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Por Miguel Cadete
Diretor-Adjunto
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3 de Setembro de 2015 |
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Uma imagem vale mais do que mil refugiados mortos?
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Há
uma fotografia que hoje está na primeira página de dezenas de jornais
que se publicam na Europa. Está também em centenas de home pages de
sites de informação de todo o mundo. E já apareceu ou vai aparecer em
milhares de notícias que passarão na televisão É a de Aylan
Kurdi, um menino sírio de três anos, que jaz morto e arrefece, a ser
carregado nos braços de um militar, na praia de Bodrum, na Turquia. A imagem é insuportável. E faz “estremecer a consciência da Europa” como se pode ler na manchete do “El País”. Aylan,
tal como o resto da sua família, tentava chegar à ilha grega de Kos. Ao
todo eram 16, os que desta vez naufragaram a tentar chegar às
fronteiras da Europa. A história é “insuportável” porque,
infelizmente, não é nova. Há muito que os jornais e as redes sociais
estão cheias de imagens deste “naufrágio da humanidade” (uma “hashtag”
que por estes dias percorre o mundo) mas que demonstram que a livre circulação de mercadorias e capitais é bem mais fácil do que a de pessoas. Não é “lá longe”. Acontece mesmo aqui ao lado, em Melilla, Espanha,
onde foram construídos os primeiros muros, ou em Lampedusa, Itália,
onde a governadora Giusi Nicoli, há dois anos, já perguntava: “quão grande deve ser o cemitério da minha ilha?”
Ou na Grécia e na Bulgária. Em Calais, em França. Ou na Hungria, na
Ucrânia e na Estónia onde rapidamente se se meteram mãos à obra para a
construção de barreiras que tentam impedir que cidadãos passem de uns
países para os outros. Alguém se esqueceu que a Terra é redonda? João Santos Duarte esteve lá, na Hungria, e produziu este excelente trabalho multimédia para quem gosta de ver (e ouvir) para crer. Nem todos se esqueceram de que a Terra é redonda: Angela Merkel, a chanceler alemã a que gostávamos de desenhar bigodinhos à Hitler ou dizer que era filha de um pastor alemão, demonstrou preocupação com as vagas de migrações que, na Europa, são as maiores desde a II Guerra Mundial. Em sentido exatamente oposto, David Cameron, o primeiro-ministro britânico que se prepara para visitar Portugal, já disse que o seu país “não devia receber mais refugiados do Médio Oriente”. Os firmes opositores de uma e os garbosos apoiantes do outro bem que se podiam esconder. Passos Coelho, por seu lado, declarou ontem que “temos
a responsabilidade ética e moral de sermos solidários com aqueles que
nos procuram, articulando melhor as nossas respostas”. Mas nas instâncias europeias, a discussão do assunto não mereceu grande pressa. A reunião foi marcada para 14 de setembro o que mostra à saciedade o desinteresse, ou a desumanidade, pelo que se está a passar.
A questão pode, no entanto, ser outra e escapar no meio de tantos
discursos empenhadíssimos de ativismo. E se o tema “ético e moral” andar
de mãos dadas com o problema demográfico. E se os refugiados
fossem uma excelente oportunidade para resolver o problema da
insustentabilidade dos sistemas de segurança social. Poderão os
sírios e líbios que hoje procuram outra vida pagar as pensões de
reforma dos europeus? Serão eles quem vai reconstruir a Europa? Esse desacerto das contas públicas portuguesas é um dos temas da entrevista a Mário Centeno que o Expresso publica no próximo sábado. O líder do grupo de economistas que construiu o cenário macroeconómico que serve de base ao programa do PS considera que os
valores estimados para o défice no primeiro semestre do ano, entre 4,4%
e 5,4%, “impõem sobre o défice no segundo semestre um esforço
absolutamente titânico para se cumprir os 2,7%” que estão inscritos
no Orçamento de Estado. Esforço que “não é verosímil dado o que temos
estado a observar na execução orçamental, nem em termos de despesa, nem
em termos de receita”, acrescenta Centeno num excerto desta entrevista
de Pedro Santos Guerreiros e Sónia Lourenço que já se pode ler na edição
de ontem do Expresso Diário. Um risco que pode ser agravado com o resultado da venda do Novo Banco.
O fim das negociações com os chineses da Angbang, os que davam mais
pelo “banco bom” do BES, pode ditar um novo agravamento das contas do
Orçamento do Estado. Algo que, para já, não preocupa Pires de Lima. O
ministro da Economia faz fé na competência do governador de Banco de
Portugal na condução das negociações para a venda do Novo Banco que
neste momento trata o assunto com os também chineses da Fosun. O “Diário
de Notícias” diz na primeira páginas que a Fosun não vai subir a
proposta já apresentada mas Pires de Lima disse ontem, logo após serem
conhecidas as previsões da UTAO estar “muito
confiante de que no final do ano as nossas contas externas estão
positivas e apresentaremos um défice inferior a 3%. O objetivo é 2,7%.” A Comissão Europeia não está contudo preocupada
com o risco de Portugal não cumprir, já este ano, o Pacto de
Estabilidade que estes números do défice adiantados pela UTAO (Unidade
Técnica de Apoio Orçamental). Os olhos não estarão postos nesta
derrapagem orçamental, o que pode ser uma ajuda ao atual executivo, pelo
menos até à apresentação do orçamento para 2016. Isto é, em Outubro. Ou
seja, já
depois de ser conhecido o vencedor das eleições de 4 de outubro e, num
mundo perfeito, já ter sido empossado um novo executivo. Quem também não atribuiu grande mérito ao Governo
de Portugal, neste caso na condução do problema da dívida, é João
Vieira Pereira. A estabilidade do mercado de dívida e o regresso de
Portugal aos mercados, diz em coluna de opinião também no Expresso
Diário, não é tanto obra de Pedro (Passos Coelho) mas de Mário (Draghi). Uma façanha em que o protagonista, ou verdadeiro herói, terá sido o anónimo contribuinte português. A ver se não morremos na praia. OUTRAS NOTÍCIAS
O Expresso lança amanhã dois novos serviços especialmente dedicados às
eleições legislativas. Para saber tudo o que se passa e aceder a
informação em primeira mão no WhatsApp basta enviar uma
mensagem com a palavra “subscrever” para o número 96 628 1213. É
preciso criar um novo contacto no telemóvel com este número. No Snapchat, encontre-nos como Snap-Expresso. As surpresas serão muitas. Vai uma selfie com o PM? A última sondagem sobre as eleições na Grécia, marcadas para 20 de setembro, dão a Nova Democracia, apesar de uma vantagem mínima sobre o Syriza, como vencedora. Os resultados da sondagem, produzida pela GOP e ontem divulgada, dão 25% ao partido de Alexis Tsipras, que pela primeira vez perde a liderança. A Nova Democracia alcança 25%. Rui Rio só será candidato se a coligação vencer as eleições.
Em artigo assinado pelo próprio e ontem publicado no “Jornal de
Notícias”, o ex-presidente da Câmara do Porto, dizia que a decisão de
avançar dependia de “dados diretamente relacionados com o interesse do
país”. Porém, a edição de hoje do “Diário de Notícias” dá o passo
seguinte e garante que, caso António Costa e o PS vençam as eleições, Rio deixará o caminho aberto a Marcelo Rebelo de Sousa. Começa hoje o festival de cinema de Veneza. Jorge Leitão Ramos, crítico do Expresso, já lá está e destaca a estreia de “Everest”, um filme com Jake Gyllenhaal, Keira Knithley e Josh Brolin.
O drama e a tragédia de uma história verídica, sucedida em 1996, em que
o verdadeiro protagonista é a maior montanha do mundo. Na verdade, é um
filme de uma “major”, produzido com muitos efeitos especiais, que está a
marcar o primeiro dia desta 72ª Mostra Internacional de Arte
Cinematográfica. “Montanha”, primeira longa-metragem do português João
Salaviza, vai passar na Semana da Crítica. Taylor Swift, uma das protagonistas dos MTV Awards, está a ser acusada de racismo.
O vídeo-clip de “Wildest Dreams”, que estreou domingo durante a
transmissão dos prémios daquele canal de televisão, apresenta uma Africa
colonial, sem negros, à maneira dos anos 50. O vídeo já conta com mais
de 14 milhões de visualizações no YouTube foi descrito no blogue Jezebel, um dos mais influentes nos EUA, como um encontro entre Hollywood de outros tempos e “Africa Minha”.
A tensão racial foi permanente ao longo de toda a cerimónia de entrega
de prémios, ficando para a história a desavença entre Miley Cyrus e
Nicki Minaj e a promessa de Kanye West se candidatar a presidente.
A época de transferências terminou mas a imprensa da especialidade
ainda anda às voltas com quem saiu, entrou ou, talvez ainda mais
importante, com quem permanece nos principais clubes portugueses. “A
Bola” diz que já há acordo entre o Sporting e André Carrilho para a renovação do seu contrato até 2020. O “Record” adianta que o Benfica recusou uma proposta de dez milhões de euros para vender Luisão ao Chelsea de Mourinho. E “O Jogo” dá como garantido o regresso de Casillas à baliza da seleção de Espanha.
Caso De Gea, que viu a sua transferência frustrada num rocambolesco
processo, não seja titular no Manchester United, o selecionador Del
Bosque já garantiu que não o chamava. Xi Jinping, o Presidente da China, anunciou hoje que irá reduzir em 300 mil os efetivos das forças armadas.
O anúncio foi feito em Pequim, durante a celebração do 70º aniversário
do fim da II Guerra Mundial. Na China existem atualmente mais de dois
milhões de militares, mas o esforço de modernização em curso implica a
substituição de meios terrestres por outros especializados em ações no
ar ou no mar. Foi apresentado um novo míssil para destruir porta-aviões.
Mas na Praça de Tiananmen, Xi Jinping tentou descansar os países vizinhos anunciando este novo caminho pacifista.
Não referiu a crise económica por que passa a China neste momento, nem
como irá reintegrar os 300 mil militares que irão ser dispensados.
Depois do seu discurso, teve início uma parada militar que, observadores
citados pelo “New York Times” classificaram como pura demonstração do
poderio militar chinês. Pedro Camacho será o novo diretor de informação da Lusa.
Diretor da “Visão” até há meses, Pedro Camacho irá suceder a Fernando
Paula de Brito, a quem foi anunciada a destituição pela presidente da
Lusa, Teresa Marques. Soaram críticas ao timing desta nomeação mas Pedro
Camacho, que assume funções em Outubro, disse ao Expresso que “se
a decisão só fosse tomada após as eleições, também viria a conversa do
costume sobre as mudanças de direções quando muda o Governo”. Os
diretores-adjuntos, Nuno Simas e Ricardo Jorge Pinto, seguiram Fernando
Paula de Brito e apresentaram também a sua demissão. Uma clínica especializada no tratamento de doentes seropositivos revelou a identidade de 780 clientes.
Na newsletter que regularmente envia para os seus doentes, a 56 Dean
Street os seus nomes e emails não vieram escondidos como de costume por
não terem sido incluídos no campo Bcc. A identidade de 780 clientes da
clínica, que diz ser uma das mais movimentadas da Europa no tratamento
de doentes com HIV, foi revelada na newsletter mensal enviada
terça-feira. Ouvido
pelo “Guardian”, um dos doentes que viu a sua identidade ficar
desprotegida confessou ter encontrado na lista o nome de amigos que
desconhecia serem seropositivos. No Reino Unido, as indemnizações
por violação dos deveres de sigilo podem chegar ao meio milhão de
libras, mais de 650 mil euros. FRASES “Sejam chineses ou alemães, estamos contra”. Jerónimo de Sousa sobre a investida de capital estrangeiro “Ele é diferente daquilo que as pessoas pensam. É bom tipo. Espero concorrer contra ele um destes dias”. Donald Trump sobre Kanye West “O
rapaz tem de se recompor. Ele é um manhoso, sempre com um sorriso na
cara... A Grécia não merece ter um primeiro-ministro destes”. Vangelis Meimarakis, novo líder da Nova Democracia que entretanto deixou de usar gravata, sobre Alexis Tsipras “Este
programa deve ser estendido se não houver melhorias suficientes na
inflação, consistentes com o cumprimento do objetivo de médio prazo de
estabilidade de preços”. Nota do FMI sobre o programa de compara de dívida pública do BCE O QUE EU ANDO A OUVIR E A LER
Alguns dos nomes que na sexta e no sábado se apresentarão no último de
todos os festivais. A época já vai longa, e há quem diga que são demais
os eventos do género, mas o Festival F convocou para os
dias 4 e 5 de setembro, na Vila Adentro, em Faro, alguns dos mais novos
e distintos representantes da música e da literatura portuguesa. A
seleção inclui António Zambujo e Dulce Maria Cardoso, Deolinda e Afonso
Cruz, Carlão e Sandro Willian Junqueira, Linda Martini ou Valter Hugo
Mãe. Ao todo são sete espaços espalhados pelo casco velho da
capital do Algarve que, aparentemente, se dispõem a cumprir uma das
funções, por vezes esquecida, dos festivais. Criar surpresa e encontrar o que não se esperava, de preferência pelos melhores motivos.
Não acredito ser possível, por estes dias, estar a par de tudo o que é
editado devido à profusão de referências que, por conta da tecnologia,
chegam ao mercado constantemente. Ou mesmo que não cheguem. Esta é por
isso uma excelente oportunidade para ouvir, além dos citados, Deolinda,
Manel Cruz, David Fonseca, Norberto Lobo, Márcia, PAUS, D’Alva, Mazgani e
mais um punhado de nomes emergentes que se mantêm empenhados em fazer
música pop em Portugal. Se gravar um disco, ou
fazer um festival, nunca foi tão fácil, é nestes acontecimentos que o
inesperado sucede. Porque, para lá de toda a tecnologia, aqui não há
mediação. É tudo em direto. Tenha um bom dia! E prepare-se para o fim de semana condignamente.
Amanhã cá estará o Henrique Monteiro para lhe servir uma bica
escaldada. No Expresso online todas as notícias serão atualizadas em
permanência e, mais logo, lá pelas 18h, é publicado o Expresso Diário.
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ANTÓNIO FONSECA
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