Em meio à guerra, Kiev relembra a fome da era soviética
A celebração foi realizada enquanto boa parte do país segue sem eletricidade devido aos ataques aéreos russos.
Holodomor é o termo ucraniano para morte por inanição. Em 1932, Stalin ordenou às autoridades que apreendessem todos os grãos e animais de fazendas ucranianas recém-coletivizadas para, de forma deliberada, provocar um efeito devastador sobre a sua população.
"Os ucranianos passaram por coisas muito terríveis", disse o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em um vídeo postado nas mídias sociais. "Antes eles queriam nos destruir com fome, agora com escuridão e frio", acrescentou. "Não podemos ser quebrados."
Milhões morreram de fome durante o Holodomor, considerado por Kiev como um ato deliberado de genocídio.
Os líderes da Polônia, Bélgica e Lituânia também viajaram para a Ucrânia para marcar o aniversário e renovar suas promessas de apoio em meio a cortes de energia em todo o país.
No Twitter, o Ministério da Defesa ucraniano comparou o episódio histórico da Ucrânia com a situação atual. "Qualquer pessoa pode ver o terror que a Rússia está infligindo ao povo ucraniano", escreveu a pasta, acrescentando: "Desta vez, o roubo e destruição de grãos está causando fome fora das fronteiras da Ucrânia, em alguns dos países mais pobres do mundo."
Ataques russos em Dnipro matam 13
Ataques com mísseis contra a cidade industrial ucraniana de Dnipro mataram pelo menos 13 pessoas no sábado, disseram as autoridades.
Entre as vítimas está um jovem de 17 anos, informou o governador militar da região de Dnipropetrovsk, Valentyn Reznichenko.
As autoridades ucranianas disseram que um total de sete edifícios residenciais foram danificados nos ataques. Um armazém também foi destruído na cidade, que é a quarta maior da Ucrânia.
O número de mortos e feridos ainda pode aumentar, pois acredita-se que várias pessoas estejam presas sob os escombros dos edifícios danificados.
Ucrânia lança programa de grãos para África e Ásia
O governo ucraniano anunciou também neste sábado a criação de um programa internacional de ajuda alimentar para entregar grãos para os países mais pobres.
Sob o programa Grãos da Ucrânia, 60 navios serão despachados dos portos do Mar Negro da Ucrânia para entregar alimentos a países que necessitam muito da entrega de grãos no momento, como o Iêmen, o Sudão ou a Somália. Espera-se que os embarques sejam concluídos até meados do próximo ano.
"A Ucrânia sempre foi e continuará sendo o garantidor da segurança alimentar mundial, e mesmo em condições de guerra tão duras, a liderança ucraniana trabalha em prol da estabilidade global", disse Zelenski.
Países como Alemanha e Bélgica ajudarão a financiar as entregas.
"Esta iniciativa nos permite evitar possíveis problemas com o fornecimento de alimentos em certos países africanos", disse o primeiro-ministro belga, Alexander de Croo.
Além de beneficiar a economia da Ucrânia, o programa busca obter apoio dos países asiáticos e africanos, que foram os mais atingidos pela crise alimentar global e são alvos de campanhas de desinformação russas para desviar a atenção da agressão de Moscou contra a Ucrânia.
Dezenas de milhares permanecem sem eletricidade
Na capital ucraniana, Kiev, cerca de 130 mil pessoas ainda estão sem eletricidade após uma onda de ataques aéreos russos que mirou infraestruturas críticas.
A administração militar de Kiev disse esperar que os reparos finais sejam concluídos nas próximas 24 horas. Todos os sistemas de aquecimento da cidade de 3 milhões deverão então funcionar novamente.
O prefeito da cidade, Vitali Klitschko, pediu calma e advertiu que os cortes de eletricidade poderiam desencadear agitação política.
"Devemos continuar trabalhando juntos para defender o país e proteger a infraestrutura", disse, acrescentando que uma solução estava sendo procurada "a uma velocidade recorde".
Uma série de ataques das forças russas na quarta-feira afetou o fornecimento de energia, água e aquecimento em Kiev e em muitas outras partes do país, que está enfrentando temperaturas geladas à medida que o inverno se aproxima.
bl (AP, AFP, dpa, Reuters)
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