Este é um texto de que muito poucos vão gostar e ainda menos terão vontade de PARTILHAR.
Trata-se de um PEDIDO DE DESCULPA da minha geração aos jovens de hoje e de amanhã.
Quando todos nós que hoje temos entre 45 e 55 anos andavamos nas escolas secundárias e nas faculdades, conhecíamos os nossos colegas que se envolviam nos movimentos políticos (as famosas Juventudes Partidárias). Reconhecíamos que essencialmente se tratavam, na sua maioria, de pessoas sem qualquer valor: a escória do nosso tempo.
Ríamos quando os víamos em plenas campanhas eleitorais a colar cartazes, a idolatrar os “amados líderes”, a fazer figura de parvo nas primeiras filas dos comícios. Comentávamos com asco as opiniões disparatadas que emitiam, as frases obtusas que repetiam sem perceber o significado e as poses pseudo-intelectuais com que se assumiam. Era um mundo de tolos. Era um mundo de asnos. Era um mundo de gente completamente imprestável: a escória do nosso tempo.
Desdenhámos da política. Isso era coisa dos imprestáveis. Era um mundo sujo de troca de favores e compadrios. Era algo indigno de nós. Era algo que estava reservado para a escumalha. Para a escória do nosso tempo.
E, pior que isso, ensinámos a geração seguinte, educámos os nossos filhos, a evitar essa gente. Explicámos que a política era uma coisa para gente sem escrúpulos. Explicámos que só se dedicavam à política aqueles que nada mais seriam capazes de fazer na vida. Ensinámos a ver a política como o reino da escumalha. Povoado pela escumalha de entre a escumalha.
Foi um erro estratégico colossal. Quando, um dia, fossemos todos adultos, todos os homens de bem teriam dedicado a sua vida ao desenvolvimento das suas carreiras, à criação das suas famílias, ao desenvolvimento do trabalho, das empresas, da economia, da ciência, das artes, da literatura, etc…
Esquecemos algo relevante: em algum dia ocorreria a mudança de geração na política. O problema é que seria a escória da escumalha do nosso tempo a tomar o poder.
Desdenhámos dos Josés, dos Pedros, dos Paulos, dos Antónios, dos parvos, dos idiotas, dos corruptos, dos Silvas, dos Santos, dos Coelhos, dos sujos, dos mentecaptos, dos desonestos, dos Miguéis, dos Vitores, dos Álvaros, dos palermas, dos indignos, dos ladrões, dos Pereiras, dos Lopes, dos Barrosos, dos imprestáveis, dos incultos, dos analfabetos, dos Macedos, dos Soares, dos Esteves, dos burros, dos ignorantes, dos tristes…
Esquecemos algo de muito relevante. Um dia, quando ocorresse a mudança geracional na política, não restava ninguém para assumir o poder que não fossem esses mesmos: a escumalha da escumalha, a escória de entre a escória, os dejectos do nosso tempo.
E pior, por nossa indicação, a geração seguinte fez o mesmo ou ainda pior que a nossa. Por nossa culpa.
É verdade, a culpa foi nossa. Exclusivamente nossa. E, por isso, a minha geração tem de PEDIR DESCULPA às gerações vindouras.
Hoje temos na liderança o estrume do nosso tempo. Amanhã, os nossos filhos terão o estrume de entre o estrume. Por nossa culpa!