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POR MARTIM SILVA
Editor-Executivo
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4 de Março de 2016 |
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100 dias (de geringonça), Sem senso (de Maria Luís)
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Bom dia,
Maria Luís Albuquerque pode não ter contribuído nada para o prestígio da política nacional mas acabou de trazer um enorme avanço para a filosofia universal. Em 1637, um francês de nome René e apelido Descartes, postulava no seu Discurso do Método que "o bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída". 379 anos depois a ex-ministra das Finanças mostra-nos que afinal não é bem assim.
Serve isto para introduzir o leitor à mais recente polémica da vida política portuguesa (embora em boa verdade o tema seja tão consensual que de polémico pouco tem). Maria. Maria Luís. Maria Luís Albuquerque, A dama de ferro que tomou conta das Finanças do país entre 2013 e 2015 decidiu-se pela carreira no privado (mas por enquanto ainda é deputada do PSD). Aceitou ir trabalhar para uma consultora especialista em compra de carteiras de créditos. Como administradora não executiva.
Qual o problema? A referida empresa fez em 2014 avultados negócios com o Banif. Banco em que à época (do negócio e da Sra. ser ministra das Finanças) o Estado tinha uma pequena participação... De 60%.
Em sua defesa, e mostrando que lê muitas leis mas não deve ter perdido tempo com Descartes, garantiu que a sua "transferência" nada tem de ilegal nem de incompatível.
Claro está que logo surgiram vozes do contra a protestar contra a situação. A própria Maria Luís se queixou do aproveitamento político-partidário da situação. Devia estar, obviamente, a falar de Paulo Rangel e Manuela Ferreira Leite, companheiros de partido (que a criticaram de forma aberta e clara, ontem, na TVI 24). Ferreira Leite que foi, ela própria, administradora do Santander... depois de ter deixado o Ministério das Finanças.
Aqui se explica o que podem e não podem fazer os antigos governantes. O PS considera o caso embaraçoso, os restantes partidos da esquerda pedem esclarecimentos.
A geringonça, na versão Paulo Portas, ou a "geringonça triplo A", na versão António Costa (frase do PM ao Expresso no último sábado) faz amanhã 100 dias. E ainda mexe...
Ninguém acreditava que costa lá chegasse. Mas chegou. E ainda lá está. A sua capacidade de adaptação aos acontecimentos e perícia negocial parecem hoje indiscutíveis. Os méritos das suas propostas e dos planos do Governo ainda estão sujeitos a avaliação.
Sobre este período, a investigadora Felisbela Lopes revela, em estudo noticiado pelo Público, dados sobre o impacto médiatico destes 100 dias (em quatro jornais diários). Conclusões? Saíram em média 2,5 notícias por dia relativas à atividade governativa. Mais de metade das notícias aparecem com títulos positivos para o Governo. A própria Felisbela Lopes afirma no Público que António Costa “não tem razões para se queixar da imprensa. Nos primeiros 100 dias, o Governo viveu o habitual estado de graça”.
Ainda sobre António Costa, realço o gesto, simbólico, de terconvidado ontem Cavaco Silva para presidir ao último Conselho de Ministros antes do Presidente da República passar a pasta a Marcelo Rebelo de Sousa, já na próxima quarta-feira (antes de Costa, já Cavaco tivera o gesto com Eanes; e Guterres com Soares). O primeiro-ministro aproveitou e ofereceu a Cavaco uma caravela em filigrana durante o encontro que decorreu no Forte de São Julião da Barra e que teve o Mar como tema.
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OUTRAS NOTÍCIAS Cá dentro,
O ex-presidente do Benfica Manuel Damásio (perfil aqui) foi constituído arguido no caso judicial envolvendo José Veiga (que está em prisão preventiva). Damásio foi ontem ouvido pelo juiz Carlos Alexandre e a partir de agora não pode contactar os outros envolvidos no processo de branqueamento de capitais e tráfico de influência. Na imprensa de hoje, o Jornal de Notícias dá destaque de manchete ao assunto, com o título “Damásio suspeito de ajudar a lavar milhões de Veiga”.
Passam hoje 15 anos da tragédia de Entre-os-Rios (quando parte da ponte Hintze Ribeiro caiu matando 59 pessoas). A repórter Christiana Martins esteve lá nos últimos dias e escreveu esta extraordinária reportagem.
No Parlamento, termina hoje o prazo para apresentação das propostas de alteração ao Orçamento de Estado. Entre as alterações sugeridas pelos próprios deputados socialistas destaque para uma ausência: a ideia de reduzir a TSU para os salários mais baixos. Recorde-se que esta era uma bandeira eleitoral de Costa (por permitir aumentar o rendimento disponível das famílias) e a medida chegou a estar incluída nos primeiros esboços do OE, mas acabou por cair durante as duras negociações com Bruxelas. Depois disso, um conjunto de parlamentares socialistas, com Paulo Trigo Pereira, prometeu lutar ainda pela inclusão da medida neste OE. A condição era conseguirem encontrar uma alternativa orçamental à perda de receita para o Estado. A alternativa não chegou e a proposta caiu mesmo. Os socialistas prometem no entanto voltar à carga no OE de 2017.
Noutro parlamento, o da Madeira, o deputado José Manuel Coelho deu ontem um novo passo nas suas sempre originais formas de protesto. Despindo-se, literalmente (ou quase) de preconceitos.
Marcelo promete dar-nos afectos em Belém. E aos poucos vai revelando nomes da sua equipa. Como o de Pedro Mexia, colunista do Expresso, escritor, em diretor da Cinemateca, que vai ser consultor cultural do novo PR.
No BPI, o Governo está a fazer tudo para forçar um entendimento entre os espanhóis do Caixabank e a angolana Isabel dos Santos (os dois maiores acionistas da instituição), revela o Público de hoje.
A agência Fitch revê hoje a notação da dívida pública portuguesa.
João Soares, ministro da Cultura, que esta semana afastou António Lamas da presidência do CCB, vê agora responsáveis de alguns dos grupos hoteleiros com interesses na zona de Belém ameaçarem o Governo com corte de investimentos, por temerem uma estagnação do turismo naquela zona de Lisboa. A notícia é do DN e pode ser lida aqui.
No caso do jovem encontrado morto no Algarve, o DN afirma que o padrasto poderá ser julgado no Brasil. E o Correio da Manhã faz manchete dizendo que “mãe esconde culpa do padrasto”.
A Federação Portuguesa de Futebol quer aproveitar o bom na prática de futebol feminino e dar um novo impulso ao campeonato nacional. Vai daí, e como forma de dinamizar a competição, convidou os maiores clubes do país (os três grandes mas não só) a participar. E ao que parece, como conta a Mariana Cabral, Sporting e Benfica estão mesmo muito interessados.
Ainda no futebol, amanhã é dia de um decisivo Sporting-Benfica no campeonato. No Expresso, em 2.59, o Pedro Candeias ajuda-nos, através dos números, a perceber o que pode acontecer.
No Boa Cama, Boa Mesa desta semana destaque para dez novas sugestões de restaurantes no Porto.
Lá fora,
Na Coreia do Norte, o alucinado presidente diz que o país deve estar pronto para usar armas nucleares a qualquer momento.
O Presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, pediu aos migrantes económicos que não venham para a Europa.
Em Espanha, ontem foi o dia em que um membro da família real prestou pela primeira vez declarações em tribunal. A Infanta Cristina foi responder no âmbito do caso Nóos.
Ainda em Espanha, cada vez mais os partidos voltam ao modo campanha, com trocas de acusações, perante os sucessivos fracassos na tentativa de formação de um governo. Esta noite, o PSOE vai tentar a investidura sem maioria, mas a possibilidade de novas eleições gerais parece ganhar cada vez mais força.
Na Nova Zelândia já se vota para se escolher a nova bandeira do país.
NÚMEROS 99,9995%
Foi a percentagem de votos com que ontem foi reeleito Pinto da Costa na presidência do FC Porto
29
mulheres morreram no ano passado em Portugal vítimas de violencia doméstica. Um numero terrível mas ainda assim o mais baixo desde 2011.
FRASES
“Quem se mete na política acha que o futebol é fantástico”,Ribeiro Cristóvão, no Diário Económico
“Vou comer derbi”, José Mourinho, ao Record
“Sinto a mesma frustração de um polícia que chega atrasado ao local do homicidio”, Carlos Costa, Governador do Banco de Portugal, na entrevista ao Expresso que amanhã é a capa da Revista
O QUE EU ANDO A LER
Chegado pela Amazon, "Think Like a Freak", de Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner (os autores de Freakonomics e Superfreakonomics), já começa a ser folheado. Uma vez mais, economia e números apresentados de uma forma totalmente surpreendente. Logo no início, por exemplo, uma explicação sobre os penáltis no futebol. Porque é que se os guarda-redes se atiram para a direita em 57% das grandes penalidades e para a esquerda em 41% das ocasiões, os avançados não chutam mais vezes para o centro, sabendo que os guardiões só ficam no meio em dois por cento dos remates? Vale muito a pena ler...
No fim de semana li o inevitável e altamente recomendável Alentejo Prometido. A reportagem/ensaio de Henrique Raposo sobre a região e que tanta e tão tonta polémica tem dado.Quem ontem escreveu sobre tudo o que se tem passado foi o Ricardo Costa, no Expresso Diário.
Sobre o Ricardo, com quem trabalho aqui no Expresso vai para sete anos, tem hoje o último dia como diretor do jornal. Para a semana assume os comandos da SIC.
O Expresso Curto, esse, volta já na segunda-feira. Tenha um grande fim de semana.
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