EXPRESSO DIÁRIO - 16 DE FEVEREIRO DE 2016

Super Mário volta a atacar. Mas será que nos salva?

Expresso Curto

 

 

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POR RICARDO COSTA Diretor   16 de Fevereiro de 2016   Super Mário volta a atacar. Mas será que nos salva?   As crises europeias têm coisas estranhas, mas com o tempo já lhes vamos apanhando o jeito. A primeira regra é que tudo demora muito tempo. A segunda é que cada líder europeu diz uma coisa diferente. A terceira é que os mercados acreditam pouco nos líderes europeus. A quarta é que Mario Draghiaparece no fim da história para salvar quase tudo e quase todos. Ontem, o italiano que lidera o Banco Central Europeu disse a frase que todos aguardavam: “não hesitaremos em agir”. O que é que isto quer dizer? Bem, como o calendário do BCE é relativamente rígido, o que Draghi quis dizer é que na próximareunião de 10 de Março, a equipa de banqueiros centrais pode tomar medidas adicionais para acalmar os juros das dívidas públicas com maior risco e a incerteza que existe sobre a robustez do setor financeiro, com a banca italiana em grande destaque, mas os holofotes a incidirem também sobre o gigante Deutsche Bank. O meu colega Jorge Nascimento Rodrigues explica bem neste texto a importância do discurso de Draghi que, há uns anos, salvou o Euro quando disse que o BCE atuaria até ao limite (“custe o que custar”) para contrariar especuladores ou investidores descrentes. Será que Super Mario nos salva outra vez? Os mercados asiáticos reagiram bem e na Europa as coisas parecem ter acalmado. Ontem, as yields das nossas obrigações do Tesouro a dez anos continuaram a trajetória de queda, depois de na semana passada terem atingido o pico dos últimos dois anos, nuns perigosos 4,5%. Os juros, os mercados, o orçamento e as palavras de Mario Draghi estiveram na mesa do primeiro encontro entre Marcelo Rebelo de Sousa e Mario Centeno. O encontro secreto teve ontem lugar no Palácio de Queluz, onde Marcelo tem gabinete até tomar posse. Já agora, fique a saber que o petróleo está a subir, na sequência do anúncio de uma reunião entre os ministros da Arábia Saudita, da Rússia, do Qatar e da Venezuela em Doha, antecipando uma política coordenada de alguns dos maiores produtores de petróleo, que têm as suas finanças ameaçadas. Por cá, a gasolina liga pouco a estas coisas porque, como sabem, o preço sobe sempre, mas é bom estar a par destas reuniões.   OUTRAS NOTÍCIAS No nosso dia-a-dia, sabemos pouco de juros da dívida e de colaterais bancários, mas andamos com os bolsos atulhados de faturas. Ontem, já sabe, a nossa amada máquina fiscal deu mais uns dias, até 22 de fevereiro, para regularizarmos tudo no novo big brother chamado e-factura. Os jornais explicam tudo. Como a confusão ainda é grande, a entrega de declarações de IRS também sofre alterações nos prazos, com os trabalhadores por conta de outrem a terem de cumprir essa obrigação durante o mês de abril (anteriormente estava definido o período entre 15 de março e 15 de abril). A segunda fase da entrega do IRS - para trabalhadores por contra própria - decorrerá em maio. Quase tão confusa como a submissão de faturas, é a venda da TAP, onde agora, como naquelas bonecas russas, descobrimos uns chineses onde já havia um brasileiro-americano e um português. O Expresso divulgou a notícia no sábado, mas as explicações continuam no meio de alguma confusão. Pouco importado com os donos, está Rui Moreira, que montou uma campanha sem tréguas contra o desinvestimento da companhia área no aeroporto Francisco Sá Carneiro. Amanhã o autarca ruma a Lisboa (presume-se que não venha na TAP…) para reunir com António Costa, sendo que o primeiro-ministro e o seu ministro já disseram coisas diferentes sobre o que o governo pode ou não fazer sobre a matéria. O ministro da Saúde afastou ontem Paulo Campos da presidência do INEM. A decisão de Adalberto Campos Fernandes cumpriu uma recomendação da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde para que Campos fosse alvo de um processo disciplinar com suspensão de funções, por ter sido provado que, no ano passado, utilizou um helicóptero do instituto para transferir uma doente do seu círculo pessoal do Hospital de Cascais para o de Abrantes. Gaspar Castelo Branco foi ontem condecorado a título póstumo pelo Presidente da República, numa cerimónia privada, a pedido da família do agraciado. A condecoração é importante e simbólica porque Gaspar Castelo Branco foi assassinado à porta de casa há 30 anos pelas FP-25, quando era Diretor Geral dos Serviços Prisionais e nunca tinha sido agraciado pelo Estado português, apesar de ser o mais alto funcionário do Estado na lista das vítimas mortais das FP-25. Hoje vai estar Sol, mas o país ainda faz contas aos estragos provocados pelo mau tempo dos últimos dias. Os prejuízos são imensos, sobretudo na agricultura onde o ministro já prometeu recorrer a verbas comunitárias para ajudar os lesados, sobretudo no norte e centro do país. A pedido de Henrique Monteiro, aqui fica uma retificação sobre o Expresso Curto de 5 de fevereiro, assinado por ele: “Numa nota que referia o deputado e dirigente nacional do PS Hugo Pires afirmei, por meu exclusivo erro, que este tinha sido detido. Tal nunca aconteceu, como se pode ler na notícia que deu origem à nota daquela Newsletter. A imunidade parlamentar de Hugo Pires apenas foi levantada para que este pudesse depor na qualidade de arguido. Pelo lapso, as minhas desculpas aos leitores e, sobretudo, ao visado” A guerra na Síria prossegue a um ritmo dramático, agora com duas escaladas. No norte, a Turquia não admite os avanços das milícias curdas que controlam uma zona muito relevante do território, tal como no norte do Iraque, o que permite sonhar a sério com um Curdistão independente, coisa que a Turquia não aceita. Mais grave, os aviões russos continuam a ajudar o avanço das tropas fiéis ao regime de Assad, retirando espaço aos rebeldes moderados, num complexo jogo de xadrez em que a Turquia e a Rússia medem forças diariamente. Tudo isto a poucos dias da entrada em vigor de uma espécie de cessar-fogo em que poucos acreditam. Na Europa a crise dos refugiados prossegue na sombra do conflito sírio, com um fluxo imparável rumo à Turquia por terra e à Grécia por via marítima. Este êxodo está a dividir as chancelarias europeias em vésperas de uma cimeira europeia decisiva, marcada para quinta e sexta. Nessa cimeira, vá-se preparando, uma das expressões mais ouvidas vai ser a nova palavra “Brexit”, a contração das expressões Britain e Exit. Não são boas notícias para a UE num ano em que os eleitores do Reino Unido vão mesmo ser chamados a referendar a saída ou manutenção na União Europeia. He´s back! Ontem, George W. Bush deu um salto à Carolina do Sul para ajudar o irmão Jeb na difícil luta pela nomeação republicana, onde perde terreno para Trump, Rubio, Cruz e mais uns quantos. O ex-presidente é hoje bastante impopular no próprio eleitorado republicano, sobretudo pela Guerra do Iraque, mas goza de uma enorme simpatia na Carolina do Sul. O comício foi muito curioso, mas é difícil que consiga inverter a maré a favor do irmão Jeb. Em Espanha, o Podemos lançou um balde de água fria sobre a cabeça do líder do PSOE ao fazer exigências duríssimas sobre um eventual governo dos partidos à esquerda. O socialista Pedro Sanchéz anda a tentar formar governo, num movimento semelhante ao ocorrido em Portugal – o PP venceu as eleições mas não consegue formar maiorias no parlamento -, mas Pablo Iglesias fez exigências quase impossíveis referentes ao referendo na Catalunha e a algumas políticas económicas. Hoje é dia de Champions League e o Benfica recebe o Zenitde André Villas Boas e Hulk na Luz às 19h45. O ex-treinador e o ex-avançado portista já tiveram alguns sucessos no estádio do Benfica, mas Rui Vitória promete jogar forte e os jornais desportivos dão conta disso. Na Bola o título é este: “Benfica caça fantasmas”; no Record a linha é a mesma: “Renato contra os papões”; no Jogo diz-se que “Hulk faz disparar os alarmes”, por ter marcado quatro golos em sete partidas na Luz. Logo já sabemos quem fica melhor posicionado na passagem aos oitavos de final. Porto e Sporting só jogam na quinta-feira para a Liga Europa, com duas equipas alemãs. O FC Porto vai a Dortmund defrontar o Borussia às 18h e o Sporting recebe o Bayer Leverkursen em Alvalade às 20h05. Faltam dois dias mas já se discute muito sobre quem será o lateral esquerdo leonino e a dupla de centrais portista. Esta noite os Grammys foram entregues. Taylor Swift, para não variar, foi a rainha na noite dos Óscares da Música, masKendrick Lamar foi quem recebeu mais prémios. Adele teve um azar técnico com o piano, que a própria resumiu no twitter desta forma: shit happens… FRASES “Não vou fazer gestão da equipa. Este jogo é para ganhar”. Rui Vitória, treinador do Benfica, a antecipar o jogo desta noite com o Zenit “Eu próprio já comentei na comissão parlamentar de Obras Públicas (…) dizendo que via com bons olhos a aproximação da TAP à Ásia, através desse investidor que, no fundo, era agora um novo investidor no capital de um dos membros do consórcio”. Pedro Marques, ministro do Planeamento sobre o “espanto” causado pela entrada de chineses na TAP “Causa-me nervoso ver mulheres informadas agirem assim”.Joana Ferrer, juíza que conduz o caso de violência doméstica que Bárbara Guimarães interpôs contra Manuel Maria Carrilho, numa frase que indignou várias associações de defesa dos direitos das mulheres e a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima O QUE EU ANDO A LER Já aqui vos falei de The Silo Effect, da jornalista e antropólogaGillian Tett, quando encomendei o livro na Amazon. Agora que já o li, posso confirmar que é um dos mais inteligentes e interessantes textos sobre a forma como as nossas empresas e organizações não se devem estruturar e como a necessária especialização das nossas sociedades pode, em simultâneo, ser uma armadilha que mata a inovação e impede que se antecipem os principais riscos e as grandes crises. Giilian Tett é uma das mais conhecidas jornalistas e colunistas doFinancial Times, mas tem formação e experiência de campo com antropóloga. E isso faz com que as suas colunas semanais tenham quase sempre um ângulo e uma grelha de observação muito diferentes da generalidade dos analistas. Em 2008, Tett ficou bastante famosa por ter sido uma das raras pessoas que antecipou a crise financeira. Se não acredita, espreite este artigo do Guardian, ainda de 2008 (The banking world ignored Gillian Tett when she predicted the credit crisis two years ago) ou veja o magnífico documentário Inside Job sobre a crise financeira – que venceu um Óscar -, onde ela é entrevistada. Tett defende que a antropologia oferece as chaves ideaispara uma boa leitura do mundo financeiro e da gestão e trabalha essa ideia ao longo de todo o livro, partindo do exemplo e admiração que tem pelo francês Pierre Bourdieu. Os casos que escolhe sobre empresas ou organizações que cometeram erros históricos de gestão por estarem organizadas em silos e as que tudo fazem para os quebrar, não são analisados apenas do ponto de vista económico ou de gestão, mas com um olhar que só a sociologia ou a antropologia asseguram. Agora que o mundo volta a dar sinais de estar à beira de uma nova crise financeira ou, pelo menos, de muita incerteza e agitação, as 290 páginas deste The Silo Effect merecem ainda mais uma leitura. Para texto mais rápidos, vá espreitando o Expresso Online. Ao fim do dia, arrumamos e explicamos tudo, com notícias e opinião em primeira mão no Expresso Diário. Amanhã, a Luísa Meireles assina bem cedo o Expresso Curto. Bom dia.

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