quarta-feira, 24 de março de 2021

CICLONE CATARINA - 2004 - 24 DE MARÇO DE 2021

 


Ciclone Catarina

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Furacão Catarina)
Disambig grey.svg Nota: Não confundir com Furacão Katrina.
Ciclone/Furacão Catarina
Categoria 2
Cyclone Catarina 2004.jpg
Ciclone Catarina, em 24 de março de 2004.
Formação24 de março de 2004
Dissipação28 de março de 2004
Ventos mais fortessustentado 1 min.: 175 km/h (110 mph)
Pressão mais baixa972 hPa (mbar)[1]
Fatalidades3-11 de forma direta
DanosUS$ 470 milhões
Áreas afectadasSanta Catarina e Rio Grande do Sul
 Brasil

Ciclone ou Furacão Catarina[nota 1] foi um ciclone tropical do Atlântico Sul extremamente raro, sendo a única tempestade já registrada com força de furacão nessa região Oceano Atlântico. Catarina atingiu a região Sul do Brasil com intensidade máxima, com o equivalente a ventos sustentados com a força de um furacão de Categoria 2, em 28 de março de 2004.

A tempestade se desenvolveu a partir de um ciclone extratropical de núcleo-frio praticamente estacionário em 12 de março. Quase uma semana depois, no dia 19 de março, a perturbação remanescente seguiu na direção leste-sudeste, mas em 22 de março, a formação de uma crista de alta pressão deixou o sistema novamente quase estacionário. A perturbação se instalou numa região com excelentes condições meteorológicas, cisalhamento do vento e com a temperatura da superfície do mar acima da média. A combinação dos dois fatores levou a uma lenta transição do sistema de um ciclone extratropical para um ciclone subtropical em 24 de março.

A tempestade continuou a obter características tropicais e se tornou um ciclone tropical no dia seguinte, enquanto os ventos se intensificavam gradativamente. Em 26 de março de 2004, a tempestade alcançou ventos máximos sustentados com velocidades de até 180 quilômetros por hora, definida como de categoria 2 na escala de furacões de Saffir-Simpson. Neste dia o ciclone ganhou informalmente o nome "Catarina" e também passou a ser o primeiro registro oficial de um ciclone tropical no Atlântico Sul. As condições excepcionalmente favoráveis e extremamente incomuns no Atlântico Sul persistiram e o Catarina continuou a se intensificar, atingido o seu pico de intensidade em 28 de março. O centro da tempestade atingiu a costa brasileira mais tarde naquele dia, na altura entre as cidades de Passo de Torres e Balneário Gaivota, no estado de Santa Catarina. O Catarina se enfraqueceu rapidamente sobre terra firme e dissipou-se no dia seguinte.

Pelo Catarina ter se formado em uma região que nunca (de acordo com registros confiáveis) tinha registrado a presença de ciclones tropicais anteriormente, os danos causados acabaram por ser muito severos, pois nunca um ciclone tropical tinha sido observado tão ao sul. O furacão Catarina destruiu cerca de 1 500 residências e danificou outras 40 mil casas. Os prejuízos econômicos atingiram mais de 400 milhões de dólares (aproximadamente 1,2 bilhões de reais) e atingiram especialmente a agricultura de banana, que perdeu 85% da produção, e de arroz, que perdeu 40% das plantações. Mais de 14 municípios decretaram estado de calamidade pública. Apesar da inexistência de uma estrutura de alertas e de avisos específica para ciclones tropicais no país, as autoridades brasileiras conseguiram evacuar a população litorânea com rapidez. O furacão matou 11 pessoas e deixou 518 feridos, um número considerado razoavelmente baixo em comparação ao de outros países afetados por ciclones tropicais.[3]

História meteorológica

Formação e trajetória da tempestade até sua chegada ao litoral brasileiro.

Um núcleo-frio estacionário cavado formou-se ao longo do dia 19 de março de 2004 na costa do sul do Brasil e deslocou-se a leste-sudeste, até o dia 22 de março, quando uma crista ao seu sudeste o manteve estacionário. Com ventos excepcionalmente favoráveis e incomuns, pouco acima da média,[4] e as águas do litoral ligeiramente quentes — entre 24-26 °C —, a perturbação atmosférica desenvolveu-se gradualmente, assemelhando-se a uma tempestade subtropical durante o dia 24 de março. Localizada a 1 010 quilômetros a leste-sudeste do município de Florianópolis, ela dirigia-se lentamente para o oeste e apareceu para se tornar uma tempestade tropical no dia 25 de março.[2]

Como uma tempestade compacta, continuou dirigindo-se para o oeste, enquanto progressivamente se intensificava. A estrutura da tempestade continuou a se fortificar e, devido a uma determinada característica do olho mostrada em satélites, a tempestade iria atingir a força equivalente a de um furacão em 26 de março.[5] Um jornal brasileiro então fez uma manchete que dizia que "Um furacão ameaçava Santa Catarina". Em parte devido a este título, a tempestade passou a ser oficialmente chamada de Catarina. A tempestade continuou a encontrar condições favoráveis e atingiu ventos de até 180 quilômetros por hora durante a manhã do dia 27, o que tornou a tempestade o equivalente a um furacão de categoria 2 na escala Saffir-Simpson.[2]

Nomenclatura

O ciclone Catarina visto da Estação Espacial Internacional em 26 de março de 2004
Imagem de satélite do Catarina no dia 27 de março de 2004

Os meteorologistas brasileiros chamaram a tempestade de "Catarina" por sua proximidade com a costa do estado de Santa Catarina, embora os meteorologistas do governo inicialmente tenham negado que a tempestade, que claramente tinha um olho aberto e várias outras morfologias de tormentas tropicais, fosse um furacão. Mais de um ano após a tempestade ter atingido o litoral do país, os meteorologistas brasileiros finalmente classificaram a tempestade como um ciclone tropical.[6]

Os meteorologistas estadunidenses, no entanto, tão surpresos quanto os brasileiros, consideraram que esta tempestade era um furacão imediatamente após a observação das provas provenientes de imagens satélite. Uma vez que a tormenta tinha a estrutura do olho claramente delimitada por profundas convectivas e características tropicais notadas pelas faixas centrais densas bem definidas, espirais exteriores, estrutura de escoamento, temperatura da água quente em 26 °C, pouco cisalhamento e um núcleo-quente baixo, além de ter ocorrido em março (equivalente ao setembro do Hemisfério Norte, o pico da temporada de furacões), ela foi classificada como um furacão pelo Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos.[7][8]

Embora ela seja mais comumente conhecida como Catarina, todos os nomes para esta tempestade são "não-oficiais", visto que nenhuma agência meteorológica filiada da Organização Meteorológica Mundial atribuiu um nome à tormenta. (Nomes de ciclone tropicais são predeterminados por um comitê internacional da Organização Meteorológica Mundial).[9] Ela também foi extra-oficialmente chamada de "Aldonça"[10] e seus nomes consultivos foram "01T-ALPHA" para o Met Office do Reino Unido e "50L-NONAME" para o Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos, que a mantém fora designação normal, que começam em 1L para tempestades nomeadas e usa 90L a 99L para possíveis tempestades.[2]

Pela raridade do fenômeno, não há convenção de nomenclatura oficial para o termo meteorológico de ciclones tropicais com ventos de pelo menos 119 km/h na bacia do Atlântico Sul; apesar disso, por ter sido no Hemisfério Sul, é geralmente considerado Ciclone Catarina, por "ciclone" ser o termo predominante para ciclones tropicais do Hemisfério Sul.[2] Desde 2011, no entanto, a Marinha do Brasil começou oficialmente a utilizar a escala de furacões do oceano Atlântico Norte para medir a intensidade dos sistemas tropicais e subtropicais no Atlântico Sul e também designar nomes para aquelas tempestades que alcancem 63 km/h.[11]

Formação rara

Trajetória e intensidade de ciclones tropicais ao redor do mundo entre 1985 e 2005 (em francês). O Catarina é o único registrado no Atlântico Sul nesse período.

Normalmente, os ciclones tropicais não se formam no sul do Oceano Atlântico, devido ao forte cisalhamento de nível superior, águas de temperaturas frias e pela falta de uma zona de convergência de convecção. Ocasionalmente, porém, como visto em 1991 e no início de 2004, as condições podem tornar-se ligeiramente mais favoráveis para a formação deste tipo de fenômeno. Para o Catarina, houve uma combinação de anomalias climáticas e atmosféricas. A temperatura da água no trajeto de Catarina era de 24 a 25 °C, um pouco menos do que a temperatura de 26,5 °C de um ciclone tropical normal, mas suficiente para uma tempestade de origem baroclinia.[5]

Até aquele momento, nenhum ciclone tropical observado via imagens de satélite havia alcançado a força de um furacão no sul do Atlântico, imagens que começaram a ser registradas em meados dos anos 1970.[12] Embora o Catarina tenha se formado em uma área incomum, sua relação com o aquecimento global ou qualquer outro tipo de mudança climática global ainda está em debate. A Sociedade Brasileira de Meteorologia atribuiu a formação da tempestade a "mudanças climáticas e anomalias atmosféricas",[6] enquanto outros pesquisadores têm indicado que ela poderia ser o resultado do Modo Anular do Hemisfério Sul ou de outras variações sazonais no tempo dentro do Hemisfério Sul, também ligadas às mudanças no clima mundial.[13] No entanto, mais pesquisas na área ainda são necessárias para que se chegue a uma conclusão.[13]

Impacto

O Catarina próxima ao litoral em 26 de março

Assim como os ciclones tropicais normais, o Catarina trouxe fortes inundações com ele. Apesar da incerteza sobre o trajeto e potência da tempestade, as autoridades brasileiras tomaram as medidas adequadas para garantir a segurança dos moradores que viviam ao longo da costa. A evacuação da população ao longo da costa foi executada com sucesso, embora algumas pessoas tenham decidido enfrentar a tempestade por conta própria e em suas casas.[5] A tempestade danificou cerca de 40 mil casas e destruiu outras 1 500; 40% da safra de arroz também foi perdida. Os danos totais foram estimados em 850 milhões de reais (cerca de 430 milhões de dólares). Ela também matou pelo menos três pessoas e feriu pelo menos outras 75. Pelo menos duas mil pessoas ficaram desabrigadas após a tempestade.[14][15]

Em Passo de Torres, muitos estaleiros foram destruídos, pois eles não foram projetados para suportar as diferenças de pressão causadas pelos ventos do Catarina; danos generalizados em telhados também foram relatados neste município.[16]

O ciclone Catarina em terra firme

Próximo ao rio Mampituba, uma casa foi destruída cerca de 50 metros rio acima e acabou parando, literalmente, em outro estado: ela havia sido inicialmente construída no município de Torres, no Rio Grande do Sul, mas acabou em Passo de Torres, no interior de Santa Catarina. Nas áreas rurais, os campos de milhobanana e arroz foram os mais danificados, embora os produtores de arroz tenham sido capazes de recuperar parcialmente as suas perdas, visto que haviam colhido parte da produção antes de Catarina atingir a costa.[16]

No geral, cerca de 36 mil residências foram danificadas como resultado do ciclone; destas, 993 ruíram completamente. O setor comercial foi ligeiramente menos afetado, já que apenas 2 274 edifícios foram danificados e 472 entraram em colapso. Finalmente, 397 edifícios públicos foram danificados e três foram destruídos. Estes eram responsáveis por 26% dos edifícios totais na região e os danos materiais atingiram os 320 milhões de dólares.[16]

Quatro quintos das casas danificadas tiveram algum tipo de falha ou colapso do telhado. A maioria dos danos foi atribuída à baixa qualidade da construção; em residências de tijolo geralmente faltavam gessovigas ou colunas, por exemplo. As áreas as mais afetadas foram as habitadas por famílias de baixa renda, geralmente com salários familiares de menos de 400 dólares por ano.[16]

Ver também

EXXON VALDEZ - NAVIO PETROLEIRO ENCALHOU EM 1989 - 24 DE MARÇO DE 2021

 


Exxon Valdez

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Exxon Valdez
Exxon Valdez em 1989.
Carreira
ProprietárioHong Kong Bloom Shipping Ltd. (2008-2012)
SeaRiver Maritime (1989-2008)
Exxon (1986-1989)
Data de encomenda1 de agosto de 1984
EstaleiroNational Steel and Shipbuilding Company
San DiegoCalifornia
Lançamento14 de outubro de 1986
EstadoVendido para o desmantelamento
Destino2 de agosto de 2012
Outro(s) nome(s)Exxon Valdez (1986-1989)
Exxon Mediterranean
 (1990-1993)
Sea River Mediterranean (1993-2005)
S/R Mediterranean (1993-2005)
Mediterranean (2005-2008)
Dong Fang Ocean (2008-2011)
Oriental Nicety (2011-2012)
Características gerais
Tipo de naviopetroleirograneleiro
ClasseVLCC
Deslocamento214 861 t[1]
Tonelagem240 291 t[1]
Largura987 pé (300 m) total[1]
Boca166 pé (51 m)[1]
Calado88 pé (27 m)[1]
Velocidade16,25 nós
Tripulação21
Carga1,48 milhões barris (235 000 m³) de óleo cru[1]
Notas
[2]

Exxon Valdez foi um navio petroleiro que ganhou notoriedade em 24 de março de 1989, quando ~ 40 900 a 120 000  (equivalente a 257 000 a 750 000 barris) de petróleo que transportava foram lançadas ao mar, após uma colisão contra rochas submersas, causando um rasgo no fundo do petroleiro. O acidente aconteceu na costa do Alasca, depois de o navio encalhar na Enseada do Príncipe Guilherme (Prince William Sound) .

Continuam sendo estudadas as consequências do acidente sobre a fauna e flora marinha da região atingida. As indenizaçóes e custos com limpeza assumidos pela Exxon acumulam mais de quinhentos milhões de dólares.[3]

Desastre ambiental

Limpeza da costa, durante a maré negra provocada pelo Exxon Valdez.

Centenas de milhares de animais morreram nos meses seguintes ao vazamento do óleo. De acordo com as estimativas, morreram 260 000 pássaros marinhos, 2 800 lontras marinhas, 250 águias e 22 orcas, além da perda de bilhões de ovos de salmão. Foi o segundo maior derramamento de petróleo da história dos Estados Unidos. Na época, o navio pertencia à ExxonMobil.[4]

Graneleiro

Em 2002, a União Europeia proibiu a utilização de navios petroleiros de casco simples e o “Valdez”, renomeado “Mediterranean”, foi enviado para as águas da Ásia. O Mediterranean em 2007 foi convertido em navio graneleiro transportador de minérios e renomeado como “Dong Fang Ocean”. No ano de 2011, com o nome de “Oriental Nicety”, o navio foi vendido a uma companhia de sucata da Índia, Priya Blue Industries, e no ano seguinte foi desmantelado.[5]

Referências

CARMEN MIRANDA ETERNIZA-SE NO PASSEIO DA FAMA - 1941 - 24 DE MARÇO DE 2021


Carmen Miranda

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Carmen Miranda
Miranda em 1941
Nome completoMaria do Carmo Miranda da Cunha
Pseudônimo(s)
  • A Pequena Notável
  • The Brazilian Bombshell
    (no exterior)
  • The Chiquita Banana Girl
    (no exterior)
Nascimento9 de fevereiro de 1909
Marco de CanavesesPortoPortugal
Morte5 de agosto de 1955 (46 anos)
Beverly HillsCalifórniaEUA
Nacionalidade
Parentesco
CônjugeDavid Alfred Sebastian (c. 1947; v. 1955)
Ocupação
Período de atividade1928–1955
Carreira musical
Gênero(s)Samba
Extensão vocalmeio-soprano[1]
Instrumento(s)Vocais
Gravadora(s)
Causa da morteataque cardíaco
Assinatura
Signature Carmen Miranda.svg
Página oficial
carmenmiranda.com.br

Carmen Miranda GOIH OMC[2] (nascida Maria do Carmo Miranda da CunhaMarco de Canaveses9 de fevereiro de 1909 — Beverly Hills5 de agosto de 1955) foi uma cantoradançarina, e atriz brasileira, nascida em Portugal.[3][4][5][a] Sua carreira artística transcorreu no Brasil e Estados Unidos entre as décadas de 1930 e 1950. Trabalhou no rádio, no teatro de revista, no cinema e na televisão.[11] Foi considerada pela revista Rolling Stone como a 15ª maior voz da música brasileira, sendo um ícone e símbolo internacional do Brasil no exterior.[12] É irmã da atriz e cantora Aurora Miranda.

Apelidada de "Brazilian Bombshell", Miranda é conhecida por seus exóticos figurinos e chapéu com frutas que ela costumava usar em seus filmes estadunidenses, que fez deles sua marca registrada. Ainda jovem, ela aprendeu a fazer chapéus em uma boutique antes de gravar seu primeiro álbum com o compositor Josué de Barros em 1929. A gravação de Ta-hí (Pra Você Gostar De Mim), escrita por Joubert de Carvalho, a levou ao estrelato no Brasil como a principal intérprete do samba na década de 1930.[13][14] Na época ela se tornou a primeira artista a assinar um contrato de trabalho com uma emissora de rádio no país.[15]

Seu crescente sucesso na indústria fonográfica lhe garantiu um lugar nos primeiros filmes sonoros lançados nos anos 1930. Carmen Miranda participou de cinco musicais carnavalescos lançados nesse período como Alô, Alô, Brasil (1935) e Alô, Alô, Carnaval (1936). Em 1939, ela apareceu pela primeira vez caracterizada de baiana, personagem que a lançou internacionalmente, no filme Banana da Terra, dirigido por Ruy Costa. O musical apresentava clássicos como O que é que a baiana tem?, que lançou Dorival Caymmi no cinema.[16]

Em 1939, o produtor da BroadwayLee Shubert, ofereceu a Miranda um contrato de oito semanas para se apresentar em The Streets of Paris depois de vê-la no Cassino da Urca, no Rio de Janeiro.[17] No ano seguinte, ela fez sua estreia no cinema estadunidense no filme Serenata Tropical, ao lado de Don Ameche e Betty Grable.[18] Naquele ano, Miranda foi eleita a terceira personalidade mais popular nos Estados Unidos, e foi convidada para se apresentar junto com seu grupo, o Bando da Lua, para o presidente Franklin Roosevelt na Casa Branca.[19] Carmen Miranda chegou a ser a mulher mais bem paga dos Estados Unidos segundo o Departamento do Tesouro Americano.[20][b]

Ela fez um total de catorze filmes nos EUA entre a década de 1940 e década de 1950, nove deles somente na 20th Century Fox. Embora aclamada como uma artista talentosa, sua popularidade diminuiu até o final da Segunda Guerra Mundial. O seu talento como cantora e performer, porém, muitas vezes foi ofuscado pelo caráter exótico de suas apresentações. Miranda tentou reconstruir sua identidade e fugir do enquadramento que seus produtores e a indústria tentavam lhe impor, mas sem conseguir grandes avanços. Sua imagem se tornou a personificação de um exotismo latino-americano genérico que foi abraçado como singular e peculiar pelo público dos EUA e rejeitado como inautêntico e paternalista por brasileiros.[22] De fato, por todos os estereótipos que enfrentou ao longo de sua carreira, suas apresentações fizeram grandes avanços na popularização da música brasileira, ao mesmo tempo, abrindo o caminho para o aumento da consciência de toda a cultura Latina.[23]

Carmen Miranda foi a primeira artista latino-americana a ser convidada a imprimir suas mãos e pés no pátio do Grauman's Chinese Theatre, em 1941. Ela também se tornou a primeira sul-americana a ser homenageada com uma estrela na Calçada da Fama.[24] A sua figura, para muito além da música, seria uma influência permanente na cultura brasileira, da Tropicália ao cinema.[25]

Em 20 anos de carreira ela deixou sua voz registrada em 279 gravações somente no Brasil e mais 34 nos EUA, num total de 313 canções. Um museu foi construído mais tarde no Rio de Janeiro, em sua homenagem.[26] Em 1995, ela foi tema do aclamado documentário Carmen Miranda: Bananas is my Business, dirigido por Helena Solberg,[27] e uma interseção no cruzamento da Hollywood Boulevard e Orange Drive em frente ao Teatro Chinês em Hollywood foi oficialmente nomeada "Carmen Miranda Square", em setembro de 1998.[28] Até hoje, nenhum artista brasileiro teve tanta projeção internacional como ela.[29]

Biografia

Início de vida

Travessa do Comércio, Praça 15, Centro do Rio. No início do século XX, a Travessa já era um dos mais importantes núcleos de imigrantes portugueses do Rio. No sobrado de n° 13 funcionava a pensão e residência de D.Maria, mãe de Carmen Miranda. Ali Carmen e sua família viveram seis anos.[30]

Carmen Miranda foi batizada com o nome de Maria do Carmo Miranda da Cunha na igreja da freguesia de Várzea da Ovelha e Aliviada, Portugal, concelho de Marco de Canaveses.[31] Era a segunda filha do barbeiro José Maria Pinto da Cunha (Marco de Canaveses, Várzea da Ovelha e Aliviada, 17 de fevereiro de 1887 - 21 de junho de 1938) e de sua mulher, Maria Emília Miranda (Marco de Canaveses, Várzea da Ovelha e Aliviada, 10 de março de 1886 - Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1971). Ganhou o apelido de Carmen no Brasil, graças ao gosto que seu tio Amaro tinha por óperas.

A emigração da família para o Brasil já estava marcada, entretanto, ao ver-se grávida, a mãe de Carmen Miranda preferiu aguardar o nascimento da filha. Pouco depois, seu pai, José Maria, emigrou para o Brasil,[32] e instalou-se na cidade do Rio de Janeiro. Em 1910, sua mãe, Maria Emília, seguiu o marido, acompanhada da filha mais velha, Olinda (1907-1931), e de Carmen, que tinha menos de um ano de idade.[32][33] Carmen nunca voltou ao país onde nascera. A câmara municipal de Marco de Canaveses deu seu nome ao museu municipal.

No Rio de Janeiro, seu pai abriu um salão de barbeiro na rua da Misericórdia, número 70, em sociedade com um conterrâneo. A família estabeleceu-se no sobrado acima do salão. Mais tarde mudaram-se para a rua Joaquim Silva, número 53, na Lapa.

No Brasil, nasceram os outros quatro filhos do casal: Amaro (1911), Cecília (1913-2011), Aurora (1915-2005)[34] e Óscar (1916).[32]

Carmen estudou na escola de freiras Santa Teresa, na rua da Lapa, número 24. Teve o seu primeiro emprego aos 14 anos numa loja de gravatas, e depois numa chapelaria. Contam que foi despedida por passar o tempo cantando, mas o seu biógrafo Ruy Castro diz que ela cantava por influência de sua irmã mais velha, Olinda, e que assim atraía clientes.[35]

Nesta época, a sua família deixou a Lapa e passou a residir num sobrado na Travessa do Comércio, número 13. Em 1925, Olinda, acometida de tuberculose, voltou a Portugal para tratamento, onde permaneceu até sua morte em 1931. Para complementar a renda familiar, sua mãe passou a administrar uma pensão doméstica que servia refeições para empregados de comércio.

Em 1926, Carmen, que tentava ser artista, apareceu incógnita em uma fotografia na sessão de cinema do jornalista Pedro Lima da revista Selecta.

1928—1939: O início da carreira artística e consagração

Interpretado por Carmen Miranda e Mário Reis, gravado em 1934

Interpretado por Carmen Miranda e Mário Reis, gravado em 1933

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No estúdio da rádio Mayrink Veiga, 1932, o jovem Manuel de Nóbrega, aos 19 anos ( 2º em pé da esq para dir) Carmen e Aurora Miranda (sentadas) segurando a flauta Pixinguinha.
Na edição de fevereiro de 1935 da revista A Scena Muda (1921-1955).

Em 1928, o deputado baiano Aníbal Duarte apresentou Carmen Miranda a Josué de Barros. Josué trabalhava na Rádio Sociedade Professor Roquete Pinto (atual Rádio MEC) e levou Miranda para atuar na emissora. Ele então a apresentou ao diretor da Brunswick e em 1929, ela gravou sua primeira música, o samba "Não Vá Sim'bora", com autoria de Josué. Carmen Miranda foi então apresentada ao diretor da gravadora RCA Victor, onde iniciou sua carreira gravando "Dona Balbina" e "Triste Jandaia". Meses depois foram lançadas as músicas "Barucuntum" e "Iaiá Ioiô".[36]

O famoso compositor e médico Joubert de Carvalho compôs a música "Taí" com a marcha-canção "Pra Você Gostar de Mim" gravada por Miranda em 1930, a canção foi um sucesso e o disco vendeu 35 mil cópias no ano de lançamento, recorde para a época, Carmen Miranda era então aclamada pela crítica como "a maior cantora do Brasil".

Como muitos dos primeiros atores no Brasil, Carmen Miranda era já uma estrela bem estabelecida da música popular e do rádio, a sua transição para o cinema, e seu sucesso na indústria fonográfica lhe garantiu um lugar nos primeiros filmes sonoros lançados na década de 1930. Sua carreira no Brasil foi intimamente ligada com o gênero de filmes musicais que se baseou em tradições carnavalescas do país, e as celebrações anuais e estilos musicais da cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, em particular.[37]

Em 1926, ela apareceu como figurante no filme A Esposa do Solteiro, e quatro anos depois assinou contrato para Degraus da Vida, que não chegou a ser rodado. Miranda também apresentou um número musical em O Carnaval Cantado no Rio (1932), o primeiro documentário sonoro sobre o tema popular, e três músicas em A Voz do Carnaval (1933), que combinou imagens reais das celebrações do carnaval de rua no Rio com um enredo fictício que fornecia infinitos pretextos para números musicais.

Sua aparição seguinte no cinema foi em Alô, Alô, Brasil (1935), e seu status de estrela da música popular foi refletido no fato dela ter sido escolhida para se apresentar no número de encerramento do filme, a marcha "Primavera no Rio", que ela havia gravado pela RCA Victor em agosto de 1934.[38] Carmen Miranda roubou o show com este desempenho e o chefe dos estúdios da CinédiaAdhemar Gonzaga, decidiu torná-lo o musical final do filme, em vez de um número liderado pelo cantor Francisco Alves, como havia sido planejado inicialmente. Poucos meses após o lançamento de Alô, Alô, Brasil, a revista Cinearte declarou: "Carmen Miranda é atualmente a maior figura popular do cinema brasileiro, a julgar pelo número de correspondência que ela recebe".

O êxito do filme levou a Cinédia a chamá-la para um novo musical, Bonequinha de Seda. Esta, por algum motivo não elucidado, provavelmente viagem à Argentina, não aceitou o papel, que foi dado a Gilda de Abreu. Miranda logo passou a ser chamada de "A Pequena Notável" - por causa da estatura baixa, apelido dado nessa época, pelo radialista César Ladeira.[39]

Em seu filme seguinte, Estudantes (1935), foi dado a Carmen Miranda pela primeira vez um papel narrativo. Nesta chamada produção de "meio do ano" lançada para coincidir com os festejos juninos, Carmen interpretou Mimi, uma jovem cantora de rádio (que apresenta dois números no filme), que se apaixona por um estudante universitário desempenhado pelo cantor Mário Reis.

Cartaz do filme Alô, Alô, Carnaval.

Carmen Miranda foi fundamental para o sucesso da próxima co-produção dos estúdios Waldow-Cinédia, o musical Alô, Alô, Carnaval, que contou com um elenco de estrelas do mundo da música popular e do rádio, incluindo a irmã de Carmen, Aurora Miranda. E pelos padrões brasileiros da época Alô, Alô, Carnaval foi uma grande produção. O set reproduziu o interior do luxuoso Cassino Atlântico do Rio, onde algumas das cenas foram filmadas, e os cenários para determinados números musicais. Carmen desempenhou claramente um papel crucial na atração, como é evidenciado por um cartaz anunciando o filme, que inclui apenas uma imagem, uma fotografia de corpo inteiro dela, apoiada aparentemente em um grande cartaz listando os membros do elenco, com o seu nome no topo. Embora em 1936 a versão original do filme desse a Francisco Alves o número final, foi o memorável desempenho de Carmen e Aurora em "Cantoras do Rádio" que conquistou o público. Quando uma cópia restaurada do filme foi lançado em 1974, foi precisamente o seu número musical que foi escolhido para fechar o filme, em reconhecimento do apelo duradouro da fama internacional de Carmen, bem como o valor de entretenimento inerente da performance.

Sua carreira no rádio inclui passagens pela Mayrink Veiga (1932-1936), onde assinou um contrato de dois anos para ganhar dois contos de réis por mês, fato que a tornaria a primeira cantora de rádio a assinar um contrato de trabalho com uma emissora, quando a praxe era o cachê por participação. Em 1936, Miranda assinou com a Tupi, ganhando semanalmente 1 conto de réis. Em novembro de 1937, com o fim do primeiro contrato com a Tupi, a Mayrink a chamou de volta por seis contos de réis mensais, reafirmando sua condição de "a artista mais bem paga do rádio brasileiro".[40] Dois anos depois de ingressar na Odeon, ela já era o mais popular e bem pago nome da música brasileira.[41]

Cartaz do filme Banana da Terra.

O último filme brasileiro de Carmen Miranda foi outro musical carnavalesco, Banana da Terra (1939).[42] Mais uma vez o enredo cômico do filme, era essencialmente uma construção para encadear os vários números musicais. A história começa na ilha fictícia do Oceano Pacífico, a Bananolândia, que produziu muita banana naquele ano e não teve compradores para o produto. A rainha da terra, interpretada pela cantora Dircinha Batista, foi avisada pelo conselheiro-mor, interpretado pelo ator cômico Oscarito, que devia vender banana para o Brasil. E isso ela consegue, por meio de uma intensa propaganda feita pelos jornais e pelo rádio. A ação gira em seguida, no ambiente cosmopolita dos casinos do Rio de Janeiro facilitando a inclusão de uma série de apresentações musicais. Pretendia-se que os dois pontos altos do filme fosse o desempenho por Carmen Miranda em "Boneca de Pixe", em um dueto com o apresentador de rádio Almirante, e sua performance solo em "Na Baixa do Sapateiro", composta por Ary Barroso. No entanto, Barroso exigiu mais dinheiro para o uso de suas composições, revelou-se impossível chegar a um acordo e as canções foram retiradas do filme, embora os dois respectivos cenários tenham sido criados, e os figurinos e maquiagem planejado. Para economizar tempo e dinheiro, Wallace Downey, o produtor do filme, decidiu simplesmente usar os cenários existentes e figurinos na performance de duas novas canções, a macha "Pirulito" e "O Que É que a Baiana Tem?". A única parte do filme que sobreviveu ao tempo é a seqüência em que Carmen executa a canção de Dorival Caymmi, além de cinco fotografias de seu dueto com Almirante da canção Pirulito. De acordo com a letra da música, Carmen apareceria vestindo o traje de "baiana", e foi esta versão estilizada de seu figurino que instaurou o estilo que a consagrou no mundo todo.

Em 1940, era lançado Laranja da China, filme da trilogia da qual fazia parte Banana da Terra. Estreado quando Carmen já estava nos EUA, não podendo mais contar com a participação da artista, mas capitalizando em cima da sua popularidade, reaproveitou-se de Banana da Terra a cena em que ela aparece cantando "O Que É que a Baiana Tem?".[43]

Quando se apresentava no Cassino da Urca, nos dias que antecederam o carnaval de 1939, vestida como "baiana", e acompanhada pelo Bando da Lua, Carmen Miranda chama a atenção do produtor norte-americano Lee Shubert, dono da Select Operating Corporation, que administrava metade dos teatros da Broadway, o empresário ficou impressionado com o seu talento e a contrata para seu espetáculo intitulado "The Streets of Paris". Mas a execução do contrato não foi imediata, pois Miranda fazia questão de levar consigo o Bando da Lua, apesar de Shubert estar apenas interessado nela. O impasse foi resolvido graças à intervenção de Alzira Vargas, que garantiu o embarque dos integrantes do Bando da Lua.[44] Carmen Miranda então partiu no navio S.S. Uruguay em 4 de maio de 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial.

A exótica "baiana" agradou aos norte-americanos, mas despertou polêmica entre os brasileiros, com suas vestes estilizada e o arranjo de frutas tropicais que carregava sobre a cabeça – marcas definitivas de sua imagem – Carmen Miranda, acabou por expor ao mundo uma visão caricata e estereotipada do Brasil. No auge da “política de boa vizinhança” entre os Estados Unidos e a América Latina, sua imagem era explorada pelos estúdios à exaustão. Tal exposição internacional fez despertar na intelectualidade brasileira um certo sentimento de desprezo por sua figura.[45]

Em uma apresentação no Cassino da Urca em 15 de julho de 1940, depois de sua volta dos Estados Unidos, com a presença de políticos importantes do Estado Novo, foi apupada pelos que a consideravam "americanizada". Entre os seus críticos havia muitos que eram simpatizantes de correntes políticas contrárias a norte-americana. Dois meses depois, Carmen Miranda voltaria ao mesmo palco e seria fartamente aplaudida por uma platéia mais afeita ao seu repertório, então já atualizado com respostas como "Disseram que Voltei Americanizada", especialmente composta por Vicente Paiva e Luiz Peixoto, no mesmo mês gravou seus últimos discos no Brasil.[46]

1939—1940: Estreia na Broadway e carreira no cinema americano

Bud Abbott (esquerda) e Lou Costello com Carmen Miranda.

Miranda chegou à Nova Iorque em 18 de maio. Ela e o Bando da Lua fizeram sua primeira apresentação na Broadway em 19 de junho de 1939, em As Ruas de Paris, uma revista musical estrelada por Bobby Clark, os comediantes Abbott & Costello, Luella Gear e o cantor Jean Sablon entre os principais artistas. Era uma produção de Ole Olsen e Chic Johnson em parceria com Lee Shubert, e estreou inicialmente no Shubert Theatre de Boston em 29 de maio de 1939. Embora a parte de Miranda fosse pequena, ela recebeu boas críticas e se tornou uma sensação na mídia.

De acordo com o crítico de teatro do New York TimesBrooks Atkinson, a maioria dos números musicais era "de mau gosto" se comparadas as genuínas revistas parisienses, Atkinson continua, mas foram os "Sul-americanos que contribuíram com a personalidade mais magnética" da revista. Carmen Miranda canta as suas "rápidas canções acompanhadas de uma banda brasileira. O calor que ela irradia vai sobrecarregar as fábricas de ar-condicionado neste verão”.[48]

O colunista Walter Winchell relatou em sua coluna no Daily Mirror, que uma nova estrela tinha nascido que salvaria a Broadway da queda nas vendas de bilhetes causada pela popularidade da Feira Mundial de Nova Iorque de 1939. O elogio de Winchell para Carmen e seu Bando da Lua foi repetido em seu programa diário na rede de rádio ABC, que atingia 55 milhões de ouvintes. A imprensa elogiou Miranda como "A garota que está salvando a Broadway da Feira Mundial".[49]

O revisor teatral da revista Life escrevendo sobre o show disse, "perto do final do primeiro ato de Streets of Paris uma jovem chamativa vestindo uma roupa estranha de cores vivas se contorce através das cortinas e começa a confundir o público já deslumbrado em um breve número de canções em português. Em parte porque sua melodia incomum e ritmos fortemente acentuados são diferentes de tudo já ouviu falar em uma revista musical em Manhattan antes, em parte porque não há nenhum significado, exceto os olhos insinuantes de Carmen Miranda, ela e suas músicas são hit do show".[50]

A revista Time escreveu que “ela é a garota que para o show, que todos admiram, e a qual todos se sentem atraídos”. Um crítico resumiu seu surpreendente apelo: "ela é a maior sensação teatral do ano".[51] A revista foi um sucesso e permaneceu em cartaz em Nova Iorque por todo um semestre, totalizando 274 apresentações.[52] Sendo depois levada para PittsburghFiladélfiaBaltimore e Washington D.C, chegando a ChicagoDetroit e Cleveland. Em 5 de março de 1940, ela fez uma performance perante o presidente Franklin D. Roosevelt durante um banquete na Casa Branca.

Assim que a notícia da mais recente estrela da Broadway, chamada de "Brazilian Bombshell", chegou a Hollywood, a Twentieth Century-Fox começou a desenvolver um filme para apresentá-la. Lançado em 1940, Serenata Tropical foi um grande sucesso, e criou um tipo de musical hollywoodiano totalmente novo, que definiria em grande parte o avançado estilo da Fox durante a década seguinte, apresentando o popular Don Ameche e a novata Betty Grable, o filme se tornou o musical número 1 do estúdio naquele ano, gerando uma receita de $2 milhões de dólares, e três indicações ao Oscar.[53] Produzido por Darryl F. Zanuck, o filme era uma refilmagem de Romance do Sul, de 1938, e levou mais de 10 meses de filmagem para ser concluído, na ocasião, a mais longa na história da companhia.[54] No enredo, os personagens principais viajam a Argentina, onde visitam o clube noturno "El Trigre", e onde encontram Carmen Miranda, como ela mesma, cantando os números do seu musical da Broadway, e apesar de não interagir com o elenco sua performance recebeu elogios por parte da crítica. Ted Sennet, em seu livro Hollywood Musicals escreve que "Carmen Miranda canta com uma energia que ameaça fazer desabar o absurdamente alto e enfeitado turbante em sua cabeça"[55] Down Argentine Way é considerado o primeiro de muitos filmes feito pela Fox para implementar a chamada "Política de Boa Vizinhança" do presidente Franklin D. Roosevelt em relação à América Latina. Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos desenvolveu uma agência administrativa para incentivar as boas relações com a América Latina, devido a crescente influência nazista na região. O Escritório de Assuntos Inter-Americanos foi criado para promover e estimular especificamente a produção de filmes de "boa vizinhança". A produção de Down Argentine Way antecedeu a criação do Gabinete de Assuntos Interamericanos, mas foi provavelmente influenciado pela política de administração de Roosevelt. Os filmes eram muito populares nos Estados Unidos, mas não bem sucedido como propaganda destinada a América Latina porque faltava autenticidade regional.[56] Carmen Miranda assinou um contrato com a Fox em 1940, enquanto estava aparecendo em The Streets of Paris, como não poderia ir a Hollywood, seus números para o filme foram filmados em Nova Iorque.[57]

1941—1945: Estrelato na Fox

Carmen Miranda com Don Ameche, em Uma Noite no Rio (1941).
A smiling Miranda, in costume, holds up her hands after leaving her prints outside Grauman's Chinese Theatre.
Em 1941, Miranda foi convidada a deixar suas pegadas no Grauman's Chinese Theatre.

Durante os anos de guerra, Carmen Miranda estrelou oito de seus catorze filmes; embora os estúdios a chamassem de Brazilian Bombshell, seus papéis no cinema tinham uma identidade latino-americana indefinida. Com o lançamento de Uma Noite no Rio do diretor Irving Cummings, a Variety escreveu: "[Don] Ameche convence em um papel duplo, e [Alice] Faye é atraente de ser ver, mas é a tempestuosa Carmen Miranda que realmente se destaca a partir da primeira seqüência".[58] O New York Times disse: "sempre que Don Ameche ou outro dos personagens sai do caminho e deixa que [Carmen] Miranda fique com a tela, o filme ferve em malícia".[59] Anos mais tarde, Clive Hirschhorn escreveu que That Night in Rio "era o ápice do musical do tempo de guerra da Fox - exageradamente aparamentado, e uma totalmente irresistível cornucópia de ingredientes escapistas, cujo total profissionalismo era tão deslumbrante quanto a cor, os cenários, os trajes e a quantidade de garotas despejadas no filme".[60]

Em 24 de março de 1941, Carmen Miranda tornou-se a primeira latino-americana ser convidada a colocar suas mãos e pegadas no cimento do pátio do Grauman's Chinese Theatre.[61]

O seu trabalho seguinte, Aconteceu em Havana (1941) foi dirigido por Walter Lang com William LeBaron como produtor. O elenco incluía Alice FayeJohn Payne e Cesar Romero. Depois desse terceiro esforço para ativar o "quente segue latino", a Fox foi apelidada por Bosley Crowther de "a melhor vizinha em Hollywood".[62] O musical recebeu críticas variáveis em seu lançamento, René Reyna, um crítico de cinema cubano, chamou-o de "um parto de sete meses de Hollywood". No entanto, o filme rendeu de bilheteria mais do que se previa, quando estreou em 17 de outubro de 1941 no Grauman's Chinese Theatre tornou-se o filme mais rentável daquela semana, acima de Cidadão Kane. Segundo o Levantamento Nacional de Bilheteria, realizado pela revista VarietyAconteceu em Havana rendeu mais de 1 milhão de dólares nos últimos 3 meses de 1941.[63]

Carmen Miranda em 1943.

Depois do termino das filmagens, Carmen Miranda e o Bando da Lua voltaram à Nova Iorque, para mais um musical da Broadway chamado Sons o' Fun, que estreou no Shubert Theater de Boston em 31 de outubro de 1941. Em relação a estreia, a Variety declarou que "alguns bons números especiais fazem crescer o seu valor de bilheteria, e Carmen Miranda é um deles". Com o sucesso em Boston, o musical chegou ao Winter Garden Theatre de Nova Iorque. O crítico do New York Herald Tribune, Richard Watts Jr., escreveu que as performances de Carmen Miranda dava "ao show um toque de distinção".[64] Sons O'Fun tornou-se o principal espetáculo da Broadway naquele ano, rendendo mais de 41 mil dólares em sua primeira semana, permanecendo em cartaz por 742 dias. Em 1 de junho de 1942, Carmen Miranda deixou a produção; ela partiu de volta à Hollywood.[65] Neste mesmo período, ela fez algumas gravações para a Decca Records.

Em 1942, a 20th Century-Fox pagou US$ 60 mil para Lee Shubert encerrar seu contrato com Miranda, que terminou a turnê de Sons O'Fun e começou a filmar Minha Secretária Brasileira, uma comédia musical estrelada ao lado de Betty Grable, com John Payne e Cesar Romero. O filme tornou-se um sucesso comercial, chegando a entrar para a lista dos mais rentáveis do ano, rendendo ao estúdio mais de 2 milhões de dólares em faturamento. De acordo com uma crítica do Chicago Tribune, o filme era "insensato, mas intrigante para os olhos, o enredo básico é espirrado com músicas e danças, e os olhos e mão de Carmen Miranda".[66]

Em 1943, ela apareceu em Entre a Loura e a Morena de Busby Berkeley. Os musicais de Berkeley eram famosos por seu espírito inovador e maestria com a câmera, e o papel de Carmen Miranda como Dorita caracterizou definitivamente sua carreira como a "The Lady in the Tutti-Frutti Hat". Até então, Miranda parecia estar presa a papéis exóticos, e seu contrato com o estúdio ainda a forçava a aparecer em eventos com seus figurinos extravagantes. Uma música que ela gravou, I Make My Money With Bananas, parecia prestar homenagem um tanto irônica ao seu "typecasting". The Gang's All Here foi um dos 10 filmes de maior bilheteria de 1943 e a produção mais cara do Fox no ano, além disso recebeu uma indicação ao Oscar de melhor direção de arte. Recebeu críticas positivas, o New York Times escreveu: "Sr. Berkeley esconde ideias maliciosas por trás dessas cenas, um ou dois de seus espetáculos de dança parecem provir diretamente de Freud".[67]

No ano seguinte, Miranda fez uma aparição em Quatro Moças num Jipe, um filme baseado numa aventura real das atrizes Kay FrancisCarole Landis, Martha Raye e Mitzi Mayfair. O elenco conta com as participações de Alice Faye e Betty Grable, em aparições curtas, cada qual cantando um de seus antigos sucessos numa estação de rádio, como se estivessem sendo transmitidos para os soldados.

Em 1944, Miranda também estrelou com Don Ameche em Serenata Boêmia, um musical da Fox com William Bendix e Vivian Blaine. O filme foi mal recebido; para o New York Times a formula Miranda-Ameche perdera a magia, principalmente porque "Don Ameche representa com o ar de um substituto". Peggy Simmonds, em sua revisão para o Miami Daily News disse que "felizmente Serenata Boêmia é feito em Technicolor e tem Carmen Miranda. Infelizmente para Carmen Miranda, a produção não lhe faz justiça, o efeito geral é decepcionante. Ela não tem a vantagem de ter boas falas como em seus últimos filmes, mas ainda assim brilha sempre que aparece".[68]

O terceiro filme com Carmen Miranda lançado em 1944 foi Alegria, Rapazes!, uma comédia baseada num musical de sucesso da Broadway do ano anterior, com música e letras de Cole Porter. Este seria o primeiro dos seus filmes sem William Le Baron ou Darryl F. Zanuck como produtor. No lugar deles, o responsável pela produção era Irving Starr, encarregado da segunda linha de filmes de estúdio. Para a revista Time o filme "acaba por ter nada de muito notável".[69]

Em 1945, Carmen Miranda foi a mulher mais bem paga dos Estados Unidos, segundo o Departamento do Tesouro, ganhando mais de 200 mil dólares no ano.[70]

1946—1955: Declínio e últimos filmes

Sonhos de Estrela (1945), primeiro filme em preto-e-branco de Carmen Miranda para a Fox.
Andy Russell e Carmen Miranda em uma cena do filme Copacabana (1947).

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os filmes seguintes de Carmen Miranda na 20th Century Fox foram feitos em preto-e-branco, o que refletia o interesse cada vez menor de Hollywood nela e na representação dos latino-americanos em geral. A Carmen monocromática apresentada nestes musicais não era o que o público esperava, e isso, sem dúvida, contribuiu para reduzir o apelo de bilheteria do musical Sonhos de Estrela (1945), no qual Miranda foi rebaixada para a quarta posição no elenco. Seu papel de Chita Chula era anunciado no filme como "a pequena dama do Brasil", e não passava de um personagem cômico infinitamente alegre confidente da personagem principal, Doll Face interpretada por Vivian Blaine. A crítica do New York Herald Tribune dizia: "Carmen Miranda faz o que sempre fez, só que não tão bem"; de acordo com o The Sydney Morning Herald, "Carmen Miranda aparece em apenas um número musical. O resultado não é um sucesso, mas a culpa é do diretor não de Carmen".[71]

Seu filme seguinte, Se Eu Fosse Feliz (1946), uma refilmagem de Mil Vezes Obrigado (1935) foi feito quando ela não estava mais sob contrato com estúdio, e Miranda foi novamente o quarto nome do elenco, nele havia todos os elementos que caracterizavam seus últimos personagens: o forçado sotaque caricato, além de seus figurinos característicos. Lançado em 2 de setembro de 1946, o filme recebeu críticas desfavoráveis por parte da imprensa, Bosley Crowther do The New York Times chamou de "uma das mais ridículas histórias que já impressionou".[72]

Se em 1945 Carmen Miranda se tornara a mulher mais bem paga dos EUA, em 1946 seu nome não aparecia na lista dos "30 mais bem pagos de Hollywood" coligida por Variety, e nenhum dos seus filmes figurava entre os "60 mais rentáveis daquele ano".[73] Com o fim de seu contrato em 1 de janeiro de 1946, ela tomou a decisão de prosseguir a sua carreira de atriz livre das limitações dos estúdios. Sua ambição era mudar sua imagem e assumir papéis diferentes no cinema, com isso aceitou uma oferta da United Artists de desempenhar o principal papel na comédia Copacabana ao lado de Groucho Marx.[74] No entanto, fragmentos de sua velha caricatura foram mantidos neste musical, no qual ela interpreta dois papéis distintos, o da loira Mademoiselle Fifi, e o da cantora brasileira Carmen Navarro. Copacabana recebeu críticas positivas e obteve breve sucesso em Nova Iorque, a Variety reconheceu que "Miranda deu bem conta do papel semiduplo, brilhando na comedia". Porém o filme não atraiu comentários entusiásticos nem as multidões que os musicais da Fox haviam atraído durante a guerra, e por melhor que fosse a sua atuação, representar dois papéis quase idênticos ao dos seus antigos filmes, significava que ela não havia conseguido escapar do seu esteriótipo.[75]

Seu projeto seguinte no cinema foi um filme produzido por Joe Pasternak para a MGMO Príncipe Encantado, lançado em 1948, era uma comédia em que Miranda aparece a maior parte das vezes sem a roupa de "baiana", utilizando trajes simples porém atraentes, criados por Helen Rose. Os críticos concordaram que ela era o melhor que um filme sem maior interesse tinha a oferecer, o New York Times observou que "os momentos mais alegres" cabiam a Carmen Miranda, "cuja voz permanece uma fonte de delicado espanto para este observador".[72] O sucesso de bilheteria foi tal que no final de 1948 A Date with Judy ficou em nono lugar na lista dos espetáculos mais rendosos, o primeiro lugar foi de A Caminho do Rio um filme que se destacava pela imitação que Bob Hope fazia de Carmen Miranda.[76]

Embora sua carreira cinematográfica estivesse em declínio, a carreira musical de Carmen Miranda permaneceu sólida, ela ainda era uma atração popular em casas noturnas e na televisão. De 1948 a 1950, Miranda se uniu com Andrews Sisters para produzir e gravar uma série de singles pela Decca Records. Na primavera de 1948, Miranda embarcou em uma turnê de seis semanas no London Palladium, a partir de 26 de abril. A Europa, e especialmente Londres, era então o principal escoadouro para os artistas americanos durante o pós-guerra.

Em 1950 Carmen Miranda apareceu em uma outra produção de Joe Pasternak, o musical Romance Carioca, uma refilmagem de It's a Date, era estrelado por Ann Sothern e Jane Powell com Barry Sullivan e Louis Calhern no elenco principal. O St. Petersburg Times descreve-o como "um filme totalmente agradável" mas "o technicolor não é muito gentil com Ann Sothern, que parece muito mais velha, ou para uma loira Carmen Miranda, que perde um pouco de sua atratividade".[77]

Em seu último filme, Morrendo de Medo (1953) estrelado pela dupla Dean Martin e Jerry Lewis, ela acabou representando um papel secundário e que pouco aparece na história, o filme foi duramente criticado, o New York Times disse que "Embora Miranda apareça cheia de animação e execute uma duas vezes o seu tipo especial de dança e canto, seu único serviço apreciável é dar a deixa para Lewis num número em que faz uma imitação dela, que não é nada boa".[78] A maioria de suas cenas foi eliminada na sala de montagem.[79] Ainda em 1953, Miranda empreendeu uma excursão pela Europa, uma turnê de shows que levou-a a 14 cidades na ItáliaSuécia (chegou a receber simbolicamente as chaves da cidade de Estocolmo), FinlândiaBélgica e Dinamarca.[80]

Desde o início de sua carreira americana, Carmen Miranda fez uso de barbitúricos para poder dar conta de uma agenda extenuante. Adquiria as drogas com receitas médicas pois, na época, elas eram receitadas pelos médicos sem muitas preocupações com efeitos colaterais. Nos Estados Unidos, tornou-se dependente de vários outros remédios, tanto estimulantes quanto calmantes. Por conta do uso cada vez mais frequente, Miranda desenvolveu uma série de sintomas característicos do uso de drogas, mas não percebia os efeitos devastadores, que foram erroneamente diagnosticados como estafa (cansaço) por médicos americanos.

Em 3 de dezembro de 1954, ela retornou ao Brasil após uma ausência de 14 anos viajando, Carmen Miranda continuava casada e estava passando por problemas conjugais com o marido. Seu médico brasileiro constatou a dependência química e tentou desintoxicá-la. Para isso ela precisou ficar internada por quatro meses numa suíte do hotel Copacabana Palace. Miranda melhorou, embora não tenha abandonado completamente os remédios. Os exames realizados no Brasil não constataram alterações de frequência cardíaca.

Ligeiramente recuperada, Carmen Miranda retornou para os Estados Unidos em 4 de abril de 1955. Imediatamente começou com as apresentações. Fez uma turnê por Las Vegas, para a inauguração do Cassino New Frontier, onde ficou por seis semanas, em seguida embarcou para uma temporada de duas semanas no clube Tropicana em HavanaCuba.[81]

De volta a Los Angeles, ela recebeu uma proposta da CBS de ter seu próprio programa semanal na televisão, "The Carmen Miranda Show", que seria co-estrelado com Dennis O'Keefe, em um gênero parecido com I Love Lucy.[82] Mas antes disso, concordou em gravar uma participação no programa de Jimmy Durante para a NBC em 4 de agosto de 1955.

Morte

“Foi numa tarde em 1942. A Igreja estava vazia, a não ser uma moça que rezava contritamente diante do altar de Nossa Senhora das Graças. Uma senhora havia me trazido uma criança para batizar, mas, por morar muito longe daqui, e não poder pagar as passagens para alguém vir, não trouxera madrinha para o filho. Aproximei-me, então, da moça que orava e perguntei-lhe se me faria aquele favor, de repetir, pela criança, as palavras do batismo. Ela concordou imediatamente, serviu como madrinha do bebê. Depois. mandou o seu carro branco buscar o resto da família da pobre senhora para uma festa de batizado na sua casa. Eu soube, então, que a moça era a estrela Carmen Miranda e sua simplicidade deixou-me uma profunda impressão, solidificada, depois, pelas suas constantes vindas à Igreja que se lhe tomou um segundo lar, dando-nos ela um altar novo para Nossa Senhora.”

— Palavras do padre Joseph na missa do funeral de Carmen Miranda, agosto de 1955

Carmen Miranda foi encontrada morta em um corredor de sua casa em Beverly Hills na manhã de 5 de agosto de 1955. A atriz havia terminado na noite anterior as filmagens de um episódio do The Jimmy Durante Show para a NBC. Após o último take, Miranda e Durante fizeram uma performance improvisada no set para o elenco e técnicos. E em seguida alguns membros do elenco e amigos foram convidados por ela para uma pequena festa em sua casa.

Era cerca de 03:00 quando ela subiu as escadas para seu quarto. Miranda tirou a roupa, colocou seus sapatos de plataforma em um canto, acendeu um cigarro e colocou-o em um cinzeiro e foi ao banheiro retirar a maquiagem. Carmen Miranda aparentemente veio do banheiro com um pequeno espelho circular na mão, e no pequeno corredor que leva a seu quarto, caiu no chão e morreu de um ataque cardíaco, ela tinha 46 anos. Seu corpo foi encontrado por volta das 10:30, caído no corredor.

Seu médico particular, Dr. WL Marxer, foi chamado as pressas, mas ela já estava morta. Ele disse ao Los Angeles Times que Carmen Miranda não tinha histórico de problemas cardíacos e que, além de uma breve bronquite nas últimas semanas a estrela encontrava-se em perfeita saúde.[83]

Funeral

Ficheiro:Vídeo Agência Nacional 83.webm
Funeral de Carmem Miranda. Cinejornal Informativo n.34/55 (1955).Imagem do Fundo Documental Agência Nacional.
Cortejo fúnebre de Carmen Miranda, na Cinelândia, tendo Palácio Monroe ao fundo.
O tumulo de Carmen Miranda no Cemitério São João Batista, na cidade do Rio de Janeiro.

Aurora Miranda, sua irmã, recebeu na mesma madrugada um telefonema do médico de Carmen avisando sobre o falecimento. Heron Domingues, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, foi o primeiro a noticiar a morte da cantora em edição extraordinária do Repórter Esso. Todas as emissoras interromperam suas programações para darem, em edição extra, o triste acontecimento. Edições extras de jornais ainda circularam no próprio dia 5, no sábado era manchete em todos os jornais do país e do mundo.

Somente na manhã do dia 12 de agosto, o avião Douglas DC-4 Skymaster da Real-Aerovias Brasil, em voo especial, pousava no Aeroporto do Galeão, no Rio, trazendo o corpo de Carmen Miranda.[84] Em um caminhão aberto do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal e envolto com a bandeira do Brasil, o ataúde de bronze foi levado para o centro da cidade escoltado por batedores da Policia Especial em motocicletas, com sirenes abertas. Por todo o trajeto milhares de pessoas se despediram. Antes da saída do cortejo, o presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Salomão Filho, falou dando o último adeus, em nome da cidade, à artista.[85] Sessenta mil pessoas compareceram ao seu velório realizado no saguão da Câmara Municipal da então capital federal. O cortejo fúnebre até o Cemitério São João Batista foi acompanhado por cerca de meio milhão de pessoas que cantavam esporadicamente, em surdina, "Taí", um de seus maiores sucessos. Foi a maior manifestação popular feita no Rio de Janeiro até hoje.[86]

No ano seguinte, o prefeito do Rio de Janeiro Francisco Negrão de Lima assinou um decreto criando o Museu Carmen Miranda, o qual somente foi inaugurado em 1976 no Aterro do Flamengo.[87] Hoje, uma herma em sua homenagem se localiza no Largo da Carioca, Rio de Janeiro.[88]

Vida pessoal

Carmen Miranda e David Sebastian (1947).

No Brasil, Carmen Miranda namorou o jovem Mário Cunha, remador do Flamengo e o bon vivant Carlos Alberto da Rocha Faria, filho de uma tradicional família carioca. Na década de 1930 Carmen manteve um relacionamento amoroso com o músico Aloysio de Oliveira, integrante do Bando da Lua, de quem chegou a engravidar, mas fez um aborto, pois estava no auge de sua carreira e não queria ter filhos no momento.

Nos Estados Unidos, manteve breves romances com o mexicano Arturo de Córdova, os americanos John PayneDana Andrews, Harold Young e Donald Buka, além de uma paixão tórrida com o brasileiro Carlos Niemeyer, na época piloto da Força Aérea Brasileira.[89]

Foi durante as filmagens de Copacabana (1947) que Carmen Miranda conheceu seu futuro marido, David Sebastian (1908-1990), que nos créditos aparece como assistente de produção. Cuidava dos interesses do irmão, co-financiador do filme.[90] Os dois se casaram no dia 17 de março de 1947 na Igreja do Bom Pastor em Beverly Hills, em uma cerimônia celebrada pelo reverendo Patrick J. Concannon. O casamento é apontado por todos os seus biógrafos como o começo de sua decadência moral e física. Seu marido, antes um simples empregado de produtora de cinema, tornou-se seu "empresário" e conduzia mal seus negócios e contratos. Também era alcoólatra, agredia e humilhava Carmen, e a estimulou a consumir bebidas alcoólicas, das quais logo se tornaria dependente. O relacionamento entrou em crise já nosCarmen Miranda era uma católica convicta e não aceitava o divórcio. Após diversas tentativas frustradas para conseguir ser mãe, onde por um ano fez diversos tratamentos, ela conseguiu engravidar em 1948, mas sofreu um aborto espontâneo no início da gestação, em Nova Iorque, depois de uma apresentação, e ficou hospitalizada por alguns dias. Devido a forte hemorragia, que comprometeu seu aparelho reprodutor, a artista descobriu ter ficado estéril, o que agravou demais suas crises de depressão, levando a um uso excessivo e descontrolado de bebidas, cigarros, antidepressivos, ansiolíticos e calmantes.

Filmografia

AnoTítulo originalTítulo em portuguêsPersonagemNota
1932O Carnaval Cantado de 1932Ela mesmaPerformance: "Bamboleô"[92]
1933A Voz do CarnavalEla mesmaPerformance: "E Bateu-se a Chapa", "Moleque Indigesto" e "Good-Bye"
1935Alô, Alô, BrasilEla mesmaPerformance: "Primavera no Rio"
EstudantesMimi
1936Alô, Alô, CarnavalEla mesmaPerformance: "Cantores de Rádio" e "Querido Adão"
1939Banana-da-TerraEla mesmaPerformance: O Que É que a Baiana Tem?" e "Pirulito"
1940Laranja da ChinaEla mesmaPerformance: O Que É que a Baiana Tem?
Down Argentine WaySerenata TropicalEla mesma
1941That Night in RioUma Noite no RioCarmen
Week-End in HavanaAconteceu em HavanaRosita Rivas
1942Springtime in the RockiesMinha Secretária BrasileiraRosita Murphy
1943The Gang's All HereEntre a Loura e a MorenaDorita
1944Four Jills in a JeepQuatro Moças num JipeEla mesma
Greenwich VillageSerenata BoêmiaPrincess Querida O'Toole
Something for the BoysAlegria, Rapazes!Chiquita Hart
1945Doll FaceSonhos de EstrelaChita Chula
1946If I'm LuckySe Eu Fosse FelizMichelle O'Toole
1947CopacabanaCopacabanaCarmen Novarro / Mlle. Fifi
1948A Date with JudyO Príncipe EncantadoRosita Conchellas
1950Nancy Goes to RioRomance CariocaMarina Rodrigues
1953Scared StiffMorrendo de MedoCarmelita Castinha

Canções mais famosas

Será mantida a grafia original do lançamento

Discografia

Coletâneas

  • 1999 - "Carmen Miranda"
  • 1999 - "Carmen Miranda - A Pequena Notável"
  • 2000 - "Carmen Miranda- Raízes do Samba".
  • 2002 - "A Nossa Carmen Miranda - Remasterizado".
  • 2003 - "South American Way"
  • 2003 - "O que é que a Baiana Tem"
  • 2003 - "Box Carmen Miranda"
  • 2003 - "O melhor de Carmen Miranda"
  • 2004 - "O que é que a Baiana Tem? Remasterizado"
  • 2005 - "Tico Tico"
  • 2005 - "Edição Limitada - Carmen Miranda"

Homenagens

Por sua contribuição à indústria do entretenimento, Carmen Miranda tem uma estrela na Calçada da Fama.
Exposição Universo Tropical no Fashion Rio em 2011.
O Turbante de Carmen Miranda foi exibido na Exposição “Camp: Notes on Fashion”, no The Metropolitan Museum of Art, em Nova York.[94]

Carmen Miranda se consagrou em 1941, ao ser a primeira e única luso-brasileira até hoje, a gravar as mãos e plataformas no cimento da calçada da fama do Grauman's Chinese Theatre em Los Angeles. Em 8 de fevereiro de 1960 ganhou uma estrela póstuma na Calçada da Fama da Hollywood Boulevard. Miranda era a principal atração do Copacabana Night Club, famosa boate nova-iorquina, fundada em 1940 e que existe até hoje em Manhattan. O cartaz do "The Copa" é desde aquela época uma gravura estilizada de Carmen Miranda, em homenagem à cantora.

Carmen Miranda também foi caricaturada em desenhos animados como Tom & JerryPopeye e Looney Tunes, e imitada por Lucille BallBob HopeJerry Lewis e Mickey Rooney.

As imagens de Miranda voltam à cena durante o movimento tropicalista. A cantora viria a ser assumida como um dos ícones tropicalistas, estando presente tanto nas letras de canções (como “Tropicália”, de Caetano Veloso), quanto nas imitações dos trejeitos da artista – o torcer das mãos e o revirar dos olhos – com que Caetano Veloso por mais de uma vez brindou/provocou a plateia.[95]

Em 1972, ela recebeu uma homenagem da Escola de Samba Império Serrano, com o tema "Alô, alô, Taí Carmen Miranda", desenvolvido pelo carnavalesco Fernando Pinto. A Escola de Samba Império Serrano sagrou-se campeã do principal concurso de escolas de samba naquele ano. Em 2008, homenageando Carmen Miranda, a Império Serrano se tornou campeã do Grupo de Acesso A e voltou em 2009 a desfilar no Grupo Especial.[96]

Em 1990, a cantora Rita Lee e seu marido, o músico Roberto de Carvalho, lançaram a música "La Miranda", em homenagem a Carmen. A música foi usada na abertura da novela Lua Cheia de Amor, da Rede Globo, que mostra uma modelo caracterizada com o figurino da atriz.

Em 18 de julho de 1995 foi agraciada postumamente com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. No mesmo ano, ela foi tema do documentário Carmen Miranda: Bananas is my Business, dirigido por Helena Solberg.

Em 25 de setembro de 1998, uma quadra no distrito de Hollywood ganhou o nome de "Carmen Miranda Square", em uma cerimônia liderada pelo antigo prefeito honorário de HollywoodJohnny Grant. Este é um dos doze cruzamentos em Los Angeles que foram nomeados em homenagem a artistas históricos. A praça está localizada no cruzamento da Hollywood Boulevard e Orange Drive, em frente ao Teatro Chinês.[97] Carmen Miranda foi ainda incluída pelo American Film Institute como uma das quinhentas "grandes lendas do cinema".[98]

Em 2002, Miranda foi revivida no musical South American Way, produção orçada em R$ 1,2 milhão e dirigida por Miguel Falabella.[99][100]

Em 2005, o jornalista Ruy Castro lançou pela editora Companhia das Letras uma biografia de seiscentas páginas sobre Carmen Miranda. O livro é considerado a mais completa obra sobre a cantora.[101]

Em 2007, a BBC produziu Carmen Miranda - Beneath the Tutti Frutti Hat, um documentário de uma hora sobre a vida da artista, mapeando sua ascensão de origem humilde para se tornar uma das mais famosas cantoras do Brasil, antes de conquistar a Broadway e Hollywood. A produção apresenta entrevistas com seu biógrafo Ruy Castro, sua sobrinha Carminha Miranda e Mickey Rooney, que a personificou no filme Babes on Broadway (1941).[102]

Em 2009, no ano de seu centenário de nascimento, Miranda foi homenageada pela Academia Brasileira de Letras, e declarada "Patrimônio da Cultura Brasileira".[103] Foi a grande homenageada na edição de 2009 da São Paulo Fashion Week, o maior evento de moda do Brasil, escolhida pela organização do evento por representar a alegria e o brasileirismo colocados como temática dos desfiles daquela edição.[104]

Em 2009, a gravação de O Que É que a Baiana Tem?, de Dorival Caymmi, na voz de Carmen Miranda, foi selecionada para preservação num arquivo sonoro especial da Biblioteca do Congresso dos EUA.[105] No mesmo ano, Carmen Miranda foi agraciada com a Ordem do Mérito Cultural.

Em 2011 foi uma das homenageadas em uma série de selos vendidos nos Estados Unidos. Além dela, outros quatro artistas da música latina aparecem nas imagens: Tito PuenteCelia CruzSelena e Carlos Gardel.[106]

Carmen Miranda ainda foi eleita pela revista Rolling Stone como a 15.ª maior voz e a 35.ª maior artista da música brasileira.[107][108]

Em 2015, o grupo português Real Combo Lisbonense, edita o disco Saudade De Você, na Pataca Discos, com interpretações de algumas de suas mais conhecidas canções.[109]

Carmen Miranda foi eleita pela revista Latina, um dos "quinze melhores dançarinos latinos de todos os tempos".[110]

Durante a cerimônia de encerramento das Olimpíadas Rio 2016, ao som de Tico-tico no Fubá, Carmen Miranda foi homenageada pela cantora Roberta Sá em um número musical.[111]

Legado

Ver artigo principal: Carmen Miranda na cultura popular
Carmen Miranda: a fantasia de baiana estilizada reinou durante muitos anos como emblema do traje típico brasileiro.[112]
Carmen Miranda colocando sua assinatura e suas mãos no Grauman's Chinese Theatre em 24 de março de 1941
Mãos e assinatura de Miranda, fotografada 68 anos depois.

Mesmo depois de sua morte, Carmen Miranda é lembrada por ser talvez a mais importante personalidade artística brasileira de todos os tempos, sendo considerada pelo American Film Institute, uma das "500 grandes lendas do Cinema".[113]

O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein que descrevia seus filmes eram como "duchas que gostava de tomar" depois de ensinar filosofia. Sua imagem também está no elogio do poeta Vinicius de Moraes que comentava que Carmen Miranda "tinha a essência da verve de uma artista".[114]

Para Caetano Veloso, que teve Carmen como uma de suas musas no Tropicalismo, "ela era mais uma ausência do que uma referência nas conversas sobre música popular no Brasil pós-bossa nova", escreveu o cantor e compositor em seu livro Verdade Tropical (1997). "O fato de ela ter se tornado uma figura caricata de que a gente crescera sentindo um pouco de vergonha, fazia da mera menção de seu nome uma bomba de que os guerrilheiros tropicalistas fatalmente lançariam mão", continua Veloso, contando como Carmen Miranda chegou a ser resgatada no final dos anos 1960. "Ela criou um estilo e uma fantasia que sempre me lembram o Charles Chaplin. Para ele, era a cartola e a bengala, e para ela, foi realmente o traço estilizado da baiana".[115]

Para o crítico de cinema do The New York Times, Dave Kehr, Carmen Miranda foi "uma das poucas artistas que atravessaram o espectro cultural, deixando sua marca absurda e pomposa na representação feminina".[116] E a compara como a precursora de Jerry Lewis, que "trouxe uma imprevisível anarquia ao sisudo mercado (norte-americano) de estúdios de filmagem".[117]

Em 1952, uma pesquisa realizada pela revista norte-americana Variety apontou Carmen como a mulher mais imitada dos Estados Unidos.[118] Em Hollywood, ela foi central no cenário estético e tecnológico dos anos 1940. Seus figurinos e coreografias participaram e contribuíram em tendências da moda e até mesmo no desenvolvimento da tecnologia da cor no cinema.[119]

Carmen Miranda também ajudou a encurtar distâncias entre as Américas, o historiador Antonio Pedro Tota, a considera em seu livro o Imperialismo Sedutor, "o elo da então relação amigável entre Brasil e Estados Unidos, explicitada nas telas de cinema. A ideia de propagar a liberdade nas Américas e promover filmes e cinejornais sobre a terra do Tio Sam colocou Carmen Miranda no ápice do universo cinematográfico".[120] E de fato, o seu primeiro longa-metragem, Serenata Tropical (1940), tornou-se o musical número 1 da 20th Century Fox naquele ano.[121]

Para João Batista de Almeida, professor de comunicação da Universidade de Ribeirão Preto, "Carmen Miranda foi a maior embaixadora do Brasil nos EUA naquela época. Uma artista genuinamente brasileira, apesar da sua origem, que representava o país, beneficiado pela imagem dela, em vez de ser representado por uma americana forçadamente versada em latina".[122]

Patolino como Carmen Miranda no curta animado Yankee Doodle Daffy de 1943.

Ela a primeira artista brasileira a lançar moda nos EUA – o “Miranda look”, como ficou conhecido seus figurinos, foi adaptado e usado nas ruas em todo mundo ocidental e ainda hoje influencia muitos estilistas que nela buscam inspiração.[123] Seu sucesso fez com que as luxuosas lojas da Quinta Avenida, em Nova Iorque, substituíam as criações de Dior e Chanel pelas suas fantasias de baiana, sapatos plataforma e turbantes.[124] Na década de 90, Carmen foi requisitada pela moda no Brasil que estava se organizando e tentando estabelecer um calendário unificado para os desfiles. Sua imagem tornou-se tão importante para esse setor que a artista foi resgatada durante todo o processo de estruturação do campo da moda no país.[125]

Para o jornalista e crítico Paulo Francis a personagem Carmen Miranda "é uma criação tão inspirada quanto o Carlitos, de Charlie Chaplin. Não é à toa que ambos foram dois dos precursores do bom humor na arte que desfrutamos hoje".[126]

Helena Solberg, cineasta brasileira que em 1995 dirigiu o filme Carmen Miranda: Bananas is my Business, acredita que "a visão em relação à figura de Carmen Miranda está mudando, as pessoas estão vendo com mais clareza o impacto que ela causou tanto na nossa cultura como na dos Estados Unidos. O legado dela está sendo mais valorizado, na época havia uma elite que não queria ver a imagem do país associada a Carmen e às músicas que cantava. Mas ela continua sendo um ícone tão forte que jamais envelheceu e segue despertando o interesse de diferentes gerações".[127][128]

Em 1995, o Lincoln Center, de Nova Iorque, promoveu espetáculo em lembrança do 40° aniversário de sua morte, com direção de Nelson Motta e participações de Bebel GilbertoAurora MirandaEduardo DussekMaria AlcinaMarília Pêra e outros. Além de tudo, o repertório de Carmen Miranda serviria de molde para cantoras muito posteriores como Gal Costa (Balancê), Elis Regina (Na batucada da vida), Paula Toller (E o mundo não se acabou), Marisa Monte (South American Way), Rita Lee (I Like You Very Much), Adriana Calcanhotto (Disseram que Voltei Americanizada), Daniela Mercury (O Que É que a Baiana Tem?) e Ivete Sangalo (Chica Chica Boom Chic).[129][130] Isso porque, além de antecipar a era multimídia, inventar um molde fashion, prenunciar a atitude tropicalista e sacudir a embrionária cena do show business, Carmen ainda plantou sólidos alicerces da chamada linha evolutiva da MPB.[131]

"Nós tendemos a esquecer, mas nenhuma mulher brasileira nunca foi tão popular como Carmen Miranda - no Brasil ou em qualquer lugar", disse Ruy Castro a revista norte-americana Newsweek,[132] cuja biografia, Carmen (Companhia das Letras) lançada em 2005, conquistou o Prêmio Jabuti de livro do ano de não-ficção em 2006.[133][134][135]

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