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sábado, 25 de abril de 2020

DO TEMPO DA OUTRA SENHORA - 25 DE ABRIL DE 2020

4/2020 09:52
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Do Tempo da Outra Senhora


Posted: 24 Apr 2020 10:59 AM PDT

À frente da coluna, o Comandante do Esquadrão, Capitão Andrade Moura.

O derrube da ditadura mais velha da Europa – o regime de Salazar e de Caetano - foi conseguido em 25 de Abril de 1974, graças à acção militar coordenada do Movimento das Forças Armadas – MFA, cuja origem remonta ao clima de instabilidade no interior das próprias forças armadas, particularmente do Exército, instabilidade essa que se manifestou em meados de 1973, com o surgimento do denominado Movimento dos Capitães, o qual aglutinava oficiais de média patente, insatisfeitos com as suas remunerações e com a perda de prestígio da oficialidade do quadro permanente, bem como com a Guerra Colonial, que desde 1961 ou seja há 13 anos, se arrastava em 3 frentes, sem se antever uma solução política para a mesma, bem como pela previsibilidade de uma derrota militar eminente.
COMO ERA PORTUGAL, ANTES DO 25 DE ABRIL DE 1974?
- O serviço militar durava quatro anos;
- Rara era a família que não tinha alguém a combater em África;
- Grosso modo, Portugal, com 10 milhões de habitantes, fizera um esforço de guerra em África cerca de nove vezes superior ao dos EUA, no Vietname, com os seus 250 milhões de habitantes;
- Portugal mobilizara para a guerra colonial mais de 800 mil jovens, teve 8 mil mortos, 112.205 feridos e doentes, 4 mil deficientes físicos e estima-se que cerca de 100 mil doentes de stress de guerra;
- 40% do Orçamento de Estado destinava-se à Defesa;
- A isto há que acrescentar a saída para os países ricos da Europa de milhão e meio de emigrantes entre 1960 e 1974;
- Os ordenados eram de miséria, sem direito a subsídios de férias e de Natal;
- Os sindicatos corporativos estavam fortemente controlados pelo regime;
- O despedimento de trabalhadores estava facilitado;
- Havia 21% de analfabetos e a vida cultural era apertadamente vigiada;
- As mulheres tinham menos direitos que os homens;
- As professoras primárias tinham de pedir autorização para casar, que só era concedido se o pretendido tivesse um ordenado igual ou superior ao da mulher;
- As mulheres precisavam de autorização do marido para poderem ser comerciantes, para arrendarem uma casa e para viajar para o estrangeiro;
- Os partidos e movimentos políticos estavam proibidos;
- Partidos políticos só havia um, a União Nacional – o partido do Governo;
- Os líderes oposicionistas como Mário Soares, Manuel Alegre ou Álvaro Cunhal, encontravam-se exilados;
- Reuniões só com autorização do Governo;
- Nas eleições só podiam votar os chefes de família, com um grau de instrução mínima e rendimentos. Assim ficavam de fora as mulheres, os analfabetos e os pobres. E tudo isto numa farsa de eleições onde, no recenseamento, eram logo excluídos dos cadernos eleitorais os opositores ao regime e depois, nas próprias eleições, se manipulavam e falsificavam os votos;
- A expressão pública de opiniões contra o regime e contra a guerra era severamente reprimida pela Cesura e pela polícia política, a PIDE que gozava de plenos poderes;
- A censura e a Pide controlavam os jornais, a rádio e a televisão e impediam-nos de ler, de ouvir ou ver tudo aquilo que pusesse em causa o regime ou que era considerado por eles, os bons costumes;
- Trabalhar na função pública, só com declaração de fidelidade ao regime vigente e a aprovação da PIDE;
- As prisões políticas estavam cheias;
- A PIDE, responsável por 80 assassinatos, prendeu, entre 1960 e 1974, cerca de 50 mil pessoas;
- Muitos dos presos políticos eram torturados e condenados com as chamadas medidas de segurança, isto é, terminada a pena de prisão, a PIDE podia mantê-los na prisão, sem novo julgamento, por períodos prorrogáveis até 3 anos, o que podia equivaler a prisão perpétua. Para ajudar a condenar estas pessoas existiam os tribunais plenários que só julgavam, sem efectivas garantias de defesa, os presos políticos;
- As greves estavam proibidas e eram consideradas crime;
Assim, dá para perceber, porque é que a acção militar do MFA foi apoiada maioritariamente pelo povo português que saiu à rua e apoiou a movimentação militar contra um regime politico que vigorava autocraticamente há 48 anos.
E COMO FOI A PARTICIPAÇÃO DO REGIMENTO DE CAVALARIA 3 NOS ACONTECIMENTOS DO 25 DE ABRIL DE 1974?
O RC3 de Estremoz tinha à data dos acontecimentos do 25 de Abril, quadros que haviam regressado da Guiné, nos finais do ano anterior. A unidade propriamente dita, era uma das mais bem equipadas do sul do país. Era sem sombra de dúvida, a mais forte em termos de material blindado, pelo que o comando do Movimento contava decisivamente com ela para o êxito da acção.
É no próprio dia de arrancar com a acção que os capitães Andrade Moura, Alberto Ferreira, Miquelina Simões, Major Fernandes Tomaz e outros conseguem conquistar para a sua causa o comandante da unidade, coronel Caldas Duarte.
E quando a rádio passa conforme combinado, a canção “Grândo!a Vila Morena" de Zeca Afonso, inicia-se de imediato no quartel do RC3, sob o comando do capitão Andrade Moura, a formação do esquadrão que vai participar na acção militar, carregam-se munições nos blindados e prepara-se a saída.
Logo que armado e municiado, o esquadrão fez-se à estrada. Em viatura civil, à frente dos batedores, ia o capitão Miquelina Simões e outro oficial. Alguns quilómetros atrás, o esquadrão sob o comando do capitão Andrade Moura e como adjunto o capitão Alberto Ferreira. No final da coluna seguiam viaturas Berlier com munições, água, combustível e óleo. Na acção participa o comandante da unidade, coronel Caldas Duarte.
O esquadrão do RC3, partido de Estremoz tinha a missão de se dirigir a Caxias a fim de libertar os militares e os presos políticos ali detidos. Quando está na zona da Ponte Salazar, o comando do MFA decide alterar a missão, dando ordens para que o esquadrão do RC3 se dirigisse para o Largo do Carmo, em Lisboa, onde um esquadrão da Escola Prática de Cavalaria sob o comando do capitão Salgueiro Maia estava a ser pressionado por numerosas forças da GNR, fieis ao regime. O esquadrão do RC3 atravessa a ponte a toda a velocidade e com determinação e jogando com o factor surpresa, apanha completamente desprevenidas as Forças da G.N.R., que se vêem de repente cercadas por um anel blindado. Na sequência deste envolvimento, um oficial da GNR dirige-se ao esquadrão do RC3 para dialogar, a fim de evitar um derramamento de sangue. O capitão Andrade Moura exige então a retirada em boa ordem das forças da GNR que não tinham aderido ao movimento, o que aconteceu cercas das duas horas da tarde de 25, enquanto o RC3 impede qualquer reacção hostil às forças da GNR. O RC3 isola então completamente a área frente ao Quartel do Carmo, ocupada pelo esquadrão do capitão Salgueiro Maia. Mais tarde verifica-se a rendição do Chefe do Governo, Marcelo Caetano, aí refugiado, ao General António de Spínola.
Entretanto os populares, com especial destaque para estudantes universitários tinham iniciado a caça ao Pides. Estes encurralados na sede da Rua António Maria Cardoso, abrem fogo sobre a multidão que se aglomera na referida artéria, causando 4 mortos e dezenas de feridos.
O capitão Moura alertado para o facto, divide as forças de que dispunha e segue com uma coluna para aquele local, cercando a sede da polícia política onde conforme se soube posteriormente estavam cerca de 250 Pides barricados, oferecendo resistência às forças do exército. O capitão Moura, com prudência, a fim de mais uma vez evitar derramamento de sangue na tentativa da tomada da sede da Pide de assalto, exige a sua rendição, o que não se processa logo, tendo o capitão Moura solicitado um reforço de homens ao comando do MFA, que para ali enviou um destacamento de fuzileiros especiais, que chegaram cerca das duas horas da madrugada do dia 26 de Abril.
Só cerca das 9 horas e 30 minutos da manhã de 26, após 12 longas horas de espera, se dá a rendição da polícia politica, ao longo das quais foi necessária a intervenção junto dos populares, recomendando prudência e civismo, a fim de evitar uma chacina de grandes proporções se os populares tivessem concretizado um pretendido ataque às instalações onde os pides estavam barricados.
Pelas 13 horas do dia 26 de Abril, iniciar-se-ia a libertação dos presos políticos nas cadeias de Caxias e Peniche.
Terminada a missão o esquadrão do RC3 seguiu para o Regimento de Cavalaria 7 sob os aplausos da multidão e restava o regresso a Estremoz, o que fez desempenhando nova missão, a de escoltar até Évora o novo comandante da Região Militar Sul, Coronel Fontes Pereira de Melo, daí o regresso o regresso por Évora Monte e a entrada pelas portas de Santo António, até ao quartel do regimento onde o esquadrão do RC3 cumprida a missão que o levara a Lisboa é aclamado pela multidão entusiasmada e recebe honras militares.
Estremoz estivera presente na hora da libertação através do papel determinante desempenhado pelo RC3, no desenrolar dos acontecimentos. De resto, o estremocense general António de Spínola era o Presidente da Junta de Salvação Nacional já apresentada à Nação através da RTP.
E EM ESTREMOZ?
Em Estremoz, no dia 25 de Abril de 1974 a população acordara alvoraçada com as notícias do que se passara e já sabia que uma coluna do RC3 marchara de madrugada sobre Lisboa e tomara parte activa nos acontecimentos. Reacções de júbilo da maioria, outros nem tanto. Uma procura ávida de informação através da rádio e da televisão e uma corrida aos jornais, para saber notícias frescas. Contrariando as recomendações da Junta de Salvação Nacional, o comércio não fechou, o que só aconteceria com algumas agências bancárias.
E A NÍVEL DO PAÍS?
No dia 28 de Abril, Mário Soares regressa a Portugal.
No dia 30 é a vez de Álvaro Cunhal.
No dia 1º de Maio, Centenas de milhares de pessoas, em todo o País, festejam nas ruas o Dia do Trabalhador, em democracia e em liberdade. "O Povo está com o MFA" será a palavra de ordem mais gritada.
O 25 DE ABRIL, 36 ANOS DEPOIS.
36 anos depois, continua a fazer sentido lembrar às novas gerações o que foi o 25 de Abril de 1974, ainda que perspectivado em termos locais.
Numa primeira parte intitulada “O REGRESSO DO RC3 A ESTREMOZ”, com recurso a fotos editadas pelo jornal ECO DE ESTREMOZ, de 30 de Abril de 1974 e a legendas do mesmo jornal, evoca-se o regresso à nossa Terra, no dia 27 de Abril de 1974, do Esquadrão do RC3, que comandado pelo Capitão Andrade Moura, tendo como adjunto o Capitão Alberto Ferreira e com a participação do 1º Sargento Francisco Brás, teve papel determinante no desfecho dos acontecimentos do 25 de Abril de 1974, em Lisboa.
A sucessão de fotografias mostra a evolução da coluna ao longo da estrada à vinda por Évora Monte, a chegada a Estremoz pelas Portas de Santo António, bem como as honras militares e a aclamação popular, junto ao quartel do Regimento.
É o nosso modesto contributo para homenagear aqueles a quem devemos a recuperação da liberdade e da democracia, o Movimento das Forças Armadas e em particular o heróico batalhão do RC3 cujo desempenho no desenrolar da acção militar foi determinante. Para eles, o nosso reconhecimento pela liberdade reconquistada.

À frente da coluna, o Comandante do Esquadrão, Capitão Andrade Moura.
A alegria da vitória, que o cansaço não conseguiu abater. De pé, o 1º Sargento Francisco Brás.

O Capitão Alberto Ferreira e os seus homens com um sorriso de satisfação.
À vista de Estremoz, a coluna em movimento. Sempre presente, o “V” da Vitória.
Aspecto parcial da coluna militar no seu regresso e com a missão cumprida.
O Comandante do Esquadrão, Capitão Andrade Moura, entra na cidade, pelas Portas de Santo António.

O Comandante do Esquadrão, Capitão Andrade Moura, entra na cidade, pelas Portas de Santo António.
À chegada, frente ao edifício do RC3: Honras Militares e Aclamação Popular.
Posted: 05 Feb 2020 12:29 PM PST

Casa do Alentejo, Lisboa. Vista parcial do salão onde decorreu a homenagem.

A Casa do Alentejo foi pequena
Mário Tomé foi alvo de uma entusiástica homenagem que decorreu no passado dia 25 de Janeiro, no salão principal da Casa do Alentejo, em Lisboa. Aí teve lugar um almoço que reuniu cerca de 260 pessoas que encheram literalmente o salão. A sua presença ali visava assinalar também os 40 anos da eleição de Mário Tomé como deputado da UDP à Assembleia da República.
À homenagem associaram-se camaradas de luta, militares de Abril, dirigentes sindicais, activistas de movimentos sociais, amigos e amigas de Mário Tomé.
A iniciativa foi promovida por uma comissão alargada, presidida pelo general Pezarat Correia.
Otelo Saraiva de Carvalho foi uma das personalidades que na impossibilidade de estar presente, enviou uma calorosa mensagem a Mário Tomé.
O almoço terminou com intervenções de Pezarat Correia e de Mário Tomé, às quais se seguiram momentos musicais e de leitura de poemas, com José Fanha, Francisco Naia, Jorgete Teixeira, e Francisco Rosa, apresentados pelo actor Luís Vicente.
Biografia de Mário Tomé
De acordo com o Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra, a biografia de Mário Tomé é a que se segue.
“Mário António Baptista Tomé é natural de Estremoz, coronel do Exército e foi condecorado, entre outras, com a Cruz de Guerra.
4 comissões na guerra colonial (1963/64, Guiné; 66/68, Moçambique; 70/72, Guiné; 72/74, Moçambique).
Reserva compulsiva desde Maio 1984, no posto de major. Na reforma desde 1993. Em 1970, em comissão na Guiné, sob comando de Spínola, pediu a demissão das FA's por "desacordo com a guerra colonial e com a política em geral do Governo".
Coordenador do Movimento dos Capitães em Moçambique, membro da Assembleia do Movimento das Forças Armadas, redactor do "Documento do COPCON" (que em Agosto de 1975 surgiu como alternativa de esquerda ao "Documento dos Nove"), subscritor do "Manifesto dos Oficiais  Revolucionários aos Soldados, Operários, Camponeses e Povo Trabalhador" (Novembro de 1975).
2.º Comandante do Regimento de Polícia Militar, delegado na Assembleia Democrática da Unidade (regimento) e responsável pelo Grupo de Dinamização da Unidade, delegado da Unidade na Assembleia do MFA. Preso em 26 de Novembro de 1975 no seguimento do golpe do "25 de Novembro". (Cadeia de Custóias e Presídio Militar de Santarém). Libertado em 23 de Abril de 1976 ficando na situação de residência fixa e arbitrariamente impedido sine die de exercer a sua profissão até ser passado compulsivamente à reserva em 1984.
Membro da Comissão Nacional da Candidatura de Otelo à Presidência da República em 1976, Deputado à Assembleia da República de 1979 a 1983 como independente pela UDP e de 1991 a 1995, eleito nas listas da CDU na base de um acordo do PCP  com a UDP.
No seguimento da lei 43/99 teve a sua carreira reconstituída ficando, por tal, no posto de coronel, posto mínimo que lhe competia no desenvolvimento normal da carreira. Foi dirigente nacional da União Democrática Popular – UDP.”
Mário Tomé, hoje
Dos aspectos biográficos de Mário Tomé ressaltam os de resistente anti-fascista, militar de Abril, resistente anti-neoliberalismo e defensor das conquistas de Abril e do socialismo.
Mário Tomé tem militado activamente no Bloco de Esquerda desde a sua fundação em 1999, tendo sido mandatário das candidaturas às eleições europeias (2013) e às eleições legislativas (2019).

Hernâni Matos
Estremoz, 31 de Janeiro de 2020
(Jornal E nº 239, de 06-02-2020)

Créditos fotográficos: Manuel Xarepe.

Mesa com Mário Tomé, Pezarat Correia e Vasco Lourenço.

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