LAURA ALVES
(Lisboa, 08-09-1921 – Lisboa, 06-05-1986)
Laura Alves Magno, mais conhecida como Laura Alves, foi uma atriz portuguesa com uma intensa atividade teatral, sobretudo nas décadas de 40 e 50 do século XX, tendo-se distinguido também na rádio (em folhetins radiofónicos) e no cinema.
Laura Alves, (19__), fot. Bourdain de Macedo [cortesia do Museu Nacional do Teatro, cota: 91764]. |
Nascida em Lisboa a 8 de setembro de 1921, foi casada com o empresário de teatro Vasco Morgado com quem teve um filho, Vasco Morgado Júnior, que, entre breves apontamentos como ator, se tem mantido no campo do teatro sobretudo como produtor.
Numa importante e dinâmica atividade teatral, Laura Alves e Vasco Morgado animaram uma extensa produção de espetáculos no Teatro Monumental (desde a sua construção em 1951), marcando um momento de grande popularidade da atriz. A demolição desse teatro, em 1982, consentida pelo então Presidente da Câmara de Lisboa, Nuno Cruz Abecassis, foi uma medida muito contestada a nível nacional e abalou fortemente a saúde de Laura Alves. Inconformada com a destruição do teatro onde obtivera tantos êxitos, e sofrendo de repetidos lapsos de memória, acabou por deixar os palcos em 1983. Depois do divórcio com Morgado, casou em 1979 com o maestro Frederico Valério, que acabaria por falecer alguns anos depois, em 1982. Poucos anos mais tarde, Laura Alves foi vítima de uma embolia cerebral, vindo a falecer em Lisboa, a 6 de maio de 1986, e foi sepultada no Talhão dos Artistas, no cemitério dos Prazeres.
Várias são as datas de nascimento encontradas em registos bibliográficos sobre Laura Alves, mas a que se crê ser correta é a de 8 de setembro de 1921, segundo ficha da atriz no Teatro Nacional D. Maria II e relatos da sua família mais próxima. Nascida no seio de uma família pobre, e sendo a mais velha de seis irmãos, Laura Alves cedo começou a trabalhar. Com apenas cinco anos de idade, Laura iniciou-se no teatro amador numa Sociedade Recreativa, na Rua de S. Bento, com a peça policial Os vinte mil dólares. Na adolescência, “Lalá” – como era conhecida no seio familiar – frequentou a Escola Industrial Machado de Castro, onde prosseguiu essa sua atividade com o grupo de teatro que aí se formou. Ali ajudava no ensaio das colegas que, pela sua proximidade, eram conhecidas como “As Laurinhas”. Quando tinha 14 anos, o seu pai – sapateiro de profissão e vítima de uma esquizofrenia cada vez mais incapacitante – deixou de poder trabalhar e, com irmãos mais novos para ajudar a criar, Laura passou a ser o amparo da família.
Por indicação de um professor, Laura Alves estreou-se profissionalmente no Teatro Politeama, em 1935, com a personagem “Gaby”, da peça As duas garotas de Paris, de Feuillade e Cartoux – numa adaptação de Eduardo Schwalbach – ao lado de nomes como Alves da Cunha, Berta de Bívar e João Villaret, e a crítica foi favorável à jovem estreante. Em 1939, a atriz e empresária Amélia Rey Colaço contratou Laura para o espetáculo Riquezas da sua avó, que se apresentou no TNDM II, tendo aí contracenado com grandes figuras do palco, como Palmira Bastos. Na companhia Rey Colaço-Robles Monteiro participou ainda em várias peças infantis e, em 1941, estreou-se no género da opereta com Lisboa 1900, no Teatro Variedades, ao lado de Irene Isidro, António Silva e Ribeirinho. Veio no ano seguinte a contracenar com este carismático ator no filme O pai tirano, de António Lopes Ribeiro, película que marcou a sua estreia no cinema e onde desempenhou o papel de “Laura”, empregada de uma pensão na zona do Chiado. Em 1942, estreou-se no teatro de revista com o espetáculo Essa é que é essa, no Teatro Maria Vitória, ao lado de Amália Rodrigues, Luísa Durão e Costinha.
Em 1948 casou com Vasco Morgado, então ator de cinema e, no ano seguinte, associou-se a Irene Isidro, Ribeirinho, António Silva, Carlos Alves e Barroso Lopes, para fundar uma sociedade – Sociedade Artística – que se apresentou durante dois anos no Teatro Apolo (SANTOS 2002: 306). Esta foi a primeira empresa adquirida pelo seu marido que, assim, iniciou a sua carreira de empresário teatral no meio artístico português.
Em 1948 casou com Vasco Morgado, então ator de cinema e, no ano seguinte, associou-se a Irene Isidro, Ribeirinho, António Silva, Carlos Alves e Barroso Lopes, para fundar uma sociedade – Sociedade Artística – que se apresentou durante dois anos no Teatro Apolo (SANTOS 2002: 306). Esta foi a primeira empresa adquirida pelo seu marido que, assim, iniciou a sua carreira de empresário teatral no meio artístico português.
Vasco Morgado assumiu, em 1951, a exploração do Teatro Monumental, na Praça Duque de Saldanha, que foi inaugurado com o espetáculo As três valsas e para o qual Laura Alves se preparou cuidadosamente, aprendendo mesmo a dançar em pontas. No ano de 1952 estreou-se o género de teatro de revista no Monumental com Lisboa nova. Cada vez mais, Laura Alves passou a ser associada a este género teatral, sendo criticada quando saía do registo popular. Apesar disso, a partir da década de 60, dedicou-se ao teatro declamado e apresentou Meu amor é traiçoeiro, de Vasco Mendonça Alves (êxito que contou com digressões pelo Brasil e Espanha), A rapariga do apartamento, de Muriel Resnik e O comprador de horas, de Jacques Deval.
Apesar de introvertida, revelou ser uma profissional exigente e enérgica, procurando ir ao encontro do que julgava ser o gosto do seu público. De pequena estatura (1,53m), “Laura Alves era uma atriz ambiciosa, cheia de talento, mas sem noção das suas limitações e com uma tenacidade que acreditava tudo vencer.” (SANTOS 2002: 235). Mulher viajada e com interesse em conhecer o teatro que se fazia “lá fora”, assistiu a espetáculos em Londres, Paris e Nova Iorque, e adaptou à realidade portuguesa os que achava serem do agrado do público.
Apesar da sua competência artística em alguns géneros de teatro, o que a crítica mais lamentava era o repertório a que ela recorria, quase sempre escolhido para agradar ao público que ela queria atrair, e que supunha apreciar somente a comédia fácil ou o teatro de revista: “O talento de Laura tem sido desbaratado entre comédias de baixo nível e devaneios dramáticos que a ultrapassam.” (SANTOS 1978: 96). Contudo, Laura Alves também se aventurou em personagens exigentes da dramaturgia mundial, como as de Shakespeare, Tennessee Williams e Bernardo Santareno. No entanto, assumiu que espetáculos houve em que participou para ajudar o marido, como foi o caso de Criada para todo o serviço, peça que “nunca faria noutra qualquer circunstância.” (Anon. 1966: 2). Considerada essencialmente uma atriz de comédia e de revista, sobre ela o ator Carlos Paulo afirmou recentemente numa entrevista: “Sei que a Laura ficou sempre com uma grande mágoa de não ter feito outros grandes textos que ela gostaria de ter representado. A Laura não fez a carreira, que queria ter feito, por uma questão de lealdade e de amor ao Vasco e ao teatro.” (MANSO 2010: 47).
Separou-se do empresário em 1967, mas a dupla continuou unida pelo teatro. Em 1968, Vasco Morgado transformou o antigo cinema Rex, na Rua da Palma, numa sala de espetáculos que batizou de “Teatro Laura Alves”. Esta casa encerrou na década de 80, dando lugar a uma pensão e, em maio de 2012, este espaço sofreu um incêndio que ditou o seu encerramento definitivo. Durante os ensaios do espetáculo Aqui quem manda sou eu, (1977) foi diagnosticada a Laura Alves uma grave arteriosclerose que veio a degradar consideravelmente a memória e o estado físico da atriz. Em 1979 casou com o maestro Frederico Valério, que acabaria por falecer três anos depois. O estado de saúde de Laura, entretanto, agravou-se. Em 1983 fez o seu último espetáculo Pai precisa-se, de Manuel Correia, onde se mostrou visivelmente debilitada e precisou do auxílio permanente do ponto para não falhar as suas réplicas. Acabou por falecer a 6 de maio de 1986, na solidão do seu apartamento na Avenida Praia da Vitória, perto do Teatro Monumental, então já destruído. Os amigos não consideram, no entanto, que tenha sido uma mulher feliz. Morreu sem interpretar aquele que dizia ser o papel da sua vida: Elisa Doolitle, de My Fair Lady.
No cinema participou em vários filmes que foram êxitos: O pai tirano (1941), de António Lopes Ribeiro, O pátio das cantigas (1942), de Francisco Ribeiro, O leão da Estrela (1947), de Arthur Duarte e O Costa d’África (1954), de João Mendes. No entanto, Laura confessou: “Não percebo nada de cinema. Há uma coisa que me perturba: não levar as cenas seguidas. Por isso e por tantas outras razões é que eu afirmo que o cinema não é arte, mas sim técnica.” (SOUSA 1954b: 8). Também se apresentou na rádio, com Artur Agostinho, no programa Dois num automóvel, escrito por Francisco Matta, com diálogos inspirados no filme O leão da Estrela.
Laura Alves tem o seu nome em várias ruas da grande Lisboa (nomeadamente em Entrecampos) e na cidade de Almada.
Filmografia
CAMPOS, Henrique (1957). Perdeu-se um marido. Prod. Lisboa Filme.
Laura Alves tem o seu nome em várias ruas da grande Lisboa (nomeadamente em Entrecampos) e na cidade de Almada.
Filmografia
CAMPOS, Henrique (1957). Perdeu-se um marido. Prod. Lisboa Filme.
___ (1969). O ladrão de quem se fala. Prod. Tobis Portuguesa.
DUARTE, Arthur (1947). O leão da Estrela. Prod. Tobis Portuguesa.
GARCIA, Fernando (1952). Um marido solteiro. Prod. Filmes Portugueses César de Sá.
GOMES, Cristina Ferreira (2012) Documentário Laurinha. Prod. Mares do Sul para a RTP, setembro.
MENDES, João (1954). O Costa d’África. Prod. Tobis Portuguesa.
QUEIROGA, Perdigão (1951). Sonhar é fácil. Prod. Lisboa Filme.
___ (1963). O parque das ilusões. Prod. Perdigão Queiroga.
RIBEIRO, António Lopes (1941). O pai tirano. Prod. António Lopes Ribeiro.
RIBEIRO, FRANCISCO (1942). O pátio das cantigas. Prod. António Lopes Ribeiro.
Bibliografia
AA.VV. (1990). Caderno da Exposição Homenagem a Laura Alves, 27 de Março a 6 de Abril de 1990, Escola Secundária Machado de Castro: Lisboa.
Anon. (1954). “Estrela” (do teatro), vedeta (da rádio)” in Século Ilustrado, 31 de julho, p.10.
___ (1966). “Laura Alves e Vasco Morgado Jr: Artista é herança de mãe” in Flama, 23 de setembro, pp. 22-23.
BARROCA, Norberto (2007). A opereta em Portugal da ditadura militar ao Estado Novo. Dissertação de Mestrado em História Contemporânea, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto (texto policopiado).
JACQUES, Mário et al. (2001). Os actores na toponímia de Lisboa. Lisboa : Câmara Municipal.
MANSO, Ana Paula (2010). Vasco Morgado: O maior empresário de teatro em Portugal do séc. XX, trabalho final da licenciatura em Estudos Artísticos, variante Artes do Espetáculo, apresentado à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (Texto policopiado).
OGANDO, Alice (1960). Laura Alves – Êxitos de 20 anos da sua carreira. Agência Portuguesa de Revistas.
PORTO, Carlos (1975). “O teatro do fascismo”, in Diário de Lisboa, 4 de setembro, p.14.
REBELLO, Luiz Francisco (1970). Dicionário do Teatro Português. Lisboa: Prelo, p.42.
___ (1984). 100 anos de teatro português. Porto: Brasília Editora.
REIS, Luciano (2005). Laura Alves, a rainha do palco, Lisboa: Sete Caminhos.
RODRIGUES, Urbano Tavares (1961). Noites de Teatro, Vol.II, Colecção Ensaio, Ed. Ática, pp.55-62; 201-206.
SANTOS, Vítor Pavão dos (1978). A Revista à Portuguesa. Lisboa: Edições ‘O Jornal’.
___ (2002). “Guia breve do século XX teatral” in AA.VV. Panorama da cultura portuguesa do século XX – Artes e Letras I, Porto 2001 e Fund. Serralves: Ed. Afrontamento.
SENA, Jorge (1989). Do teatro em Portugal. Edições setenta.
SOUSA, Neves (1954a). “3º Episódio” in Estúdio, 5 de novembro, pp. 8-9.
___ (1954b). “4º Episódio” in Estúdio, 20 de novembro, pp. 8-9.
___ (1954c). “Conclusão” in Estúdio, 15 de dezembro, pp. 5-7.
TEIXEIRA, Antas (1952). “Laura Alves” in Flama, 18 de abril, p.3.
V., J.C. de (1967). “A flor do cacto no Monumental” in Diário de Lisboa, 15 de julho, p.5.
Consultar ficha de pessoa na CETbase:
http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Pessoa&ObjId=7813
Consultar imagens no OPSIS:
http://opsis.fl.ul.pt/
Andreia Brito Silva / Centro de Estudos de Teatro