Nasceu a 17 de setembro de 1922 em Caxicane, freguesia de São José, concelho de
Ícolo e Bengo[3], filho de Agostinho Neto, catequista de
missão metodista americana em Luanda (sendo mais tarde pastor e professor nos
Dembos) e de Maria da Silva Neto, professora
[4].
Ao seus pais mudarem-se para
Luanda obtém, em 10 de junho de 1934, o certificado da escola primária, e; em 1937 inicia seus estudos secundários no
Liceu Salvador Correia, concluindo os mesmos em 1944
[4].
Após concluir o liceu, foi contratado pelos serviços administrativos da
África Ocidental Portuguesa para servir como funcionário dos serviços de saúde, neste tempo ampliando sua visão do problema colonial
[4].
Em 1959 integra-se ao
Movimento Anticolonial (MAC)
[4], embora que desde que liberto, em 1957, já tomava parte de suas atividades sem filiação formal, para evitar ser novamente preso.
Em 22 de dezembro de 1959, juntamente com a família, ruma para
Luanda, onde abre um consultório médico, passando a organizar as atividades políticas do MPLA, ainda pouco efetivo. Assume a liderança do movimento neste mesmo ano
[4].
Em 8 de junho de 1960 é preso em Luanda, gerando grandes manifestações de solidariedade diante do seu consultório médico. Operações policiais são levadas a cabo contra seus apoiantes e a aldeia onde nasceu é invadida pelas forças oficiais
[4].
É levado para a cadeia do
Algarve em Portugal, sendo pouco depois deportado para o arquipélago de
Cabo Verde, ficando instalado na prisão de
Ponta do Sol, ilha de Santo Antão; finalmente é transferido para o
Campo do Tarrafal, onde fica até outubro de 1962. É na prisão que escreve alguns de seus principais poemas
[6]. Mal havia sido solto é posto novamente em prisão, sendo transferido para as prisões do Aljube, em Lisboa. A forte repercussão internacional por sua prisão leva vários periódicos e intelectuais a fazer campanha contra Portugal, escancarando a
Guerra Colonial Portuguesa, que havia iniciado, em Angola, em 4 de fevereiro de 1961. É liberto da prisão em março de 1963
[4].
Ao ser liberto, permanece em Lisboa até junho de 1963, quando foge de Portugal com sua família, instalando-se em
Quinxassa, onde o MPLA tinha a sua sede no exílio, reassumindo as funções de presidente efetivo do MPLA durante a Conferência Nacional do Movimento (por conta da prisão, era presidente honorário desde 1961). No mesmo ano ruma, com a sede do MPLA, para
Brazavile em consequência da sua expulsão do
Zaire que passou a dar o apoio total á
Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA)
[4].
Entretanto sua figura jamais foi unanimidade dentro do movimento anticolonial. As fortes divergências que teve com
Viriato da Cruz, em 1963, levaram Neto a torturá-lo e humilhá-lo diariamente numa prisão, somente saindo (quase morto), por intervenção de aliados externos da
Argélia e
China[7]. Outra figura que o questionou fortemente foi Matias Miguéis, sendo que este acabou morto após humilhantes torturas ordenadas por Neto, em 1965; foi enterrado vivo somente com a cabeça para fora, onde lhe jogavam secreções ao mesmo tempo em que recebia golpes. Historiadores, como William Tonet, apontam que nem mesmo os portugueses cometeram tais atrocidades
[8].
Passa a coordenar totalmente o núcleo militar do movimento, abrindo as frentes de
Cabinda (1963) e do Leste de Angola (1966)
[4].
Em 1968 transfere a sua família para
Dá es Salã, onde continuará até 4 de fevereiro de 1975.
Em Março de 1975, a FNLA declara guerra ao MPLA e iniciam-se os conflitos.
[4] Agostinho Neto lidera o MPLA na proclamação da independência contra as forças portuguesas a FNLA a UNITA, sendo essas ações o prelúdio da
Guerra Civil Angolana.
Coordena a Batalha de Luanda, entre julho e novembro de 1975, onde expulsa as forças rivais que encontravam-se presentes na capital, elemento chave para o sucesso militar da MPLA ante a FNLA e a UNITA
[9].
Na oportunidade, assume, em 11 de novembro de 1975 a função de reitor da Universidade de Angola (atual
Universidade Agostinho Neto)
[4], função meramente cerimonial, pois quem
de facto regia a instituição era o vice-reitor João Garcia Bires
[11]. Em 1975 torna-se também presidente da União dos Escritores Angolanos, cargo que desempenhou até a data do seu falecimento
[4].
Assume o comando militar da FAPLA na Guerra Civil, angariando apoio de
Cuba, que envia um grande contingente militar, apoio de pessoal médico e professores. Consegue expulsar, em 1976, o exército da
África do Sul.
Sua liderança á frente do movimento e de Angola é confirmada no congresso de 1977, onde o MPLA é convertido em Partido do Trabalho
[4].
Durante este período, houve graves conflitos internos no MPLA que puseram em causa a liderança de Agostinho Neto. Entre estes, o mais grave consistiu no surgimento, no início dos anos 1970, de duas tendências opostas à direção do movimento, a "Revolta Ativa" constituída no essencial por elementos intelectuais, e a "Revolta do Leste", formada pelas forças de guerrilha localizadas no Leste de Angola; estas divisões foram superadas num intrincado processo de discussão e negociação que terminou com a reafirmação da autoridade de Agostinho Neto. Já depois da independência, em 1977, houve um levantamento, visando a sua liderança e a linha ideológica por ele defendida; este movimento, oficialmente designado como
Fraccionismo, foi reprimido de forma sangrenta, por suas ordens
[12].
Os expurgos feitos dentro do seio da MPLA encarcerou muitos ex-militantes na cadeia de São Paulo, em Luanda, e em campos de concentração espalhados por diversos pontos do território angolano. Estes eram aquels que se haviam oposto à liderança de Agostinho Neto - dos simpatizantes de
Nito Alves aos intelectuais da Revolta Ativa -, partilhavam celas e desditas com os jovens da
Organização Comunista de Angola (OCA) com mercenários portugueses, ingleses e americanos, militares congoleses e sul-africanos, e gente da
UNITA e da
FNLA.
[13]
Antes de sua morte, em 1979, o MPLA já havia se consolidado em Angola, fazendo reduzir a FNLA alguns poucos guerrilheiros, basicamente em território do Zaire, e a UNITA pouco efetiva, dependente do auxílio militar do regime de
apartheid sul-africano.
Agostinho Neto morreu num hospital em
Moscovo[4], em 10 de setembro de 1979, no decorrer de complicações ocorridas durante uma operação a um
cancro do fígado de que sofria, poucos dias antes de fazer 57 anos de idade. Foi substituído na presidência de Angola e do MPLA por
Lúcio Lara, que ficou poucos dias na interinidade até a posse de
José Eduardo dos Santos.
Mausoléu de Agostinho Neto em
Luanda
Casou-se em outubro de 1958 com a
escritora,
poetisa e
jornalista portuguesa Maria Eugenia Neto. A conheceu num círculo de escritores, em Lisboa, em 1948
[14].
Poucos dias após casado com Maria Eugênia, nasce em Lisboa, em 9 de novembro de 1958, o seu primeiro filho, Mário Jorge Neto
[4]. Em 1961 nasce sua segunda filha, Irene Alexandra Neto
[15].
- Poesia [16]
- 1957 - Quatro Poemas de Agostinho Neto, Póvoa do Varzim, e.a. obra Anselmo Bunga, Futuro da Naçãp
- 1961 - Poemas, Lisboa, Casa dos Estudantes do Império
- 1974 - Sagrada Esperança, Lisboa, Sá da Costa (inclui poemas dos dois primeiros livros)
- 1982 - A Renúncia Impossível, Luanda, INALD
- 2016 - Obra poética completa, Lisboa, Fundação Dr Agostinho neto
- Política
- 1974 - Quem é o inimigo… qual é o nosso objectivo?
- 1976 - Destruir o velho para construir o novo
- 1980 - Ainda o meu sonho
- Caminho do mato
- Aspiração
- Fogo e ritmo
Em 1970 foi galardoado com o prêmio Lotus, atribuído pela 4ª Conferência dos Escritores Afro-Asiáticos
[4].
Notas
- ↑ O antecessor do primeiro presidente angolano Agostinho Neto foi Leonel Cardoso, que exerceu a função de Alto Comissário e Governador-Geral do então Estado Português de Angola entre 26 de Agosto e 10 de Novembro de 1975.
- ↑ Entre os anos de 1575 e 1975, a Angola fazia parte de Portugal, sendo oficialmente chamado de África Ocidental Portuguesa ou, formalmente, Província Ultramarina de Angola.
Referências
Carlos Pacheco - Agostinho Neto, o perfil de um ditador, Lisboa, Nova Vega, 2volumi, 2016.
- Carreira, Iko, O pensamento político de Agostinho Neto, Lisboa: D. Quixote, 1996 ISBN 9789722013482