Com a devida vénia, transcrevo em seguida o
Texto retirado da página "Sociedade" do Semanário VOZ PORTUCALENSE de 15 de Junho de 2016, e escrito pelo diácono Joaquim Armindo:
DÓI O CORAÇÃO
São duas notícias que nos apaixonam num só dia.
Se os jogadores portugueses ganharem o campeonato europeu de futebol, cada um receberá 375 mil euros.
Os administradores da Caixa Geral de Depósitos, pode cada um, vir a receber 45 mil euros por mês.
A grande maioria das portugueses e dos portugueses ganham o salário mínimo, se ganharem !
São factos, não os estou a referir pelo chamado "populismo".
Creio saber que a carreira dum jogador acaba quando muitas carreiras de jovens, formados pelo ensino superior, começam.
Creio saber da responsabilidade dos administradores referidos, que podem ser despedidos de um momento para o outro.
Quantos portugueses ganharão na sua vida 375 mil euros, por trabalhar?
Quantos anos precisam de trabalhar para ganhar 45 mil euros por mês?
Estou a reflectir, nada contra ninguém, até porque gostaria que Portugal ganhasse o campeonato europeu, até porque não faz diferença a ninguém que outro ganhe muito mais.
Mas que dói o coração, lá isso dói.
Por que o coração se constrói com a razão, e esta é muito imprecisa.
Como dizia, um jogador tem um tempo de vida profissional curto, tal qual outras profissões perigosas, mesmo aquelas em que o perigo não é visível.
O jogador começará o seu trabalho a sério, lá para os dezasseis anos e a pouco mais dos trinta cessa, se não for para treinador ou um outro cargo "complexo" das SADs.
Para referir só dois exemplos:
Um pescador começa a trabalhar quando gatinha e acaba sabe-se lá quando; um mineiro trabalha no duro, sem ver o sol, e termina já o seu sol está no crepúsculo da vida.
Aqui o trabalho mata, a sobrevivência diária é o escuro dos mares e das minas.
O pescador pode ir e não voltar, o mineiro pode descer e não subir, o jogador joga, diverte-se - pode ter ferimentos, é verdade - mas tem dinheiro para se tratar, além de ser uma pessoa que sabe "pensar com os pés" - sem ofensa a ninguém.
O administrador de um banco, e da CGD em particular, que é uma organização pública, tem responsabilidades, além de, porventura!, ter estudado bastante ou então ter estado num governo alguns anos ... - isto já é má língua.
Mas em dez anos ganhou mais de meio milhão de euros, além dos prémios, ajudas de custo, cartões e não tem horário.
Qualquer trabalhador que lá coloca as suas parcas poupanças nunca verá o seu trabalho recompensado, antes poderá ser julgado, como diz o nosso povo, "por roubar um pão".
Não estou contra ninguém, só me dói o coração e o que fazer, quanto a isso?
A razão diz-me da enorme injustiça que tudo isto é, por isso não haverá Paz assim.
Só a Justiça constrói a Paz, só com esta existe o Amor entre os seres vivos.
Será assim?
Sem comentários.
ANTÓNIO FONSECA