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Francelina Valadares partilhou a publicação de Francisco Seixas da Costa.
O NOVO BURACO
Não fiz parte de quantos diabolizaram a solução encontrada para o caso BES, nem sequer pelo facto de termos servido de cobaia a um modelo não testado, desenhado na Europa para instituições de menor dimensão. Com a vida, tenho aprendido a relativizar o meu “achismo” e tendo a só me pronunciar sobre aquilo de que julgo saber alguma coisa. Mas constato que os especialistas, que tão enfaticamente nos vendem soluções, vivem afinal, também eles, num mundo de aproximação titubiante à realidade, embrulhada apenas num artificial discurso afirmativo.
A supervisão bancária falhou em Portugal, como havia falhado um pouco por todo o mundo, aquando da crise financeira. No nosso caso, é uma evidência que o peso do grupo Espírito Santo, associado ao receio de lançar uma faúlha com impactos reputacionais nos mercados, misturado ainda com o espírito de “old boys network” em que vive o sistema financeiro, coibiu a supervisão de tomar medidas drásticas, a tempo e horas. Basta pensar que Oliveira e Costa chegou a fazer parte dos mecanismos de supervisão do Banco de Portugal...
Soma-se a isso – e digo alto o que muita gente pensa – a circunstância dos governadores do Banco de Portugal terem uma independência limitada face aos governos em funções. O facto deste não ter querido partilhar com a oposição a questão da recondução de Carlos Costa diz tudo. E só lamento que Carlos Costa, pessoa que não só tenho por séria como sei que o é, se tenha prestado a um estranho papel face à cobardia política demonstrada pelo governo neste caso.
Todo o país já percebeu que o Ministério das Finanças foi o “backseat driver” por detrás da decisão sobre o BES. O que torna mais escandaloso – e espero que os portugueses não esqueçam – o tom “nonchalant”, em pose estival, como que Pedro Passos Coelho dizia que o caso BES era apenas e só com o Banco de Portugal, nessa atitude de Pilatos liberal que também ajudou a enterrar a PT. Como pode vir a acontecer com a CGD.
Carlos Costa tinha o dever, desde o primeiro dia, de explicar que não podia garantir, a 100%, que a solução por que se optara no caso BES, não teria custos para o contribuinte. Bastava-lhe dizer que, num quadro de incerteza, aquela fora a resposta considerada potencialmente menos gravosa. Afirmar isso entrava em contradição com a “narrativa” otimista do governo? A dita independência de um governador serve para isso mesmo.
É preciso que os portugueses hoje saibam – e isso não lhes está a ser dito – que o caso da venda do Novo Banco tem fortes probabilidades de vir a tornar-se num pesadelo para as contas públicas e para a banca em geral. É muito grave que o primeiro-ministro cessante se refugie em artifícios semânticos para iludir esta realidade.
***
Este texto culmina, por vontade própria, a colaboração regular que mantive no "Diário Económico" desde novembro de 2013. Agradeço aos dois diretores que amavelmente me acolheram, bem como a toda a equipa do jornal, onde só deixo amigos. A quem me lê, prometo que nos continuaremos a ver por aí.
Não fiz parte de quantos diabolizaram a solução encontrada para o caso BES, nem sequer pelo facto de termos servido de cobaia a um modelo não testado, desenhado na Europa para instituições de menor dimensão. Com a vida, tenho aprendido a relativizar o meu “achismo” e tendo a só me pronunciar sobre aquilo de que julgo saber alguma coisa. Mas constato que os especialistas, que tão enfaticamente nos vendem soluções, vivem afinal, também eles, num mundo de aproximação titubiante à realidade, embrulhada apenas num artificial discurso afirmativo.
A supervisão bancária falhou em Portugal, como havia falhado um pouco por todo o mundo, aquando da crise financeira. No nosso caso, é uma evidência que o peso do grupo Espírito Santo, associado ao receio de lançar uma faúlha com impactos reputacionais nos mercados, misturado ainda com o espírito de “old boys network” em que vive o sistema financeiro, coibiu a supervisão de tomar medidas drásticas, a tempo e horas. Basta pensar que Oliveira e Costa chegou a fazer parte dos mecanismos de supervisão do Banco de Portugal...
Soma-se a isso – e digo alto o que muita gente pensa – a circunstância dos governadores do Banco de Portugal terem uma independência limitada face aos governos em funções. O facto deste não ter querido partilhar com a oposição a questão da recondução de Carlos Costa diz tudo. E só lamento que Carlos Costa, pessoa que não só tenho por séria como sei que o é, se tenha prestado a um estranho papel face à cobardia política demonstrada pelo governo neste caso.
Todo o país já percebeu que o Ministério das Finanças foi o “backseat driver” por detrás da decisão sobre o BES. O que torna mais escandaloso – e espero que os portugueses não esqueçam – o tom “nonchalant”, em pose estival, como que Pedro Passos Coelho dizia que o caso BES era apenas e só com o Banco de Portugal, nessa atitude de Pilatos liberal que também ajudou a enterrar a PT. Como pode vir a acontecer com a CGD.
Carlos Costa tinha o dever, desde o primeiro dia, de explicar que não podia garantir, a 100%, que a solução por que se optara no caso BES, não teria custos para o contribuinte. Bastava-lhe dizer que, num quadro de incerteza, aquela fora a resposta considerada potencialmente menos gravosa. Afirmar isso entrava em contradição com a “narrativa” otimista do governo? A dita independência de um governador serve para isso mesmo.
É preciso que os portugueses hoje saibam – e isso não lhes está a ser dito – que o caso da venda do Novo Banco tem fortes probabilidades de vir a tornar-se num pesadelo para as contas públicas e para a banca em geral. É muito grave que o primeiro-ministro cessante se refugie em artifícios semânticos para iludir esta realidade.
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Este texto culmina, por vontade própria, a colaboração regular que mantive no "Diário Económico" desde novembro de 2013. Agradeço aos dois diretores que amavelmente me acolheram, bem como a toda a equipa do jornal, onde só deixo amigos. A quem me lê, prometo que nos continuaremos a ver por aí.