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Por Luísa Meireles
Redatora Principal
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28 de Outubro de 2015 |
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Habemus governo
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Num tempo recorde, é verdade, e talvez destinado a uma duração igualmente recorde. O governo mais curto de sempre
na nossa democracia foi o de Nobre da Costa, nos idos de 1978 e do
general Eanes-Presidente, e ainda assim durou três meses. É duvidoso que
este chegue lá. A coligação garante que sim. Este é um "Governo para quatro anos", disse Passos Coelho ou "para uma legislatura", na versão de Nuno Magalhães, do CDS, e de "amplo fôlego político", segundo o porta-voz do PSD, Marco António Costa. Em boa verdade, ninguém acredita. "Governo feito com a prata da casa", titulava o Expresso, "Não é uma remodelação, mas quase", dizia o Observador, "Governo mantém maioria das caras", segundo o Público, "Passos forma governo de militantes",
para o Diário de Notícias, e isto são apenas alguns exemplos de como se
pode dizer o mesmo com palavras diferentes. É um Governo feito para
durar pouco, com a recusa já prometida pelos três partidos da esquerda.
Como diz a Áurea Sampaio, deste Governo não rezará a História. É um Executivo de mínimos, afirma o Bernardo Ferrão, ou de rendição, segundo Daniel Oliveira, e que mereceu de imediato a rejeição do PS (nem outra coisa se esperava), um comentário ácido do Bloco de Esquerda e uma quase indiferença do PCP. Mesmo assim, não foi fácil fazê-lo, como aqui se
escreve."Este governo está cercado antes de nascer. Alguém deixa de ser
CEO de uma empresa neste contexto?", cita-se, a propósito da empresa
não menos difícil de arranjar (ou manter) os secretários de Estado. Um
ideia resumida ontem por António Vitorino: este é um tempo em que "os
ministeriáveis têm o telemóvel desligado". É por isso que
muitos preferem olhar já para a frente, para o que pode acontecer dentro
de poucos dias. Reflete sobre isso o Ricardo Costa (Um passo à frente, dois à retaguarda) quando coloca a questão de quanto tempo espera a coligação estar na oposição, e também noutro ângulo, o Henrique Monteiro, que pensa já na alternativa de Costa.
Feroz e corrosivamente combatida, como se depreende das palavras de
João Marques de Almeida, que a qualifica simplesmente como "anti-democrática e anti-europeia".
Os tempos são de paixão e crispação, todos já perceberam, mas esperemos
que não haja faísca capaz de os fazer descambar, que o que há já chega
para lembrar o PREC a quem o viveu. Pelos vistos, ou uns têm saudades,
ou só sabem de ouvir dizer. Recriá-lo, 40 anos depois é, para dizer o
mínimo, fora de época. Mas já há apelos nas redes sociais para uma manifestação contra as moções de rejeição no Parlamento a 13 de novembro e discussão de contra medidas. Que a alternativa de Governo
está a construir-se, isso está. Ao ponto a que chegaram, as esquerdas
não têm mais por onde recuar e sabem disso. Ponto a ponto, as
negociações técnicas vão dar lugar às questões institucionais, quer
dizer, de como será o Governo - unipartidário do PS com apoio do BE e do
PCP, ou coligação a dois ou a três? Depende de muita coisa, de cada
partido seguramente, mas também de Cavaco Silva que, no mínimo, terá o
direito de saber a que tipo de acordo se chegou. Ele e todos nós. Há
dois dias, o ponto de situação era este. Hoje, o Público, dizia que podia ser um "Executivo com independentes de esquerda". Não estamos sós neste universo político, a nossa pequena história vai sendo relatada em tons diferentes pelo mundo fora. O fleumático EUObserver diz que "Portugal foi apanhado num turbilhão político pós-eleitoral" que pode durar meses (?!?), enquanto o The Telegraph,
conservador, anti-europeísta e anti-Tratado Orçamental, aproveita a
onda e afirma que "A crise constitucional em Portugal afeta todas as
democracias na Europa", depois de já ter afirmado que "a zona euro atravessa o Rubicão com a esquerda anti-euro banida do poder", a propósito do discurso de Cavaco Silva. O La Tribune e La Libre Belgique também se manifestaram, bem como o Huffington Post, e o El Pais (Portugal no reino de Maquiavel). Noutro registo, o economista francês Jacques Sapir fala do "Golpe de Estado silencioso de Lisboa".
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OUTRAS NOTÍCIAS "A mordaça", titula hoje o Correio da Manhã: "Sócrates
tenta silenciar CM". É a notícia de ontem à noite, já o jornal estava
no fecho. É uma ordem judicial, resultante de uma providência cautelar
interposta pela defesa do ex-primeiro-ministro, em virtude da qual todos
os órgãos de comunicação do grupo Cofina (onde se inclui não só o
Correio da Manhã, como a Sábado ou o Jornal de Negócios) estão proibidos
de dar notícias sobre o processo de Sócrates, conhecido como a Operação
Marquês. O Correio da Manhã tem feito sucessivas manchetes com o caso
desde que o processo deixou de estar em segredo de justiça, promete
resisitir e, a nós leitores, cabe refletir. Deve ou não um jornal
constituir-se em assistente para depois divulgar, sem contradita, as
peças do processo que lhe aprouver? Aqui no Expresso, pensa-se que não,
mas o debate não é pacífico no meio. O risco de cancro que, segundo a OMS acarreta o consumo de enchidos
continua a preocupar o setor que, em Portugal, emprega 16 mil
trabalhadores em 641 empresas, com um valor de negócio de exportação de
3,6 mil milhões de euros, segundo as contas do I. Ainda relacionadas com o nosso cantinho político, eis que hoje no Parlamento, se começa a desenhar o futuro próximo. Já se sabe quem são os candidatos a vice-presidentes
(Matos Correia, pelo PSD, Jorge Lacão pelo PS e José Manuel Pureza,
pelo BE). No PS, entretanto, o candidato único a líder parlamentar,
Carlos César, muda quase tudo,
Curiosamente, no outro palco da nossa política - Bruxelas ou
Estrasburgo - os três partidos de esquerda que aqui se pretendem unir,
desunem-se. Isto a propósito da votação, também hoje, no Parlamento Europeu, da proposta de resolução do Orçamento comunitário,.em
que PCP e BE pedem o que sempre pediram: a rejeição do Tratado
Orçamental. O PS, já se sabe, pensa diferente e diz que as metas
orçamentais são para cumprir. Contradições... Em Portugal ainda, o crédito às famílias está a subir (pois, as taxas de juro continuam a cair e as rendas das casas a subir), a ameaça para os lisboetas de que vão pagar mais taxas (e impostos?) e um aviso de Teixeira dos Santos: "Brussels, we have a problem", a propósito das notícias “preocupantes” para a Europa de estagnação do crescimento na economia da área do euro. Lá fora Se alguma imprensa europeia parece preocupada com o que se está a passar em Portugal, então que dizer com o que se passa na Polónia,
onde acaba de ganhar as eleições o PiS (Partido da Lei e da Justiça),
um partido xenófobo e ultraconservador? O gémeo que sobreviveu, Jarosław
Kaczyński, já não será primeiro-ministro, como no passado, mas segundo o
Político é o "Rei da Polónia". De arrepiar. A Cátia Bruno também esteve lá e conta-lhe em português o que viu quando "O gigante mora ao lado". Da Alemanha, notícias incertas. Angela Merkel está sob apertado escrutínio, por causa da sua política de portas agora semi-abertas aos refugiados e que divide a Europa. O presidente do estado bávaro Seehofer fez um ultimato
à chanceler até domingo para que mude a sua política, ameaçando ir até
ao Tribunal Constitucional (se preferir ler em espanhol, veja aqui). Merkel respondeu-lhe que não chega "desligar o interruptor". A verdade é que a Alemanha tem um problema crescente de ódio,
como escreve a Der Spiegel.Tempos cruéis, num mundo onde a ONU prevê
que em 10 anos, entre 2005 e 2016, terão chegado à Europa 1,4 milhões de
refugiados de guerra. Veja como é. Dói. Aqui ao lado, em Espanha, atenção à crise que começa a crescer e que esta semana deu um salto com a "provocação" catalã,
como escreve o El Pais sobre a tentativa de "desconexão democrática" do
Estado espanhol da Catalunha. O chefe de Governo Mariano Rajoy não respondeu, mas o PSOE e os Ciudadanos pedem ao PP uma ação coordenada. Mais longe, não esquecer o que se está a passar no Pacífico: um navio-patrulha americano desafia Pequim no Mar da China. Tensão máxima. Pequim não gostou. Em português, leia aqui. Ainda do outro lado do Atlântico, preste atenção ao que se está a passar na Argentina, onde está a começar a virar-se a página do kirchnerismo,e, já agora, à esquecida Guatemala, que provou que o melhor remédio - mesmo em política - é rir: um humorista foi eleito Presidente. FRASES "Governo: é um ser do tipo ter sido", Ferreira Fernandes, a propósito do novo Governo, no Diário de Notícias "[Messi] não tem qualidade de cabeça, usa mais o pé esquerdo e não é ambidestro. Mas hoje é o melhor [futebolista do mundo]", Pelé, no DN "Não
nos peçam (...) é para deixarmos de ser aquilo que somos para facilitar
determinado tipo de medidas que eventualmente alguns possam pensar
desenvolver para, com o beneplácito da CGTP, pôr em causa direitos e
interesses dos trabalhadores", Arménio Carlos, sobre a nova maioria de esquerda, no DN "Com o PCP, não tenho dúvidas, acordo assinadoé acordo cumprido", Carlos Brito, ex-dirigente do PCP, sobre o mesmo tema O QUE ANDO A LER Coisas curtas e esparsas, que aqui sugiro. Para já, esta bem engraçada e, porque não, até inspiradora: O que é que acontece numa empresa quando o patrão resolve pagar de salário mínimo 70 mil dólares (63 mil euros)? "Homens adultos gritaram, os lucros subiram e as coisas ficaram mesmo loucas". Uma outra sobre espiões (com satélites e tudo) na Coreia do Norte, e ainda esta: "Conheça a rapariga que inspirou a Alice no País das Maravilhas".
Já sei que o leitor já deve ter lido algumas coisas sobre o assunto,
mas é sempre interessante reler. Ou esta, mais científica, sobre as partículas do Universo, que abriram o caminho para a Humanidade e mataram os dinossauros. E fiquei pasmada com o avanço das coisas: entãio não é que já há serviço de hotel todo em emojis,
sabe, aqueles bonequinhos que traduzem ideias? São tudo sugestões de
leituras em inglês, desculpe, por isso, para rematar, leia, se ainda não
teve ocasião, este extraordinário texto da Luciana Leiderfarb sobre
bulliyng, "O preço do silêncio". Não vai ficar indiferente, garanto.
Quanto a ouvir, rendi-me no meu espaço de liberdade individual (o meu
carro, onde ouço o que quero e como quero) ao belo disco de poesia com
música jazz que o meu colega Nicolau Santos resolveu editar a propósito
dos seus 35 anos de jornalismo: "O meu país já não existe". O país é Angola, já se sabe, as lembranças são todas dele e muita da poesia também. É o seu espaço de liberdade também.
E por hoje, estas escolhas já vão muito longas, é tempo de acabar. Não
sem antes prevenir que se cuide porque o Outono já entrou e, no Portugal
mais recôndito, o Inverno já se anuncia. Nevou pela primeira vez na Serra da Estrela e a Marinha faz um aviso de mau tempo em todo o território, por isso evite as zonas costeiras.
Esteja por aqui, no online, a conferir as notícias a qualquer hora e,
logo às 18h, a aprofundar as novas do dia, no Expresso Diário. Amanhã, o
Expresso Curto cabe ao Pedro Candeias - ele escreve muito bem e de
futebol nem se fala!
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