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tem como finalidade atingir dois objectivos: a apropriação integral do Douro vinícola pelas ...
Edição de 18-02-2011
tem como finalidade atingir dois objectivos: a apropriação integral do Douro vinícola pelas ...
CASA DO DOURO: As razões da perseguição política
(Toda a máquina que Sócrates montou na região, tem como finalidade atingir dois objectivos: a apropriação integral do Douro vinícola pelas grandes empresas Comerciais, e a transformação de parte do Douro e da região transmontana num pólo de aproveitamento hidroeléctrico repartido entre a EDP e a IBERDROLA.
Por isso, a Casa do Douro tem que ser destruída porque é um empecilho a esta estratégia neo-liberalizante do Governo para a região)
Por isso, a Casa do Douro tem que ser destruída porque é um empecilho a esta estratégia neo-liberalizante do Governo para a região)
Há quem ande toda a vida a penar por um pecadilho que em tempos cometeu. No que toca à Casa do Douro, ela foi condenada à morte por um “crime” de enésimo grau, “crime” esse cuja condenação nunca poderia ir além de uma pena suspensa, da mesma forma que esse “crime” é anualmente perdoado à grande maioria das empresas públicas e demais organismos dependentes do Estado.
Em tempos que já lá vão, a Casa do Douro fez um mau negócio, ou melhor, fez um negócio talvez mal estudado e da qual se saiu mal. Agarrando-se a esse facto e aproveitando a fragilidade que as consequências de tal acto provocaram no equilíbrio financeiro da CD, o poder político resolveu acabar com ela.
Porquê?
É certo e sabido que o poder político sempre se deu bem com o poder económico. Princípio velho como o mundo e que as democracias do sul da Europa ainda não conseguiram por cobro. É verdade que a CD sempre foi vista com maus olhos por quem detém o capital na região. E quem o detém, não é pequeno nem o médio produtor. As grandes empresas comerciais sedeadas no Porto, que são também proprietárias de grandes quintas na região, essas sim, têm o dinheiro. Mas foi sempre entendimento do Poder que o equilíbrio de um sector agrícola tão específico como o duriense, dependia forçosamente de um entendimento entre as partes: quem produzia e quem comercializava.
Uma ruptura por esmagamento da mais fraca pela mais poderosa seria desastrosa. Até Salazar entendeu isto muito bem. Por isso, durante décadas, o interprofissionalismo vingou, e a lei obrigou a que ambas as partes se sentam à mesa e concertassem preços, datas, formas de pagamento, quotas. Porque só isto garantia a subsistência da produção perante as vicissitudes de uma actividade tão incerta como é a agrícola, da mesma forma que assegurava a existência de matéria-prima para que o comércio pudesse trabalhar sem sobressaltos das falhas de produção. O baluarte deste equilíbrio e pilar do sistema, era a Casa do Douro, instituição forte que representava cerca de 40 mil pequenos e médios produtores que, sozinhos, seriam facilmente devorados pela máquina trituradora do Comércio, mas juntos naquela Casa garantiam uma unidade sólida.
Até que, de repente, os novos “boys” da Economia, os deuses do neo-liberalismo, resolveram aplicar a tudo estes princípios selvagens do mercado. Assim mesmo, a torto e a direito, como se vinho fosse água, como se pedra fosse madeira, como se o dinheiro fosse o princípio e o fim de todo o capitalismo. Erro crasso pelo qual estamos todos a pagar. Porque, no capitalismo moderno (não liberal) o dinheiro é um meio e não um fim. É um meio de investimento, de criação de riqueza, de trabalho e de bem-estar. O dinheiro não é para se acumular em Bancos para que os seus titulares sejam capa da revista Forbes.
O certo é que, desde aquele pecadilho, a Casa do Douro tem vindo a ser sucessivamente perseguida pelos diversos Governos. Mas nunca nenhum foi tão longe como este, de José Sócrates. Para além de lhe criar um colete de forças a todas as propostas que a CD apresentou como forma de pagar a dívida do pecadilho, roubou-lhe o cadastro, retirou-lhe competências ancestrais sem reparação, e deixou o Comércio à rédea solta de tal forma que hoje em dia o lavrador, de bolsos vazios e com dívidas, é obrigado a vender a produção a qualquer preço, a hipotecar terras, a vendê-las às grandes quintas, numa situação desesperada de luta contra a ruína.
E foi assim que, anos e anos de equilíbrio num sector agrícola que eram os olhos da agricultura nacional, se estão a transformar num dos maiores descalabros económicos. E isto depois de Sócrates estar farto de saber que o Douro era a única região agrícola do país que dava lucro ao Estado, e isto depois de Sócrates dizer que era preciso apostar na exportação. Aqui, no Douro, onde a exportação sempre foi um motor importante da nossa Economia.
No fundo, trata-se de uma estratégia concertada que passa pelo enfraquecimento produtivo e que assenta na abertura do caminho para a apropriação fácil, não só do Douro, mas também de Trás-os-Montes.
Toda a máquina que Sócrates montou na região, tem como finalidade atingir dois objectivos: a apropriação integral do Douro pelas grandes empresas Comerciais, e a transformação de parte do Douro e da região transmontana num pólo de aproveitamento hidroeléctrico repartido entre a EDP e a IBERDROLA.
E, nesta estratégia, vale tudo, desde criar-se uma falsa perspectiva, tipo manobra de diversão, sobre um pretenso Douro turístico de grande escala, que nunca existirá, até à criação de uma estrutura de Missão cuja missão, até hoje, tem sido a de apaziguar as autarquias e mantê-las diplomaticamente sem grandes protestos perante o esvaziamento cirúrgico e sucessivo que vai concretizando na saúde, na educação, na assistência social, na Justiça, etc., etc. Porque, quanto ao resto, os durienses aceitam o que virá. São pacíficos, por dá cá aquela palha matam este mundo e o outro, mas no fundo, nem ao mosquito que lhes ferra a pele são capazes de pôr fim.
O poder político sabe com quem lida, e depois, não é o pequeno nem o médio lavrador que deixa ficar o cheque na sede do partido para a campanha eleitoral, nem é o pequeno nem o médio lavrador que tem negócios de milhões em cujas franjas se possam albergar as ambições de uma classe política interesseira.
A Casa do Douro tem que ser destruída porque é um empecilho à estratégia neo-liberalizante do Governo para a região. Porque, como já alguém disse, estes socialistas acabam com direitos que nem o fascista Salazar algum dia se atreveu a mexer.
Pensem: o Algarve está entregue, o litoral mais que negociado, o Alentejo é um deserto árido, as Beiras inóspitas. Que sobra?
Douro e Trás-os-Montes.
Aqui há espaço para se construírem barragens até ao gargalo, espaço para que as grandes quintas se alarguem e espaço para que terrenos agrícolas sejam aproveitados para outros fins.
No meio deste projecto há um empecilho: 40 mil vinicultores. Quem os une? A Casa do Douro. O que acontece se a Casa do Douro acabar? Os 40 mil desagregam-se. E depois? Ficam à mercê dos lobos que, como se sabe, não atacam uma manada inteira, mas esperam que ela se disperse.
Mas eu sei que, quando Sócrates cá vier pela centésima vez, inaugurar o reinício das obras na A4, vai negar isto tudo.
Por Francisco Gouveia, Eng.º
gouveiafrancisco@hotmail.com
Fonte: http://www.dodouro.com/noticia.asp?idEdicao=344&id=22987&idSeccao=3913&Action=noticia
Edição de 18-02-2011