"Morte a Khamenei", gritavam homens que saíam das mesquitas em Zahedan, capital da província, mostra um vídeo divulgado pela organização não-governamental Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo.

Centenas de manifestantes em fúria saíram hoje às ruas em cidades da província do Sistão-Baluchistão, no sudeste do Irão, após as tradicionais orações de sexta-feira, apelando à morte do ayatollah Ali Khamenei.
Centenas de manifestantes em fúria saíram hoje às ruas em cidades da província do Sistão-Baluchistão, no sudeste do Irão, após as tradicionais orações de sexta-feira, apelando à morte do ayatollah Ali Khamenei.© Fornecido por RTP

Idênticas manifestações ocorreram também em Khash e em Iranshahr, outras cidades no Sistão-Baluchistão, que foram reprimidas pela polícia de choque iraniana, segundo vários vídeos disponibilizados `online` e que a agência noticiosa France-Presse (AFP) garante serem verídicos.

Em Iranshahr, as forças de segurança dispararam granadas de gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes, de acordo com o vídeo publicado na imprensa local `online`, refere a AFP.

Segundo indicou a IHR, a 30 de setembro, em Zahedan, as forças de segurança dispararam contra manifestantes que protestavam contra a violação sexual de uma jovem de 15 anos, atribuída a um agente da polícia, provocando, a morte a 92 pessoas.

O dia, consideraram várias organizações de defesa dos direitos humanos, foi apelidado como "sexta-feira sangrenta".

No total, segundo a IHR, pelo menos 304 pessoas foram mortas na repressão às manifestações que decorrem em todo o país desde a morte da jovem curda Mahsa Amini, a 16 de setembro.

Amini, de 22 anos, morreu três dias após sua prisão em Teerão pela "polícia da moralidade", que a acusou de ter quebrado o rígido código de vestuário que exige que as mulheres usem o véu em público.

O movimento de protesto, desencadeado em meados de setembro pela revolta das mulheres contra a exigência de uso do véu, é agora dirigido contra o regime religioso, que enfrenta um desafio sem precedentes desde a Revolução Islâmica de 1979.

A violência eclodiu duas semanas depois no Sistão-Baluchistão, uma região empobrecida e habitada pela minoria baluchi, que é sunita e não a xiita dominante no Irão, e, por essa razão, é vítima de discriminação, indicam vários ativistas dos direitos humanos e também a IHR.

A 04 de novembro, segundo a Amnistia Internacional (AI), 18 pessoas, incluindo duas crianças, foram mortas em Khash durante a repressão a "manifestações pacíficas de grande escala".

"A 04 novembro, em Khash, as forças de segurança usaram imediata e exclusivamente munições reais para dispersar os protestos", denunciou a AI num comunicado divulgado hoje.

A organização diz que documentou os nomes de pelo menos 100 manifestantes mortos pelas forças de segurança do Sistão-Baluchistão desde 30 de setembro, mas acredita que o número real é muito maior.

A AI apelou à comunidade internacional para que "tome medidas urgentes para acabar com mais assassínios de manifestantes" na província de Sistão-Baluchistão e no resto do Irão.

Também hoje, o relator especial da ONU para os Direitos Humanos no Afeganistão, Javaid Rehman, fez juntamente com peritos independentes um apelo às autoridades iranianas para que parem de ameaçar cidadãos com pena de morte por participarem nos protestos.

"Pedimos às autoridades iranianas que parem de acusar as pessoas por crimes puníveis com pena de morte como meio de reprimir os protestos e pedimos novamente a libertação imediata dos manifestantes privados de liberdade arbitrariamente", refere em comunicado o grupo de 12 peritos independentes da ONU.