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segunda-feira, 27 de junho de 2016

OBSERVADOR - 27 DE JUNHO DE 2016

iaram as eleições espanholas?

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!


Terá o susto do Brexit influenciado a decisão dos eleitores espanhóis? Ninguém pode responder de ciência certa, mas a verdade é que domingo as sondagens voltaram a enganar-se e umas eleições de que poderia ter resultado um bloqueio ainda maior do que aquele que levara Espanha pela segunda vez às urnas no espaço de seis meses acabaram por proporcionar alguma clarificação. Primeiro, porque o PP saiu delas ainda mais primeiro, com mais votos e mais deputados. Depois, porque os grandes derrotados foram os dirigentes do Podemos Unidos, que em conjunto perderam quase um milhão de votos. Por fim, o PSOE sobreviveu, conseguindo manter-se como segundo partido mesmo com o seu pior resultado de sempre. Comecemos por isso o Macroscópio de hoje pelo que se passou aqui ao lado, mesmo sendo inevitável que o terminemos com mais algumas referências às ondas de choque do Brexit.

Na imprensa portuguesa praticamente só o Observador ofereceu já aos seus leitores algumas leituras sobre o que se passou em Espanha. Fizemo-lo em 5 opiniões para ler os resultados das eleições espanholas:
  • Rui Ramos: A brincadeira começa a chegar ao fim? (“Com o Brexit, viu-se pela primeira vez que algo podia acontecer. Talvez a sanidade não tenha voltado ao continente. Mas a partir da semana passada, a loucura passou a ter um preço.”)
  • José Manuel Fernandes: Os extremismos não são uma fatalidade (“Em Espanha não ficou tudo igual porque o vento mudou de direcção. A derrota dos radicais do Podemos e a vitória do PP mostram que a Europa não está condenada a sucumbir aos cantos de sereia populistas.”)
  • Helena Matos: Adeus à coleta. Viva a velha política (“A desproporção entre o que parece mediaticamente ser o apoio da sociedade espanhola aos radicais de esquerda e aquilo em que esse apoio se traduz em votos é um caso a merecer sério estudo.”)
  • Filomena Martins: Bloqueio de personalidades (“Seis meses depois voltou a ficar quase tudo na mesma. Se antes não houve acordos, será possível fazê-los agora, quando os líderes já trocaram as piores ofensas? Vem aí uma belgicalização espanhola?”)
  • Nuno Garoupa: Podemos jogou e perdeu quase tudo, o bloqueio institucional segue dentro de momentos (“Temos praticamente o mesmo Parlamento espanhol de há seis meses, com um ligeiro avanço do PP e perda de todas as outras forças. Com este novo Congresso o bloqueio institucional não foi solucionado.”)

Das reacções na imprensa espanhola, o meu primeiro destaque vai para um texto do El Confidencial com título sugestivo: Europa celebra en España la primera derrota del populismo tras el Brexit. Nele Ignacio Varela defende que “España fue uno de los primeros países en los que se manifestó el nuevo populismo como un fenómeno político emergente asociado a la ira social frente a la crisis; y desde ayer es también el primero en el que esa marea populista, aparentemente incontenible, ha sido frenada. Y se ha hecho de la mejor forma posible: votando en unas elecciones parlamentarias, aunque hayan sido tan extrañas como estas.”

No que diz respeito às soluções defendidas para a formação do próximo Governo, a imprensa coincide em considerar que essa tarefa deve pertencer ao vencedor das eleições, o PP, e que se este deve dialogar, os outros partidos não devem bloquear uma solução, prolongando a agonia dos últimos seis meses. Mas nem todos defendem a mesma solução. No El Pais, no editorial Formar Gobierno, prefere-se que o segundo partido, o PSOE, fique fora do Governo, mas permita governar: “Desde la prioridad absoluta de facilitar la gobernabilidad, el PSOE debe escuchar el mandato de los electores de que permanezca en la oposición y permita con su abstención que gobierne aquel que tenga los votos necesarios para hacerlo.” Já no “El Rugido del Léon” do El Español, Vuelta a empezar: aprendamos de los errores defende-se uma coligação tripartida, com PP, PSOE e Ciudadanos: “Un pacto a tres (…) daría la estabilidad necesaria. Además facilitaría la incorporación del PSOE, que ya fue capaz de llegar a acuerdos con Ciudadanos. Entre ellos suman 254 escaños. Esa alianza debería sustentarse en una agenda de reforma política ambiciosa que incluyera cambios en la Constitución. Son los tres partidos que pueden garantizar regeneración y unidad. Ni España ni los españoles merecemos (…) vivir permanentemente el día de la marmota.” Finalmente Márius Carol, director do La Vanguardia de Barcelona defende, em Una foto retocada, que “No será fácil conseguir un acuerdo de legislatura, pero nadie quiere unas terceras elecciones, que no arreglarían nada y debilitarían la democracia. El PSOE tendrá muchas presiones para conseguir que se abstenga en una segunda votación para elegir presidente.”


Facto maior destas eleições foi a derrota da coligação imaginada pelo Podemos, uma derrota inesperada e pesada, pois não apenas não conseguiu “el sorpasso” do PSOE, como se traduziu numa enorme sangria de eleitores. Haverá nos próximos mais análises sobre o que se passou com a formação dirigida por Pablo Iglesias, que tão acarinhada foi pelos órgãos de informação e tão pouco logrou. Deixo contudo duas reflexões publicadas ainda antes das eleições e que me parecem interessantes. A primeira é do filósofo Fernando Savater que, numa entrevista ao Huffington Post espanhol, defendeu que "Pablo Iglesias es el símbolo de lo que no necesita España". Eis o que diz sobre ele:
Podemos ha entrado a devorar el espacio de izquierdas. IU era el embrión del que salió Podemos. En el fondo, Iglesias y etcétera es gente que no encontró el espacio de su ambición en Izquierda Unida, se salieron fuera y ahora se han fagocitado aprovechando que Alberto Garzón es un buen chico pero muchas luces no tiene. Entonces, se lo han llevado al huerto con bastante facilidad. Iglesias es un líder populista, de origen comunista. Es el símbolo de lo que no necesitamos en este momento ni en España ni en Europa.

Ainda sobre Iglésias, vale a pena citar uma nota do historiador e sociólogo Santos Juliá que mantém uma coluna no El Pais, A Rad de Historia. Em ¿Qué hay de lo nuestro? escreve que “por vez primera, un partido que en su estructura central es poco más que un coro —dirección coral lo llaman— en torno a una figura-referente y diz que carismática, y con una organización territorial a base de pequeños grupos de amigos, opta con probabilidades de éxito a convertirse en determinante para la formación de Gobierno. El motivo principal, aparte del manejo de la televisión como instrumento para la consolidación de un público adicto, es que su irrupción ha coincidido, no por casualidad, con una atomización extrema del sistema político debida a la presencia de formaciones políticas que solo aspiran a ocupar un ámbito local o regional: mareas, ahoras, en comunes, compromís…”


Sobre Espanha fico-me hoje por aqui, pois desejo ainda referir algumas leituras sobre o Brexit. A primeira é uma longa reflexão de Timothy Garton Ash, que aqui apresento na sua tradução para espanhol: ‘Brexit’: reflexiones sobre una gran derrota. Não é possível sintetizar toda a riqueza e interesse desta reflexão em poucas linhas, pelo que vos deixo apenas um aperitivo sobre a forma como o historiador se sente também co-responsável pelo que aconteceu: “Mírense en el espejo y repitan conmigo: la culpa también es nuestra. ¿Cómo es posible que los educadores hayamos dejado pasar un relato tan simplista sin refutarlo con algunos de los sólidos argumentos de historia y ciencias sociales que se enseñan en el colegio y la universidad? ¿Cómo es posible que los periodistas hayamos permitido a la prensa euroescéptica que dijera lo que le daba la gana y marcara el programa informativo diario de la radio y la televisión? ¿Cómo es posible que los europeístas hayamos subestimado hasta tal punto el doloroso sentimiento de pérdida por la europeización que me he encontrado al ir de puerta en puerta pidiendo el voto por la permanencia, y que ahora grita en las papeletas de la otra mitad de Inglaterra?

Uma das novidades dos dois últimos dias é o aparecimento de vozes a defender que ainda é possível evitar a saída do Reino Unido da União Europeia, porventura até repetindo o referendo, mesmo sendo esse um cenário já descartado por David Cameron. Como poderia isso acontecer? Para ter uma ideia vale a pena ler Gideon Rachman, comentador de assuntos internacionais do Financial Times, que é sincero: I do not believe that Brexit will happen. A sua tese é que a Europa pode ceder a algumas das reivindicações do Reino Unido por forma a criar condições para convocar um segundo referendo, à semelhança do que já sucedeu noutros países, mesmo que mais pequenos e de forma menos dramática. Eis o seu ponto: “Of course, there would be howls of anger on both sides of the Channel if any such deal is struck. The diehard Leavers in Britain would cry betrayal, while the diehard federalists in the European Parliament — who want to punish the UK and press on with “political union” in Europe — will also resist any new offer. But there is no reason to let the extremists on both sides of the debate dictate how this story has to end. There is a moderate middle in both Britain and Europe that should be capable of finding a deal that keeps the UK inside the EU.”

A tese de que é possível uma qualquer espécie de compromisso não é defendida entre adeptos do “remain”, mas também por jornalistas que defenderam o “leave”, como foi o caso de Ambrose Evans-Pritchard do Telegraph. Em Parliament must decide what Brexit means in the interests of the whole Kingdom defende a ideia de uma espécie de Brexit aligeirado: “Boris Johnson, Dan Hannan, and others in the sovereignty camp are signalling that they could live with a Brexit compromise that accepts EU migrant flows,  but going back to pre-Maastricht rules that guaranteed only the right to work, before the concept of EU citizenship. This would be a modified variant of the Norwegian Model, or European Economic Area (EEA). A "soft-Brexit" would be accepted by the vast majority of Parliament, which has a duty in these unique circumstances to act on behalf of citizens who voted for Remain and as well as for Leave. This is not an event where the winner takes all.”

Como vêem o debate prossegue, seguindo por caminhos talvez inesperados mas que indicam que a passagem dos dias parece estar a acalmar os espíritos. Despeço-me pois com esta nota de algum optimismo, desejando-vos bom descanso e boas leituras.

 
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OBSERVADOR - 27 DE JUNHO DE 2016

360º -  O adeus de Messi, a vitória de Rajoy, a ameaça do Bloco, a loucura do Bregret e as confissões de Fernando Santos

Para: antoniofonseca1940@hotmail.com

360º

Por Filomena Martins, Diretora Adjunta
Bom dia!

Enquanto dormia
Em Espanha (quase) tudo na mesma. O PP, de Mariano Rajoy, voltou a ganhar as segundas eleições em seis meses e reforçou mesmo a sua posição (mais 14 mandatos). Mas ficou longe da maioria e vai ter de voltar a negociar para formar Governo. A chave está outra vez no PSOE, que voltou a cair, mas se manteve como segunda força política (não houve 'sobrepasso' do Podemos): há maioria com um acordo entre populares e socialistas; ou do PSOE com o Ciudadanos e o Podemos. Pode ler tudo sobre a noite eleitoral espanhola no liveblog que mantivemos atualizado ao minuto, ver como estão as contas nesta calculadora de maiorias,  olhar para perdedores ou vencedores, espreitar as capas dos jornais ou divertir-se com as inevitáveis brincadeiras na net. 

Estas são as cinco opiniões do Observador com as chaves de leitura para o que significam estes resultados em Espanha. Pode ler também o que escrevem El MundoEl Pais e El Espanõl.

A Argentina perdeu a edição especial da Copa América Centenário e Messi disse adeus. A derrota com o Chile (campeão em título) aconteceu nos penáltis: o jogador do Barcelona falhou o seu e logo depois anunciou a sua decisão: aos 29 anos, Messi deixa a seleção albi-celeste. Foi a quarta final de uma grande competição perdida pelos argentinos e pelo seu número 10.

O Papa Francisco diz que a Igreja católica deve pedir perdão aos homossexuais. As declarações foram feitas no regresso da viagem histórica à Arménia.


Informação relevante
O Bloco de Esquerda teve a sua X Convenção antes das eleições de Espanha e de saber que o Podemos de Pablo Iglesias se afundou nos resultados. Talvez por por isso tenha sido tão radical no aproveitamento do Brexit. Catarina Martins ameaçou que pedirá um referendo caso a Europa castigue Portugal com sanções. José Manuel Pureza anunciou que votará a favor da saída da moeda única. Mas, afinal o que quer o Bloco, um dos parceiros do Governo? As 4 análises do Observador à reunião bloquista, o resumo do caderno de encargos de Catarina e C.ª e a eleição dos dez 'Louçãs de Ouro' da Convenção.

As reações à ameaça bloquista não se fizeram esperar. CDS e PSD recusaram de imediato qualquer referendo à União Europeia, tal como o PCP. Marcelo foi um pouco mais duro: disse que a questão não se põe e lembrou que a decisão de um referendo será sempre dele.

As ondas de choque ao Brexit continuam a fazer-se sentir a um outro nível. Mais de três milhões de pessoas já assinaram a petição para reverter os resultados do referendo e muitos parecem arrependidos. Mas é possível votar de novo? O que vale o Bregret? Pouco ou quase nada. Porque agora é altura de enfrentar as consequências. Nos trabalhistas ingleses há uma série de demissões e muitos duvidam que Jeremy Corbyn possa ganhar eleições. Na Europa, Hollande defendeu que França e Alemanha devem tomar a iniciativa, enquanto Jean-Claude Junker deixou claro que sair vai mesmo significar ficar de fora. Na Escócia, o referendo à independência deve mesmo avançar. Parece pois não haver marcha atrás. Marques Mendes teme agora uma nova recessão na Europa.

Outros temas. O novo presidente da Caixa Geral de Depósitos, António Domingues, vai acumular o ordenado no banco público com a reforma dos anos de trabalho no BPI.

As aulas vão arrancar mais cedo este ano. O ano letivo começa entre 9 e 15 de setembro e haverá novas provas de aferição. Mas podem vir aí mais mudanças. Os diretores de escolas querem dois semestres em vez de três períodos.
Nos EUA, as sondagens para as eleições de novembro dão o triunfo de Hillary sobre Donald Trump. Mas a margem é pouco confortável para a democrata.

A menos de um mês dos Jogos Olímpicos, Fernando Pimenta ganhou duas medalhas de ouro para a canoagem portuguesa nos Europeus da Rússia.


Euro 2016

Um golo de Quaresma aos 117 minutos do prolongamento do jogo com a Croácia colocou Portugal nos quartos de final do Europeu. A frio, depois da festa, Fernando Santos explicou tim tim por tim tim como anulou os croatas de Modric. O Diogo Pombo estava lá, ouviu o mister, e transcreveu assim a conversa aberta e clara do selecionador.

Fernando Santos admitiu voltar a mexer na equipa no jogo com a Polónia de quinta-feira. Com a Croácia estreou três jogadores, Adrien, Fonte e Cédric. O Tiago Palma tirou o retrato a estes estreantes que são tudo menos experientes.

E que dizer de Nani, o rapaz que fugia aos revisores dos comboios para poder jogar à bola e agora continua a fugir aos defesas contrários? Tornou-se um senhor centenário na seleção, agarrando a titularidade que todos julgavam perdida, como lembra o Hugo Tavares da Silva.

O jogo maior dos quartos de final é hoje, entre Itália e Espanha, dia em que jogam também Inglaterra e Islândia. O quadro ficará então fechado com os últimos dois qualificados: Bélgica, Alemanha e França juntaram-se ontem, sem surpresas, a Portugal, Gales e Polónia.



Os nossos Especiais
No fim de semana da X Convenção do Bloco de Esquerda, a entrevista de vida a um histórico radical do PREC. O Vítor Matos entrevistou o major Mário Tomé e ele falou de tudo (mesmo): da revolução, da guerra em África e dos seus excessos: diz que até "comeu" um charro.

Três dias depois do Brexit, como estão a reagir os estrangeiros que vivem no Reino Unido? O Edgar Caetano andou por Londres e descobriu muita gente assustada. "Fui dormir migrante. Acordei imigrante. Não é a mesma coisa", contou-lhe a italiana Joanie.

Foi um acordo histórico aquele que foi assinado sexta-feira em Havana entre o governo da Colômbia e as FARC. Mas os 50 anos de conflito e guerrilha desaparecem assim tão facilmente? O Manuel Louro foi à procura de respostas.



Notícias surpreendentes
Lembra-se de 'Clube de Combate', um dos grandes livros de culto do fim dos anos 90 que deu um belo filme? Pois, é isso: fez 20 anos. A Rita Silva Freire foi entrevistar o autor, Chuck Palahniuk, e ouvir muitos fãs dedicados

Sexta-feira, dia 1, os Buraka Som Sistema dão o seu último espetáculo. É o fim? Não, é o princípio do futuro da banda que transformou o kuduro em música para massas. Como? Leia a conversa de Pedro Esteves com Kalaf para saber.

E como o Brexit não vai sair tão cedo da atualidade, o Bruno Vieira Amaral criou uma lista de 21 coisas que quer que os britânicos nos deixem de herança: vai de Adele à página 3 do Sun. Já a Susana Romana foi espreitar os melhores negócios antes que haja Amazonexit.

Das esplanadas portuguesas não há quem não goste agora que o verão se instalou. Chamam-lhes 'sunset', 'rooftop', 'lounge' e afins, à inglesa. Mas quer mesmo ver como eram as velhinhas esplanadas de Lisboa? O Tiago Pais foi ao baú das fotos.


Quer nas esplanadas, quer na praia, o melhor é evitar ser roubado. Se for dar um mergulho, há uns truques para não ficar sem a carteira e o telemóvel. Ora aprenda.

Por falar em telemóvel, já imaginou como teriam sido noticiados os momentos históricos se houvesse redes sociais? Da Vinci teria Instagram e Lincoln era fã de selfies segundo a criatividade de dois designers.


Criativos mas rigorosos, é o que lhe posso garantir sobre o que fazemos no Observador. Passe por cá ao longo desta semana em que acompanharemos as ondas de choque do Brexit, a situação espanhola e, claro, Portugal no Europeu de futebol.

Um bom arranque de semana e um dia feliz e produtivo. 

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