quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

DIA INTERNACIONAL DA LÍNGUA MATERNA - 21 DE FEVEREIRO DE 2024

 

Língua materna

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Língua materna (também língua nativa) é a primeira língua que uma criança aprende e que geralmente corresponde ao grupo étnico-linguístico com que o indivíduo se identifica culturalmente. Ou é a primeira lingua de comunicação. Por exemplo, uma criança descendente de portugueses mais facilmente irá adotar a língua que os seus pais utilizam devido às suas origens. Em certos casos, quando a criança é educada por pais (ou outras pessoas) que falem línguas diferentes, é possível adquirir o domínio de duas línguas simultaneamente, cada uma delas podendo ser considerada língua materna, configura-se então uma situação de bilinguismo.[1]

A expressão língua materna provém do costume em que as mães eram as únicas a educar os seus filhos na primeira infância, fazendo com que a língua da mãe seja a primeira a ser assimilada pela criança, condicionando seu aparelho fonador àquele sistema linguístico. A aquisição da língua materna ocorre em várias fases. Inicialmente, a criança regista literalmente os fonemas e as entonações da língua, sem ainda ser capaz de os reproduzir. Em seguida, começa a produzir sons e entonações até que seu aparelho fonador permita-lhe a articular palavras e organizar frases, assimilando contemporaneamente o léxico. A sintaxe e a gramática são integradas paulatinamente dentro deste processo de aprendizagem.[2]

Abordagens de linguistas

Saussure[3] não define o conceito de falante nativo, mas de comunidade de fala/língua. Propõe três categorias: langage (o que acontece linguisticamente em uma comunidade de fala), langue (o sistema linguístico utilizado) e parole (a fala realmente utilizada pelas pessoas). Afirma que membros de uma mesma comunidade linguística, embora falem de forma diferente, entendem-se mutualmente e que, portanto, devem compartilhar uma série de regras que lhes permite o entendimento.

O linguista Bloomfield, autor de Linguagem[4] não utiliza o termo falante nativo mas usa “a língua nativa”. Chomsky[5] afirma que “cada pessoa é um falante nativo de estados de uma língua particular que ‘cresce’ em seu cérebro/sua mente ”. Ele compõe uma das ambiguidades que existe na ideia de falante nativo e usa-a para se referir a uma pessoa e a um ideal.

Para Paikeday[6] existe um determinante genético de aquisição de fala e “ser humano é ser um falante nativo”. Ele aponta a discriminação no emprego do termo fala nativa, que se usa contra falantes que não possuem as características ideais e afirma que este termo não deve ser usado para excluir certos tipos de pessoas do ensino da língua, edição de dicionários, documentos e outras funções semelhantes. Acredita que a melhor solução é separar o ideal e os significados operativos do falante nativo. Para ele, os verdadeiros árbitros de gramaticalidade não são apenas os falantes nativos, mas também usuários com proficiência na língua.

Felix[7] propõe a existência de dois sistemas cognitivos distintos para o aprendizado de uma língua: o primeiro é um sistema de estruturas cognitivas de língua específica e o segundo são estruturas cognitivas de resolução de problema. De acordo com o autor, o primeiro é disponível até a puberdade e por isso, para adquirir uma língua, o falante nativo utiliza principalmente o sistema de estruturas cognitivas de língua específica, enquanto que no falante não-nativo, os dois sistemas competem um com o outro.

Segundo Tannen & Saville-Troike,[8] a competência comunicativa do falante nativo significa uma aquisição de várias habilidades interacionais, dentre elas: a capacidade de relacionar-se e adaptar-se a outros interlocutores, observar o protocolo pragmático, ser sensível ao contexto e desse modo, poder acessar unidades linguísticas adequadas, desempenhar diálogo de maneiras apropriadas e ser capaz de relacionar um texto contínuo à própria compreensão de mundo do usuário. Portanto, para o falante nativo, existe um menor esforço ao interagir verbalmente com familiares e, com isso mais silêncio não preenchido (informação implícita) entre familiares se comparado a uma interação com estranhos.

Richards et al.[9] dá ênfase à importância da intuição para definir um falante nativo. Hymes (1970) propôs o termo competência comunicativa para tratar do conhecimento aprendido a partir de normas culturais, que é crucial no uso da língua, em especial do falante nativo. Para esta competência, não é suficiente saber o que se fala, é preciso saber como se diz. E o “como” para este autor não se refere à performance de fala, mas ao uso adequado do registro, da variedade, do texto, da fórmula, do tom de voz e da formalidade. Para o falante nativo, em geral, o uso das formas apropriadas é adquirida através de sua língua materna.

Outras características

No falante nativo, a língua está muito ligada à comunidade de fala, ao senso de identidade e à cultura. Com relação à competência, ele tem noção de automaticidade, isto é, de um desempenho sem pensar em todas as áreas de seu conhecimento pois ele é familiar com todos os recursos estruturais do código linguístico e é capaz de fazer julgamentos de percepção, além disso, aprende sua primeira língua de acordo com um sistema cognitivo específico de línguas. Por isso, ele tem mais conhecimento e consciência de sua própria gramática, de sua própria fala e do outro.

De acordo com diversos linguistas, existe uma gramática cujo nível de abstração está acima da fala individual, assim, neste sentido ser um falante nativo significa estar linguisticamente próximo a outros falantes. Deste modo, a língua comum de qualquer comunidade, seja de uma família, cidade, tribo, povoado, região, ilha, país pode ser objeto de descrição gramatical.

Porter[10] relata que falantes nativos não usam o tipo de linguagem agramatical algumas vezes encontrada na fala de um estrangeiro. Os erros de falantes nativos costumam ser de performance, concordância de sujeito e verbo e referência de pronome. Possuem também significativamente mais palavras (vocabulário) e são capazes de monitorar sua própria fala e a fala de outro interlocutor mais atentamente, este que é o padrão paralelo ao de autocorreção e correção dos outros. Reconhecem mais facilmente quando uma frase, texto ou som (pronúncia) pode ser ou não de sua língua, se lhe é familiar ( correto ) ou não, sabem quando uma palavra ou expressão nova, que ele nunca ouviu antes ou inventou, “pertence” à sua língua. Ou seja, o falante nativo tem a capacidade e a autoridade para gerar criatividade na língua nas mais diversas áreas. Também fazem regressão, correspondência e negociações.

Ver também

Referências

  1.  Bloomfield, Leonard. Language ISBN 81-208-1196-8
  2.  "K*The Native Speaker: Myth and Reality By Alan Davies ISBN 1-85359-622-1
  3.  Saussure, F. (1966) Course in General Linguistics (trans. W. Baskin). New York: McGraw-Hill
  4.  Bloomfield, L. Language
  5.  Chomsky, N. (1986) Knowledge of Language: Its Nature, Origin and Use. New York: Praeger.
  6.  Paikeday, T.M.The native speaker is dead!
  7.  Felix, S.W. Cognition and Language Growth
  8.  Tannen, D. and Saville-Troike, M. Perspectives on Silence
  9.  Richards, J., Platt, J. and Platt, H. (1985/1992) Longman Dictionary of Language Teaching and Applied Linguistics. Harlow: Longman.
  10.  Porter, P.A. (1986) How learners talk to each other: Input and interaction task-centred discussions. In R.R. Day (ed.) Talking to Learn: Conversations in Second Language Acquisition. Rowley, MA: Newbury House.

Bibliográficas

  • CORACINI, M. J. Língua estrangeira e língua materna: uma questão de sujeito e identidade. In: CORACINI, M. J. ( org. ). Identidade e Discurso: (des)construindo subjetividades. Campinas: Editora da UNICAMP, 2003. ISBN: 85-2680-635-1
  • DAVIES, A. The Native Speaker: Myth and Reality. Clevedon: Multilingual Matters, 2003. ISBN 1-85359-622-1
  • GRIGOLETTO. M. Representação, identidade e aprendizagem de língua estrangeira. In: CORACINI, M. J. ( org. ) Identidade e Discurso: (des)construindo subjetividades. Campinas: Editora da UNICAMP, 200
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SÃO PEDRO DAMIÃO - 21 DE FEVEREIRO DE 2024

 

Pedro Damião

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Para outros santos chamados de "São Pedro", veja São Pedro (desambiguação).
Pedro Damião
São Pedro Damião
Por Andrea Barbiani na Biblioteca Classense, RavenaItália
Cardeal-Bispo de ÓstiaDoutor da IgrejaDecano do Colégio dos CardeaisConfessor
Nascimentoc. 1007[a]
Ravena
Morte21 de fevereiro de 1072 (65 anos) (ou 1073)[1]
Óstia
Veneração porIgreja Católica
Principal temploCatedral de FaenzaItália
Festa litúrgica21 de fevereiro
AtribuiçõesCardeal segurando um chicote com nós (a disciplina); peregrino segurando uma bula papalChapéu cardinalício e hábito beneditino
 Portal dos Santos

São Pedro DamiãoOSB (em latimPetrus Damianus; em italianoPetrus Damiani) foi um monge reformador do círculo do papa Leão IX e um cardeal que, em 1823, foi declarado um Doutor da IgrejaDante o colocou num dos mais altos círculos do Paraíso como um grande precursor de São Francisco de Assis.

Primeiros anos

Pedro nasceu em Ravena, na Itália, por volta de 1007. Orfão desde muito jovem, teve uma juventude difícil e cheia de provações, mas já demonstrava na época sinais de seu notável intelecto, a ponto de seu irmão, Damião (Damianus), o arcipreste de Ravena, garantir que ele fosse bem educado. Adicionando o nome do irmão ao seu, Pedro avançou tão rapidamente em seus estudos sobre teologia e direito canônico, primeiro em Ravena, depois em Faenza e, finalmente, em Parma, que, aos vinte e cinco anos, já era um famoso professor em Parma e Ravena.[2]

Vida religiosa

Por volta de 1035, porém, Pedro abandonou seus estudos seculares e, para evitar o luxo dos mosteiros cluníacos, entrou para o isolado eremitério de Fonte Avellana, perto de Gubbio. Tanto como noviço quanto como monge, seu fervor era notável, mas levava-o por vezes a tais extremos de auto-mortificação durante suas penitências que a sua saúde acabou afetada. Quando se recuperou, foi nomeado para ensinar os companheiros e, depois, a pedido de Guy de Pomposa (Guido d'Arezzo) e outros abades vizinhos, ensinou também por uns dois ou três em mosteiros. Por volta de 1042, Pedro escreveu uma hagiografia de São Romualdo para os monges de Pietrapertosa. Logo depois de retornar a Fonte Avellana, foi nomeado economus ("gerente" ou "zelador") do mosteiro pelo prior, que também o apontou como seu sucessor. Em 1043, Pedro Damião tornou-se prior de Fonte Avellana e permaneceu no posto até morrer, em fevereiro de 1072.[2]

Um dedicado defensor de reformas tanto no clero quanto nas comunidades monásticas, Pedro introduziu uma disciplina mais severa, incluindo a prática da flagelação ("a disciplina") em sua casa que, sob seu comando, rapidamente tornou-se famosa e modelo para outras, até mesmo para a grande abadia de Monte Cassino: eremitérios filiais foram fundados em San Severino, Gamogna, Acerreta, Murciana, San Salvatore, Sitria e Ocri. Contudo, fora de seu círculo mais imediato, Pedro teve que enfrentar muita oposição às suas formas extremas de penitência, mas a insistência do monge garantiu a aceitação de seus métodos, a ponto de ele ser obrigado no futuro a moderar o zelo demasiado de alguns de seus próprios eremitas.

Outra inovação implantada por ele foi a siesta diária para compensar a fadiga dos ofícios noturnos. Durante seu governo, um claustro foi construído, um cálice e uma cruz processional de prata foram comprados e muitos livros foram incorporados à biblioteca, muito estimada por ele.

Reformador

Apesar de viver no retiro de um claustro, Pedro Damião acompanhava atentamente a Igreja e, como seu amigo Hildebrando, o futuro papa Gregório VII, lutou para implantar suas reformas numa época de grande decadência da vida religiosa. Quando Bento IX renunciou ao seu pontificado em nome do arcipreste João Graciano (Gregório VI) em 1045, Pedro comemorou a mudança e escreveu para o novo papa urgindo-o a enfrentar os escândalos que atormentavam a igreja italiana, apontando nominalmente os corruptos bispos de Pesaro, de Città di Castello e de Fano.

Expandindo ainda mais suas atividades, Pedro passou a se comunicar com o imperador Henrique III. Ele estava presente em Roma quando Clemente II coroou Henrique e sua consorte, Inês, e também compareceu a um sínodo realizado no Palácio Laterano nos primeiros dias de 1047 que emitiu decretos contra a simonia.

Liber Gomorrhianus e as reformas de Hildebrando

Depois disto, Pedro Damião retornou ao seu eremitério. Por volta de 1050, durante o pontificado de Leão IX, escreveu um contundente tratado chamado "Liber Gomorrhianus" ("Livro de Gomorra") sobre os vícios do clero, incluindo o abuso sexual de menores e os esforços da hierarquia eclesiástica para escondê-los. Foi endereçada abertamente ao papa.

Enquanto isso, a Igreja passou a discutir calorosamente a validade das ordenações realizadas pelo clero simoníaco (ou seja, por pessoas que compraram seus cargos). Damião escreveu, por volta de 1053, um tratado chamado "Liber Gratissimus" defendendo sua validade, uma obra que, apesar de muito combatida na época, foi muito importante para definir a questão a favor dos padres ordenados no final do século XII. Numa repetição da argumentação contra a heresia donatista, defendeu que a graça não dependia da perfeição do veículo que a concede (o sacerdote).

Legado papal e cardeal

Afresco de São Pedro Damião com a Virgem Maria.
Em OssiachCaríntia, na Áustria.

Depois de ficar doente, o papa morreu e Frederico, abade de Monte Cassino, foi eleito como Estêvão IX. No outono de 1057, Estêvão se convenceu que Damião precisava ser um cardeal. Por um longo tempo, ele resistiu, pois ficava muito mais confortável como um pregador-eremita do que como um reformador dentro da Cúria, mas acabou finalmente sendo forçado a aceitar e foi consagrado cardeal-bispo de Óstia em 30 de novembro de 1057. Além disso, ele foi nomeado também administrador da Diocese de Gubbio. O novo cardeal ficou impressionado com as grandes responsabilidades de seu novo cargo e escreveu uma incômoda carta aos seus companheiros cardeais exortando-os a brilhar como exemplos perante todos. Quatro meses depois, Estêvão morreu em Florença e a Igreja novamente caiu num desgastante cisma. Pedro combateu vigorosamente o antipapa Bento X, mas acabou sendo vencido e retirou-se temporariamente para Fonte Avallana.

Milão

Por volta do fim de 1059, Pedro foi enviado como legado papal a Milão pelo papa Nicolau II. A situação ali estava tão difícil que os benefícios (o rendimento vinculado a um cargo eclesiástico e que permite ao seu titular - o beneficiário - cumprir corretamente uma função na Igreja) eram ali comprados e vendidos abertamente e clérigos casavam-se abertamente com as mulheres com quem viviam. A resistência do clero de Milão à reforma de Arialdo, o Diácono, e Anselmo, bispo de Lucca, provocaram uma confusão tão grande que um apelo foi feito pedindo a intermediação da Santa Sé. Nicolau II enviou Damião e o bispo de Lucca como seus legados. O partido dos clérigos irregulares se assustou e afirmou que Roma não tinha autoridade sobre Milão. Pedro enfrentou corajosamente os amotinados na catedral e comprovou de tal forma a autoridade da Santa Sé que todos os partidos acabaram se submetendo à sua decisão.

Ele exigiu primeiro um juramento solene do arcebispo e de todos os seus clérigos de que nunca mais uma função eclesiástica seria vendida; impôs em seguida uma penitência a todos os culpados e restaurou os benefícios de todos os que se comprometeram a viver no celibato. Esta decisão, apesar de criticada por alguns mais rigorosos em Roma, não foi revertida. Infelizmente, com a morte de Nicolau II, o conflito recrudesceu e só seria resolvido depois do martírio de Santo Arialdo. Em paralelo a tudo isso, Pedro pediu incessantemente para ser libertado das distrações de seu cargo, mas nem Nicolau e nem Hildebrando consentiram.

Anos finais

Pedro deu uma valiosa contribuição ao papa Alexandre II em sua luta contra o antipapa Honório II (Pietro Cadalus). Em julho de 1061, o papa morreu e novamente um cisma dividiu a igreja ocidental. Pedro usou de todos os meios à sua disposição para persuadir Cadalus a recuar, mas não teve sucesso. Finalmente, Anno II, o arcebispo de Colônia e regente no Sacro Império Romano-Germânico, convocou um concílio em Augsburgo no qual um longo argumento de Pedro Damião foi lido e ajudou muito para que a decisão fosse favorável a Alexandre.

Em 1063, o papa realizou um sínodo em Roma no qual Pedro Damião foi nomeado legado para resolver o conflito entre a Abadia de Cluny e o bispo de Mâcon. Ele seguiu para a França, convocou um concílio em Chalon-sur-Saône, provou que os cluníacos estavam certos, resolveu outras questões da igreja da França e retornou no outono seguinte para Fonte Avellana. Enquanto estava na França, Cadalus tentava novamente conquistar o trono em Roma e Pedro acabou sendo duramente admoestado por Alexandre e Hildebrando por ter imprudentemente, por duas vezes, apelado aos poderes seculares para que julgassem o caso. Em 1067, o cardeal Damião foi enviado a Florença para resolver o conflito entre o bispo e os monges de Vallombrosa, que acusavam-no de simonia. Seus esforços, porém, não deram em nada, principalmente por que ele avaliou mal a questão e decidiu a favor do bispo. O caso só seria resolvido no ano seguinte pela intercessão pessoal do papa.

Capela de São Pedro Damião na Catedral de Faenza.

Tendo servido como legado na França e em Florença, Pedro finalmente foi autorizado a renunciar em 1067. Depois de um período de retiro em Fonte Avellana, seguiu, em 1069, como legado papal para o Império Romano-Germânico e persuadiu o imperador Henrique IV a desistir de se divorciar de sua esposa Berta, retornando para Fonte Avellana em seguida.

No início de 1072 ou em 1073,[1] Pedro foi enviado a Ravena para reconciliar a população da cidade com a Santa Sé depois de todos terem sido excomungados por apoiarem o arcebispo em sua aliança com o incansável Cadalus. No caminho de volta, Pedro foi acometido por uma febre perto de Faenza. Ele permaneceu enfermo por uma semana no mosteiro de Santa Maria degl'Angeli (moderna Santa Maria Vecchia) e, na véspera da festa do Trono de São Pedro em Antioquia, ordenou que o ofício da festa fosse recitado e, no final das laudas, morreu. Foi imediatamente enterrado na igreja do mosteiro para evitar que outros reivindicassem suas relíquias.

Em seus anos finais, Pedro Damião já não mais concordava totalmente com as ideias políticas de Hildebrando e morreu um ano antes de ele tornar-se papa como Gregório VII. Sua morte "...tirou de cena o único que poderia ter contido Gregório", lembrou Norman F. Cantor.[3]

Veneração

Pedro Damião foi canonizado e feito Doutor da Igreja pelo papa Leão XII em 1828. Seu corpo já mudou de lugar seis vezes e, desde 1898, está numa capela dedicada a ele na Catedral de Faenza.

Obras

Opera omnia, 1743
Vita Beati Romualdi

Pedro Damião escreveu muitas obras, incluindo vários tratados (67 sobreviveram), cartas, sermões, preces, hinos e textos litúrgicos (mas, numa diferença da prática tradicional dos monges medievais, nenhum comentário bíblico)[4] nas quais ele reflete as condições espirituais da Itália na época. Entre elas:

  • Sua obra mais famosa é a "De Divina Omnipotentia", uma longa carta na qual ele discute o poder de Deus;
  • No curto "Dominus vobiscum" ("O Senhor é convosco") (PL CXLV:231-252), Damião questiona se um eremita rezando solitário deve usar o plural e conclui que sim, uma vez que ele está ligado à toda Igreja por sua fé e amizade.
  • "Vida de Romualdo" e o tratado "Ordem Eremítica": obras que demonstram seu compromisso contínuo com a solidão e um severo ascetismo como a forma mais elevada da vida cristã.
  • Ele era particularmente devoto da Virgem Maria e escreveu um "Officium Beatae Virginis".
  • "Liber Gomorrhianus" ("Livro de Gomorra") sobre os vícios do clero, incluindo o abuso sexual de menores e os esforços da hierarquia eclesiástica para escondê-los.
  • "Liber Gratissimus", sobre a validade das ordenações realizadas pelo clero simoníaco (ou seja, por pessoas que compraram seus cargos).

Filosofia

Pedro geralmente condenava a filosofia e defendia que o primeiro gramático era o diabo, que teria ensinado Adão a declinar deus no plural. Ele argumentava que monges não precisavam estudar filosofia pois Jesus não havia escolhido nenhum filósofo como discípulo, concluindo que a filosofia não seria então necessária para a salvação. Mas a ideia (atribuída depois a Tomás de Aquino) que a filosofia deveria ser serva da teologia como uma empregada serve sua patroa é de Pedro Damião.[5] Porém, esta aparente animosidade pode ser decorrente com sua visão de que a lógica está preocupada apenas com a validade de um argumento e não com a natureza da realidade em si. Pontos de vista similares podem ser encontrados nas obras de Al-Ghazali e Wittgenstein.

O tratado "De divina omnipotentia" de Damião é frequentemente interpretado de forma errônea. O propósito de Damião era defender a "doutrina da onipotência", que ele define como sendo a habilidade de Deus de fazer tudo o que é bom, cujo corolário é que Deus não pode mentir. Toivo J. Holopainen afirma que a obra é "um documento interessante sobre os primeiros desenvolvimentos da discussão medieval sobre modalidades e a onipotência divina".[2] Pedro também reconheceu que Deus pode agir fora do tempo, um argumento que seria depois defendido por Gregório de Rimini.[6]

Notas

[a] ^ "Cinco anos depois da morte do imperador Otão III".

Referências

  1. ↑ Ir para:a b Howe, John (junho de 2010). «Did St. Peter Damian Die in 1073 ? A New Perspec­tive on his Final Days»Analecta Bollandiana128 (1): 67–86. Consultado em 23 de maio de 2014. Arquivado do original em 6 de janeiro de 2013 soft hyphen character character in |título= at position 49 (ajuda)
  2. ↑ Ir para:a b c Holopainen, Toivo J., "Peter Damian", The Stanford Encyclopedia of Philosophy, (Winter 2012 Edition), Edward N. Zalta (ed.)
  3.  Norman F. CantorCivilization of the Middle Ages, p 251
  4.  Bernard McGinn, The Growth of Mysticism, (1994), p125
  5.  PL CXLV, p. 603, 1867
  6.  Zupko

Bibliografia

  • Este artigo incorpora texto (em inglês) da Encyclopædia Britannica (11.ª edição), publicação em domínio público.
  • Migne (ed.). Patrologia Latina (PL). Opera Omnia (em latim). CXLIV e CXLV. Paris: Vives (PL 144 traz suas cartas e sermões; PL 145, seus tratados)
  • Pierre Damien: Lettre sur la Toute-Puissance divine, ed Andre Cantin, SC 191
  • St Peter Damian: Selected Writings on the Spiritual Life, trans Patricia McNulty, (London, 1959)
  • Zupko, J., article 'Gregory of Rimini' in A Companion to Philosophy in the Middle Ages, e.d Gracia & Noone.
  • OJ Blum, Saint Peter Damin: His Teaching on the Spiritual Life, (Washington, 1947)
  • Berger, David, "St. Peter Damian. His Attitude Toward the Jews and the Old Testament", The Yavneh Review, 4 (1965) 80-112.
  • Owen J. Blum, "The Monitor of the Popes: St. Peter Damian", in Studi Gregoriani vol. 2 (1947), pp 459–76.
  • John Boswell, Christianity, Social Tolerance, and Homosexuality Chicago (1980).
  • Pierre J. Payer, 1962. Book of Gomorrah : An Eleventh-Century Treatise against Clerical Homosexual Practices, Waterloo, Ontario: Wilfrid Laurier University Press.

•PACHECO, Marcio de Lima. Sur la protection des mineurs et des personnes vulnérables : de la beauté documents au silence des églises particulières sur les dénonciations et faits survenus. Lyon, 2012. 83p.

•DAMIÃO, Pedro. Liber Gommorrhianus. Trad. Prof.PhD. Marcio de Lima Pacheco. Manaus: Santa Catarian de Siena, 2019, 188p.

Ligações externas

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