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sexta-feira, 6 de março de 2015

OBSERVADOR - MACROSCÓPIO - 5 DE MARÇO DE 2015

Macroscópio – Uma homenagem à Ciência no dia de um aniversário especial‏

Macroscópio – Uma homenagem à Ciência no dia de um aniversário especial

Para: antoniofonseca40@sapo.pt
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Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!

 
 
Perdoem-me os leitores do Macroscópio, mas tenho hoje de começar com uma nota pessoal. O Público, o jornal que ajudei a fundar, onde trabalhei durante 20 anos e que dirigi durante 11, comemorou hoje o seu 25º aniversário. Parabéns e um abraço a todos quantos ainda fazem todos os dias um jornal que, como concorrente, nos desafia também todos os dias aqui no Observador.
 < br> Para assinalar esse 25º aniversário o jornal fez uma edição especial, dirigida pelo físico João Magueijo (que já entrevistámos aqui no Observador, lembram-se?) e que tem como mote o tempo. Sendo João Magueijo um cientista e tendo sido a aposta na divulgação científica uma das apostas iniciais do Público, decidi também dedicar este Macroscópio a alguns avanços recentes do conhecimento científico. Até porque houve uma mão cheia de notícias bem interessantes nos últimos dias.
 
A minha primeira referência, noblesse oblige, vai para um texto dessa edição especial do Público, um texto de uma jornalista que está lá desde a primeira hora, A na Gerschenfeld. Trata-se de Este ano, o último dia de Junho vai ter mais um segundo e fala-nos de como o planeta está a rodar cada vez mais devagar. É um texto onde se aprende, o que é sempre útil, e de que vos deixo este aperitivo:
A partir de observações astronómicas, os astrónomos árabes tinham subdividido, já na Idade Média, o dia solar em 24 horas, as horas em 60 minutos e os minutos em 60 segundos. E, com base nisso, em 1874, o segundo fora cientificamente definido como um sexagésimo de sexagésimo de vigésimo quarto da duração média do dia solar. Um dia “civil” durava portanto 86.400 segundos. Só que, pouco depois, descobriu-se que o período de rotaç ão da Terra não é assim tão regular: varia de forma imprevisível sob o efeito das marés, dos ventos, dos terramotos.
 
Aqui no Observador também quisemos, logo desde o arranque, ter informação relevante, original e apresentada de forma original sobre Ciência, e um bom exemplo disso é a reportagem especial que editámos ainda ontem sobre o novo Laboratório de Plasmas Hipersónicos do Instituto Superior Técnico. O trabalho da Vera Novais chama-se Plasmas Hipersónicos ou como as naves atravessam um “bunker” espacial em Lisboa e conta-se como lá se vai simular a reentrada de naves espaciais na atmosfera terrestre. O problema pode ser sintetizado assim:
Uma nave que venha da Esta&cced il;ão Espacial Internacional entra na atmosfera terrestre a seis quilómetros por segundo, mas se vier da Lua entra ao dobro da velocidade. A onda de choque causada por um objeto que entra a grande velocidade na atmosfera faz aumentar a temperatura, que faz queimar os materiais, como no caso do meteoro. E o aumento da temperatura vai fazer com que as moléculas dos gases da atmosfera se agitem mais, colidam umas com as outras e libertem eletrões. Quando os eletrões chocam com as moléculas liberta-se radiação, que pode ser ultravioleta, visível (a luz que vemos) ou infravermelha, e formam-se um plasma – o quarto estado da matéria. 
 
Mas já que começámos a falar de tempo, a reboque de um aniversário, voltemos ao tempo para referir a descoberta que, entre ontem e hoje, mais agitou a comunidade científica: é que tudo i ndica que foi encontrado o humano mais antigo do Mundo. Demos aqui a notícia, mas para vos propor alguma variedade vou indicar-vos dois links onde ela está mais desenvolvida.
  • A primeira é do New York Times, Jawbone Fossil Fills a Gap in Early Human Evolution, que sintetiza assim a descoberta:Mr. Seyoum, a graduate student in paleoanthropology at Arizona State University, had made a discovery that vaulted evolutionary science over a barren stretch of fossil record between two million and three million years ago. This was a time when the human genus, Homo, was getting underway. The 2.8-million-year-old jawbone of a Homo habilis predates by at least 400,000 ye ars any previously known Homo fossils. Ou seja, a nossa linhagem mais próxima é 400 mil anos mais antiga do que se pensava até hoje. São muitos anos.
  • O outro texto é da National Geographic e tem a vantagem de vir ilustrado com uma árvore geneológica do nosso ramo da evolução. Em Oldest Human Fossil Found, Redrawing Family Tree, relaciona-se esta descoberta – que afinal foi apenas de uma mandíbula e alguns dentes, com uma outra, também revelada esta semana: “The Ethiopian jaw is enough on its own to cause a surge of excitement among paleoanthropologists. But its significance is magnified by the reconstruction of a Homo fossil a million years younger, published Wednesday in the journal Nature. (…) In another plot twist, Spoor and his colleagues digitally reconstructed the braincase of the original H. habilis specimen, which had previously been estimated to hold about 700 cubic centimeters of actual brain—more than a typical australopithecine, but less than later humans. Their new version upped the volume to 800 cubic centimeters, advancing habilis into the same cerebral class as two other Homo species gadding about the East African savanna by two million years ago—Homo rudolfensis and early forms of Homo erectus.
 
E assim vamos conhecendo o nosso passado. E quanto ao nosso futuro? Em Silicon Valley, conta-nos a Spiegel, nascem como cogumelos empresas que julgam poder determiná-lo. EmTomorrowland: How Silicon Valley Shapes Our Future, a revista alemã interroga-se sobre se não estarão a ir longe demais: “In the Silicon Valley, a new elite is forming that wants to determine not only what we consume, but also the way we live. They want to change the world, but they don't want to accept any rules. Do they need to be reined in?”
 
Passo agora a um jornal espanhol, o El Pais, para vos falar da evolução das línguas europeias. Já sabíamos que os olhos azuistinham, muito provavelmente, derivado todos eles de uma única mutação ge nética ocorrida num nosso antepassado que viveria para os lados do Mar Negro e da Ásia Menor, agora o diário espanhol escreve em Las lenguas indoeuropeas se propagaron sobre ruedas que “Los genomas de 69 europeos antiguos confirman su migración masiva desde el Mar Negro”. Mas esta conclusão ainda é controversa: “Los resultados no excluyen la existencia de una gran migración desde Oriente Próximo hacia el oeste en los albores del neolítico (8.000 años atrás). De hecho, la confirman por encima de toda duda. Lo que sí excluyen es que ese antiguo movimiento de población fuera el responsable de propagar todas las lenguas indoeuropeas, como sostiene la teoría defendida, sobre todo, por el arqueólogo británico Colin Renfrew.”
 
Para acabar de uma forma um pouco mais divertida e para provar que a Ciência não serve apenas para satisfazer a nossa curiosidade sobre os mistérios do Universo – bem longe disso – faço um salto final para um estudo que nos diz quantas bebidas devemos beber se queremos parecer mais atrativos a um nosso parceiro. A conclusão pode decepcionar muitos dos nossos noctívagos (e quem trabalha no Bairro Alto escreve estas palavras com conhecimento de causa): You Look Hotter After 1 Drink, But Not 2. Sim, apenas uma bebida. Escreve a Live Science: “In the study, 40 students at the University of Bristol in the United Kingdom volunteered to get a little tipsy. To see how the students' appearances changed with each drink, the researchers pho tographed their faces three times: when sober, after drinking the equivalent of one glass of wine, and after drinking a second alcoholic drink. (…) A separate group of heterosexual students then rated how attractive they found each headshot in side-by-side comparisons. (…) It turned out that the photos taken after one drink were rated as more attractive than the sober photos, the researchers found. But the trend didn't continue. After two drinks, the participants found the sober photo more attractive than the high-alcohol headshot.
 
Hoje é quinta-feira, amanhã é sexta e dia de começar a sair à noite (apesar de quinta já ser um dia forte), pelo que tenham cuidado. Se além de descansarem e lerem, como sempre recomendo, quiserem parecer mais atraentes, já sabem por onde devem ficar.
 
Até amanhã.
 
 
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ANTÓNIO FONSECA


quinta-feira, 5 de março de 2015

OBSERVADOR - MACROSCÓPIO - 5 DE MARÇO DE 2015

Macroscópio – Regresso à teimosia da actualidade política‏

Macroscópio – Regresso à teimosia da actualidade política

Para: antoniofonseca40@sapo.pt

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!

 
Primeiro que tudo uma pequena explicação: ontem não houve Macroscópio porque a participação numa conferência fora de Lisboa acabou por não me deixar tempo suficiente para seleccionar e partilhar com os leitores textos interessantes, que merecessem ser lidos.
 
Hoje, que volto ao vosso convívio, confesso que é um daqueles dias em que não é muito fácil fazer o Macroscópio. Isso acontece por vezes quando alguns temas parecem querer ocupar todo o espaço da actualidade mas é pouca a variedade ou profundidade das reflexões que suscitam. De alguma forma isso passou a semana passada, com um Macroscópio significativamente intitulado “A actualidade política é teimosa”, sobre o caso do discurso de António Costa num almoço com investidores chineses. O caso desta semana, como todos sabem, é o da discussão sobre a falhanos descontos de Passos Coelho para a Segurança Social, um daqueles casos que a oposição trata de explorar e onde o primeiro-ministro surgiu a defender-se com um vigor e termos que não lhe são habituais. Isto à mistura com a repescagem de eventuais falhas de António Costa, cometidas também há muitos anos. Mas vamos lá a ver o que de mais interessante, e revelador, se escreveu.
 
Vou começar desta vez por um texto que está reservado aos assinantes do Expresso Diário, o de Ricardo Costa O passado, sempre (em nova versão). Nele o director do Expresso defende que “os políticos portugueses têm muito a aprender. Em primeiro lugar devem saber revisitar o seu passado em antecipação e ser transparentes nesses processos, em segundo devem ser muito claros nas explicações e decisões, por último não podem adaptar o seu discurso. 
Não sei se este caso fará mossa séria ao primeiro-ministro, sobretudo porque a dívida em causa era pequena. Mas a forma como está a gerir o caso não o ajuda.
 
Também no Expresso Diário, Henrique Monteiro optou por contar uma experiência pessoal na crónica A Segurança Social de Passos é diferente da minha. Ficamos a saber, para começar, que a determinada altura teve de reclamar porque os serviços lhe cobraram dinheiro a mais. O que se seguiu foi kafkiano. Começou por ir aos serviços da sua área de residência, tirou senha, esperou, para acabar recambiado para Lisboa. Lá caminhou para Lisboa, lá disse ao que vinha e deram-lhe um papel para as mãos: “Devo dizer que o papel não é fácil de preencher. Ou seja, existem por lá umas hipóteses e umas referências, que tal e qual como no IRS, nas faturas diversas que recebemos e noutros papéis oficiais e semioficiais, pura e simplesmente não percebemos bem de que estão eles a falar. Penso que é uma outra forma de intimidar o cidadão.” Como alguém o reconheceu, lá teve a ajuda necessária e, melhor do que isso, direito a reembolso mas não direito a um simples pedido de desculpas.
 
Devo dizer que, mesmo assim, a Segurança Social do meu amigo Henrique Monteiro também não é como a minha, pois a experiência que conheci directamente é bem pior e com um desenlace iníquo, mas isso são contas de outro rosário, pelo que vou sabendo muito comuns num dos serviços que pior funciona, na relação com os cidadãos, da nossa administração pública. O problema que ele sublinha é, no entanto, o mesmo: os cidadãos que têm as más experiências que nós tivemos só podem olhar de lado quando lêem as notícias dos últimos dias. Por mais inocente que ele esteja, não beneficia de qualquer presunção de inocência.
 
Esse é, de resto, o ponto de partida de muitos dos textos publicados nos últimos dias, como o de Bruno Faria Lopes no Diário Económico, O primeiro-ministro perdeu a face. Eis o seu ponto: “Falhas desta natureza minam a a utoridade moral e o crédito de qualquer governante - e são particularmente danosas à luz do discurso moralista deste Governo sobre o cumprimento das obrigações por parte de Portugal e dos portugueses. Falhas éticas em matéria fiscal (de que não sabemos) ou contributiva (de que sabemos) colidem com o tratamento implacável que o Fisco e a Segurança Social dão a milhares de pessoas numa era de aperto violento.”
 
Há muitos textos a insistir neste ponto, mas também há quem alerte para o risco de podermos estar a entrar num tipo de campanha e de troca de acusações entre os principais partidos que pode ser muito perigoso em período pré-eleitoral. Fá-lo, por exemplo, Luís Rosa, no Jornal I de hoje, em Os erros de Passos e Costa. O seu argumento principal está contido neste parágrafo:
Na altura em que os portugueses mais precisam de propostas concretas para Portugal sair do marasmo económico em que se encontra, arriscamo-nos a ter uma campanha à volta de casos de polícia como o de José Sócrates, pela mão do PSD, ou de casos de moral e ética, como este último relacionado com Passos Coelho, pela voz do PS. Em vez de uma campanha em que os projectos políticos mostram as suas diferenças, podemos vir a ter uma campanha que PSD, PS e CDS tentam atirar lama para cima uns dos outros. Os partidos populistas, como o de Marinho Pinho ou os partidos radicais, como o PCP e o Bloco de Esquerda, beneficiarão dessas tácticas.
 
Rui Ramos já tinha, de resto, escrito ontem aqui no Observador, em Afinal como estamos?, que “Não convinha nada que as próximas eleições dependessem das gafes de Costa em reuniões com investidores chineses ou dos conhecimentos que Passos tinha em 1999 sobre o regime da segurança social.”
 
Talvez a posição mais a contra-corrente seja a de Maria João Avilez também no Observador que, em Da utilidade pública da descoberta, uma análise dedicada à análise de como Passos Coelho foi driblando as previsões da generalidade dos comentadores – “começou pré-condenado ao fracasso e à brevidade politica. E logo desde o in&i acute;cio, o que deu uma coloratura viva ao mandamento político, unilateralmente decretado: Passos “não duraria” – entendeu deixar também a sua convicção sobre controvérsias como a actual:
Sucede que a história de uma dívida do primeiro-ministro à Segurança Social, podendo não ser uma pera doce, ainda não está bem contada, nem sequer totalmente contada. Tem hiatos de tempo misteriosos, ângulos pouco felizes, factos inexplicáveis. Vai ser preciso um pouco mais de luz e de explicações. Mas há uma coisa: Pedro Passos Coelho é (…) alguémprobo: não “cultiva ricos”, não se dá com “poderosos”, não tem quintas no Alentejo, não coleciona “arte”, não frequenta restaurantes da moda, não se lhe conhec em gostos caros e não consta que tenha fortuna – nem biblioteca, de resto. Vive feliz em Massamá e contente na Manta Rota. Sim, há que saber tudo – é direito e é obrigação – mas que “isto” encaixa mal com qualquer um dos ingredientes que compõem a personalidade e a forma-mentis de chefe do Governo, encaixa.
 
Admito que os meus leitores queiram variar de tema, até porque sobre este não têm faltado fóruns, debates e comentários muito idênticos na forma e no conteúdo, pelo que seguindo a tradição do Macroscópio de fornecer sempre “matéria para pensar”, vou agora recomendar-lhes três leituras sobre temas europeus, os temas que tanto nos deviam ocupar.
 
O primeiro é uma entrevista com o primeiro-ministro de França=C Manuel Valls, publicada este fim-de-semana no Wall Street Journal: France’s Anti-Terror, Free-Market Socialist. É uma entrevista que foca temas muito diversos e é difícil de sintetizar, e que naturalmente não ignora a tensão existente entre Valls e muitos sectores da esquerda francesa. Pequeno extrato:
With the old left incapable of addressing the economic problems that are largely its creation, Mr. Valls has emerged as a leader of the reform wing of the Socialists, emphasizing law and order, personal responsibility and free markets. “For 30 years France got used to massive unemployment, to too-high public spending and to not undertaking courageous reforms,” the prime minister says. “France must prove to itself and to the world that it is capable of reforming itsel f.”
 
Os outros dois são ambos do Project Syndicate. Em A Five-Step Plan for European Prosperity, Michael J. Boskin, um professor da Universidade Standford, segue por caminhos originais e, devo acrescentar, impensáveis para muitos dirigentes europeus. Como este:
Eurozone should adopt a two-track euro with a fluctuating exchange rate – an idea championed by the American economist Allan Meltzer. Systematic rules would have to be developed to determine when members of the eurozone are demoted to “euro B" or promoted to “euro A." Such a halfway house – call it “depreciation without departure" – would avoid some (but not all) of the problems of a country's complete withdrawal from the eurozone. It would create its own set of incentives, which, on balance, would pressure individual countries to avoid demotion, just as top-tier football (soccer) teams seek to avoid relegation to the minor leagues.
 
Já em The Economic Consequences of Greece, de quatro professores de Economia de várias universidades europeias - Alberto Bagnai, Brigitte Granville, Peter Oppenheimer e Antoni Soy – cito-vos apenas o primeiro e o último parágrafos:
Abertura:
The first sentence of the 1957 Treaty of Rome – the founding document of what would eventually become the European Union – calls for “an ever-closer union among the peoples of Europe." Recently, however, that ideal has come under threat, undermined by its own political elite, which adopted a common currency while entirely neglecting the underlying fault lines.
Fecho:
That opportunity is default and exit from the eurozone, which would allow Greece to begin correcting past mistakes and putting its economy on the path to recovery and sustainable growth. At that point, the EU would be wise to follow suit, by unraveling the currency union and providing debt reduction for its most distressed economies. Only then can the EU's founding ideals be realized.
 
E por hoje é tudo. Espero ter compensado, de alguma forma, a falha de ontem. Bom descanso e boas leituras. 

 
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