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quarta-feira, 30 de março de 2016

EXPRESSO DIÁRIO - 30 DE MARÇO DE 2016


Estamos todos rodeados de vidros

Para: antoniofonseca1940@hotmail.com


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Expresso
Bom dia, já leu o Expresso CurtoBom dia, este é o seu Expresso Curto 
Cristina Peres
POR CRISTINA PERES
Jornalista de Internacional
 
30 de Março de 2016
 
Estamos todos rodeados de vidros
 
O balanço dos ataques terroristas destas semanas está longe de estar terminado. Até porque não se pode dizer que tenham parado. Daesh, talibãs paquistaneses, milícias Al-Shabaab, Ansar Dine (Mali), Al-Qaeda e as suas ramificações impõem outro ritmo ao mundo. A capa da última revista The Economist chama-lhe em título: Europe’s New Normal, o novo normal da Europa. Nas redes sociais resiste-se escrevendo: “nunca será normal”. Porém, não é só na Europa. Bruxelas há uma semana, Lahore no Paquistão no domingo de Páscoa , Bagdade, Iraque na terça-feira… o número de vítimas aumenta, retomar a normalidade é cada vez menos fácil e se se volta lá, é sempre a um sítio diferente. É por isso que a província do Punjab está a ser peneirada por buscas militares, que prendem suspeitos de atos terroristas e apreendem armamento. É o “novo normal” autorizado pelo primeiro-ministro Nawaz Sharif, que tem até evitado mencioná-lo, talvez por dificuldade em justificar o tempo que levou a dar luz verde ao exército para a caça ao homem. No domingo, um bombista suicida fez-se explodir à entrada de um parque em Lahore, matando 72 pessoas, na sua maioria mulheres e crianças.

Uma semana depois dos atentadoso estado de sítio mantém-se em Bruxelas, o aeroporto de Zaventem está ainda encerrado, as linhas de metropolitano na capital da Bélgica retomam o funcionamento com a lentidão equivalente à destruição provocada lá e numa linha de metro.

No meio desta espécie de balanço temporário, leio ontem de manhã sobre o desvio do avião da EgyptAir durante uma escala no aeroporto de Munique. Os três primeiros jornais que consulto nas aplicações mal se ligam ao wi-fi têm em “última hora” a aterragem forçada em Larnaca, no Chipre, de uma voo doméstico da EgyptAir que seguia de Alexandria em direção ao Cairo. Tudo isto me devolve, nem 45 minutos depois de ter acontecido na realidade (8h30 de terça-feira, 7h30 em Lisboa), o que se passou em Zaventem. Rodo os olhos à minha volta contabilizando as superfícies de vidro que me rodeiam naquele silêncio das portas de embarque G do terminal de Munique. Embarco sem saber em tempo útil o que se passou no Egito. Eu como milhares de passageiros na mesma situação, também todos rodeados de vidros.

Só noite dentro se descartou oficialmente a hipótese terrorismo: o voo da EgyptAir aterrou na pista cipriota por ameaça de um homem se fazer explodir com mais de 80 passageiros a bordo. As causas ainda não são 100% claras ainda que, ao final do dia de ontem se declarasse tratar-se de um “excêntrico” que reivindicava falar com a mulherum professor egípcio desarmado que enrolara à volta da cintura uma quantidade de fios telefônicos fez o que bastou para gerar pânico e ocupar as aberturas dos noticiários, provando de caminho a falta de segurança nos aeroportos do Egito. Os reféns libertados contam aquilo por que passaram enquanto o Twitter difunde o hashtag árabe “quem me dera ter estado com eles” a bordo do voo doméstico da EgyptAir para poder escapar do país. Há muita gente a querer fugir dos seus países…

Estamos nervosos, desconfiados e sem recuo para graças de mau gosto quando são difíceis de distinguir dos números de mortos que pesam demais e que transformam a praça da Bolsa em Bruxelas num local de romagem. O que fazer com a memória da violência? tal como a praça da República em Paris ainda é um local de evocação do massacre de 13 de novembro. Flores frescas, velas e cartazes insistem:même mas peur! 

Estamos angustiados. Multiplicam-se as análises para esclarecer questões cruciais, interroga-se sem sempre se esclarecer por que é que a mistura das culturas se tornou uma questão de vida e de morte. Misturam-se assuntos e conceitos que não devem ser misturados (como diz Viriato Soromenho Marques, cuja citação roubo ao Expresso Curto de ontem) e cada um puxa o cobertor da segurança mediática para o seu quintal:

“O Europeu será a melhor resposta a quem tentar impor o medo na Europa”, disse ontem o Presidente francês François Hollande insistindo que a realização do campeonato de futebol europeu, - de 10 de junho a 10 julho de 2016 -, será uma “resposta ao ódio, à divisão ao medo e ao horror”.

Em Lisboa, o Ponto de Contacto Único ou Single Point of Contact entra em vigor. É aqui que ficar congregadas todas as informações relevantes que os vários órgãos da polícia em Portugal obtenham na luta contra o terrorismo. Amanhã será apresentado à Assembleia o relatório anual sobre Segurança Interna.
 

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OUTRAS NOTÍCIAS
Mesmo que tudo estivesse a correr sobre rodas e não tivesse havido já uma série de brutalidades dos “guarda-costas” de Donald Trump, a verdade é que a corrida à nomeação pelos dois principais partidos norte-americanos - e e entre os quais tudo se decide - está a ter um registo “indesejável”, um tom pouco habitual e uma “ousadia” que pouco tem de política e demasiado de bullying. As aspas disfarçam os eufemismos que retratam o registo de ameaças, insultos públicos e confrontos físicos da campanha. A polícia da Florida acusou Corey Lewandowski, diretor da campanha de Trump, de atacar fisicamente uma jornalista, impedindo-a de fazer uma pergunta ao candidato. Hillary Clinton aproveitou para acusar o tom “de incitação a comportamentos violentos” da campanha do seu opositor. Poucos terão sido os que não escreveram sobre o assunto, mas fica aqui a notícia dada com o apagamento emocional que caracteriza as agências, neste caso a Reuters.

Esta semana, o Presidente da Ucrânia vai voltar a tentar convencer os seus parceiros ocidentais em Washington que é séria a sua determinação de combater a corrupção. Ainda ontem correu com o seu aliado próximo, o procurador-geral Viktor Shokin, para reforçar a sua credibilidade interna e externa. O primeiro-ministro, o impopular Aeseny Yatseniuk, aceitou demitir-se… porém, as perspetivas de formar uma coligação exequível não são as melhores.

No Brasil, a Presidente Dilma Rousseff está à beira de perder bases de apoio fundamentais desde que ontem oparceiro de coligação rompeu o vínculo. A direção do partido decidiu que os seis ministros do PMDB, assim como os filiados que ocupam outros cargos no executivo, têm de abandonar os seus cargos. Quem não cumprir será punido. E todo este processo está longe de ser pacífico e inócuo.

A mulher de Luaty Beirão apela ao bom senso de Luanda, este “regime maquiavélico”. Uma entrevista a Mónica Almeida.

Jorge Tomé, ex-presidente do Banif garante que o banco tinha uma situação normal de liquidez até à notícia dada pela TVI. A Anabela Campos explica a argumentação do antigo homem-forte do banco.

Fique a conhecer a história incrível do melhor tenista português de sempre contada de uma maneira muito especial É um trabalho multimédia do Expresso que vai surpreendê-lo.

FRASES
“Não há que falar em golpe ou abuso de poder na Operação Lava Jato”Gilmar Mendes, juiz do Supremo Tribunal Federal ao jornal i

“Rui Moreira disse que a ponte aérea era ótima notícia”Fernando Pinto, presidente da TAP ao Jornal de Notícias

“O Banco de Portugal não dava uns conselhozinhos. Fazia muitas sugestões”Jorge Tomé, ex-CEO do Banif ao Negócios

“Este é um dia diferente. Pela primeira vez, neste lugar, escrevo na primeira pessoa. É o momento em que me despeço da direção do Negócios, um jornal com a melhor equipa de jornalistas de economia do país que tive a honra de dirigir”Helena Garrido, Negócios

O QUE ANDO A LER
Edward Lucas, editor sénior da revista “The Economist”, é o autor de três livros que vou ler todos de seguida. 
Conhecia-o de conferências e análises, conheci-o pessoalmente num colóquio em Varsóvia organizado pela revista Poland Today em 2013 em que Lucas foi um dos principais oradores, moderadores e relatores. No entanto, só o descobri como autor através do artigo que o Paulo Anunciação escreveu para o Expresso sobre o Arquivo Mitrokhine. Lucas é um dos especialistas inquiridos pelo jornalista para esclarecer a importância das revelações contidas no arquivo. Falou enquanto autor de livros sobre espionagem como este que estou a devorar, The New Cold War: Putin’s Threat to Russia and the West. O livro é de 2008, porém Edward Lucas escreveu um prefácio à edição de 2014 em que se retrata por não ter previsto o quanto estava certo, ou seja, o quanto Putin viria a ser uma verdadeira ameaça: “Desde que The New Cold War foi publicado pela primeira vez em fevereiro de 2008, a Rússia tornou-se mais autoritária e corrupta, as suas instituições são mais fracas e as reformas diluíram-se”, escreve no prefácio. No fundo, o regresso do tema tem pouca graça, mas é preferível não enfiar a cabeça na areia e ler o que analisam os peritos. A seguir vou passar para Deception - Spies, Lies and how Russia dupes the West e já descarreguei as edições para Kindle de A Operação Snowden.Irresistível!

Termino por aqui recomendando-lhe que siga o Expresso onlineaté à “chegada às bancas” às 18h do Expresso Diário. Porque hoje é dia de 2:59, venha descobrir se o Serviço Nacional de Saúde é tão universal como imaginamos. Passe uma ótima quarta-feira.
 
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