OUTRAS NOTICIASSão sempre na mesma onda. Quando o Governo de António Costa tomou posse, quis por a política à frente das finanças e inventou-se até uma palavra: a
desfinanciarização do discurso. Tal como estão as coisas, não é possível tão cedo. A política regressou ao palco, é certo, mas é de finanças que se fala ainda e sempre.
Exemplos?
Banif. A Comissão de Inquérito segue o seu curso mas não promete grandes resultados. Entre o que o ministro Mário Centeno e o governador do Banco de Portugal disseram ou terão dito e o que quiseram dizer, ficou o “jogo do entala”, como dizia Rui Tavares. Quem entala ou quer entalar quem? Certo é que, depois das inflamadas intervenções do BE e do secretário de Estado Mourinho Félix sobre a falha grave de Carlos Costa e interrogações sobre o que disse ou não disse o ministro, eis que, ontem, o tom baixou de intensidade, como
aqui explicam a Alexandra Simões de Abreu e a Isabel Vicente ou o DN
aqui e
aqui.
Sobre o que verdadeiramente aconteceu com o banco-que-já-era há de ficar sempre uma nebulosa. Entre as
regras da Comissão Europeia(leia-se interpretação livre da Direção Geral de Concorrência), o papel do BCE e do Banco de Portugal e ainda do ministro das Finanças (que ainda ontem reafirmou que não disse quaisquer falsidades, como lhe imputava o PSD) há atas barradas a preto, deveres de sigilo e escasso controlo.
A seguir.
Depois, a
Comissão Europeia veio, mais um vez (e ainda dizem que não há ideologia na Comissão!), colocar baias ao Governo:
aumentar o salário mínimo não resulta. António Costa
respondeu-lhe ontem: “não estamos condenados a viver num país de baixos salários”. É a resposta taco-a-taco, nas vésperas do Governo aprovar em Conselho de Ministros e apresentar o
Programa de Estabilidade, que o Primeiro-ministro refere como um “anexo” ao que considera importante: o
Programa Nacional de Reformas, onde se contêm as reformas que quer implantar e a propósito do qual
prometeu também surpresas.
Quanto ao
Programa de Estabilidade, houve
reunião ontem entre os parceiros sobre o assunto.
Não há sombra de plano B. Mas o ministro Centeno disse que
vai haver abrandamento do crescimentoda economia: 1,8% para o ano. Será também amanhã que será aprovada a descida do IVA para restauração. O BE, entretanto, apresenta hoje um
programa económico alternativo, em jeito de contributo... e pressão.
Também amanhã é dia da
função pública: o Governo paga a segunda fatia de
25% da reposição dos cortes dos seus salários. E
António Mexia vai ganhar 2,6 milhões/ano.
Depois, quanto ao
gasóleo, tão logo o Governo anunciou a
redução dos preços do gasóleo e de portagens em ex-scuts para transportadores profissionais, veio logo o argumento dos restantes:
então e eu? É o que diz o presidente do ACP, Carlos Barbosa, de quem se fala poder
vir a ser candidato à Câmara de Lisboa. Quanto
à guerrados
suinicultores continua. Deu dois manifestantes detidos e um ferido.
E ainda há o
aspeto social da crise:
82 pessoas por dia pedem ajuda à Deco por causa do sobre-endividamento. O gráfico é estarrecedor: a confirmar-se a tendência pode chegar-se ao fim do ano com quase 30 mil pedidos de ajuda, mais do que o registado em 2014 e 2015. Mas então a crise ainda não tinha acabado? Nãããão.
Virando a página do económico, aterramos em
Lisboa. Atenção, lisboetas, preparem-se para
um longo período de obras (vêm aí eleições, não se esqueçam): as da nova Feira Popular começam até ao fim do ano, as do chamado Eixo Central da cidade já esta semana. Mas a capital vai ficar mais bonita, haja paciência. O presidente da Câmara anunciou-o ontem.
Ah, e não perca esta deliciosa notícia sobre
o comunista que o Bloco desviou para as negociações com o PS sobre a pobreza. Chamam-lhe o
Chalana e sabe a potes do assunto. Apela à sublevação dos pobres.
Lá foraAinda o
Brasil, que não nos cala o espanto. O
Ricardo Costa acha que só quem não acompanha a política deste país se surpreende, mas eu, que não lhe perco o rasto, pasmo. Assombra-me mesmo a impunidade, o descaramento, a desfaçatez, a intolerância, o ódio. É
o Brasil diante do abismo sem fundo, como se percebe nesta notícia: o corrupto Eduardo
Cunha entregou o impeachment e deve receber a amnistia em troca. E o povão vai deixar?
E, claro, os
Estados Unidos, cuja caminhada em direção às presidenciais se jogou ontem nas primárias de Nova Iorque. São as mais disputadas em décadas sem claros vencedores ainda nem entre Republicanos nem Democratas. Nova Iorque é o segundo estado com mais representantes depois da Califórnia, com 291 delegados, dos quais 44 são superdelegados. O Luís Faria
explica o que está em causa. O
El Mundo diz que para os republicanos ou é Trump ou uma guerra civil.
Foi Trump e Hillary, sem margem para dúvidas, diz o
New York Times, que também mostra como está a corrida global. Se quiser ler em português, veja
aqui.
Da
Rússia, diz o Inteligência Económica que vem aí “
Grande malandrice”: Putin anunciou a desclassificação de milhares de documentos entre 1930 e 1989 e parece que vão aparecer muitos "cadáveres políticos" (diz ele). Aguardemos.
Em
Espanha, começou a contagem para as eleições do 26-J (26 de junho, à portuguesa), mas
os socialistas não dão tudo como perdido e fazem fé ainda numa investidura. Em
França, desde 31 de março que há
manifestações na Praça da República todos os dias contra a alteração das leis do emprego.
Mais um toque de
Europa: o
desmantelamento de Schengen, de que tanto se tem falado por causa dos refugiados, custaria à Europa algo como 15 mil milhões de euros por ano. Com tantos problemas para resolver, ainda vamos comprar mais este? E um
ultimato: o da Turquia, que promete fazer tábua rasa do acordo com a União Europeia se não forem levantadas
as restrições aos vistos até junho.
O autoproclamado
Estado Islâmico promete intensificar a estratégia de terror: agora diz que o
alvo serão as praias de França, Itália e Espanha, alvos impossíveis de proteger. Um arrepio. A França anunciou o
prolongamento do estado de emergência e o Governo português disse que quer tornar o Algarve
"o destino turístico mais seguro da Europa". Espero que sim. Em nome de todos nós.
FRASES"O ajustamento implicou a perda de muitos graus de liberdade no que diz respeito à capacidade de definirmos o caminho a seguir",
Miguel Albuquerque, presidente do Governo regional da Madeira, ao Público.
"Se a senhora ministra da Administração Interna disser que a Caixa Geral de Aposentações está a aplicar bem o corte, teremos de partir para a luta",
Peixoto Rodrigues, presidente do Sindicato Unificado da Polícia, ao I.
"Visto de Barcelona ou Madrid, o nosso terrritório é um espaço regional no contexto da Península Ibérica",
Eduardo Catroga, ex-ministro das Finanças, ao I.
"Portugal não pode ser uma economia-filial",
Sandro Mendonça, economista e professor no ISCTE
O QUE ANDO A LERDois pequenos livros, em tudo diversos. Explico. O poeta e embaixador Luís Filipe Castro Mendes, o novo ministro da Cultura, deveria reformar-se em breve e, nessa expectativa, escreveu um livro, de poesia, claro: “
Outro Ulisses regressa a casa” (Assírio & Alvim). A vida trocou-lhe as voltas. Regressou a casa, sim, mas não para a reforma. Agora que está no cargo, tenho vontade de lhe perguntar: “Quem encontraste hoje que te oferecesse / o puro
leite da ternura humana / e não o mel da lisonja ou a indiferença comum?” Chamou-lhe poema de Natal e eu, abusivamente, chamo-lhe de ministro.
O outro foi uma descoberta, um pequeno livro que não aspira a ser mais do que servir para recolha de fundos para uma das mais nobres e desconhecidas causas: o
Resgate de crianças escravas no Gana, que a jornalista Alexandra Borges escreveu a meias com a sobrinha. O livro não é novo, mas veio-me parar às mãos por um acaso e lê-lo foi uma revelação. Na pátria de Kofi Anan, há crianças também chamadas kofies, não porque nasceram a uma sexta-feira, como o ex-secretário-geral da ONU, mas porque foram vendidas nesse dia da semana. Valeram 30 euros aos pais, tinham 3 ou 4 anos, não sabem o nome nem a idade. Trabalham para os pescadores do lago Volta 14h por dia, 7 dias por semana. E morrem. É um crime contra a Humanidade e a Alexandra teve a coragem e a persistência de lutar por elas. Fundou uma ONG, Filhos do Coração. Eu não sabia. E o leitor, sabe?
Ding-dong! Tempo de terminar! Tenho um bom dia! É Primavera e, por enquanto, há Sol.
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