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quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

EXPRESSO CURTO - 9 DE DEZEMBRO DE 2015


Schäuble “BFF” de Costa? Depois das contas, logo se vê

Para: antoniofonseca1940@hotmail.com


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Expresso
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Bernardo Ferrão
POR BERNARDO FERRÃO
Editor
 
9 de Dezembro de 2015
 
Schäuble “BFF” de Costa? Depois das contas, logo se vê
 
Uma das imagens que guardo dos anos de brasa da troika é a daconversa entre o ex-ministro das Finanças Vitor Gaspar e o alemão Wolfgang Schäuble, em fevereiro de 2012. Ali vimos tudo. Mais do que o então “curvado” Gaspar(o alemão está numa cadeira de rodas), vimos sobretudo como na Europa nada se fazia sem o acordo de Schäuble. O poder não estava em Bruxelas. Nem na Comissão Europeia. Nem no Eurogrupo. O poder estava na Alemanha de Schäuble. O que ficou ainda mais claro com a Grécia de Tsipras/Varoufakis.

Agora, referindo-se ao caso português, e ao encontro com Mário Centeno, o alemão quis usar a palavra “confiança”. Mas não deixou de falar também em “manter a palavra”: "Antes dele [António Costa] ser Presidente da Câmara de Lisboa, fomos os dois ministros e eu recordo uma relação de confiança muito boa. Ele enviou-me os seus cumprimentos através do meu novo colega [Mário Centeno]. E se o meu colega mantiver a sua palavra [na primeira tradução aparecia “cumprir aquilo que disse”], ele também vai receber os meus cumprimentos", disse o ministro de Merkel numa declaração que deu azo a várias interpretações (e traduções).

Ao referir-se à importância de manter a palavra houve quem entendesse que o alemão estava a falar das garantias deixadas por Centeno no Eurogrupo. Mas também houve quem dissesse que o alemão estava simplesmente a dizer que se Centeno cumprisse a palavra os cumprimentos iam ser entregues a Costa. Enfim…lost in translation!?

Em Bruxelas, Mário Centeno - “Mário” como foi tratado por Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo - deixou duas certezas: o esboço do Orçamento para 2016 será entregue no início de janeiro. E o défice de 3% para este ano “é muito importante para o país” – e decisivo para que Portugal deixe oprocedimento por défice excessivo -, mas com a ressalva de que o Governo ainda está a “apurar a informação” e que não pode afirmar nenhum “número em definitivo”.

Se internamente a questão do défice se tornou parte de um dispensável (e repetitivo) jogo político entre o Governo que entra e o que sai, na frente externa, Schäuble e as instituições europeias querem ver para crer e “esperam que Portugalcumpra as suas obrigações do Pacto de Estabilidade” (a crise do euro não está esquecida, como lembrava no sábado o Ricardo Costa). Numa lógica “rei morto, rei posto”, mais do que os protagonistas que vão implementar as políticas, para Bruxelas o que verdadeiramente importa é que as contas batam certo. Para o “poder europeu” é preciso “dar continuidade às políticas económicas de sucesso”, leia-se ao caminho seguido até aqui (e que nos levou à saída limpa,“resultado pequeno” para Mário Centeno). Mas lembre-se que os 2,7% de défice previstos por Passos já foram à vida. E que pelo quarto ano consecutivo o seu Governo falhou as metas orçamentais por si definidas.

A tarefa também não será fácil para António Costa. O PM caminhará sobre gelo fino, e num dificílimo equilíbrio entre Bruxelas e o exigente caderno de encargos das esquerdas (que até já reclamam o fim das portagens da Via do Infante). E, ironicamente, as palavras de Schäuble chegam na mesma altura em que Jerónimo de Sousa carrega na pressão. Se no fim-de-semana já tinha avisado o PS que “não faria favores a ninguém”, ontem veio deixar claro que o Governo de Costa não é uma “coligação de esquerdas”, mas do PS.

Treze dias depois da tomada de posse, ficou evidente que naquadratura de António Costa, além de Jerónimo e Catarina, Schäuble também tem lugar marcado. E o alemão já mostrou que consegue ser muito pouco “BFF”.

Por falar em quadratura, Pacheco Pereira (que hoje apresenta no Forte de Peniche, o quarto volume de Álvaro Cunhal, Uma Biografia Política) foi ontem “convidado” a abandonar o PSD pelo deputado social-democrata Duarte Marques: “António Costa é menos raivoso contra o PSD do que Pacheco Pereira”. Marques, que falava na SIC Notícias, mostrava-se chocado com o suposto apoio de Pereira à candidatura de Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, às presidenciais. A polémica surge depois doExpresso ter noticiado no sábado que Pacheco Pereira será um dos oradores de um Fórum organizado pela candidatura de Matias. O historiador e comentador já veio entretanto esclarecer na Antena 1 que “uma coisa é participar em sessões programadas, outra diferente é apoiar essas candidaturas”. E pelo meio deixou elogios a Marcelo Rebelo de Sousa.

Aproveito a deixa para lhe dizer que no próximo fim-de-semana o Expresso publica, na sua edição em papel, uma importante entrevista com Marcelo Rebelo de Sousa. O Correio da Manhã revela hoje uma sondagem que o dá a vencer à 1ªvolta (54,6%). O estudo mostra que Marcelo vai buscar votos a todo o eleitorado da direita à esquerda, com exceção do PCP.

FRASES
“Pessoa que não seja conhecida terá acesso à Presidente”,Maria de Belém ao Jornal de Negócios.

“São os recordes que vêm ter comigo”Cristiano Ronaldodepois de se tornar o primeiro jogador a marcar 11 golos numa fase de grupos da Champions.

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OUTRAS NOTÍCIAS
Nos EUA, a campanha de Donald Trump, para as primárias republicanas, está a ser um colossal desvario. Nas últimas horas o bilionário defendeu que a América devia fechar as portas aos muçulmanos (“WTF!”, disseram muitos nas redes sociais). E que a solução para acabar com o radicalismo é“fechar a Internet”. A Casa Branca considerou que as declarações de Trump o desqualificam. Apelidando-o de"barbeiro carnavalesco" com "cabelo falso" e de ser"cínico" nas suas tomadas de posição. O porta voz da White House considerou ainda que a campanha do republicano tem a qualidade de um "lixo da história". Além de unirem democratas e republicanos na crítica, as palavras de Trump motivaram também condenações de vários líderes mundiais. Mas mesmo contestado, o pré-candidato republicano continua a liderar as sondagens, está agora com15% de vantagem sobre Ted Cruz.

Manuel Valls, primeiro-ministro francês, apelou entretanto àunião contra a extrema-direita. Depois dos resultados na 1ª volta das regionais, e para tentar evitar vitórias de Marine Le Pen, o PS francês dá ordem aos seus candidatos para desistirem e recomendarem o voto noutro partido. A estratégia está a merecer muitas críticas.

preço do petróleo tocou ontem no mínimo. Há quase sete anos que o barril de brent não caía abaixo dos 40 dólares. Mas hoje já abriu em alta, a valer 40,84 dólares.

Na Champions, a derrota do Benfica (2-1) frente ao Atlético de Madrid deixou os encarnados no segundo lugar do grupo. Hoje é a vez do F.C. Porto tentar fazer história em Londres.

O QUE ANDO A LER
O ambiente político na vizinha Espanha está escaldante. Basta visitar os sites dos principais jornais para se perceber a importância das eleições (como tantas semelhanças com o caso português) que acontecem daqui a 11 dias. E olhando para as muitas sondagens parece certo que nenhum partido irá conseguir maioria absoluta. E que a Espanha caminha para o fim do bipartidarismo e da alternância entre o PP e o PSOE.

Nos vários cenários traçados, há um que está a causar acesa polémica: uma “coligação” Ciudadanos, PSOE e Podemos. A tese ganhou fôlego com o título do La Razon deste domingo: “Sería presidente con el apoyo de Sánchez e Iglesias”. A frase, atribuída ao líder do Ciudadanos, Albert Rivera, deu bronca no partido (e com o jornal) por não ser uma citação direta mas uma interpretação do jornal. O El Españolexplica tudo e explora com pormenor as soluções que podem sair das eleições de 20D: desde o “fantasma do pacto dos perdedores” (onde é que já ouvíamos isto?), o “fantasma de ‘salvar o soldado Sanchez’” ou o “fantasma do pacto das direitas” etc.

Deixe-me ainda sugerir este artigo do El Confidencial que sublinha as transformações na imagem dos candidatos. Pablo Iglesias do Podemos que já tinha deixado o piercing, abandonou a sua pulseira republicana ao mesmo tempo quemoderou o discurso quando fala do modelo de Estado. E nas últimas semanas “intensificou o uso de camisa branca”. Pedro Sanchez, líder do PSOE, usa cada vez menos gravata e aposta nas mangas arregaçadas. E sublinha-se também o ar jovem e “yuppie” que quer passar com a sua mochila (a tiracolo) em vez da tradicional mala. Mas ainda não arrisca os ténis de Iglesias. Sobre Rivera diz-se pouco até porque raramente dispensa o fato completo. E de Rajoy, destaca-se abarba como marca de distância geracional.

El Confidencial faz ainda uma análise à penetração dos candidatos e partidos nas redes sociais – o novo “campo de batalha”. O artigo conclui que há de facto um gap geracional e que o Ciudadanos e o Podemos “reinventam o bipartidarismo” no twitter, já que são os campiões nas trending topics muito à frente do PP e PSOE.

É tudo. Bom dia e bom resto de semana.
 
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