Santa Senhorinha de Basto
Santa Senhorinha de Basto | |
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Santa Senhorinha, ilustração da obra "Caractéristiques des saints dans l'art populaire" de Charles Cahier' | |
Abadessa das Terras de Basto | |
Nascimento | Vieira do Minho 925 |
Morte | Cabeceiras de Basto 22 de abril de 982 (58 anos) |
Nome nascimento | Domitilla Ufes |
Nome religioso | Senhorinha |
Progenitores | Mãe: D. Teresa Soares Pai: D. Ufo Ufes |
Canonização | 1130 por D. Paio Mendes, arcebispo de Braga |
Festa litúrgica | 22 de abril |
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Santa Senhorinha de Basto (Vieira do Minho, c. 925 - Basto, Cabeceiras de Basto, 22 de Abril de 982) foi uma abadessa beneditina portuguesa, canonizada santa pela Igreja Católica em 1130.[1]
Biografia
Nascida no ano de 925, em Vieira do Minho, no Condado Portucalense, sob o nome de Domitilla Ufes ou ainda Genoveva Ufes, segundo algumas fontes históricas, Senhorinha de Basto era filha da condessa D. Teresa Soares e do conde D. Ufo Ufes, rico-homem, cavaleiro medieval, capitão-general do concelho de Vieira do Minho e governador de Viseu, sendo neta de D. Hugo Soares Belfaguer, senhor feudal da Casa de Sousa, de origem visigótica.[2][3] Era a segunda filha do casal, irmã de D. Vizoi Vizois e de D. Ufa Ufes, que se casou com D. Arnaldo Eris de Baião, senhor de Baião, e prima do bispo de Dume, São Rosendo de Celanova. Em outros documentos, é apontada também como irmã de São Gervásio de Basto.[4] Após a morte prematura da sua mãe, D. Ufo Ufes passou a chamá-la de Senhorinha, "pequena senhora".[5]
Com 15 anos de idade recusou casar com um nobre pretendente, ingressando pouco depois na vida monástica sob a guarda de D. Godinha, sua tia materna e abadessa no Mosteiro de São João de Vieira do Minho, da Ordem de São Bento. Professando o seu noviciado, fez os votos ou conselhos evangélicos e adoptou o nome de Irmã Senhorinha.[6]
Anos mais tarde, aos 36 anos, após a morte da sua tia, que se tornou também santa, Senhorinha tornou-se abadessa do Mosteiro de São João de Vieira do Minho, transferindo-se pouco depois, com as suas religiosas, para um mosteiro em São Jorge de Basto, no município de Cabeceiras de Basto, passando a localidade a figurar no nome da santa portuguesa.[7][8]
A 22 de abril de 982, Santa Senhorinha de Basto faleceu, com 58 anos de idade, sendo sepultada em campa rasa, junto do altar-mor, na igreja do mosteiro, entre os túmulos de Santa Godinha e de São Gervásio de Basto.[9]
Legado e Canonização
Tendo-lhe sido atribuídos numerosos milagres durante a sua vida, como transformar água em vinho ou outros actos de intervenção divina durante eventos naturais ou com animais, tendo interrompido uma tempestade para se realizar a colheita do trigo ou silenciado rãs numa lagoa para se realizar o ofício litúrgico, após a sua morte, o arcebispo de Braga, D. Paio Mendes, foi visitar o sepulcro, decidido a exumar o seu corpo para averiguar os rumores de que este se mantinha bem preservado, como se a abadessa estivesse apenas a dormir.[10] Criando-se um enorme alvoroço na população que acudiu à igreja para impedir o acto e tendo o arcebispo testemunhado um milagre, onde um cego ganhou visão, a abadessa foi canonizada santa em 1130.[11][12]
Devido à enorme devoção que Santa Senhorinha de Basto inspirou, durante a Baixa Idade Média, o seu túmulo tornou-se num grande centro de peregrinações, contando-se entre os grandes devotos os reis D. Sancho I e D. Pedro I. Por esse facto, a localidade de São Jorge de Basto passou a denominar-se Santa Senhorinha de Basto, sendo a freguesia actualmente apenas referida como Basto.[13][14]
Durante o século XVIII, a festa de Santa Senhorinha foi introduzida no Breviário Bracarense de D. Rodrigo de Moura Teles, sendo celebrada em todo o país a 22 de abril até ao fim do século XIX.[15]
Em 1982, celebrou-se com solenidade o milenário da morte da santa em Basto.
A igreja de São Victor, em Braga, encerra um notável conjunto de azulejos alusivos à sua vida.
Referências
- ↑ The Benedictine Monks of St. Augustine's Abbey, Ramsgate (1947). The Book of Saints: A Dictionary of Servants of God Canonized by the Catholic Church: Extracted from the Roman & Other Martyrologies (em inglês). [S.l.]: Macmillan Company
- ↑ Leão, Duarte Nunes do (1610). Descripcao do reino de Portugal. Per Duarte Nunez do Leao, desembragador da casa da supplicao. Dirigida ao illustissimo & muito excellente snor Dom Diogo da Sylva .. [S.l.]: impresso com licenca, por Iorge Rodriguez
- ↑ Soares d'Azevedo Barbosa de Pinho Leal, Augusto (1873). Portugal Antigo e Moderno Diccionario. [S.l.: s.n.]
- ↑ Fernandes, A. de Almeida (2001). Portugal primitivo medievo. [S.l.]: Associação da Defesa do Património Arouquense
- ↑ Lima, Baptista de (1932). Terras portuguesas: arquivo histórico-corográfico ou corografia histórica portuguesa. [S.l.]: Camoes
- ↑ Herculano, Alexandre (1856). Portugaliae monumenta historica a saeculo octavo post Christum usque ad quintumdecimum iussu Academiae Scientiarum Olisiponensis edita: Scriptores. [S.l.]: Typis Academicis
- ↑ Barroca, Mário Jorge (2000). Epigrafia medieval Portuguesa (862-1422): Corpus epigráfico medieval Português (2 pts.). [S.l.]: Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Ministério da Ciência e da Tecnologia
- ↑ d'Azevedo, Torquato Peixoto (1845). Memorias resuscitadas da antiga Guimataes. [S.l.]: Typogr. da Revista.
- ↑ Dunbar, Agnes Baillie Cunninghame (1905). A Dictionary of Saintly Women (em inglês). [S.l.]: Bell
- ↑ Martins, Mário (1957). Peregrinações e livros de milagres na nossa idade média. [S.l.]: Edićões Brotéria
- ↑ Laporte, Claude (2008). Tous les saints de l'orthodoxie (em francês). [S.l.]: Xenia
- ↑ Revue d'histoire ecclésiastique (em francês). [S.l.]: Université catholique de Louvain. 2005
- ↑ Castro, João Baptista de (1870). Mappa de Portugal antigo e moderno. [S.l.]: Typ. do Panorama
- ↑ Vieira, José Augusto (1886). O Minho pittoresco. [S.l.]: Livraria de Antonio Maria Pereira
- ↑ Ramos de Andrade, António Alberto (1981). Dicionário de história da Igreja em Portugal. [S.l.]: Editorial Resistência