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POR JOÃO SILVESTRE
Jornalista
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18 de Abril de 2017 |
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PE dentro, PE fora
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Bom dia, Os Programas de Estabilidade (PE) já não são o que eram. Até já perderam o C dos antigos PEC e estão muito longe da carga dramática que tinham quando Portugal vivia na vertigem de um resgate que acabou por acontecer em 2011. Agora, são documentos muito mais serenos e sem o curtíssimo prazo de validade de então. Mas isso não quer dizer que não haja algumas dificuldades. O PS está em São Bento suportado pelo PCP, PEV e Bloco de Esquerda, o que implica negociar. E muito. Claro que as grandes decisões estão guardadas para o Orçamento do Estado para 2018. Nessa altura, as medidas serão mais concretas – nos escalões de IRS ou no descongelamento das progressões no Estado – e as divergências também serão mais claras. Mas os partidos que apoiam António Costa vão já marcando terreno numa altura em que decorrem as audições em Belém com o Presidente da República. O PCP, que só hoje é ouvido em Belém, já disse que não quer votar o documento no Parlamento no debate agendado para quarta-feira. O mesmo que o Bloco que já esteve com Marcelo e até tem algumas ideias diferentes das do governo. Ainda assim, escreve o Público de hoje, governo e Bloco estão alinhados na possibilidade de fasear em dois anos a redução do IRS. Em comum, os dois partidos têm o facto de não divergir fundamentalmente com o PE do governo a ponto de esbarrar de frente com o documento. Mesmo que este aponte para um défice de 1,5% do PIB este ano e de 1% no próximo. Valores bem abaixo do que os deputados mais à esquerda do hemiciclo parlamentar gostariam. É caso para dizer que estão com um PE dentro e tentam manter, ao mesmo tempo, um PE fora da estratégia orçamental do governo.
Já o CDS quer levar o PE a votação no Parlamento enquanto o PSD não só não vai pelo mesmo caminho como, apesar das críticas, até reconhece maior realismo nas contas de Mário Centeno. Passos Coelho dixit ontem à saída do encontro com Marcelo Rebelo de Sousa. Do lado socialista, Carlos César não perdeu a oportunidade de lançar mais um ataque a PSD considerando-o um “partido de contras”. Bruxelas, que está mais longe mas tem a última palavra a dizer, só se pronuncia quando tiver na mão os documentos finalizados. Por exemplo, o parecer do Conselho das Finanças Públicas (CFP) sobre o cenário macroeconómico só será conhecido hoje. Também hoje serão divulgadas as novas previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington onde decorrem as suas reuniões de primavera. (Os trabalhos podem ser seguidos em direto no site da instituição.)
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OUTRAS NOTÍCIAS
Cá dentro
Por cá, a notícia que marcou o dia de ontem e continua a alimentar uma parte importante do noticiário é a queda da aeronave em Tires. Ainda não há conclusões definitivas sobre o acidente, mas já existem muitos testemunhos, imagens, vídeos ou simples informações mais detalhadas sobre os passageiros do avião. Um dos passageiros era um famoso ortopedista francês de jogadores de futebol. Conta-nos o Expresso que, em oito anos, morreram 35 pessoas em Portugal em quedas de aeronaves num conjunto de 51 acidentes registados.
Igualmente a preocupar muitos portugueses está o surto de sarampo que já atingiu 26 pessoas e colocou um adolescente em estado grave no Hospital D. Estefânia. A Direção-geral de Saúde desvalorizou o risco de propagação generalizada da doença, mas já admitiu baixar a idade de vacinação dos atuais 12 meses. Vacinas que são um dos temas polémicos do momento. Escreve o Público que há mais 95 mil crianças que não estão vacinadas e isto tem a ver, pelo menos, em parte com a não vacinação por opção dos pais. Este movimento antivacinas é, para o pediatra Mário Cordeiro, em entrevista ao Expresso Diário de ontem (link para assinantes), é “idiota e uma afronta aos mortos”. Se quer perceber o que está em causa, o Observador publicou um guia de nove perguntas para perceber o surto de sarampo.
Depois de acidentes e epidemias, uma boa notícia. A fatura do gás natural vai baixar pelo terceiro ano consecutivo para as famílias do mercado regulado. Não é para todos, mas é para alguns.
Quem parece muito pouco regulado são os clubes de futebol e as suas claques. Os cânticos polémicos continuam e, depois do caso “Chapecoense” dos Superdragões, foi a vez de adeptos encarnados aludirem ao very light que vitimou um sportinguista no Estádio Nacional. Estamos a dias de um dérbi que pode ser decisivo para o campeonato e estas picardias são ‘fruta da época’. Já agora, para o caso de FC Porto e Benfica chegarem ao fim da liga em igualdade pontual, é importante ter presente as regras de desempate. A Bola explica tudo. A tensão no futebol está até a contaminar a corrida autárquica para Loures.
Esta é também a semana da DBRS. A agência canadiana revê a avaliação portuguesa sexta-feira e, para já, não se esperam grandes alterações. É o único rating que não está em ‘lixo’, o que mantém Portugal dentro do programa de compra de dívida do Banco Central Europeu (BCE). Antes de se conhecer o resultado, vale a pena ler a reportagem que Ricardo Lourenço fez na última edição da revista E (apenas para assinantes) do Expresso.
Machetes dos jornais:”Governo e Bloco admitem fasear redução do IRS em dois anos” (Público); “Portugal e Espanha vão negociar em conjunto compra de remédios”(DN); “Sarampo: Saúde quer vacinar bebés mais cedo”(JN); “Avião de milionário provoca tragédia” (Correio da Manhã); “Lava Jato: Publicitário do PSD denunciado pelo presidente da Odebrecht por pedir luvas”(i); “Empresas obrigadas a revelar verdadeiros donos” (Jornal de Negócios); “Leão com fome de dérbi”(Recorde); “Adrien e mais 10”(A Bola); “Palco para Corona”(Jogo)
Lá fora
Na Turquia, as claques de futebol também tem um historial difícil mas, neste momento, o que está em causa é a vitória de Erdogan no referendo que reforça os poderes presidenciais. A incerteza sobre o futuro do país são muitas. E os receios também. Angela Merkel já apelou ao diálogo com a oposição enquanto a Europa mostra preocupação depois de os seus observadores terem considerado o referendo não democrático. Criticas que Erdogan considerou, simplesmente, “mentalidade de cruzado”.
Enquanto isto, mais a oriente, cresce a tensão na Coreia do Norte com a troca de ameaças entre Pyongyang e Washington. Trump e o seu vice-presidente, Mike Pence, de visita à região, já avisaram que não vão admitir novos ensaios com mísseis. Da Coreia do Norte chega a ameaça, desta vez pelo vice-embaixador nas Nações unidas, de que uma “guerra termonuclear pode ter início a qualquer momento”. O The New York Times explica como um país pobre e pequeno pode ser uma tão grande ameaça à paz mundial.
Ainda sobre os EUA, vale a pena ler com atenção o extenso artigo – da coluna Big Read – da edição de ontem do Financial Times. Conta-nos como as regiões mais agrícolas dos EUA, a cintura agrícola (farm belt), que exporta para a China e para o México, vivem ansiosas com a retórica protecionista de Trump.
Christine Lagarde, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), deu uma entrevista ao espanhol El Pais onde pede reformas laborais em Espanha e diz, sobre Trump, que há uma distância grande entre a retórica e os passos que são dados.
Hoje é dia de Liga dos Campeões. Primeiro dia da segunda mão dos quartos-final com os embates decisivos Real Madrid – Bayern Munique e Leicester-Atlético de Madrid. As duas equipas espanholas partem em vantagem.
Para fechar, Bento XVI, Papa emérito, fez 90 anos e celebrou o aniversário nos jardins do Vaticano com uma cerveja da Baviera, a sua terra natal. Ou não fosse alemão.
FRASES
“Ouvi gritos de dentro da aeronave. Pareciam gritos de rapazinhos. Nos anos que eu viver não vou esquecer isso. Eram gritos de muita aflição. Horrível. Eu perdi a minha casa, mas a vida é tudo”, Maria de Fátima, testemunha da queda de avião em Tires
“Desde o primeiro toque de alvorada, desde o primeiro cantar do galo, a Força Armada Nacional Bolivariana estará trotando e cantando ‘viva à união cívica militar’ e ‘viva à revolução bolivariana’”, Nicolas Maduro, presidente da Venezuela a anunciar que o exército irá marchar nas ruas a partir de hoje, véspera de uma grande manifestação de protesto
O QUE ANDO A LER
Acha que é racional? Acha que toma decisões conscientes e não se deixa enganar? É normal que pense assim. E é normal que possa estar errado. Tudo depende das circunstâncias concretas e da decisão que estamos a tomar. É fácil deixarmo-nos enganar com ofertas, ficar baralhados quando há muitas opções para escolher e até valorizar em excesso o presente. O ser humano é irracional e é-o com frequência. Previsivelmente irracional, como bem explica Dan Ariely, professor na universidade de Duke nos EUA onde é um dos expoentes da Economia Comportamental (vale a pena ver a TedTalk que fez em 2009 sobre o tema).
Confesso ser um irracional fã do trabalho de Ariely e de ter tido a oportunidade de o entrevistar mais do que uma vez para o Expresso nos últimos anos. Além dos vários livros que publicou, mantém uma espécie de consultório de Economia Comportamental no The Wall Street Journal onde responde a dúvidas dos leitores. Questões que vão desde a dificuldade em deixar de beber gasosa, à divisão de tarefas em casa ou ao sentido que faz encarar o casamento como um investimento, só para citar alguns exemplos mais recentes. Ariely tem resposta para quase tudo.
Sem quaisquer irracionalidades ou comportamentos atípicos, toda a informação vai continuar por aqui em tempo real no Expresso Online e às 18 horas com mais uma edição do Expresso Diário. Tenha um bom dia.
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