Bernardo Santareno
António Martinho do Rosário | |
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Pseudónimo(s) | Bernardo Santareno |
Nascimento | 19 de novembro de 1920 Santarém, Portugal |
Morte | 29 de agosto de 1980 (59 anos) Oeiras, Portugal |
Nacionalidade | português |
Ocupação | Médico e dramaturgo |
Prémios | Prémio Bordalo 1962 Teatro Prémio Bordalo 1963 Teatro |
Magnum opus | O judeu: narrativa dramática em três actos |
Bernardo Santareno, pseudónimo literário de António Martinho do Rosário (Santarém, 19 de Novembro de 1920 — Oeiras, 29 de Agosto de 1980) é considerado o maior dramaturgo português do século XX.
Biografia[editar | editar código-fonte]
Bernardo Santareno nasceu em 19 de Novembro de 1920, em Santarém, no Ribatejo, filho de Maria Ventura Lavareda e de Joaquim Martinho do Rosário. Estudou no Liceu Nacional de Sá da Bandeira até 1939, em Santarém, após o que frequentou os cursos preparatórios para a Faculdade de Medicina, na Universidade de Lisboa. Em 1945 transferiu-se para a Universidade de Coimbra, onde se licenciou em medicina em 1950. Viria a especializar-se em Psiquiatria.[1]
Em 1957 e 1958, a bordo dos navios David Melgueiro, Senhora do Mar e do navio-hospital Gil Eanes, acompanhou as campanhas de pesca do bacalhau como médico. A sua experiência no mar serviria de inspiração a muitas das suas obras, como O Lugre, A Promessa e o volume de narrativas Nos Mares do Fim do Mundo.
Bernardo Santareno foi distinguido por duas vezes com o Prémios Bordalo. Primeiro, foi-lhe atribuído o Óscar da Imprensa 1962, na categoria Teatro, juntamente com os actores Laura Alves e Rogério Paulo e o Teatro Moderno de Lisboa, entregue pela Casa da Imprensa em 1963. No ano seguinte, ser-lhe-ia novamente atribuído na mesma categoria o Prémio Imprensa 1963, agora acompanhado dos actores Eunice Muñoz e Jacinto Ramos, do autor Luís de Sttau Monteiro e da Companhia do Teatro Moderno de Lisboa.[2]
Intelectual de esquerda, teve várias vezes problemas com o regime salazarista, tendo a sua peça A Promessa sido retirada de cena após a estreia por pressão da Igreja Católica.[1] Depois da revolução de 1974 milita activamente no partido MDP/CDE e no Movimento Unitário dos Trabalhadores Intelectuais.[1]
Bernardo Santareno faleceu em Carnaxide, Oeiras, em 1980, com 59 anos de idade, e está sepultado no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.[1]
Em 1981, Bernardo Santareno foi feito Grande Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada em 13 de Julho. [3]
Santareno deixou inédito um dos seus mais vigorosos dramas, O Punho, cuja acção se localiza no quadro revolucionário da Reforma Agrária, em terras alentejanas. A sua obra dramática completa está publicada em quatro volumes. Parte do espólio de Bernardo Santareno encontra-se no Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea da Biblioteca Nacional de Portugal.
Obra[editar | editar código-fonte]
Poesia[editar | editar código-fonte]
Médico de profissão, formado pela Universidade de Coimbra, revelou-se como autor de teatro apenas depois de publicar três livros de poesia (1954 - Morte na Raiz, 1955 - Romances do Mar, 1957 - Os Olhos da Víbora), onde se enunciam alguns temas e motivos dominantes da sua obra dramática.
Teatro[editar | editar código-fonte]
Reconhecido como o mais pujante dramaturgo português do século XX, a sua obra reparte-se por dois ciclos, menos distanciados um do outro do que a evolução estética e ideológica do autor terá feito supôr, já que as peças compreendidas em qualquer deles respondem à mesma questão essencial: a reivindicação feroz do direito à diferença e do respeito pela liberdade e a dignidade do homem face a todas as formas de opressão, a luta contra todo o tipo de discriminação, política, racial, económica, sexual ou outra.
Esta temática exprime-se, nas peças integrantes do primeiro ciclo (A Promessa, O Bailarino e A Excomungada, publicadas conjuntamente em 1957; O Lugre e O Crime de Aldeia Velha, 1959; António Marinheiro ou o Édipo de Alfama, 1960; Os Anjos e o Sangue, O Duelo e O Pecado de João Agonia, 1961; Anunciação, 1962), através de um naturalismo poético apoiado numa linguagem extremamente plástica e coloquial e estruturado sobre uma acção de ritmo ofegante que atinge, nas cenas finais, um clima de trágico paroxismo.
A partir de 1966, com a "narrativa dramática" O Judeu, que retrata o calvário do dramaturgo setecentista António José da Silva, queimado pelo Santo Ofício, o autor plasma as suas criações no molde do teatro épico de matriz brechteana, adaptando-o ao seu estilo próprio, e assume uma posição de crescente intervencionismo que irá retardar até à queda do regime fascista a representação dessa e das suas peças seguintes: O Inferno, baseada na história dos "amantes diabólicos de Chester" (1967), A Traição do Padre Martinho (1969) e Português, Escritor, 45 Anos de Idade (1974), drama carregado de notações autobiográficas e que seria o primeiro original português a estrear-se depois de restaurada a ordem democrática no país.
Em 1979, depois de uma curta incursão no teatro de revista, colaborando com César de Oliveira, Rogério Bracinha e Ary dos Santosna autoria do texto da peça de Sérgio de Azevedo, P'ra Trás Mija a Burra (1975), publica quatro peças em um acto sob o título genérico Os Marginais e a Revolução (Restos, A Confissão, Monsanto e Vida Breve em Três Fotografias), em que combina elementos das duas fases da sua obra, inserindo a problemática sexual das primeiras peças no âmbito mais vasto de um convulsivo processo social que é a própria substância das segundas.
Santareno, ele próprio um "homossexual discreto"[4] aborda a temática da homossexualidade em muitas das suas peças, antevendo a importância que esta questão — e outras relacionadas com os direitos e as liberdades individuais face aos preconceitos morais e sociais da época, como o adultério, a virgindade, o papel da mulher no casamento, a moral religiosa, e outros — viriam a ter num futuro mais ou menos próximo.[5] A homossexualidade desempenha papel central no drama de algumas das suas obras, como em O pecado de João Agonia, em que o "pecado" é a orientação sexual de João,[6] ou em Vida Breve em Três Fotografias, em que prostituição masculina é o ponto focal.
Prosa[editar | editar código-fonte]
Publicou em 1959 um volume de narrativas, Nos Mares do Fim do Mundo, fruto da sua experiência como médico da frota bacalhoeira, experiência que dramaticamente transpôs em O Lugre.
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- Poesia
- A Morte na Raiz (1954)
- Romances do Mar (1955)
- Os Olhos da Víbora (1957)
- Teatro
- A Promessa (1957)
- Nos Mares do Fim do Mundo (1957)
- O Bailarino e a Excomungada (1957)
- O Lugre (1959)
- O Crime da Aldeia Velha (1959)
- António Marinheiro ou o Édipo de Alfama (1960)
- Os Anjos e o Sangue (1961)
- O Duelo (1961)
- O Pecado de João Agonia (1961)
- Anunciação (1962)
- O Judeu (1966)
- O Inferno (1967)
- A Traição do Padre Martinho (1969)
- Português, Escritor, 45 Anos de Idade (1974)
- Os Marginais e a Revolução (“Restos”, “A Confissão”, “Monsanto”, “Vida Breve em Três Fotografias”) (1979)
- O Punho (publicado postumamente em 1987)