Macroscópio – Uma boa dose de Churchill, aperitivos variados e uma pitada de Friedman
Macroscópio – Uma boa dose de Churchill, aperitivos variados e uma pitada de Friedman
Hoje faço um intervalo. Ou seja, se neste Macroscópio ainda se falará da sobre a Grécia, ele servirá sobretudo para lhe chamar a atenção para outros trabalhos e outros temas. E vamos começar de forma divertida, como verão.
Domingo passado assinalou-se o 50º aniversário de um dos maiores políticos, e homem de Estado, todos os tempos: Winston Churchill. Justifica-se pois que recupere algumas coisas publicadas nos últimos dias, e vou começar por um trabalho surpreendente do Telegraph: How to drink like Winston Churchill. É um pequeno vídeo divertidíssimo onde se recordam não apenas as bebibas favorit as do primeiro-ministro que liderou a resistência à Alemanha nazi, mas o ritmo e a forma como as bebia. Só vos digo que não era para qualquer um. Não percam.
De resto o velho leão nunca escondeu os seus hábitos, e uma das suas frases mais célebres terá sido dita, precisamente, num momento de menor sobriedade mas não menor clarividência: "I may be drunk, Miss, but in the morning I will be sober and you will still be ugly." Essa frase é, de resto, a última das que o diário israelita Haaretz escolheu em On 50th anniversary of Churchill's death, 13 unforgettable quotes. Eis outra, bem recordada em tempo de comemorações: "History will be kind to me for I intend to write it.< /em>"
A história tem sido mais do que gentil do Winston Churchill, mas não porque ele a tivesse escrito, antes porque mereceu e merece. Um bom apanhado do que foi a sua vida e o seu legado pode ser lido no Expresso de 10 de Janeiro, num ensaio do historiador Filipe Ribeiro de Meneses, signiicativamente intitulado “A falta que ele nos faz” (link só para assinantes). Como ele refere, “a história de Winston Churchill não tem uma só dimensão. Mas há lições a retirar do seu desempenho político, 50 anos depois da sua morte. São lições a reter por políticos ou por quem tem ambições políticas. Mas são, sobretudo, lições a reter por si, caro eleitor”.
Nesse texto recordam-se também alguns episódios da vida política de Churchill a que um político dos dias de hoje dificilmente resistiria. Essa mesma ideia foi retomada por Paulo Portas num ensaio que escreveu para o Observador, Um leopardo. Eis como termina esse seu texto:
Não deve ter existido outra pessoa que tenha ganho o prémio Nobel da literatura, colocado um álbum no top 5 (dos seus discursos) e bebido – dizem – cerca de 42.000 garrafas de champanhe. Entretanto, venceu uma guerra mundial e salvou o mundo ocidental. Um verdadeiro leão, comentava-se. Talvez mais um leopardo, no sentido viscontiano da vida e, no caso dele, da vitória.
Para seguir as comemorações do 50º aniversár io e, sobretudo, para ler textos informados sobre o líder inglês, é também indispensável acompanhar o que João Carlos Espada tem vindo a escrever no Público. O mais recente dos seus textos, desta segunda-feira, chama-se Três perguntas sobre Winston Churchill e procura responder a três perguntas que são realmente desafiantes: “(1) como explicar a intransigente oposição de Churchill ao comunismo e ao nacional-socialismo, desde o início de ambos e sem qualquer hesitação?; (2) como explicar a sua recusa solitária de qualquer negociação com Hitler, mesmo quando, em 1940, a superioridade militar nazi era evidente e triunfante no continente europeu?; (3) como explicar a sua, de novo solitária2C denúncia da “cortina de ferro”, em 1946, quando a Inglaterra e a Europa estavam exaustas pela guerra?” Para conhecer as respostas, é ler.
Termino este bloco sobre Churchill regressando ao Reino Unido e ao Telegraph, para sugerir um texto de Boris Johnson, o activíssimo mayor de Londres, também biógrafo do estadista inglês: Churchill embodied Britain's greatness. Depois de defender a ideia que a sua história é “a universal human parable, and it is fundamentally about courage”, sublinha: “He is the only Prime Minister in history to have come under fire, in battle, on four continents (and to have fired back, with lethal effect, in perhaps a dozen cases), including the last cavalry charge ever mad e by the British army.” (já agora: quem quiser ler uma magnífica descrição dessa carga de cavalaria pode fazê-lo lendo o próprio Churchill em The River War A reconquista do Sudão, da editora Fronteira do Caos)
Deixo agora Winston Churchil para referir alguns textos soltos, incluindo alguns com alguma relação com a Grécia, que julgo merecerem a sua atenção. Vamos a isso.
A situação na Grécia tem deixado para segundo plano a situação na Ucrânia, mas o que lá se passa é cada vez mais preocupante. Daí que faça sentido chamar a atenção para o apelo que o filósofo Bernard-Henri Lévy e o investidor George Sorospublicaram no New York Times: Save the New Ukraine. Eis o ponto central desse seu texto:
It is not only the future of Ukraine that’s at stake, but that of the European Union itself. The loss of Ukraine would be an enormous blow; it would empower a Russian alternative to the European Union based on the rule of force rather than the rule of law. But if Europe delivered the financial assistance that Ukraine needs, Mr. Putin would eventually be forced to abandon his aggression. At the moment, he can argue that Russia’s economic troubles are caused by Western hostility2C and the Russian public finds his argument convincing.
É importante continuarmos atentos à Alemanha, e não apenas por causa da Grécia. A relação do maior estado da União Europeia com os seus parceiro está a passar por um momento de tensão, e um bom sinal disso mesmo é encontrarmos na Spiegel, uma revista de esquerda, habitualmente muito crítica da Angela Merkel, um texto onde as recentes decisões do Banco Central Europeu são atacadas: Draghi's Dangerous Bet: The Perils of a Weak Euro. Eis um dos seus pontos de partida:
Central banks, said Harvard University economics professor Kenneth Rogoff, are surely the greatest source of uncertainty in the eyes of the financial markets, a statement that was not dis puted by others on the panel. The fact that monetary policies at central banks in the US, Europe, Japan and elsewhere are drifting apart poses a major risk for the stability of financial markets, he said.
Continuando na Alemanha, encontrei na Spectator um interessante texto que nos faz um retrato do que se está a passar em Dresden com as manifestações do Pegida bem diferente do que tem sido feito pela grande imprensa alemã: Confusion, snobbery and Pegida – a letter from Dresden. O autor ataca frontalmente o que ele considera ser a cultura politicamente correcta dominante nas elites políticas e mediáticas. Mas o maior ataque talvez seja o que dirige directamente chanceler:
Angela Merkel put on her glummest rainy-afternoon-in-Chemnitz face to give Pegida supporter s a sound telling-off during her New Year’s broadcast to the nation earlier this month. ‘I say to those who go to these marches, don’t follow these people! They have prejudices, coldness, even hatred in their hearts!’ This is the same woman who, in 2010, wowed a room full of CDU young bloods with a full-frontal attack on uncontrolled immigration and multiculturalism.
De vez em quando há estrelas que caem. Aqui ao lado, em Espanha, o El Pais descobriu que um dos principais dirigente do Podemos, Juan Carlos Monedero (é o responsável pela equipa que está a elaborar o seu programa político), engordou, por assim dizer, as suas credenciais académicas: Monedero no da explicaciones sobre las falsedades de su currículo. Dirão que &eacut e; um caso muito espanhol, mas talvez não: neste trabalho do El Pais reproduz-se uma fotografia em que Monedero aparece mais do que abraçado ao nosso Boaventura Sousa Santos. Curioso, não é?
No passado fim-de-semana passaram 40 anos sobre um evento marcante da revolução portuguesa: o cerco ao primeiro congresso do CDS que estava reunido no Porto. A Catarina Falcão recordou essa história - Cerco ao Palácio de Cristal: as 12 horas mais longas da vida do CDS – e o Rui Ramos partiu dela para escrever um ensaio sobre as origens da direita democrática portuguesa - 40 anos de cerco: a direita e a democracia. Eis a sua conclus&a tilde;o:
Como agentes de socialização democrática, os partidos democráticos da direita foram muito mais eficazes do que os partidos democráticos da esquerda (isto é, o PS). Entre 1976 e 1979, o PSD e o CDS não deram espaço à reconstituição de direita nacionalista, limitando nomeadamente o MIRN com que o general Kaúlza de Arriaga tentou então voltar à política. Portugal é ainda hoje um dos poucos países europeus sem partidos da família da Frente Nacional ou do UKIP. (…) À direita, em Portugal, a democracia liberal prevaleceu. O mesmo não aconteceu à esquerda, onde o PS continua a suportar a concorrência de partidos cuja ideia de democracia é alguma variante da ditadura soviética.
Vou terminar este Macroscópio recuperando um texto antigo, com quase 18 anos: The Euro: Monetary Unity To Political Disunity? O seu autor é um economista já desaparecido, Milton Friedman, e o que surpreende neste texto é a forma como ele antevê muitos dos problemas que estamos hoje a viver. Reparem só nesta passagem:
The drive for the Euro has been motivated by politics not economics. The aim has been to link Germany and France so closely as to make a future European war impossible, and to set the stage for a federal United States of Europe. I believe that adoption of the Euro would have the opposite effect. It would exacerbate political tensions by converting divergent shocks that could have been readily accommodated by exchange rate changes into divisive political issues. Political unity can pave the way for monetary unity. Monetary unity imposed under unfavorable condi tions will prove a barrier to the achievement of political unity.
Friedman, que foi Nobel da Economia e chegou a ter enorme influência no debate público, não é hoje um economista na moda. Mas, como se prova, vale a pena lê-lo.
Bom descanso e boas leituras
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