quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

360º

Filomena Martins
Diretora AdjuntaQuinta-feira, 16 janeiro 2020

Enquanto dormia…

… Isabel dos Santos passou ao ataque: depois de se vitimizar e dizer-se perseguida pelo novo regime angolano que lhe abriu vários processos e mandou arrestar bens, a empresária admitiu candidatar-se à presidência de Angola e ao cargo que foi do pai durante 38 anos: “É possível. Farei tudo o que tiver de fazer para defender e prestar os serviços à minha terra, ao meu país”, afirmou (ou avisou, alertou, ameaçou — risque o que achar que não se aplica) numa entrevista à RTP, sobre as próximas eleições presidenciais que são já em 2022. A mulher que dizia só se preocupar com negócios, (re)descobriu os interesses da política, no dia em que Marcelo se encontrou com João Lourenço em Moçambique e disse que não falaram deste caso.

Hoje o dia é de mau tempo, com chuva e vento forte, por isso, se puder, talvez seja melhor optar por não andar na rua. Ficam algumas sugestões: no cinema, a estreia em destaque é “Uma Vida Escondida”, de Terrence Malick, a história de um católico executado por objeção de consciência no III Reich, a quem o nosso crítico Eurico de Barros dá duas estrelas, mas tem outras opções; em casa, pode ver o jogo que falta para apurar o último qualificado para as meias-finais da Taça de Portugal: Canelas 2010 e Ac. Viseu defrontam-se para saber quem vai jogar com o FC Porto, depois de ontem o Famalicão ter marcado encontro com o Benfica; ou, se for fã, ouvir todas as canções que vão concorrer ao próximo Festival da Canção, que este ano se vai realizar em Elvas. Se preferir política, tem sempre o PSD: a campanha para a segunda volta das directas deste sábado contraria a meteorologia e está ‘quentinha’.

Adolfo Mesquita Nunes lança congresso do CDS em entrevista ao Observador

A pouco mais de uma semana do congresso do CDS, Adolfo Mesquita Nunes, que não quis entrar na corrida pela liderança dos centristas, anunciou no Sob Escuta que vai apoiar João Almeida. Depois de meses remetido a um semi-silêncio público sobre a vida interna do partido e sobre o que se passou nas últimas legislativas onde coordenou o programa eleitoral de Assunção Cristas, o ex-secretário de Estado, que deixou a vida política ativa quando assumiu funções como administrador-não executivo da Galp, falou sobre todos os temas ‘proibidos’ na entrevista ao Pedro Benevides e ao Rui Pedro Nunes.

A justificação sobre apoio a João Almeida: “Por causa do diagnóstico que faz e sobretudo na convicção de que não é necessário voltarmos a travar o debate das correntes ideológicas do CDS”.
Sobre as responsabilidades no mau resultado do CDS: “Assunção Cristas foi o alvo único dos ataques mediáticos da esquerda parlamentar. Foi uma campanha mediática lançada pela esquerda a que o CDS não soube dar resposta”.
E afastou-se ou não o CDS da sua matriz ideológica?: “O CDS foi contra as barrigas de aluguer (…) contra a procriação medicamente assistida (…) contra a eutanásia (…) contra a legalização da canábis. Perante estas votações, como é que ainda se pode presumir que se liberalizou demais? Ou se desviou dos seus valores fundacionais?”.

De Putin a Trump, com um acordo com China pelo meio

Foi o tema internacional do dia, o anúncio de que o Governo russo se tinha demitido em bloco depois de o presidente Vladimir Putin ter proposto um referendo para introduzir mudanças na constituição que davam mais poder ao parlamento/duma (e na prática, lhe reforçavam os seus próprios poderes). Dimitri Medvedev, que segundo o The Washington Post continua amigo de Putin (seja lá o que isso significar na Rússia), já tem um nome para o substituir: Mikhail Mishustin, diretor-geral da Autoridade Tributária Federal russa, um organismo correspondente ao nosso Fisco, mas com mais poderes, nomeadamente a nível criminal. Sobre o tema, José Milhazes escreve um artigo de opinião em que faz a pergunta óbvia: “A dança de cadeiras continua?”. Nos media internacionais, a análise da CNN diz que Putin quis mandar uma mensagem ao mundo com este anúncio choque, o The Guardian escreve que os planos do presidente russo são todos sobre como manter o controlo e o El País simplifica ao explicar que o homem forte da Rússia quis deixar bem resolvida a sua sucessão. O livro O Novo Czar, de que publicámos um capítulo em 2016, conta muito bem como Vladimir Putin se tornou o todo-poderoso da Rússia.

Do outro lado do Atlântico, os congressistas aprovaram os artigos que vão levar o processo de impeachment de Donald Trump para o Senado dos EUA. Era o passo que faltava para começar o julgamento do presidente norte-americano, quando continuam a ser conhecidos mais documentos sobre o caso que o fez chegar aqui: ontem foi revelada uma carta manuscrita que estava entre documentos com detalhes da pressão de Trump à Ucrânia.
Para fechar o ciclo, faltava faltar da China. E aqui o protagonista também foi Trump, que ontem assinou a “fase 1” do acordo dos EUA que poderá pôr fim à guerra comercial entre os dois países.

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