Desporto
Por Bruno Roseiro, Editor de Desporto
O mercado fechava à meia-noite, era um dia importante no julgamento do caso de Alcochete, o Benfica começava mais cedo a 19.ª jornada do Campeonato, havia de manhã as meias do Open da Austrália – e a isso juntava-se ainda o Brexit, a greve da função pública, o anúncio do Grupo de Contacto do Livre, os últimos desenvolvimentos do coronavírus (e podíamos continuar, continuar, continuar…). Não foi difícil perceber que esta newsletter enviada habitualmente à sexta-feira teria de passar para a madrugada de sábado. E foi no sábado, há uma semana, que esta newsletter começou a ser “escrita”. Infelizmente por linhas tortas quando devia ser tudo menos isso.
A final da Taça da Liga caminhava a passos largos para o desempate nas grandes penalidades quando Ricardo Horta, uma espécie de suspeito do costume do Sp. Braga esta temporada, marcou o único golo que deu a vitória aos minhotos frente ao FC Porto. Foi a coroação de Rúben Amorim e o cumprir de uma profecia para António Salvador. Mas foi também o abrir de uma crise nos dragões de Pinto da Costa, o-presidente-que-ganhou-tudo-menos-a-Taça-da-Liga, depois de uma flash explosiva de 80 segundos onde Sérgio Conceição falou de “falta de união no clube”. Chamada para aqui, mensagem para ali, tudo escrito ou a caminho disso. “O LeBron passa hoje o Kobe, fica terceiro melhor de sempre. Faltam 18 pontos”, enviei na conversa com a Mariana Fernandes. Continuámos a falar sobre o FC Porto e, passados 32 minutos, ficou combinado que faria ela a última notícia da noite. “Mandaram-me uma coisa boa para segunda-feira, se calhar como memória do dia na Rádio: a estatística mais improvável de sempre”, acrescentei depois, sobre o dia em que Manute Bol fez quatro pontos, quatro ressaltos e 15 (!) desarmes.
Menos de 24 horas depois, choquei com a realidade. “Já viste isto? Do Kobe?”, disseram-me. Até aqui, ainda estava na minha cabeça o recorde que tinha sido conseguido por LeBron James. “Morreu o Kobe”. A partir daqui, ou havia um outro Kobe ou então era um engano qualquer. “Morreu mesmo o Kobe”. Morreu mesmo “o” Kobe. Um primeiro artigo sobre a notícia, outro com as reações. Um com os melhores vídeos de jogadas, outro sobre o óscar para curta de animação. Um sobre a carta de despedida. Faltava um, que poderia ter sido escrito em menos de duas horas e demorou mais de quatro. Kobe era mais do que a bola e um cesto. Muito mais. Kobe era, além de um dos melhores jogadores de sempre, um exemplo de liderança, de persistência, de trabalho, de inteligência. Hoje, tirava as manhãs para escrever mas era ainda um empreendedor de sucesso. A filha Gianna, de 13 anos, colocara-o de novo num mundo que será seu de forma intemporal: o basquetebol. Também ela estava no helicóptero com o pai.
Escrever newsletters na primeira pessoa nunca foi propriamente um registo muito utilizado por aqui mas Kobe justifica. Justifica porque, no meu caso, amante de NBA e melhor jogador de basquetebol do sexto andar do meu prédio (nota: há uns anos e uns quilos atrás foi diferente), Kobe nunca me fascinou, conquistou-me. Michael Jordan, por uma questão geracional, fascinou-me anos a fio por ser o melhor de sempre. LeBron James, por uma questão de interesse, fascinou-me anos a fio por ser o protótipo da evolução do jogo, do mundo e das características de um jogador também ele talhado para ser dos melhores de sempre. Kobe Bryant, que nasceu e cresceu entre estas duas eras, conquistou-me. Dentro de campo, fora de campo, entre os dois campos. O miúdo que pedia ao pai para jogar com os cotovelos sem medo no 1×1 ao pé de casa e que saltou do secundário para a NBA tornou-se exemplo para todos, dos maiores desportistas aos mais comuns dos mortais. E é assim que todos hoje o recordam.
Entre os muitos artigos que foram sendo escritos ao longo da semana, apenas alguns destaques: a crónica do João Bonifácio onde recorda “o génio, bom e mau, de um jogador que teve duas vidas e que procurou deixar como maior legado não os títulos, mas a relação com os outros. Até com os que nunca o conheceram”; o rascunho que Paulo Coelho apagou do livro que estava a escrever com a antiga estrela dos Lakers; a despedida de LeBron, com a promessa de manter o seu legado; a recordação do dia em que parou o carro para ajudar pessoas que tinham sofrido uma acidente de viação; a família que deixou e as primeiras palavras emocionadas da mulher, Vanessa.
Por cá, e depois da vitória frente ao Marítimo, o Sporting conseguiu (finalmente) fechar aquela que é a sua maior venda de sempre: Bruno Fernandes saiu para o Manchester United por 55+5+5+15+10% da mais valia (tudo o que não seja percentual é em milhões de euros) e pode já estrear-se este sábado (17h30) frente ao Wolverhampton, a armada portuguesa que recebeu este mercado Daniel Podence. Passámos também pelo Pasteleira, o clube de bairro onde o destro é elogiado pelo pé esquerdo e deu uma entrada a dois pés em forma de Euromilhões através do mecanismo de solidariedade. No primeiro teste pós-saída dos leões, o conjunto verde e branco (que estreou Sporar mas perdeu Luiz Phellype por lesão) desloca-se domingo a Braga (17h30). Antes, já este sábado (18h), o FC Porto joga em Setúbal, antecedendo a primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal esta terça-feira, com os encontros entre Benfica e Famalicão (19h15) e Ac. Viseu e FC Porto (20h45).
Lá por fora, as mudanças são mais coletivas do que individuais: Ronaldo continua a marcar mas a Juventus perdeu com o Nápoles (2-1), João Félix não marcou e o Atl. Madrid voltou a não ganhar (nulo com o Leganés). E para que nada lhe falte, nota para os destaques nas principais ligas (e taças) europeias: Leicester-Chelsea (12h30), B. Dortmund-U. Berlim (14h30) Liverpool-Southampton (15h), Real Madrid-Atl. Madrid (15h, sem o lesionado Félix), PSG-Montpellier (16h30), RB Leipzig-B. Mönchengladbach (17h30) e Sassuolo-Roma (19h45) no sábado; Juventus-Fiorentina (11h30), Tottenham-Manchester City (16h30), Udinese-Inter (19h45), Barcelona-Levante (20h) e Bordéus-Marselha (20h) no domingo; Nantes-PSG (20h05) na terça-feira; Tottenham-Southampton (19h45) na quarta-feira; Real Madrid-Real Sociedad (18h) e Athl. Bilbao-Barcelona (20h) na quinta-feira.
No Open da Austrália, uma meia surpresa no quadro masculino e uma grande surpresa (pelo menos num plano teórico porque quem foi acompanhando teve outra perceção) no torneio feminino: este sábado, logo às 8h30, a espanhola Garbiñe Muguruza, vencedora de Roland Garros em 2016 e de Wimbledon em 2017, tenta o último passo de uma autêntica redenção após um último ano falhado frente à americana (nascida em Moscovo) Sofia Kenin, que até agora nunca passara da quarta ronda de um Grand Slam; no domingo (8h30), Novak Djokovic, o rei da Austrália com sete títulos noutras tantas finais que afastou Roger Federer, vai defrontar o representante da “nova geração”, Dominic Thiem, que ultrapassou Alexander Zverev após ter derrotado Rafa Nadal.
No futsal, Portugal entrou da melhor forma na qualificação para o Campeonato do Mundo deste ano, vencendo na Póvoa de Varzim a Bielorrússia por 2-1 com golos de Cardinal e Tiago Brito que fizeram a reviravolta antes do 2-2 arrancado a ferros frente à Finlândia com golos de Bruno Coelho e Cardinal nos dois últimos minutos. Desta forma, a formação nacional irá jogar uma autêntica final com a Itália no domingo (17h), com o vencedor a garantir a passagem direta à fase final e o vencido a cair no playoff de apuramento (e com o empate a servir aos transalpinos, sendo que a Finlândia não está fora das contas caso as três equipas terminem com cinco pontos o grupo).
No andebol, Portugal perdeu com a Alemanha e terminou o Campeonato da Europa num histórico sexto lugar, que lhe valeu também o apuramento para o torneio pré-olímpico onde passarão aos Jogos os dois primeiros do grupo que terá além dos gauleses a Tunísia e a Croácia, formação que chegou à final (contando com o inevitável apoio da presidente Kolinda Grabar-Kitarović) mas perdeu com a Espanha. Depois da Taça, regressa agora o Campeonato com três jogos entre históricos (Boavista-FC Porto no domingo às 19h, Benfica-Belenenses no sábado às 15h e Sporting-V. Setúbal também no sábado às 19h30) mas, nos pavilhões, haverá mais encontros grandes como o dérbi Sporting-Benfica pela liderança da Liga de basquetebol (sábado, 16h) ou o Oliveirense-Sporting em hóquei em patins que vai mexer na classificação do Campeonato disputado este ano a cinco (domingo, 15h).
Outras duas boas notícias no desporto nacional no final da semana passada: a Seleção masculina de ténis de mesa venceu a Bélgica por 3-0 e garantiu a qualificação para os Jogos Olímpicos de Tóquio (terceira seguida por equipas, quarta no total) tal como Fu Yu, no quadro individual feminino; Patrícia Sampaio (eleita atleta do ano a par do também judoca Jorge Fonseca na Gala da Confederação do Desporto, que se realizou esta semana) e Rochelle Nunes conquistaram a medalha de bronze no Grand Prix de Telavive em -78kg e +78kg, respetivamente.
E não, não nos esquecemos do grande momento que se avizinha. No fim de semana em que na Europa arranca o Torneio das Seis Nações em râguebi (sábado com o Gales-Itália às 14h15 e o Irlanda-Escócia às 16h45 e domingo com o França-Inglaterra às 15h), os Estados Unidos têm a grande noite do futebol americano: o Super Bowl, este ano disputado entre os Kansas City Chiefs e os San Francisco 49ers (domingo, 23h30). Antes, durante e depois terá aqui no Observador todo o acompanhamento de um jogo sempre mediático e maior do que a parte desportiva.
Para acabar, e como o prometido é devido, as grandes novidades do último dia de mercado de transferências, “celebrado” por piada aqui na redação logo às 23 horas fazendo o cruzamento com o Brexit. Das seis principais linhas de argumento de um filme chamado janela de inverno aos atores do mercado que não se veem mas mexem em tudo, pode encontrar aqui todas as formas de analisar aquele que é sempre o momento mais esperado antes do arranque “oficial” da segunda metade da temporada. E no meio de todo o trabalho que arrancou às 8h30 desta sexta-feira na meia-final masculina do Open da Austrália e vai agora prosseguir com o jogo decisivo do quadro feminino (sábado, 8h30), haverá tempo para ver o encontro entre Los Angeles Lakers-Portland Trail Blazers no Staples Center (esta madrugada, 3h30) – e fazer uma última homenagem a Kobe Bryant.
EU, A TV E UM COMANDO
Domingo
Domingo
Domingo
O JOGO EM PALAVRAS
PÓDIO
- 1
Portugal vence Bélgica e garante Jogos Olímpicos
Apolónia e Monteiro salvaram set points, Marcos salvou um match point e Portugal derrotou a Bélgica na primeira fase do torneio mundial de qualificação (3-0), garantindo a qualificação para os Jogos. - 2
Patrícia Sampaio conquista bronze em Telavive
Patrícia Sampaio ganhou este sábado nas repescagens a medalha de bronze no Grand Prix de Telavive, após vencer no combate decisivo Luise Malzhan após ter eliminado Anna Maria Wagner. - 3
Portugal perde com Alemanha e acaba em sexto
Portugal terminou a histórica participação no Europeu de andebol com a sexta posição (melhor de sempre) após perder com a Alemanha por 29-27 num jogo onde chegou a estar na frente por 26-24.
A CRÓNICA
DESPORTO
"Puto, usa as camisolas do Kobe até se gastarem"
João Bonifácio recorda o génio, bom e mau, de um jogador que teve duas vidas e que procurou deixar como maior legado não os títulos, mas a relação com os outros. Até com os que nunca o conheceram.
TERCEIRO TEMPO
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