discursiva quando se articular na Linguagem escrita ou falada e poderá ser contestada. Por outro lado, será expressiva quando for articulada por meio de Símbolos não linguísticos, práticas simbólicas e usos figurativos da linguagem.[11]

Cultura versus Entretenimento

Há uma relevante distinção entre cultura e entretenimento. Segundo Mario Vargas Lhosa[12] o objetivo do entretenimento é divertir e dar prazer, sem referenciais culturais concretos. Sendo assim, pode-se conceber que haja entretenimento sem cultura.
Antigas culturas zelavam por suas tradições com o intuito de não se perder o registro de dadas experiências vividas por aquele grupo humano, ou em outras palavras, com o intuito de preservação de sua cultura. No entanto, este não é um costume de todos os grupos humanos. Muitas vezes, o entretenimento substitui a cultura para um determinado povo e assim muitas tradições culturais acabam por serem esquecidas.
Atualmente muitos organismos e iniciativas internacionais trabalham pelo resgate e preservação da cultura de distintos povos.

Cultura em animais

De acordo com a definição de cultura de Tylor, o Chimpanzé é um primata que possui cultura.
É possível, na opinião de alguns cientistas, identificar uma "espécie de cultura" em alguns animais superiores, especialmente mamíferos (e dentro destes, especialmente primatas). De acordo com Andrew Whiten, Kathy Schick e Nichobs Tolh, os chimpanzés possuem um rico repertório de ferramentas (clavas, perfuradores etc.).[13] A técnica de produção de ferramentas, além de sua forma de uso, é ensinada de geração em geração entre os chimpanzés. Algo semelhante ocorre com os primatas Bonobos.[14]
A existência da produção de cultura material e transmissão desta cultura socialmente é, dentro de algumas concepções de cultura, suficiente para afirmar que primatas possuem cultura. No entanto, percebem-se diferenças na forma como a cultura existe entre os primatas. É consenso entre os antropólogos que caracterizar culturas entre "superiores" e "inferiores" é uma impropriedade científica, já que não existem critérios objetivos para realizar esta diferenciação. Portanto, a diferença entre a cultura humana e a cultura dos primatas deve ser entendida em outros termos. A grande diferença, do ponto de vista antropológico, entre essas duas manifestações culturais, é que, entre os primatas, não ocorre o chamado "efeito catraca", isto é, os primatas não somam inovações tecnológicas para produzir produtos tecnologicamente mais complexos. O processo de difusão da cultura entre primatas ainda está sendo estudado.[15]
Além da produção de ferramentas, os chimpanzés apresentam comportamentos diferentes conforme as sociedades estudadas. O famoso grooming, por exemplo, é diferente de sociedade para sociedade. É comprovado, também, que diferentes sociedades de chimpanzés apresentam formas de vocalização únicas às suas populações.[16]

Referências

  1.  FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 508.
  2.  (LARAIA, Roque de Barros. Cultura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006)
  3.  Definição de cultura em Primitive Culture, disponível online em inglês.
  4.  «dicionário etimológico»
  5. ↑ Ir para:a b Norbert Elias. «O Processo Civilizador»
  6.  Kroeber, A. L. and C. Kluckhohn, 1952. Culture: A Critical Review of Concepts and Definitions.
  7. ↑ Ir para:a b Geertz, Clifford (1989). A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC. 4 páginas
  8.  A. L. Kroeber. O Conceito de Cultura em Ciência. (1949)
  9.  Ralph Linton. O Homem, uma introdução à Antropologia, São Paulo, 1943
  10.  Leslie White, O conceito de cultura (1957)
  11. ↑ Ir para:a b Vimieiro, Ana Carolina (2011). «Enquadramentos da mídia e o processo de aprendizado social: transformações na cultura pública sobre o tema da deficiência de 1960 a 2008»Enquadramentos da mídia e o processo de aprendizado social: transformações na cultura pública sobre o tema da deficiência de 1960 a 2008. Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação. p. 3. Consultado em 5 de julho de 2016. Arquivado do original em 16 de agosto de 2016
  12.  Llosa, Mario (2013). A Civilização do Espetáculo. Rio de Janeiro: Objetiva. 23 páginas
  13.  A Whiten, Kathy Schick, Nicholas Toth. «"The evolution and cultural transmission of percussive technology: integrating evidence from paleoanthropology and primatology"; Journal of Human Evolution; 57:420-435»
  14.  Andrew Whiten; "Primate social learning, traditions and culture"; The Evolution of Primate Societies; J Mitani, J Call, P Kappeler, R Palombit, J Silk (ed); Chicago University Press, Chicago, USA
  15.  A Whiten; "Social learning in apes"; Encyclopedia of Animal Behaviour; M Breed, J Moore (ed); Elsevier Academic Press
  16.  Clark Spencer Larsen. «Acquiring resources and transmitting Knwoledge: got culture?»

Ver também

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Ligações externas

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