O furacão Ike (IPA: /aɪk/) foi o terceiro furacão mais destrutivo de toda a história a atingir os Estados Unidos.[1] Ike foi o nono ciclone tropical dotado de nome, o quinto furacão e o terceiro furacão "maior" da temporada de furacões no Atlântico de 2008. Foi um furacão do tipo Cabo Verde, já que Ike formou-se a partir de uma onda tropical que deixou a costa ocidental da África no final de agosto de 2008 e passou ao sul das ilhas do Cabo Verde, desenvolvendo-se gradualmente. Em 1 de setembro, o sistema tornou-se a nona tempestade tropical da temporada a oeste de Cabo Verde.[2][3]
Durante as primeiras horas da madrugada (UTC) de 5 de setembro, Ike já estava como um furacão "maior" de categoria 4 na escala de furacões de Saffir-Simpson, com ventos máximos sustentados de 230 km/h e uma pressão central mínima de 935 mbar.[4] Com isso, Ike se tornou o ciclone tropical atlântico mais intenso da temporada de 2008 e o mais intenso desde o furacão Felix em 2007. Após cruzar o Caribe, através de Cuba, Ike atravessou o golfo do México e atingiu a costa do golfo dos Estados Unidos como um forte furacão de categoria 2, perto da pequena cidade de Baytown, no Texas.
Ike provocou a morte de 164 pessoas, 126 diretas e 38 indiretas. 74 das fatalidades ocorreram somente no Haiti, país que estava tentando se recuperar dos estragos causados pela tempestade tropical Fay, e dos furacões Gustav e Hanna. Nos Estados Unidos, Ike provocou 82 fatalidades e deixou outras 202 desaparecidas.[5][6][7][8][9] Os danos provocados por Ike são estimados em 27 bilhões de dólares somente nos Estados Unidos. Os prejuízos em Cuba chegaram a 4 bilhões de dólares e, nas Bahamas, 500 milhões de dólares, totalizando 31,5 bilhões de dólares em prejuízos econômicos diretos.[10] Com isso, Ike se tornou o terceiro ciclone tropical atlântico mais custoso de toda a história, somente atrás do furacão Andrew, em 1992, e do furacão Katrina, de 2005.[11]
Uma forte onda tropical formou uma área de baixa pressão sobre o sul do Sudão em 19 de agosto. Seguindo de leste para oeste, a onda cruzou a África, deixando o continente pela costa de Senegal em 28 de agosto.[12] Já sobre o Oceano Atlântico, a onda começou a apresentar sinais de organização enquanto seguia para oeste e para oeste-noroeste. Em 1 de setembro, a área de baixa pressão associada à onda tropical conseguiu se organizar suficientemente para ser declarada como uma depressão tropical sobre o Atlântico centro-norte tropical. A depressão já apresentava bandas curvadas de convecção profunda. Neste momento, estimativas obtidas através da técnica Dvorak já indicavam que a depressão estava se fortalecendo para uma tempestade tropical. No entanto, devido à formação recente das áreas de convecção profunda, o Centro Nacional de Furacões (NHC) decidiu não classificar a depressão para uma tempestade tropical.[13] A depressão continuou a se intensificar, desde então, e, às 21:00 (UTC), o Centro Nacional de Furacões classificou a depressão para a tempestade tropical Ike.[14][15] Ike estava localizado numa área com condições meteorológicas bastante favoráveis para a sua intensificação, e foi previsto que o sistema se tornaria um furacão em 36 horas.[16][17]
Imagem do furacão Ike em 4 de setembro de 2008, perto de seu pico de intensidade. A imagem foi obtida da
Estação Espacial Internacional, que orbitava a Terra naquele momento a cerca de 350 km de altitude
Durante a madrugada de 1 de setembro, Ike parou de se intensificar assim que a parte oriental de sua circulação ciclônica começou a se desintegrar devido aos efeitos do cisalhamento do vento vindo do norte.[18] No entanto, assim que o cisalhamento do vento diminuiu durante a manhã de 2 de setembro, Ike voltou a se intensificar.[19] Durante aquele dia, novas áreas de convecção profunda começaram a se formar em volta do centro da tempestade, indicando a tendência de intensificação do sistema. Ike também começou a se deslocar mais rapidamente para oeste-noroeste assim que a alta subtropical de médios níveis localizada a norte-nordeste de Ike começou a se intensificar.[20] A tendência de intensificação foi novamente interrompida durante a madrugada de 3 de setembro, embora a estrutura da tempestade permanecesse intacta.[21]
Após passar toda aquela madrugada sem se fortalecer, Ike voltou a se intensificar novamente no final daquela manhã. Imagens de satélite mostravam um olho em formação no centro da circulação ciclônica de baixos níveis de Ike assim que o sistema já continha ventos máximos sustentados de 110 km/h, intensidade logo abaixo a de um furacão.[22] O olho de Ike ficou mais bem definido e o sistema se tornou um furacão horas mais tarde.[23] Com a quase ausência de cisalhamento do vento, Ike começou a sofrer rápida intensificação e já apresentava uma intensidade equivalente a um furacão "maior" de categoria 3, na escala de furacões de Saffir-Simpson, apenas três horas depois de ter se tornado um furacão. Durante o mesmo período, a pressão central mínima caiu 24 mbar.[24][25] Ike continuou a se intensificar e alcançou uma intensidade equivalente a um furacão de categoria 4 outras três horas mais tarde, apresentando ventos máximos sustentados de 215 km/h e uma pressão central mínima de 948 mbar.[26]
Durante as primeiras horas de 4 de setembro, Ike alcançou seu pico de intensidade, com ventos máximos sustentados de 230 km/h e uma pressão central mínima de 935 mbar. Com isso, Ike se tornou o ciclone tropical atlântico mais intenso da temporada de 2008 e o mais intenso ciclone tropical atlântico desde o furacão Felix, em 2007.
O furacão Ike como um furacão de categoria 2, aproximando-se da costa dos Estados Unidos
Foi previsto que Ike se enfraqueceria assim que a alta subtropical, que se encontrava agora nos altos níveis da troposfera, começou a se intensificar e a gerar cisalhamento do vento.[27] A intensificação explosiva, que elevou os ventos máximos sustentados de Ike de 110 para 230 km/h e tinha diminuído a pressão mínima central em 61 mbar, e que tinha ocorrido em apenas 24 horas, tinha acabado. Durante aquela manhã, Ike começou a se enfraquecer gradualmente assim que a temperatura do topo das áreas de convecção profunda começou a aumentar. Modelos de previsão previam que o forte cisalhamento do vento abateria o furacão, mas Ike seria capaz de sustentar a intensidade de um furacão de categoria 3.[28] A tendência de enfraquecimento de Ike continuou por toda aquela tarde. Por volta das 15:00 (UTC), os ventos máximos sustentados de Ike tinham diminuído de 230 para 215 km/h.[29] Ike começou a mostrar novamente sinais de intensificação durante o final da noite de 4 de setembro; suas áreas de convecção profunda começaram a ficar mais definidas em volta do olho, e a temperatura do topo das áreas de convecção começou a cair, indicando intensificação.[30]
No entanto, a tendência de intensificação de Ike foi de curta duração. Durante a manhã de 5 de setembro, cisalhamento do vento vindo do norte começou a desintegrar a porção norte da circulação ciclônica, e novamente a temperatura do topo das áreas de convecção começou a aumentar. A estrutura de seu olho começou a ficar menos proeminente assim que imagens de satélite no canal infravermelho mostravam que a estrutura interna de Ike não estava se deteriorando ou sofrendo um ciclo de substituição da parede do olho.[31] Outras imagens de satélite posteriores mostravam que a porção norte da estrutura de Ike estava quase desintegrado e que a maior parte das áreas de convecção profunda estavam situadas na porção sul-sudoeste da circulação ciclônica. O confinamento de áreas de convecção de Ike no quadrante sul-sudoeste de Ike indicava que o furacão estava sendo abatido por forte cisalhamento do vento vindo do norte e norte-nordeste.[32] Com isso, Ike continuou a se enfraquecer e seus ventos máximos sustentados tinham caído de 215 para 185 km/h durante aquela tarde. A intensificação da alta subtropical ao seu norte também fez que Ike seguisse para sudoeste, uma direção pouco comum de deslocamento de ciclones tropicais no Atlântico. No entanto, seguindo para sudoeste, Ike adentrou numa região com condições meteorológicas mais favoráveis para a sua intensificação.[33]
Ike manteve sua intensidade durante aquela noite assim que o seu olho começou a reaparecer brevemente.[34] Durante a madrugada de 6 de setembro, o olho de Ike se formou novamente, tendo agora um diâmetro de 48 km, embora estivesse coberto por nuvens cirrus.[35] No entanto, o cisalhamento do vento que persistia enfraqueceu Ike para um furacão de categoria 2.[36] No entanto, assim que o cisalhamento do vento diminuiu, Ike voltou a sofrer rápida intensificação, embora não tão significativa quanto a primeira. O olho de Ike começou a ficar mais definido e livre de nuvens e, de acordo com um avião caçadores de furacões, Ike tinha se fortalecido novamente para um furacão de categoria 4, intensidade alcançada somente seis horas depois de ter sido um furacão de categoria 2. Os ventos máximos sustentados passaram de 175 para 215 km/h assim que o furacão se aproximava das ilhas Turks e Caicos durante aquela tarde.[37]
Durante as primeiras horas da madrugada, Ike passou diretamente sobre Turks e Caicos, com ventos de até 215 km/h. Foi previsto que Ike manteria a sua intensidade até atingir a costa Cubana. No entanto, a sua passagem por águas mais frias causadas pela passagem do furacão Hanna, combinado com um ciclo de substituição da parede do olho, causou a seu enfraquecimento e Ike se enfraqueceu para um furacão de categoria 3 logo após passar diretamente sobre Grande Inagua, sudeste das Bahamas. No entanto, a tendência de enfraquecimento foi novamente de curta duração e, assim que se aproximava da costa cubana, Ike voltou a se intensificar para um furacão de categoria 4.[38]
O furacão Ike como visto numa imagem de satélite no canal infravermelho, momentos antes de atingir a costa de Cuba
Ike fez landfall como um intenso furacão de categoria 4 na costa da província cubana de Holguín, durante a noite de 7 de setembro,[39] perto do cabo Lucrecia.[40] Continuando a seguir para oeste, Ike cruzou todo o sudeste de Cuba, cruzando as províncias de Holguín, de Las Tunas e de Camagüey, antes de seguir para o mar do Caribe. A partir de então, Ike, que tinha se enfraquecido significativamente devido à interação com terra, começou a seguir para oeste-noroeste, acompanhando paralelamente a costa sul de Cuba e mantendo a sua intensidade antes de atingir novamente a ilha cubana quando cruzou a costa da província de Pinar del Río, em 8 de setembro. Após cruzar o extremo oeste de Cuba, Ike seguiu para o golfo do México durante a tarde de 9 de setembro.
Mesmo sobre as águas quentes do golfo do México, Ike não foi capaz de voltar a se intensificar rapidamente. No entanto, a partir da noite de 10 de setembro, a pressão central mínima do furacão caiu de 963 para 944 mbar assim que Ike passou sobre as águas quentes da corrente de Loop. Houve uma significativa queda da pressão atmosférica no centro de Ike, que provocou apenas um ligeiro aumento dos ventos máximos sustentados, que subiram de 140 para 155 km/h. No entanto, o furacão começou a aumentar em tamanho. O furacão estava obtendo bastante energia através do calor de evaporação, obtida por meio da condensação da umidade presente no golfo do México. No entanto, toda esta energia estava sendo distribuída numa grande área, ao invés de estar sendo distribuída para uma pequena área ao redor da parede do olho, comportamento típico dos ciclones tropicais.
Nos dois dias seguintes, Ike manteve a sua trajetória em direção a oeste-noroeste, intensificando-se muito lentamente; em dois dias, os ventos máximos sustentados de Ike subiram de 155 para 175 km/h. No entanto, o furacão era extremamente grande; o seu raio de ventos com intensidade de tempestade tropical chegou a alcançar 510 km. Apesar de ser um furacão de categoria 2 naquele momento, a maré de tempestade que Ike poderia produzir seria equivalente a um furacão de categoria 4, devido ao seu grande tamanho. Assim que Ike se aproximava da costa do Texas, a estrutura interna do furacão começou a ficar mais definido, voltando a exibir uma parede do olho mais organizada.
Finalmente, por volta das 07:10 (UTC) de 13 de setembro, Ike fez landfall sobre a cidade de Galveston, com ventos máximos sustentados de até 175 km/h e uma pressão central mínima de 952 mbar. Ike começou a seguir para norte no momento em que atingiu a costa do Texas, assim que alcançou a periferia ocidental da alta subtropical que determinava a trajetória do sistema tropical por quase duas semanas.
Sobre os Estados Unidos, Ike começou a perder intensidade e se enfraqueceu para uma tempestade tropical ainda em 13 de setembro. Assim que seguia mais rapidamente para o norte e para o nordeste devido à influência dos ventos do oeste, Ike começou a sofrer transição extratropical assim que se fundia a um sistema frontal sobre a região central dos Estados Unidos. Ike tornou-se totalmente extratropical em 14 de setembro, mas continuou como um sistema relativamente intenso. O sistema extratropical remanescente de Ike cruzou os Estados Unidos rapidamente e alcançou o sul do Canadá em 15 de setembro. Após cruzar as províncias canadenses de Ontário e Quebec, Ike seguiu para o Oceano Atlântico em 16 de setembro, onde permaneceu como um intenso ciclone extratropical.
Os danos foram generalizados em boa parte do Caribe, além dos Estados Unidos. Ike atingiu primeiramente Turks e Caicos como um furacão de categoria 4,[41] causando grandes impactos nas ilhas. Cerca de 95% das residências das ilhas foram danificadas e os danos foram estimados em 500 milhões de dólares americanos.[42] Na ilha de São Domingos, Ike provocou 75 fatalidades depois que suas chuvas intensas associadas causaram severas avalanches de lama.[43] Em Cuba, os danos foram generalizados e espalhados pela toda ilha; no entanto, a região sudeste cubana foi a mais afetada depois que Ike atingiu a região como um furacão de categoria 4. Plantações inteiras foram arrasadas. Os prejuízos econômicos diretos provocados pelo furacão em Cuba totalizaram mais de 4 bilhões de dólares.[44]
Nos Estados Unidos, os danos provocados por Ike foram extremamente extensos. Os prejuízos econômicos diretos totalizaram mais de 28 bilhões de dólares (valores em 2008). Com isso, Ike se tornou o terceiro ciclone tropical atlântico que provocou mais prejuízos na história, perdendo somente para o furacão Katrina, de 2005, e para o furacão Andrew, de 1992. Além disso, foram registradas no país 82 fatalidades, o maior número de mortes causados por um único furacão nos Estados Unidos desde o furacão Katrina.[5][6][7][8][9][45][46]
Referências
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