quarta-feira, 13 de setembro de 2023

POR DENTRO DO COMBOIO VERDE DE KIM JONG-UM - 13 DE SETEMBRO DE 2023

 


Por dentro do misterioso comboio blindado verde de Kim Jong Un

História de Daniela Tomé •16 h

Kim Jong Un já chegou à Rússia. Acredita-se que Moscovo procura munições de artilharia e mísseis antitanque, enquanto Kim procura tecnologia de ponta para satélites e submarinos com propulsão nuclear.

Kim Jong Un na visita à Rússia, em setembro de 2023
Kim Jong Un na visita à Rússia, em setembro de 2023© SIC Notícias

O destino do comboio verde blindado é ainda desconhecido, mas é certo que o Kim Jong Un se vai encontrar esta quarta-feira, com o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, algures na Rússia, de acordo com o canal de televisão sul-coreano YTN.

O comboio de Kim atravessou esta manhã (hora local) a fronteira com a Rússia, de acordo com o Ministério da Defesa Nacional sul-coreano e a televisão estatal russa.

A última vez que Kim Jong Un saiu do país foi em abril de 2019, exatamente para o primeiro encontro com Vladimir Putin, em Vladivostok, na Rússia.

Cerimónia antes da partida de Kim Jong Un para a Rússia (setembro 2023)
Cerimónia antes da partida de Kim Jong Un para a Rússia (setembro 2023)© AP

Desde então, a Coreia do Norte tem-se tornado cada vez mais isolada, sobretudo desde que as relações com os Estados Unidos de Donald Trump terminaram.

Sanções múltiplas têm deixado o país com poucos recursos. sobretudo ao nível da comida e de combustíveis. Mesmo antes da pandemia por covid-19, quase metade da população norte-coreana estava subnutrida, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.

O dinheiro para investimentos em armas nucleares tem sido uma das grandes preocupações do líder norte-coreano.

Tal como anunciado pela a agência de notícias russa Interfax, Kim deveria visitar o país “nos próximos dias”.

Acredita-se que um dos tópicos que Kim Jong Un poderá abordar, logo que se encontre com Vladimir Putin, é a questão das armas nucleares, no sentido de Kim Jong Un obter ajuda para o progresso do seu armamento.

O jornal americano New York Times acredita que Moscovo procura munições de artilharia e mísseis antitanque de Pyongyang, enquanto Kim procura tecnologia de ponta para satélites e submarinos com propulsão nuclear, bem como ajuda alimentar.

Comitiva a bordo

De acordo com fotografias publicadas pelos meios de comunicação norte-coreanos, Kim está acompanhado pelos ministros dos Negócios Estrangeiros, Choe Son-hui, e da Defesa, Kang Sun-nam, e por representantes militares, incluindo o diretor do Departamento de Munições Industriais, Jo Chun-ryong, e Pak Thae-song, secretário para a Ciência e a Educação do Comité Central do Partido dos Trabalhadores, ligado ao programa espacial norte-coreano.

Kim Jong Un a bordo do comboio blindado da família Kim
Kim Jong Un a bordo do comboio blindado da família Kim© SIC Notícias

Comboio verde blindado

Na tarde do passado domingo, o líder norte-coreano Kim Jong Un subiu a bordo de um antiquado comboio verde, ainda que seja impossível determinar se é o mesmo veículo que já transportou várias gerações da família Kim, por todo o país e em raras viagens ao exterior.

Kim Jong Il, o pai de Kim Jong Un, supostamente teria medo de voar, por isso dependia muito deste meio de transporte, segundo noticia a Reuters

A par do meu seu medo por aeronaves, também as questões de segurança eram outro dos motivos pelos quais sempre evitou os meios aéreos.

Kim Jong Il, pai de Kim Jong Un
Kim Jong Il, pai de Kim Jong Un© Igor Kochetkov

Segundo conta a CNN, nas memórias do ex-oficial russo Konstantin Pulikovsky, baseadas num relatório de um anotador do Ministério das Relações Exteriores russo a bordo do comboio em 2001, durante a viagem de um mês de Kim Jong Il pela Rússia, pintam um quadro de luxo a bordo deste comboio.

Pulikovsky afirmou que o comboio era conduzido por mulheres bonitas e repleto de pratos extravagantes (como lagostas vivas) e vinho francês Bordeaux e Borgonha, de acordo com um artigo de 2002 do New York Times.

“Era possível pedir qualquer prato da culinária russa, chinesa, coreana, japonesa e francesa”, escreveu Pulikovsky, segundo esse relatório.

Viagens de Kim Jong Un

O comboio blindado já fez várias aparições desde que Kim assumiu o poder em 2011.

O comboio, verde com faixas amarelas, foi visto em imagens dos meios de comunicação estatais russos quando Kim Jong Il visitou a Rússia em 2002. Na altura, as sanções internacionais à Coreia do Norte tinham relaxado, permitindo um breve período de maior envolvimento com o mundo exterior.

Comboio de Kim Jong Un
Comboio de Kim Jong Un© SIC Notícias

Kim filho viajou de comboio para Pequim, na China, em 2018 , marcando sua primeira viagem ao exterior desde que assumiu o poder, onde conheceu seu homólogo chinês, Xi Jinping, e outras autoridades de alto nível.

Kim fez outra viagem de comboio para Pequim, em janeiro de 2019, e, no mês seguinte, pegou o comboio para o Vietname, para se encontrar com o então presidente dos EUA, Donald Trump, na capital Hanói. Mas essa cimeira fracassou, sem nenhum acordo alcançado ou progresso concreto na promoção da desnuclearização.

Kim Jong Il terá ainda estudado na Suíça na década de 1990 e, contrariamente ao pai, já terá viajado a bordo de um luxo jato particular que adquiriu.

JORNALISTAS RUSSOS PREOCUPADOS COM "ONDA DE ENVENAMENTOS" - 13 DE SETEMBRO DE 2023

 

Jornalistas independentes russos preocupados com "onda de envenenamentos"

História de SIC Notícias •11 h

A jornalista russa Elena Kostyuchenko viajava de comboio para Berlim em outubro passado, quando adoeceu abruptamente, num caso que levou as autoridades alemãs a investigar uma suspeita de tentativa de envenenamento.

Jornalistas independentes russos preocupados com "onda de envenenamentos"
Jornalistas independentes russos preocupados com "onda de envenenamentos"© Canva

Jornalistas russos independentes denunciaram, nesta terça-feira, à Lusa o ambiente de insegurança que sentem ao exercer a profissão, temendo a "onda de envenenamentos" que se tem registado contra profissionais da imprensa e ativistas da Rússia.

No Harriman Institute da Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque, Galina Timchenko - cofundadora, CEO e editora da Meduza, o maior meio de comunicação independente russo publicado em russo e inglês - e Ivan Kolpakov - editor chefe da Meduza - falaram dos desafios que enfrentam para transmitir notícias dentro da Rússia, apesar da forte propaganda do Kremlin.

Em resposta a uma questão da agência Lusa sobre os perigos de exercer jornalismo independente na Rússia, Ivan Kolpakov assegurou que esses perigos não estão limitados às fronteiras terrestres do país, multiplicando-se os casos de jornalistas russos atacados no estrangeiro.

"Na Rússia é proibido ser jornalista independente. Vamos para a prisão se fizermos jornalismo independente, basicamente. Então, se alguém trabalhar para a Meduza, pode ser preso porque está trabalhar para uma organização que foi considerada 'indesejável'. Ou pode ir para a prisão porque é 'traidor do Estado', ou porque está a violar uma lei sobre 'divulgação de informação sobre o exército russo'", explicou.

“Não é seguro ser jornalista russo em lugar nenhum”

"Mas ser jornalista russo não é seguro mesmo que você não esteja na Rússia. Talvez já tenham ouvido falar que a nossa repórter Elena Kostyuchenko foi envenenada na Alemanha no ano passado. Há uma onda de envenenamento de jornalistas e ativistas russos neste momento na Europa. Portanto, infelizmente, não é seguro ser jornalista russo em lugar nenhum", afirmou o editor chefe da Medusa, que está agora sediada em Riga, capital da Letónia.

A jornalista dissidente russa Elena Kostyuchenko viajava de comboio para Berlim em outubro passado, quando adoeceu abruptamente, num caso que levou as autoridades alemãs a investigar uma suspeita de tentativa de envenenamento.

A mulher de 35 anos - que deixou a Ucrânia depois de ter sido informada de que unidades chechenas em postos de controlo russos receberam ordens para matá-la - foi uma entre três jornalistas russos exilados que adoeceram com sintomas de envenenamento em capitais europeias durante o mesmo período, segundo o 'site' de investigação The Insider.

Além dos ataques físicos, jornalistas russos independentes têm sofrido outros tipos de pressões nos países em que estão exilados.

A autoridade de comunicação social da Letónia revogou em dezembro passado a licença de transmissão do canal de televisão independente russo Dozhd, que operava no exílio desde que Moscovo invadiu a Ucrânia.

"Estes são apenas alguns exemplos de como é ser um jornalista russo nos dias de hoje. Você foge do seu Governo, vai para a Letónia, um país vizinho e que faz parte da União Europeia, e então acaba expulso. É como se estivessem a lutar contra nós de ambos os lados. É perigoso ser jornalista russo? Eu acho que sim", admitiu Ivan Kolpakov, um dos jornalistas russos que entrevistou o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, logo após a invasão.

No evento em Nova Iorque, Galina Timchenko declarou que, após os episódios de envenenamento, foram adotados protocolos rígidos para evitar que situações semelhantes voltassem a acontecer contra jornalistas, principalmente em viagens, limitando, por exemplo, o consumo de líquidos em hotéis.

"Já sabíamos do caso da Elena Kostyuchenko desde o ano passado, então mudamos todos os nossos protocolos. Primeiro, para a nossa equipa editorial, depois para os nossos 'freelancers' e depois para todos nós", explicou a fundadora da Meduza.

"Pudemos perceber o padrão de quase todas as intoxicações, apesar de algumas ainda não terem sido reveladas: ocorreram durante viagens. Então, impusemos regras muito rígidas para viagens, para o uso de líquidos e para a vida quotidiana. Por exemplo, proibimos estritamente qualquer entrega de comida ou entrega ao domicílio ao nosso pessoal. É um pouco estranho, mas impusemos algumas regras para não usarem líquidos dentro dos hotéis e assim por diante. Mudamos seis ou sete protocolos", disse Timchenko.

Atmosfera anti-Ucrânia

Questionada ainda pela Lusa sobre o tipo de conteúdo informativo a que os cidadãos russos têm acesso nas suas televisões diariamente, a jornalista explicou que, antes mesmo da invasão, foi criada uma atmosfera anti-Ucrânia.

"Antes do início da guerra, era muito difícil assistir ao noticiário. Não havia notícias sobre a Rússia. Nada. Todas as notícias eram sobre a Ucrânia, sobre o quão ruim era a sua situação económica, a situação na sociedade civil, má cultura e assim por diante. Todas as notícias, todos os dias, eram sobre a Ucrânia. Nada sobre notícias internas da Rússia", disse.

"Atualmente, por um lado, tentam preencher todo o tempo de transmissão com programas de infoentretenimento ou entretenimento. E, ao mesmo tempo, debatem agressivamente sobre como os ucranianos odeiam os russos. É só isso", acrescentou Galina Timchenko, que afirmou que quando o Presidente russo, Vladimir Putin, chegou ao poder, a repressão e censura começaram a aumentar.

A Meduza consegue alcançar milhões de pessoas dentro da Rússia, apesar da redação do projeto funcionar no exílio durante os últimos nove anos. Em abril de 2021, as autoridades russas designaram a Meduza como um "agente estrangeiro" numa tentativa de reduzir as suas receitas publicitárias e, semanas após a invasão da Ucrânia pela Rússia, o Kremlin começou a bloquear completamente o website da Meduza.

Já em janeiro deste ano, Moscovo proibiu completamente a Meduza, declarando o meio de comunicação uma "organização indesejável" ilegal.

Face a essas circunstancias, a Meduza adaptou-se, mudando não só mudou a linguagem e o estilo associado à imprensa russa, mas conseguiu também inovar em diversas áreas -- desde novos formatos, até publicidade, desde 'podcasts' até manchetes animadas e de fácil acesso ao público.

Em 2022, a Meduza recebeu o Prémio Fritt Ord pelo seu "jornalismo corajoso, independente e baseado em factos".

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