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Por Nicolau Santos
Diretor-Adjunto
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8 de Outubro de 2015 |
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O PS vai ‘pasokar’ ou tentar governar?
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Bom dia. «O passado é um país estrangeiro. Lá fazem as coisas de modo diferente».
A frase abre «The Go-Between» de L.P. Hartley e é tão boa e tão
apropriada à nossa situação política que não resisti a utilizá-la para
iniciar este Expresso Curto. O que Passos Coelho e
Paulo Portas disseram sobre António Costa durante a campanha eleitoral
parece agora esse país estrangeiro. Depois dos elevados decibéis, passou-se desde dia 5 para a suavidade e mansidão dos apelos à negociação, à estabilidade, compromisso, responsabilidade democrática e sentido de Estado.
Mais: “Ao contrário de outras forças, há no PS uma conhecida vinculação
e respeito pelas regras da União Económica e Monetária e do Tratado
Orçamental”, disse ontem Passos, para justificar que faça “sentido”
pensar particularmente num entendimento com os socialistas. O pequeno problema é que aquilo que aparentemente seria um caminho escrito nas estrelas para um «dejá vu» (um governo PSD/CDS contando com a abstenção do PS em momentos fundamentais,
como por exemplo a aprovação do Orçamento) pode enfrentar mais
obstáculos do que se esperaria. A esse propósito, é muito interessante
ler o que Porfírio Silva, secretário nacional do PS, escreve no seu blogue Machina Speculatrix:
«Se o PS for dolosamente responsável pela continuação deste governo, o
prognóstico é duro mas é claro: o PS vai “pasokar”. Seremos reduzidos à
insignificância dos partidos que se separam dos seus eleitores e que,
enredando-se em justificações mais ou menos artificiosas para tentar
esconder a sua deslealdade aos que prometeram representar, são
descartados como inúteis». Mas será possível um governo que exclua PSD e CDS? A resposta está na brilhante, brilhantíssima como sempre, análise do meu camarada e amigo Pedro Santos Guerreiro no Expresso Diário
de ontem: «O que Cavaco Silva quer não é uma reforma do sistema
político, é uma mudança de mentalidades dos partidos. A sua
argumentação, e a dos seus conselheiros, tanto estimula um pacto entre
PS/PSD/CDS como justifica um governo PS/PCP/BE, pois entre os 13 países
europeus citados que são governados por pelo menos três partidos, quase
metade são-no com partidos que não venceram as eleições. Só que juntar PS, BE, PCP e Cavaco é como juntar carbono, hidrogénio, oxigénio e nitrogénio: dá uma combinação química explosiva, nitrogénio político. E juntar PS, CDS e PSD é reduzir o espaço político de quem governa o país há 40 anos, o que dificilmente os partidos aceitarão, começando pelo esfrangalhado PS». O certo é que António Costa foi ontem à Soeiro Pereira Gomes e ouviu o líder do PCP, Jerónimo de Sousa, garantir-lhe que os comunistas estão disponíveis para viabilizar um governo socialista. Mais: estão mesmo disponíveis para integrar esse governo, o que é uma verdadeira surpresa! Quanto à reunião que deveria ocorrer hoje com o Bloco de Esquerda foi adiado para segunda-feira,
a pedido do partido de Catarina Martins, para que seja possível «uma
melhor preparação técnica». O próximo e mais aguardado encontro é assim
aquele que o líder socialista vai manter com Passos Coelho e Paulo Portas na sexta-feira, sendo dado como muito provável que o PS viabilizará o Orçamento do Estado para 2016 – isto se for a coligação a formar governo… Que o assunto já está a incomodar a coligação é uma evidência. Nuno Melo, eurodeputado do CDS, já largou o primeiro míssil no Diário de Notícias: «Um governo PS com PCP e Bloco seria um golpe de Estado PRECiano». Enquanto aguardamos que o puzzle político seja resolvido, inquietemo-nos com esta notícia: até 2060, o envelhecimento da população portuguesa pode custar 19 pontos percentuais ao PIB per capita, calcula o Banco de Portugal,
um efeito que já se está a sentir na atualidade. Não há dúvida que a
palavra de ordem «crescei e multiplicai-vos» tem de passar a ser dita e
repetida em todas as esquinas. Quem também está sempre a fazer cálculos é o departamento de Assuntos Orçamentais do FMI, liderado pelo nosso conhecido Vítor Gaspar. Pois a equipa do ex-ministro vem agora dizer que o défice público de Portugal deve ficar em 3,2% em 2015, contrariando o que a atual ministro das Finanças, Maria Luís Albuquerque, que foi secretária de Estado de Gaspar, anda a garantir há muito: que o défice vai ficar abaixo dos 3% (a meta do Governo é de 2,7%), objetivo que o Banco de Portugal disse onde ser ainda possível alcançar. Por outras palavras:nem sempre «les beaux esprits se rencontrent».
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OUTRAS NOTÍCIAS O conflito sírio está a conhecer uma perigosa escalada. Segundo o Washington Post, forças sírias lançaram uma forte ofensiva terrestre apoiada por aviões e navios russos, que estarão a lançar rockets. E os Estados Unidos admitiram que um avião da coligação ocidental foi obrigado a alterar a sua rota sobre a Síria para evitar um aparelho russo. Lá voltamos nós à primeira frase deste texto: o passado é um país estrangeiro.Então não é que afinal a famosa Apple não nasceu numa garagem? Quem o disse, preto no branco, foi um dos co-fundadores do gigante informático, o norte-americano Steve Wozniak:
«Não fizemos nada na garagem, nem negócios. É uma história inventada. A
garagem éramos nós, tínhamos de utilizar o que fosse possível para
fazer dinheiro. Mas reconheço que a história da garagem é muito melhor»,
afirmou numa conferência numa universidade em Madrid. O escândalo Volkswagen
continua a provocar ondas de choque. A empresa anunciou ontem o seu
«plano abrangente» para resolver o esquema de manipulação de emissões
dos motores, que atinge 11 milhões de viaturas, até ao final de 2016. A
solução chega em Janeiro mas não para todos. Será uma solução em duas
fases e tudo depende do motor. Por tudo isto, o investimento de 700
milhões na Autoeuropa está em risco. E a fábrica de Palmela também
produziu carros com motores fraudulentos. Por trás de tudo há uma guerra entre as famílias Porsche e Piech. Para compensar, há boas notícias no mercado de capitais: «O PSI-20 tem sido palco de fortes valorizações, no espaço de poucos dias.
Subidas estonteantes de muitas cotadas que levaram o índice nacional a
disparar no espaço de apenas uma semana. Será uma inversão da
tendência?»,pergunta o Jornal de Negócios. Na comunicação social, a Presslivre, empresa proprietária do jornal "Correio da Manhã" está a tentar evitar que o
salário de três jornalistas, entre os quais o diretor, Octávio Ribeiro,
seja penhorado para pagar uma indemnização de 50 mil euros ao juiz
desembargador Rui Rangel. Segundo o DN,
depois de avisada aque os salários iriam ser penhorados, a empresa
entregou, há pouco tempo, um pedido de prestação de garantia bancária,
mas aparentemente já fora do prazo. Esta noite Portugal joga contra a Dinamarca
e só é preciso um ponto, através de um empate, para a seleção nacional
garantir o lugar no Europeu 2016, que se vai disputar em França. «O ADN
do futebolista português é ganhar, não é ir à procura do pontinho», diz Fernando Santos, treinador da seleção nacional. O jogo começa às 19.45 e tem transmissão na RTP-1. Ainda no futebol, o Benfica resiste às denúncias de Bruno de Carvalho,
presidente do Sporting, e garante que vai continuar a apresentar o
mesmo pacote de ofertas aos árbitros e delegados que sejam nomeados para
os jogos no Estádio da Luz. Por outras palavras, quem não passa fome
são os árbitros depois de irem à Luz. Entretanto, vá pensando em abrigar-se. O ‘ex-furacão’ Joaquín deve chegar no fim-de-semana a Portugal.
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera informou que prevê para
sábado períodos de chuva, aumento do vento e agitação marítima
provocados. FRASES "Acreditem, não tenho ligação romântica com a União Europeia e as suas instituições. Só estou interessado em duas coisas: a prosperidade da Grã-Bretanha e a influência da Grã-Bretanha". David Cameron, primeiro-ministro britânico, na conferência do Partido Conservador, The Guardian "Pareceu-me
que demoraram anos a chegar à balsa salva-vidas. Temi o pior.
Gritávamos para quem estava no molhe, mas ninguém nos ia buscar". Adriano Conceição, 37 anos, um dos dois sobreviventes do naufrágio do arrastão Olivia Ribau na Figueira da Foz, Diário de Noticias "Há uma campanha contra mim. Os juízes são a classe menos confiável em Portugal". Rui Rangel, o juiz que decidiu acabar com o segredo de justiça interna no caso Sócrates, jornal i "Admito que a desistência seja possível devido aos encargos de uma campanha eleitoral". Vítor Ramalho, da comissão de candidatura às presidenciais de Sampaio da Nóvoa, jornal i O QUE ANDO A LER E A OUVIR Pois a frase com que abri este Expresso Curto está em «Regressos quase perfeitos – memórias da guerra em Angola», de Maria José Lobo Antunes,que,
como o nome indica, é filha de António Lobo Antunes. E, à força de ir
assistir ao convívio anual da Companhia de Artilharia 3313 (onde o pai
serviu como médico miliciano) do Batalhão de Artilharia 3835 decidiu
escrever este livro que «não procura recuperar a verdade de uma época –
pretende antes reconstruir os caminhos sinuosos que cruzam memórias
individuais e coletivas, informais e oficiais, de uma guerra tornada
anacrónica com a queda do regime. Memórias que escondem, revelam,
negoceiam e reescrevem a história de um conflito que marcou para sempre
os que nele combateram». Doutorada em Antropologia, Maria José Lobo
Antunes não hesita em escrever que «A guerra colonial portuguesa
é, hoje, um país estrangeiro (…) tornado estrangeiro pela passagem do
tempo, só podemos aceder a este país através dos despojos que dele
restam». No carro anda agora o CD «Amália – Les voix du fado – As vozes do fado», que
junta um alargado leque de fadistas, e não só, numa homenagem à mais
internacionalmente conhecida das fadistas portuguesas, de Carminho a
Ricardo Ribeiro, de Ana Moura a Camané, de Gisela João a António Zambujo
e culminando em Celeste Rodrigues. Há quatro excelentes duetos, mas um
deles é o meu favorito: o de Ana Moura com Bonga, a cantarem «Valentim». Delicioso! E pronto, o Expresso Curto está tirado e amanhã cá estará outro cidadão, de toalha no braço e chávena escaldada para o servir, caro leitor. Tenha um muito bom dia.
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ANTÓNIO FONSECA
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