Bom dia.Há um ano, dois encapuzados entraram na redação do jornal humorístico Charlie Hebdo, em Paris, dispararam mais de 60 tiros e assassinaram 12 pessoas, entre as quais alguns dos melhores cartunistas franceses.
Um ano depois, a morte de Wolinsky e dos seus pares não foi em vão: o Charlie Hebdo, que antes imprimia 50 mil exemplares, hoje vende 90 mil em banca e mais 180 mil para assinantes. E como diz o «Le Monde» (e cito o artigo de Nuno Ramos de Almeida no i), «antigamente liam-no nos cafés para rir; hoje lêem-no também nos ministérios e nas embaixadas, mesmo que não tenham nenhuma vontade de sorrir».
Infelizmente, o mundo não mudou para melhor depois do atentado do Charlie Hebdo.
Nem há mais respeito pelo livre pensamento e pela diferença. Como se vê pelo que se conta a seguir.
Há um ditado de origem anglo-saxónica que diz que
se nada como um pato, se grasna como um pato e se parece um pato, então provavelmente é um pato. Ora seguindo esta lógica,
o que pensará o leitor se uma pessoa ligada a uma editora desaparece, uma segunda pessoa ligada à mesma editora desaparece, uma terceira pessoa ligada à referida editora desaparece, uma quarta pessoa também ligada à tal editora desaparece e uma quinta pessoa igualmente ligada à editora desaparece? Ora, pensa seguramente que deve haver algum problema com a editora.
Bom, e se souber que
a tal editora se situa em Hong-Kong e é conhecida por vender obras proibidas na China talvez desconfie que por detrás dos desaparecimentos pode estar a mesma mão. E se souber ainda que a citada editora
estaria a preparar um livro sobre a vida amorosa do presidente Xi Jinping e sobre uma sua antiga amante começa a desconfiar seriamente que talvez essa possa ser uma das explicações para os desaparecimentos. É que, como a História demonstra, as palavras continuam a ser muito perigosas nos regimes totalitários.
Até agora,
as cinco pessoas que desapareceram ligadas à Mighty Current são o ex-proprietário da livraria, Lam Wing Kei, dois dos seus sócios, Lu Bo e Zhang Zhiping, o editor Gui Minhai, que tem passaporte sueco e deixou de ser localizado a 17 de outubro, quando estava na sua casa em Pattaya, na Tailândia e, desde há uma semana, do livreiro Lee Bo, 65 anos, que segundo a sua mulher saiu de casa na noite de 30 de dezembro, depois de alguém lhe ter encomendado pelo telefone uma série de volumes de um determinado livro e nunca mais foi visto, apesar de ter telefonado a dizer que estava na cidade de Shenzen a colaborar numa investigação sobre outros desaparecimentos (mas a mulher estranhou que tenha falado em mandarim e não em cantonês).
Voltamos ao princípio. Se nada como um pato, se grasna como um pato e se parece um pato, então provavelmente é um pato. Perante isto, o grande, o enorme editor que foi Luiz Pacheco, se ainda fosse vivo, em vez de escrever «O caso das criancinhas desaparecidas», escreveria seguramente
«O caso dos cinco livreiros desaparecidos». Não estando já entre nós Pacheco e o seu génio, isso seguramente não impede o leitor de tirar as óbvias conclusões. É um pato. Ponto final.
E a bomba que o regime norte-coreano fez explodir e deixou o mundo em geral, e aquela região do planeta em particular, com os nervos em franja? É de hidrogénio ou não? Parece que não. Mas uma coisa é certa: a explosão foi nuclear. Ou seja, o regime de King Jong-um entrou mesmo para o seleto e muito restrito clube dos países que já têm ou conseguem produzir bombas nucleares. A China não foi avisada do teste, o Japão está aterrado e
a ONU, seja a bomba de que tipo for, prepara-se para aprovar «mais extensas e significativas sanções» contra Pyongyang.
Ora a propósito deste tema,
no frente-a-frente televisivo na RTP que opôs os candidatos do BE e do PCP, Marisa Matias e Edgar Silva, o jornalista João Adelino Faria perguntou-lhes:
«A Coreia do Norte é uma ditadura ou uma democracia?» Marisa Matias respondeu prontamente:
«Considero a Coreia do Norte uma ditadura.» Já Edgar Silva repetiu a pergunta, contornou-a e só no fim acabou por concordar que a democracia não é um «privilégio» daquele país. Já em 2003, Bernardino Soares, que foi líder parlamentar do PCP e é atualmente presidente da Câmara de Loures, afirmava:
«Tenho dúvidas que a Coreia do Norte não seja uma democracia».Decididamente, o PCP tem um problema com a democracia que se vive na Coreia do Norte.
Os múltiplos debates e entrevistas aos dez candidatos têm sido seguramente esclarecedores em muitos pontos e nalguns proporcionam-nos mesmo surpresas sobre assuntos para os quais nunca tínhamos olhado dessa maneira. É o caso de
Paulo Morais que diz que Lisboa está sequestrada pela empresa francesa (e capitais americanos) Vinci, pois gere o aeroporto da capital e as duas pontes sobre o rio Tejo. Um assunto que resolverá se for eleito Presidente da República. Mais: o candidato também quer
expropriar a ponte Vasco da Gama a custo zero. Justificação: «O Estado tem a obrigação de chegar à ponte e ressarcir o povo do prejuízo que teve», dado que «não tinha 900 milhões» para a construir mas depois «tem 1000 milhões para dar aos privados» que a construíram.
Quanto a Maria de Belém e seus apoiantes, que esperavam que na entrevista que concedeu à RTP António Guterres desse um sinal de que apoiaria a sua ex-ministra da Saúde, saiu-lhes o tiro pela culatra.
O antigo primeiro-ministro limitou-se a dizer que apoiará o candidato que o PS apoiar. E sobre esta matéria mais não disse – a não ser que desiludiu os socialistas. Maria de Belém é que disse. Disse que se for eleita Presidente da República poderá levar estadistas estrangeiros a almoçar em lares de terceira idade ou instituições do género, preferindo isso ao que é tradicional (banquetes no Palácio de Queluz, por exemplo). Olha que bela e exequível ideia! Ficam todos a perceber como nós tratamos bem os idosos.
Quanto ao candidato que todas as sondagens dizem que ganha à primeira volta ou à segunda,
Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu
a criação «de uma comissão de ética à luz da ética» para analisar as incompatibilidades dos deputados e composta, por exemplo, «por antigos presidentes da Assembleia da República, como Jaime Gama ou Mota Amaral». Isto porque a atual comissão de ética segue apenas a legislação, quando há casos em que «não há ilegalidade, mas há uma situação que não há ética».