Álvaro Cunhal
Álvaro Cunhal | |
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Álvaro Cunhal | |
Secretário-geral do Partido Comunista Português | |
Período | 31 de março de 1961 a 5 de dezembro de 1992 |
Antecessor(a) | Bento António Gonçalves |
Sucessor(a) | Carlos Carvalhas |
Ministro(a) de Portugal | |
Período | I, II, III e IV Governos Provisórios
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Dados pessoais | |
Nascimento | 10 de novembro de 1913 Coimbra, Portugal |
Morte | 13 de junho de 2005 (91 anos) Lisboa, Portugal |
Cônjuge | Isaura Moreira (1 filha) |
Partido | Partido Comunista Português, |
Profissão | Escritor, pintor, político |
Álvaro Barreirinhas Cunhal (Coimbra, 10 de Novembro de 1913 — Lisboa, 13 de Junho de 2005) foi um político e escritor português, conhecido por ser um opositor ao Estado Novo, e ter dedicado a vida ao ideal comunista e ao seu partido: o Partido Comunista Português.
Índice
Biografia[editar | editar código-fonte]
Juventude[editar | editar código-fonte]
Álvaro Cunhal nasceu em Coimbra, na freguesia da Sé Nova, filho de Avelino Henriques da Costa Cunhal, advogado e professor do ensino secundário, republicano e liberal, e de Mercedes Simões Ferreira Barreirinhas Cunhal, uma católica fervorosa.
Passou a infância em Seia, de onde o pai era natural. O pai retirou-o da escola primáriapor considerar o ensino público da altura algo deficiente. [3]
Aos 11 anos mudou-se com a família para Lisboa, onde frequentou o Liceu Camões. Daí seguiu para a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde iniciaria a sua actividade revolucionária.
Em 1931, com 17 anos, filia-se no Partido Comunista Português e integra a Liga dos Amigos da URSS e o Socorro Vermelho Internacional. Em 1934 é eleito pelo núcleo comunista presente, representante dos estudantes no Senado da Universidade de Lisboa. Em 1935 chega a secretário-geral da Federação das Juventudes Comunistas. Em 1936, após uma visita à URSS, é indicado pelo PCUS para o Comité Central do PCP.
Ao longo da década de 1930, colaborou com vários jornais e revistas como a Seara Novae o O Diabo, e nas publicações clandestinas do PCP, o Avante e O Militante, com vários artigos de intervenção.
Em 1940, a cumprir pena de prisão pela segunda vez, Cunhal é escoltado pela polícia à Faculdade de Direito de Lisboa, onde apresenta a sua tese da licenciatura em Direito, sobre a temática do aborto e a sua despenalização, tema pouco vulgar para a época em questão. A sua tese, apesar do contexto político pouco favorável, foi classificada com 16 valores. Do júri fazia parte Marcello Caetano. [4] [5]
Oposição à Ditadura[editar | editar código-fonte]
Devido aos seus ideais comunistas, à sua assumida e militante oposição ao Estado Novoe à acção violenta prepetrada por movimentos afectos ao partido, esteve preso em 1937, 1940 e 1949-1960, num total de 15 anos, oito dos quais em completo isolamento sem nunca, incrivelmente, ter perdido a noção do tempo. Mesmo sob violenta tortura, nunca falou, o que evidencia a sua coragem física. Na prisão, como forma de passar o tempo, dedicou-se à pintura e à escrita. Uma das suas produções mais notáveis aquando da sua prisão, foi a tradução e ilustração da obra Rei Lear, de William Shakespeare[6]Contando-se também os romances Cinco dias, cinco noites e Até amanhã camaradas, que editaria sob o pseudónimo de Manuel Tiago.
A 3 de Janeiro de 1960, Cunhal, juntamente com outros camaradas, todos quadros destacados do PCP, protagonizaram a célebre "fuga de Peniche", possível graças à cumplicidade do próprio regime, a um planeamento muito rigoroso e a uma grande coordenação entre o exterior e o interior da prisão[7]
Ocupou o cargo de secretário-geral do Partido Comunista Português, sucedendo a Bento Gonçalves, entre 1961 e 1992, tendo sido substituído por Carlos Carvalhas.
Em 1968 Álvaro Cunhal presidiu à Conferência dos Partidos Comunistas da Europa Ocidental, o que é revelador da confiança que já nessa altura detinha no PCUS. Para tal não terá sido indiferente o ter-se mostrado um dos mais veementes apoiantes da sangrenta invasão da então Checoslováquia pelos tanques do Pacto de Varsóvia, ocorrida nesse mesmo ano.
Entretanto, foi condecorado com a Ordem da Revolução de Outubro. pelo PCUS.
Após o 25 de Abril[editar | editar código-fonte]
Regressou a Portugal cinco dias depois do 25 de Abril de 1974. Nesse mesmo dia, passeou de braço dado com Mário Soares, por Lisboa, por imposição de ambos os instigadores e apoiantes do golpe, o PCUS e os EUA.
Foi ministro sem pasta no I, II, III e IV governos provisórios e também deputado à Assembleia da República entre 1975 e 1992.
Em 1982, tornou-se membro do Conselho de Estado, abandonando estas funções dez anos depois, quando saiu da liderança do PCP.
Além das suas funções na direcção partidária, foi romancista e pintor, escrevendo sob o pseudónimo de Manuel Tiago, o que só revelou em 1995.
Em 1989 Álvaro Cunhal foi à URSS para ser operado a um aneurisma da aorta, sendo recebido em Moscovo por Mikhail Gorbatchov o qual o agraciou com a Ordem de Lenine.[8] Nos últimos anos da sua vida sofreu de glaucoma, acabando por cegar.
Faleceu em 13 de Junho de 2005, em Lisboa, e no seu funeral (a 15 de Junho), participaram mais de 250.000 pessoas[9]. Por sua vontade, o corpo foi cremado.
Da sua relação com Isaura Maria Moreira, teve uma filha, Ana Maria Moreira Cunhal, nascida a 25 de Dezembro de 1960, a qual casou tendo dois filhos. Vive actualmente nos Estados Unidos.
Álvaro Cunhal ficou na memória como um comunista que nunca abdicou do seu ideal, tendo mantido sempre o mesmo discurso desde 1920.
Centenário do seu nascimento[editar | editar código-fonte]
No ano de 2013 comemorou-se os cem anos do nascimento de Álvaro Cunhal, através de iniciativas que percorreram a sua vida política, cultural e artística, bem como exposições em sua homenagem, relembrando a sua importância para a liberdade e a democracia conquistadas em Abril[10].
Obras[editar | editar código-fonte]
Colectâneas[editar | editar código-fonte]
- Obras escolhidas. Lisboa, Editorial «Avante!»:
- Volume I (1935-1947), 2007. ISBN 978-972-550-321-8.
- Volume II (1947-1964), 2008.
- Volume III (1964-1966), 2010.
- Volume IV (1967-1974), 2013
- Volume V (1974-1975), 2014
- Volume VI (1976), 2015
- Coordenação, prefácio e notas de Francisco Melo.
- Texto do prefácio do primeiro volume da obra.
Intervenção política e ensaio[editar | editar código-fonte]
- O Aborto: Causas e Soluções (tese apresentada em 1940 para exame no 5.º ano jurídico da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa). Porto: Campo das Letras, 1997.
- «Cinco Notas sobre Forma e Conteúdo», in Vértice n.º 131-132, agosto-setembro de 1954.
- Rumo à Vitória: As Tarefas do Partido na Revolução Democrática e Nacional. Edições Avante!, 1964.
- As duas primeiras edições da obra são clandestinas.
- 3.ª ed., Porto: Edições "A Opinião", 1974.
- 4.ª ed., Lisboa: Edições Avante!, 1979.
- A Questão Agrária em Portugal. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1968.
- Reeditado após 1974 como Contribuição Para o Estudo da Questão Agrária. Lisboa: Edições Avante!, 2 vols., 1976.[1]
- O Radicalismo Pequeno-Burguês de Fachada Socialista. Lisboa: Edições Avante!
- As duas primeiras edições, em 1970 e 1971, foram clandestinas.
- A 3.ª edição foi publicada em 1974.
- A superioridade moral dos comunistas. Lisboa: Edições Avante!, 1974.
- A Revolução Portuguesa: O Passado e o Futuro. Lisboa: Edições Avante!, 1976.
- A 2.ª edição, de 1994, inclui o artigo A revolução portuguesa 20 anos depois.
- As Lutas de Classes em Portugal nos Fins da Idade Média. Lisboa: Editorial Estampa, 2.ª edição, revista e aumentada, 1980.
- O Partido com Paredes de Vidro. Lisboa: Edições Avante!, 1985.
- Discursos Políticos
- 22 volumes editados entre 1974 e 1987
- Acção Revolucionária, Capitulações e Aventura. Lisboa: Edições Avante!, 1994.
- A Arte, o Artista e a Sociedade, Lisboa: Editorial Caminho, 1996. ISBN 972-21-1068-3.
- A Verdade e a Mentira na Revolução de Abril: A Contra-Revolução Confessa-se. Lisboa: Edições Avante!, 1999. [2]
Literatura[editar | editar código-fonte]
Autor de vários romances e novelas, publicados sob o pseudónimo de Manuel Tiago.
- Até Amanhã, Camaradas. Lisboa: Edições Avante!, 1974
- Adaptado como série televisiva pela SIC.
- Cinco Dias, Cinco Noites. Lisboa: Edições Avante!, 1975.
- Em 1996 foi produzido um filme baseado nesta obra pelo realizador José Fonseca e Costa.
- A Estrela de Seis Pontas. Lisboa: Edições Avante!, 1994.
- A Casa de Eulália. Lisboa: Edições Avante!, 1997.
- Fronteiras. Lisboa: Edições Avante!, 1998.
- Um Risco na Areia. Lisboa: Edições Avante!, 2000.
- Sala 3 e Outros Contos. Lisboa: Edições Avante!, 2001.
- Os Corrécios e Outros Contos. Lisboa: Edições Avante!, 2002.
- Lutas e vidas: Um Conto. Lisboa: Edições Avante!, 2003.
Artes Plásticas[editar | editar código-fonte]
- Capa e desenhos da 1.ª edição de Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes.
- Desenhos da Prisão - I e II. Lisboa: Edições Avante!
Traduções[editar | editar código-fonte]
- Shakespeare, William. O Rei Lear. Lisboa: Editorial Caminho, 2002 (1.ª edição desta versão). ISBN 972-21-1485-9
- A primeira publicação desta tradução fez parte do volume inicial da colecção Obras de Shakespeare[11], que também incluía as peças Romeu e Julieta, traduzida por Luís Sousa Rebelo, e Sonho de uma Noite de Verão, traduzida por Maria da Saudade Cortesão.
- A tradução foi realizada entre 1953 e 1955, quando Álvaro Cunhal se encontrava detido na cadeia de Lisboa[12] A publicação foi feita sob o pseudónimo de Maria Manuela Serpa[13]