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Por Valdemar Cruz
Jornalista
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9 de Setembro de 2016 |
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O que faria Einstein?
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Posto perante o dilema de escrever um Expresso Curto com tantos temas passíveis de merecerem o destaque de abertura – Incêndios,
IRS, Comandos, governantes com viagens pagas pela Galp, o discurso de
Maria Luís Albuquerque na Grécia, a recapitalização da CGD -
dei comigo a pensar numa pergunta que, escrevia há tempos um professor
(Thomas Levenson) do Massachussetts Institute of Technology, EUA, os jornalistas deviam com mais frequência colocar a si próprios: o que faria Einstein?
Num meio de tópicos tão complexos e num mundo comunicacional tão
polarizado, é preciso saber relativizar e colocar as questões em
perspetiva. Então, se todas aquelas hipóteses são importantes, nenhuma o é de um modo tão persistente e consistente como uma outra que está a ocupar espaço nobre dos jornais há dois dias: os resultados do inquérito ao grau de satisfação dos professores. Há uma expressão latina capaz de caracterizar esta questão: "Non nova, sed nove".
Isto é, nada disto será novo, mas a frieza dos números leva-nos
experienciar tudo de uma forma diferente e com um novo olhar. Entre 2910
professores inquiridos pertencentes a 130 escolas públicas e privadas, mais de 35% dizem-se exaustos, baralhados ou desesperados; 57% estão insatisfeitos devido à falta de reconhecimento profissional;
52% mostram-se preocupados com a indisciplina na sala de aula. As
transformações na relação com os discentes levam a que 58,9% apontem
como uma outra preocupação a falta de respeito na sala de aula; 64% consideram que a educação piorou em Portugal; 85% dizem que o Ministério da Educação não valoriza o seu trabalho; para 58% os pais dos alunos também não dão particular atenção ao trabalho dos professores. Os números continuam e são dramáticos. Em entrevista ao Expresso Diário,
Joaquim Azevedo, investigador da Universidade Católica, ex-secretário
de Estado da Educação, coordenador do projeto “As preocupações e as
motivações dos professores”, lançado pela Fundação Manuel Leão, diz que o que mais o surpreendeu “foi o número tão elevado de respostas que expressam a insatisfação e cansaço dos professores”.
A surpresa será genuína, mas os resultados seriam previsíveis para quem
tenha acompanhado com um mínimo de atenção o modo como os professores
têm vindo a ser tratados, pelo menos desde há duas décadas. O auge da degradação e da imagem pública dos docentes foi atingido durante o consulado de Maria de Lurdes Rodrigues como Ministra da Educação,
no governo de José Sócrates. A 8 de março de 2008 realizou-se a maior
manifestação de sempre em Portugal com mais de 100 mil professores na
rua. Não por acaso, 90,7% dos professores responsabilizam também a comunicação social pelo desprestígio associado à profissão.
A classe está envelhecida. Perderam-se todos os atrativos para entrar
numa profissão que deveria estar entre as mais valorizadas da sociedade.
Passa pelos professores a construção do futuro que queremos ou ambicionamos.
Esse futuro fica comprometido quando alguns dos principais agentes do
que há de mais transformador numa sociedade – a educação e o
conhecimento – estão desesperados, dizem-se exaustos e ansiosos por abandonar a profissão. Os professores, um dos esteios do ensino público, sempre foram uma classe profissional aglutinada à volta de um movimento sindical muito forte.
Coisa rara num tempo de anátema sobre os sindicatos. Como nada é
inocente e nada é fruto do acaso, é fundamental perceber como, em
particular nas duas últimas décadas, houve a intenção deliberada de quebrar a espinha (para utilizar uma expressão com história) a essa força coletiva. Os professores perderam autonomia. Perderam autoridade. Perderam liberdade. Perderam prestígio. Perderam salários. Ganharam longos programas. Perderam-se no labirinto da burocracia.
Na verdade a espinha (chamemos-lhe assim) terá sofrido impactos
brutais, mas resiste. Tal como resiste o ensino público, mesmo se cada
vez mais vilipendiado.
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OUTRAS NOTÍCIAS Num Curto muito dedicado à educação, eis mais uma notícia assustadora, veiculada pelo JN. Este ano Portugal terá o mais baixo número de matrículas deste século.
Entram 80 mil alunos no 1º ano do 1º ciclo. Em 1985 foi inscrito o
dobro de alunos. O número de alunos tem vindo a crescer de forma
continuada desde há uma década. Segundo dados da Direção-Geal de
estatísticas da Educação e Ciência, em 2000/01 entraram no 1º ano de
escolaridade. Veiculada pelo JN. Este ano Portugal terá o número de matrículas deste século.
Entram 80 mil alunos no 1º ano do 1º ciclo. Em 1985 foi inscrito o
dobro de alunos. O número de alunos tem vindo a crescer de forma
continuada desde há uma década. Segundo dados da Direção-Geal de
estatísticas da Educação e Ciência, em 2000/01 entraram no 1º ano de
escolaridade 116 938 crianças. Hoje realiza-se em Atenas a
Cimeira dos Países do Sul da União Europeia, preparatória da Cimeira da
EU marcada para o próximo dia 16. Segundo o Público, António Costa vai
deixar como marca da sua participação a defesa da construção de alternativas às políticas de austeridade capazes de resultarem num aumento do investimento e num sustentado crescimento económico. Nos comandos portugueses debate-se uma questão semântica.
O Minsitro da Defesa, Azeredo Lopes, diz que os cursos estão
“suspensos”. O presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas,
tenente-coronel António Mota, discorda do uso daquela expressão porque,
diz, não estão suspensos, mas “condicionados aos resultados dos
inquéritos” em curso no Estado Maior do Exército e no Ministério Público
sobre a morte de um militar no próximo domingo. O Rui Gustavo explica-lhe tudo no Expresso Diário. Marcelo Rebelo de Sousa está de acordo com a suspensão dos cursos e vai visitar os comandos internados, como explica a Ângela Silva. Se possui contas bancárias com depósitos superiores a €50 mil, abertas a partir de 1 de janeiro deste ano, saiba que o fisco passará a ter acesso a esses saldos.
A medida é válida para nacionais e estrangeiros. Os bancos terão de
comunicar até 31 de julho do próximo ano os dados coligidos até 31 de
dezembro. Uma outra forma de colocar a questão é dizer, como o faz o DN,
que as “contas anteriores a 2016 escapam ao fisco”. Não devia ser necessário, mas ele aí está. O Governo aprovou um código de conduta.
Surge na sequência da polémica criada pelas viagens pagas pela Galp a
membros do executivo para assistirem em França a jogos do Europeu de
futebol. A partir de agora, os membros do Governo e dirigentes da
Administração Pública não podem receber prendas cujo valor seja superior a €150. Lá fora No deserto da Nigéria foram encontrados na passada semana os corpos de 34 migrantes que tentavam chegar à Argélia, noticia o Guardian. Entre os mortos estão vinte crianças, cinco homens e nove mulheres.
Segundo as autoridades, poderão ter morrido de sede na zona de
Assamaka, perto a um posto fronteiriço entre os dois países. Terão sido
abandonados por traficantes de pessoas. Uma empresa dinamarquesa de construção, a CNBT DK Aps vai ter de pagar perto de €2,5 milhões em indemnizações por irregularidades nos pagamentos e nos horários laborais
de trabalhadores portugueses envolvidos na obra de extensão do metro de
Copenhaga, na Dinamarca. A notícia faz manchete no Público. O jornal assegura que as indemnizações variam entre os €1300 e os €100 mil. A contaminação atmosférica é já o quarto fator de morte prematura no mundo
e provoca prejuízos de biliões de dólares na economia mundial, segundo
um relatório do Banco Mundial ontem publicado. As doenças provocadas
pela contaminação ambiental (cardiovasculares, cancro do pulmão e outras
doenças pulmonares crónicas) são responsáveis por uma em cada dez mortes no mundo, o que representa um número seis vezes superior ao das mortes provocadas pelo paludismo, por exemplo. O homem destruiu, nos últimos 25 anos, um décimo das regiões selvagens ainda existentes na Terra. Segundo estudos agora revelados, caso esta tendência não diminua, no espaço de um século poderá não restar qualquer área selvagem no globo.
Só a Amazónia representa quase um terço desta perda “catastrófica”.
Outros 14% desapareceram na África central, numa região de milhares de
espécies, incluindo elefantes da floresta e chimpanzés. 757
milhões de adultos, dos quais 115 milhões são mulheres entre os 15 e os
24 anos, não conseguem ler ou escrever uma simples frase. A maioria dos excluídos das escolas são raparigas. Entre os adultos, a maioria (63%) dos que apresentam baixos índices de literacia são mulheres. Dados revelados pela UNESCO a propósito do Dia Internacional da Literacia, ontem celebrado. Esteja atento à Liga inglesa porque amanhã (13h30) vai acontecer a aquela que se admite ser a mais cara partida de futebol alguma vez disputada em todo o mundo. Os Manchester, United e City, treinados por Mourinho e Guardiola
(comece a somar), reúnem nas suas fileiras alguns dos jogadores mais
cotados da bolsa futebolística, ou pelo menos protagonistas das mais
dispendiosas transferências da época. Ora veja: De Gea, Pogba,
Ibrahimovic, Fernandinho, John Stones, Eric Bally, Leroy Sané e tantos
outros. O onze tipo dos dois conjuntos, segundo contas feitas pelo El
País, deverá ultrapassar os €600 milhões. E se acabássemos esta secção com uma ideia radical? O suíço Le Temps amplifica a questão colocada pelo economista estadunidense Keneth Rogoff, segundo o qual devia acabar o dinheiro em espécie,
muito utilizado em operações ilegais. Uma sondagem recente da Master
card revela que, numa sociedade numérica, e não obstante a massiva
divulgação de cartões de crédito e de débito, o dinheiro vivo continua a
ser o meio de pagamento em 85% das transações de consumidores em todo o
mundo. Perto de 14 mil milhões de dólares passam regularmente de mão em mão.
Nunca houve tanto dinheiro em circulação. Na opinião de Rogoff, acabar
com o dinheiro atacaria a corrupção, a evasão fiscal, o terrorismo, o
tráfico de droga e de seres humanos e a economia subterrânea. É muito
radical acabar com tudo isto? FRASES “Um
terço dos docentes a dizer que gostaria de deixar de dar aulas e que
acha que há desmotivação, é um valor muito significativo. (…). São 40
mil profissionais que manifestam esse mal-estar. E isso é grave”. Joaquim Azevedo, coordenador do estudo “As preocupações e motivações dos professores” no Expresso Diário. “Nem há governo, nem luzes novas na oposição”. António Lobo Xavier na Quadratura do Círculo/SIC Notícias “Todos os compromissos que o PS assumiu com o PCP e o Bloco estão a ser todos rigorosamente cumpridos”. Jorge Coelho na Quadratura do Círculo/SIC Notícias
“O cimento dos acordos PS, PCP e Bloco é a mudança do alvo da
austeridade, das medidas restritivas. Isso é uma mudança social muito
significativa”. José Pacheco Pereira na Quadratura do Círculo/SIC Notícias “Portugal está pior do que podia e devia”. Maria Luís Albuquerque, ex-minisra das Finanças do Governo PSD/CDS em Atenas numa iniciativa do partido Nova Democracia "O
que frisei é que este ano e em 2017, e é isso que está previsto, vai
haver uma diminuição da carga fiscal; que será eventualmente menor do
que nós desejaríamos. Mas consistentemente vamos ter dois anos de
redução da carga fiscal sobre todos os portugueses". Manuel Caldeira Cabral, ministro da Economia "Sinto-me escutado no meu dia-a-dia, sob várias formas". Carlos Alexandre, magistrado judicial do Tribunal Central de Instrução Criminal em entrevista à SIC “Sempre
achei que tinha algo em comum com Sísifo. Estou sempre a empurrar
aquela pedra. De uma maneira ou de outra. Estou sempre a empurrar aquela
pedra”. Bruce Springsteen no trabalho de capa da última Vanity Fair “Quantos dos nossos atormentados espiões teriam preferido que Edward Snowden tivesse escrito um romance?”. John le Carré, escritor, que ontem publicou o seu livro de memórias “The Pigeon Tunnel”. O QUE ANDO A LER Depois do deslumbramento (sim, é a palavra) provocado há uns anos pela leitura de “Fala-lhes de Batalhas, de Reis e de Elefantes”, eis-me perante o incómodo estranhamento suscitado pela leitura do novo, longo e melancólico romance do francês Mathias Enard, “Bússula”, editado pela D. Quixote. Vencedor do Prémio Goncourt 2015, suscita-me sentimentos contraditórios. Hesito entre a paixão e o ódio.
Vale a pena, neste espaço, mostrar como não lemos apenas maravilhas
absolutas e inquestionáveis. O problema de “Bússola” é um pouco esse.
Tanto é brilhante (e na verdade é-o com frequência), como se arrasta, tentado a deixar-se cair na indolência opiácea do narrador, o austríaco Franz Ritter, um universitário orientalista, musicólogo a debater-se com uma doença grave. A narrativa decorre durante uma noite de insónia numa Viena tida como antiga porta do Oriente.
Ou será o contrário? Essa é uma das questões mais relevantes do romance
(ou será um ensaio?), ao explorar os equívocos em que sempre têm
assentado as relações entre Ocidente e Oriente. Através do olhar ou das
memórias convocadas por Ritter entramos numa longa e detalhada viagem
através dos antigos protetorados franceses e britânicos, que nos leva de Viena aos mares da China, com passagem pela revolução iraniana, os bordéis de Istambul, as ruínas de Palmira,
os fumadores de ópio, as escavações na Síria. Sempre à sombra do amor
impossível por uma Sarah idealizada, passamos por Damasco, detemo-nos em
Teerão ou no Cairo. Refletimos sobre a Al Qaeda e o Daesh. Somos confrontados com dilemas antigos projetados no nosso quotidiano.
Ficamos a conhecer inimagináveis pequenos e grandes episódios
relacionados com a vida de homens e mulheres que de alguma forma
cruzaram ou são devedores das relações de proximidade entre dois mundos,
duas culturas, como Franz Liszt, Mozart, Donizetti, Beethoven, Mahler,
Annemarie Schwarsenbach, Mendelssohn, Brahms, Balzac, Rimbaud, Sadegh
Hedayat (escritor iraniano), Shaharam Nazeri (cantor iraniano), o
sultão Abdümecit, o seu irmão Abdülaziz, “o primeiro wagneriano do
oriente”, ou Napoleão Bonaparte, “o inventor do orientalismo” e
tantos, mas tantos outros, numa sucessão de nomes, detalhes
informações, reflexões e histórias demasiadas vezes tão só reveladoras
da imensa e bulímica erudição de Mathias Enard. O livro torna-se esmagador, pelo modo como nos confronta com a nossa própria ignorância.
Essa aparente fragilidade poderá ser, afinal, um dos seus fascínios,
pelo modo como nos desafia a um caleidoscópio de novas e porventura
nunca imaginadas leituras e aventuras. Despeço-me com 4 minutos de divertimento, proporcionados por este vídeo feito com material de arquivo da NASA
recolhido nos anos de 1980 no interior de naves espaciais. Veja os
resultados e tenha um bom dia na companhia do Expresso on line e, mais
logo, do Expresso Diário. Amanhã, como sempre, terá o seu semanário.
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