quarta-feira, 9 de maio de 2018

O dia em que o António se sentou no lugar do primeiro-ministro
Foto Miguel A. Lopes / Lusa
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Para responder sobre Sócrates, António Costa disse que não podia falar como chefe do Governo nem como líder socialista - mas só como cidadão - e recuou para a velha cartilha do secretário-geral do PS sobre o processo. O caso chegou ao Parlamento pela primeira vez pela voz do PSD: Rio vai começar a dar um banho de ética?
TEXTO VÍTOR MATOS
Pela primeira vez na história parlamentar recente, o António, o cidadão António Costa - nem era primeiro-ministro nem era o líder partidário -, respondeu a um deputado na Assembleia da República. No lugar onde costumam sentar-se os primeiros-ministros, António respondeu ao líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão, sobre o caso do ex-militante socialista José Sócrates. Na verdade, foram duas estreias: José Pinto de Sousa, o acusado, também tinha chegado ao plenário pela primeira vez.
Enquanto o PSD voltou a uma oposição agressiva que nunca tinha exercido desde que Rui Rio chegou à liderança, António Costa recuou nos argumentos para a cartilha que o PS usou ao longo dos últimos três anos para se referir ao caso Sócrates. Os mais altos dirigentes do PS, sobretudo Carlos César, usaram termos fortes na semana passada, como “vergonha”, “tristeza”, “revolta” ou “raiva”. A verdade é que o primeiro-ministro, mesmo na declaração que fez no Canadá, falou em “desonra”, mas referiu-se apenas a Manuel Pinho (apesar de a pergunta abranger ambos os casos).
Agora, no Parlamento, Costa considerou a pergunta de Negrão uma “deslealdade parlamentar”, mas para não se refugiar em “formalismos” respondeu… simplesmente como António Costa. Era mesmo, afinal, um mero formalismo: o cidadão António acabou por responder a Negrão com os argumentos do secretário-geral do PS. Disse que o Partido Socialista nunca saiu do mesmo lugar, apesar de toda a gente ter achado o contrário ao longo da semana, invocou a presunção de inocência, e que nenhum cidadão está acima da lei. Foi buscar o guião antigo, baralhou e voltou a dar.
Foto Miguel A. Lopes / Lusa
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Qual a estratégia? Contenção de danos, mas sobretudo contribuir para se estabelecer um cordão sanitário à sua volta, para o próprio primeiro-ministro não ser arrastado para os comentários ao caso Sócrates sempre que mais uma polémica venha à baila. Agora que todos aqueles qualificativos sobre o que sente o PS em relação ao antigo secretário-geral estão ditos, os socialistas não vão estar a repeti-los todos os dias. As águas estão separadas. Sócrates está fora. Abre-se uma nova fase. E Costa volta a remeter-se ao discurso mais politicamente correto possível, percebeu-se no Parlamento.
Quem muda de posicionamento é Rui Rio e o PSD. Depois de querer chamar Manuel Pinho ao Parlamento, o líder social-democrata cavalga mais um caso - o caso de todos os casos. Se o líder do PSD parecia ter pudor em falar de processos em curso na justiça, pode ser agora que começa a dar umas chuveiradas do prometido “banho de ética”. Num primeiro momento, Negrão embaraçou seriamente António Costa.
Foto Miguel A. Lopes / Lusa
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Desconfortável, Costa contra-atacou ao lembrar que Negrão também foi arguido: só não disse que foi por causa de uma violação ao segredo de justiça, quando era diretor nacional da Judiciária e que lhe custou a exoneração do cargo durante um Governo socialista (e antes de qualquer julgamento nos tribunais). O líder parlamentar do PSD devolveu a amabilidade ao recordar que António José Seguro o acusou, antes das primárias do PS, “de ser apoiado por um partido invisível que mistura negócios e política”. A acusação ficou implícita.
Assunção Cristas usou outra estratégia e apontou para outro alvo: Manuel Pinho. Como é que António Costa pode evitar que aconteça outro caso destes no Governo, de um governante que recebe de uma empresa? António Costa pediu sugestões, chutou para canto, mas a questão ficou no ar. Mesmo que fosse apenas uma questão retórica, a pergunta de Cristas deveria permanecer para os partidos refletirem: que “mecanismos” é que se podem criar para impedir mais casos semelhantes. “Não vou ter uma desconfiança geral sobre todos os seres humanos”, respondeu Costa. É uma boa demarcação de posições: o pessimismo antropológico é uma característica genética da direita e Costa é de esquerda.
O problema da corrupção foi atravessando o debate, mas com mais subtileza. O Bloco de Esquerda lembrou que o Presidente da República vetou um diploma sobre o levantamento do sigilo bancário e perguntou se já existiam as condições para o texto voltar a ser votado. O tema voltará ao debate no dia 17 de maio, até porque o PSD quer conhecer os maiores devedores da Caixa Geral de Depósitos. Se o BE marcou posição e mostrou iniciativa, o PCP, mais ideológico, ficou-se pela responsabilização das privatizações pela corrupção e pelas suspeitas. Pouco mais.
Foto Miguel A. Lopes / Lusa
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Numa semana em que os atrasos na preparação para o combate aos fogos voltaram à discussão pública, o primeiro-ministro atribuiu os problemas que permanecem a uma “ambição excessiva”. Neste dossiê levava uma flor na lapela para ter um momento de spin: o anúncio de um de sistema de alerta às populações por SMS em caso de incêndio. O cidadão António saiu do Parlamento, mudou de fato, vestiu-se de primeiro-ministro e foi a Belém reunir-se com o Presidente da República. A seguir fardou-se de secretário-geral do PS e foi em campanha interna para Coimbra. Três frentes e muitos fogos para o líder socialista apagar.

INIMIGO PÚBLICO

Inimigo Público


Posted: 08 May 2018 06:36 AM PDT
Começa hoje o festival da Eurovisão. A primeira meia-final contará com Cláudia Pascoal e Isaura, apesar de já estarem apuradas para a final de sábado, e Marcelo Rebelo de Sousa vai passar por lá para abraçar 30 mil pessoas. A novidade veio através da UEFA, que anunciou a entrada directa na fase de grupos da […]This posting includes an audio/video/photo media file: Download Now
Posted: 08 May 2018 06:35 AM PDT
O arguido-estrela da Operação Marquês decidiu juntar-se à celebração dos 50 anos do Maio de 68. José Sócrates explicou a O INIMIGO que “sou adepto dessa magnífica ideia de ser proibido proibir e mais não sei quê. Sempre defendi que o juiz Carlos Alexandre, por exemplo, devia ser proibido. Ou a comentadora Câncio. Ou acusar […]This posting includes an audio/video/photo media file: Download Now
Posted: 08 May 2018 06:31 AM PDT
O mea culpa socialista continua com Carlos César a assumir hoje que devia ter percebido que José Sócrates não era o menino de ouro do PS, como dizia ser, mas que mentiu, mentiu e mentiu outra vez, não passando de um menino de latão ou, quando acusado pelo MP, de um menino chorão. O movimento […]This posting includes an audio/video/photo media file: Download Now
Posted: 08 May 2018 06:29 AM PDT
Donald Trump afinal não inaugurou a embaixada dos EUA em Jerusalém, como tinha prometido, porque é um grande fã da Eurovisão e preferiu ficar em casa, com um pacote de pipocas na mão, a assistir à meia-final. Donald Trump sempre terá sido adepto do certame e a cor do seu cabelo é mesmo inspirada nas […]This posting includes an audio/video/photo media file: Download Now

rtp - o essencial

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 9 Maio, 2018 
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Sérgio Alexandre
Jornalista
Sérgio Alexandre

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Europa tenta salvar o acordo nuclear com o Irão, rasgado por Donald Trump. Estudo de impacte ambiental viabiliza aeroporto do Montijo. Comandante do GIPS afirma num e-mail interno que “não tem os meios necessários” para o combate aos incêndios. Taxa de desemprego de 7,9% no primeiro trimestre de 2018. Bastonário da Ordem dos Médicos diz que o Serviço Nacional de Saúde “está a afundar-se”.


Europa tenta salvar o acordo nuclear com o Irão


Europa tenta salvar o acordo nuclear com o Irão

Os EUA renegaram o acordo nuclear com o Irão mas os líderes europeus estão a dar tudo por tudo para o preservar. “Houve uma retirada norte-americana do acordo mas o acordo ainda existe“, sublinha o ministro francês dos Negócios Estrangeiros no seguimento de um comunicado assinado pelo Presidente francês, pela chanceler alemã e pela primeira-ministra britânica. O chefe da diplomacia gaulesa revelou ainda preparativos de uma reunião entre representantes dos três países europeus e do Irão, a realizar na segunda-feira, “para analisarmos todas as situações possíveis”. Tarefa que se afigura bastante complexa: o Presidente iraniano, Hassan Rouhani, ameaçou regressar ao enriquecimento de urânio “sem limites” se as negociações “nas próximas semanas” não tiverem o resultado esperado.

Acordo rasgado por Trump


Acordo rasgado por Trump

Veremos como é que Donald Trump receberá as diligências europeias para manter vivo o acordo nuclear com o Irão, mas recordo que ontem o Presidente americano, no anúncio da dissolução do acordo assinado com Teerão, ameaçou “qualquer nação que ajude o Irão na sua busca de armamento nuclear pode igualmente ser alvo de fortes sanções pelos Estados Unidos”.

Estudo de impacte ambiental vabiliza aeroporto no Montijo


Estudo de impacte ambiental vabiliza aeroporto no Montijo

O administrador da Aeroportos de Portugal é citado hoje no Jornal de Negócios dando mostras de “contentamento, porque o estudo de impacte ambiental não levanta qualquer impedimento e viabiliza a construção” do futuro aeroporto do Montijo. Ainda de acordo com Thierry Ligonnière, o estudo não só dá luz verde, em termos ambientais, à concretização do projeto, como traça ainda um impacte socioeconómico “muito positivo”, estimando a criação de 800 a 900 empregos diretos e indiretos por um milhão de passageiros. Se os prazos previstos forem cumpridos, o aeroporto do Montijo deverá entrar em funcionamento em 2022.

GIPS sem meios básicos para combater incêndios


GIPS sem meios básicos para combater incêndios

O comandante do Grupo Especial de Combate Contra Incêndios da GNR afirma num e-mailinterno divulgado pelo jornal Público, que “não tem meios necessários” básicos, como luvas, fatos, telemóveis, carros ou computadores, para trabalhar no combate aos incêndios. Nessa comunicação interna interna, o major Cura Marques estima que só em julho  o GIPS terá “a possibilidade de ter tudo para trabalhar a 100%”.

Desemprego no primeiro trimestre abaixo dos 8 por cento


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O Instituto Nacional de Estatística fixou em 7,9 por cento a taxa de desemprego no primeiro trimestre de 2018. Uma ligeira melhoria relativamente ao trimestre anterior (0,2 por cento), mas substancialmente mais favorável em termos homólogos (menos 2,2 por cento do que no primeiro trimestre de 2017).

SNS está a afundar-se, diz bastonário da Ordem dos Médicos


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À hora de fecho do Essencial de hoje, não se conhecem os números do segundo de três dias de greve dos médicos (quando houver novidades poderá conhecê-las aqui), mas o bastonário da Ordem preofissional esteve esta manhã na RTP para defender as razões do protesto que incluem aspetos relacionados com a carreira (descongelamento da progressão e revisão das grelhas salariais, entre outros) e aspetos operacionais (redução do número de horas semanais de trabalho suplementar, diminuição progressiva do trabalho em urgência e diminuição gradual das listas de utentes dos médicos de família). Miguel Guimarães afirma que está em causa a sobrevivência do Serviço Nacional e Saúde.

Argentina pede resgate ao FMI


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A Argentina estende a mão ao Fundo Monetário Internacional. A decisão foi tomada e anunciada ao país pelo Presidente Maurício Macri, que a justificou com a necesssidade de combater a atual conjuntura económico-financeira que, por exemplo, levou à desvalorização do peso argentino em 12 por cento só na semana passada. O país sul-americano sofre também de uma taxa de inflação galopante, bem acima dos 20 por centoe é um dos países que mais dependem de financiamento externo.



A NÃO PERDER
Escadaria para o Paraíso

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Nada pode correr mal, quando músicos de eleição se juntam para tocar uma das canções mais belas – e famosas – do ultimo século. Recordo aqui a memorável interpretação que a banda norte-americana Heart fez, em 2013, da feérica Stairway to Heaven, dos Led Zeppelin. Com o filho de John Bonham na bateria e os restantes membros da banda inglesa na assistência, bem como o então Presidente dos EUA Barack Obama, as irmãs Wilson fizeram cair lágrimas de emoção a muitos dos presentes.






EXPRESSO

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Vítor Matos
VÍTOR MATOS
EDITOR DE POLÍTICA
 
O mundo nas mãos de um homem que não lê
9 de Maio de 2018
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Donald Trump não é um leitor voraz. O seu Conselho de Segurança Nacional fazia-lhe chegar relatórios profundos sobre as teias complexas da geoestratégia internacional. Mas eram demasiado longos, muito complicados, fez saber um membro do staff. Mais curtos, por favor. Passaram então a chegar curtinhos, apenas em resumos de uma página. Ainda assim eram exaustivos demais. Mais uma vez, a Casa Branca fez saber que era melhor cortar, resumir e paginar. O Presidente era um homem “visual” e o melhor era mesmo apresentar as informações de forma “pictórica”. Como se dissessem: expliquem-lhe em desenhos. Como conta aqui a New Yorker, Donald Trump acabou a receber os relatórios da Segurança Nacional em pequenos e resumidíssimos cartões estreitos e compridos, e mesmo assim ninguém tem a certeza de que ele os lê.

Foi este homem, com este grau de atenção e profundidade quanto aos temas mais importantes do planeta, que esta terça-feira tomou mais uma decisão que gera instabilidade num mundo já de si instável. Não estávamos descansados ontem. Hoje é supostos estarmos menos descansados ainda. Não é novidade: desde que Trump tomou posse que estamos menos descansados todos os dias e à espera que o mundo se aguente - até ele desaparecer do mapa político - em cima de gelo fino sem haver uma catástrofe qualquer.

Donald Trump rasgou o acordo nuclear com o Irão, assinado a 14 de julho de 2015, em Viena, por Barack Obama e os líderes de outros países ocidentais. Como explica aqui o Expresso, durante mais de dez anos o Ocidente preocupou-se com a possibilidade de o Irão, um regime xiita, profundamente religioso e conservador, estar a desenvolver armas nucleares, colocando em risco alguns aliados no Médio Oriente, como Israel. Quando esse Plano Conjunto de Ação foi assinado, o perigo atenuou-se, mas esta terça-feira regressou. O Presidente norte-americano não fez mais do que cumprir uma promessa eleitoral. E colocou os Estados Unidos como o único país do Conselho de Segurança das Nações Unidas fora do acordo.

“Se o regime iraniano continuar as suas aspirações nucleares, vai ter mais problemas do que alguma vez teve”, ameaçou Trump, garantindo ter provas de que o Irão violou o pacto. Países como o Reino Unido, a França, a Rússia ou a China criticaram o recuo dos EUA. Hassan Rouhani, Presidente do Irão, fez uma comunicação a dizer que o país quer manter-se no acordo, e deu ordens para negociar com os europeus, os chineses e os russos, mas deu ordens à Agência de Energia Atómica do Irão “para iniciar os preparativos necessários para retomar o enriquecimento [de urânio] ao nível industrial sem qualquer limite”. Preocupante.

Observador fez um explicador que ajuda a perceber o que está em causa. O Jornal de Negócios diz que esta política de Trump ajuda a manter o petróleo acima dos 70 dólares. Haja alguém que ganhe com a crise.

Se lá fora não estamos seguros, cá dentro é suposto estarmos preocupados com a segurança. No dia em que o Presidente da República disse em entrevista ao Público e à Renascença que não se recandidatava caso se repetisse uma tragédia com fogos, o comandante da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) demitiu-se. Segundo o Público, tudo se precipitou numa reunião em que Jaime Marta Soares, presidente da Liga dos Bombeiros, pediu ao secretário de Estado da Proteção Civil para mandar calar o coronel António Paixão - que saiu da sala e não voltou. Edificante, para quem trata de assuntos tão sérios. No Parlamento, o ministro Eduardo Cabrita fugiu às perguntas e classificou a preocupação da demissão de mais um comandante da ANPC como uma "excitação sobre o tema do dia".

Mas há outras razões para estarmos preocupados ou excitados este dia, como diria Cabrita.

O Público faz manchete com um trabalho de investigação sobre como estão atrasadas as medidas de preparação para o combate aos fogos: o grupo especial para ataque aos incêndios não tem “meios básicos para trabalhar”. Faltam viaturas, luvas, fatos, telemóveis, computadores e camas ao Grupo de Intervenção, de Proteção e Socorro. A lei orgânica da ANPC está atrasada (o ministro Eduardo Cabrita chegou a dizer ao Expresso que era para o fim de março). As medidas de melhoria do sistema de comunicações SIRESP ainda não estão a funcionar. E os meios aéreos? A 1 de maio deviam estar prontas 20 aeronaves de combate a incêndios e só há três helicópteros operacionais. O i também noticia que, desde 2006, Portugal não tem em maio tão poucos aviões disponíveis para combater incêndios.

Tudo atrasado. Luís Marques Guedes disse ontem ao ministro da Administração Interna: “Que São Pedro nos proteja!” Neste caso seria porém mais eficaz esperar proteção de São Bento.
 
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Outras notícias

Há outros assuntos verdadeiramente importantes que nos deviam ocupar a atenção. O país está em contagem decrescente para o festival da Eurovisão, que desta vez, ao que parece, voltará à normalidade, ou seja, não é suposto haver uma surpreendente vitória portuguesa. Depois da comoção da história da doença de Salvador Sobral o ano passado, agora é a vida da israelita Netta Barzilai sobre bullying que condimenta o favoritismo que partilha com a concorrente de Chipre.

E agora, outro momento fundamental da democracia portuguesa: quando tem o “tetra” ameaçado por investigações judiciais, o Benfica também ameaça impugnar a vitória do Futebol Clube do Porto, que o clube da Luz classifica como um “campeonato sujo”, avança o Correio da Manhã.

Voltamos aos temas mais sérios, mas nada maçadores, porque de maçador Marcelo não tem nada. A Ângela Silva explica no Expresso Diário a evolução do discurso do Presidente da República. Em cinco pontos-chave da entrevista que deu ao Público e à Renascença, evidencia o que Marcelo Rebelo de Sousa disse nos últimos meses e mostra a nova formulação presidencial para os problemas. Um exemplo? Marcelo começou por afirmar que os fogos eram a prioridade do seu mandato e agora dramatiza para dizer que se o verão voltar a correr mal, não se recandidata. É uma forma de arrastar o Governo para a responsabilização, pois António Costa já tinha dito que não se demitia mesmo que as tragédias se repetissem. Nota: António Costa disse ontem que o PR não manda recados ao Governo pelos jornais. A formulação é airosa. Costa revela que já sabia de tudo: “O sr. Presidente da República não manda recados ao Governo pelos jornais. Dialoga diretamente com o Governo, porque como é normal num país que funciona civilizadamente, os órgãos de soberania relacionam-se com toda a normalidade.”

Nas viagens dos deputados, há evoluções e complicações. No Parlamento, o PS garantiu ontem que quer rever todo o regime das viagens dos deputados. Depois da notícia do Expresso sobre a acumulação de subsídios dos deputados das ilhas, a subcomissão de ética aprovou um parecer com 19 pontos, em que apenas um não foi aprovado por unanimidade. Os socialistas são acusados pelos outros partidos de quererem tornar o documento “mais confuso e genérico” Um assunto para continuar a acompanhar.

O animal feroz volta a atacar. O Expresso escreveu na edição de sábado que a saída de José Sócrates do PS era só o início da luta do ex-primeiro-ministro. Hoje ficamos a saber pelo i que o ex-militante socialista vai fazer um almoço no Parque das Nações, no dia 20 de maio, cinco dias antes do Congresso do PS. Para atacar António Costa? Para atacar o PS e os seus dirigentes? Para fazer uma demonstração de força com apoiantes? Para criar um movimento? Veremos a adesão e que figuras socialistas comparecem.

Se o caso de Manuel Pinho desencadeou o distanciamento do PS em relação a José Sócrates, a investigação quer apertar a malha em relação à mulher do ex-ministro da Economia. O Correio da Manhã faz manchete com alegadas suspeitas que recaem sobre Alexandra Pinho, que era curadora do BESart - Banco Espírito Santo Collection. Os procuradores querem analisar todas as transferências bancárias do BES para a mulher de Pinho.

Manchetes do dia

Público: “Grupo especial de ataque a fogos sem meios básicos para trabalhar”

Diário de Notícias: “Estado contrata 200 pessoas para resolver atrasos nas pensões”

Jornal de Notícias: “Maioria das câmaras sem planos contra tragédias”

I: “Desde 2006 que Portugal não tem em maio tão poucos aviões para combate a incêndios”

Correio da Manhã: “Mulher de Pinho sob investigação”

Jornal de Negócios: “Estudo ambiental viabiliza Montijo”

O que ando a ler

Imagine que tem uma pessoa qualquer sentada à sua frente. Agora pense: esta pessoa seria capaz de matar? É amigável? É de desconfiar? Esta pessoa seria capaz do quê? Já nos aconteceu a todos. Temos incorporado no nosso cérebro um certo sentido que nos dá informações, perceções, intuições sobre quem está sentado diante de nós, sobre quem passa ao nosso lado, sobre um colega, um amigo, um político. E como em tudo, há um desvio padrão. Há quem tenha esse sentido mais apurado, uma espécie de ouvido absoluto para olhar para os outros e perceber: pode matar, pode trair, é ótima pessoa, é péssima influência, representa um perigo? Agora imagine esse dom ao serviço dos serviços secretos. É disso que tratam os três volumes e as mais de 1.200 páginas da triologia “O Teu Rosto Amanhã” que ando a ler, do romancista espanhol Javier Marías - colunista do El País. É injusto: tratam de muitíssimo mais.

O primeiro volume (Febre e Lança) foi lançado em Portugal, em 2003, pela D. Quixote. Li e esperei. Mas não foram traduzidos os outros dois volumes até 2017, quando a Alfaguara resolveu editar a triologia. Só recentemente li os números dois e três e estou agora a meio do livro inicial, a relê-lo mais de 10 anos depois, como se fosse uma prequela da qual já só recordava um esboço essencial.

O título lança o tema de forma direta: cada um de nós poderá cometer atos no futuro que hoje parecem impossíveis - atos de violência, por exemplo -, mas dentro de cada um está a semente que germinará nesse rosto, amanhã. E nós sabemos? Sim, em princípio sabemos daquilo que somos capazes, embora possamos nunca lá chegar. O segredo de Jácobo, Jacques ou Jaime, o protagonista espanhol a viver em Londres e que estudou em Oxford com personagens inspiradas em gente real que o próprio Javier Marías conheceu na mesma universidade, é este: um dom extraordinário para “interpretar pessoas” que o leva a ser recrutado por uma organização secreta do Estado britânico e fazer perfis através da mera observação dos alvos.

Ao mesmo tempo que procura perfilar os outros, o protagonista sofre com a dificuldade de se perfilar a si mesmo e com as limitações de usar o dom para olhar e ver aqueles que lhe são mais próximos. Quanto mais próxima a imagem, mais difícil é de definir.

Não, não são três livros de espionagem. São uma narrativa sobre a nossa humanidade, com muitas deambulações filosóficas pelo meio. Sobre as guerras e aquilo em que as pessoas podem transformar-se: na guerra civil espanhola, na II Guerra Mundial, nas guerras da vida quotidiana. A espionagem é um pretexto de fundo para uma narrativa violentíssima para com o seu próprio país: muito ligado à cultura anglo-saxónica, Javier Marías apresenta poucas personagens espanholas com traços positivos ao longo dos três volumes. Faz um retrato absolutamente negativo de Espanha e dos espanhóis imprudentes, cheios de bravata tauromáquica, emotivos, excessivos e inconsequentes.

Portugal entra no romance com algumas referências curiosas (mais positivas), como uma recordação - certamente uma experiência do autor - de um relógio despertador que viu um dia por trás do vidro de um jazigo ao passear pelo Cemitério dos Prazeres, em Lisboa. Símbolo do tempo finito em vida, ou da eternidade da morte, o velho despertador do morto prova que o nosso rosto amanhã só terá um fim. O que a todos nos resta.

Fica por aqui este Expresso não muito curto, mais estilo abatanado: longo e diluído. Tenha um bom dia!
 
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