O treinador Bruno Baltazar, 45 anos, reconhece que não teve qualidade como jogador para atingir patamares mais elevados, apesar das experiências na Alemanha, Inglaterra e Chipre. A morte súbita do pai, quando fazia a transição de júnior para sénior, deixou-o “vazio, zangado e algo perdido”, confessa. Casado com uma marroquina e pai de duas filhas, o ex-central elaborou um plano B, como tradutor, antes de confirmar que o seu futuro passaria por ser técnico. Fase sobre a qual falamos na segunda parte deste Casa às Costas

“Andei a empurrar carne durante 11 meses, cheio de sangue, e a jogar à noite. Casei em Marrocos, tive de me converter ao islamismo”
“Andei a empurrar carne durante 11 meses, cheio de sangue, e a jogar à noite. Casei em Marrocos, tive de me converter ao islamismo”© Ana Baiao

É natural de Lisboa. Filho de quem?

Nasci em São Sebastião da Pedreira, os meus pais também são de Lisboa, com uma ligação forte ao bairro da Mouraria, nasceram, cresceram, conheceram-se e viveram lá. O meu pai, Fernando Baltazar, trabalhava numa companhia de seguros e jogou futebol na primeira divisão, nos anos 70, no Atlético e no Oriental. Era semi-profissional, treinava à noite e de dia trabalhava. A minha mãe, Adelina Baltazar, era empregada de escritório. Sou filho único.

Cresceu na Mouraria?

Não, os meus pais quando se casaram fomos morar para o bairro da Idanha, em Belas, no concelho de Sintra. Tenho uma ligação forte ao bairro da Mouraria porque passava os meses de verão lá, na casa das minhas avós, fui batizado na Mouraria, na igreja do Coleginho, mas cresci na Idanha.

Qual a primeira memória de infância?

As vivências na Idanha, um bairro que cresceu com o boom de natalidade no pós-25 de abril, em que as pessoas que não tinham possibilidade de viver em Lisboa começaram a ocupar os bairros periféricos de Lisboa e eu fui apenas mais um produto desses bairros periféricos. Lembro-me de uma infância feliz, com centenas e centenas de miúdos a jogar à bola, a andar de bicicleta, saímos de casa às nove da manhã e só aparecíamos à noite.

Foi uma criança calma ou deu muitas dores de cabeça?

Muito calminho. Talvez por ter sido filho único, era muito introvertido, com algumas dificuldades em socializar quando era mais pequenino, Os meus pais até me diziam: “Vai para a rua, vai brincar com os outros miúdos”. Resisti um bocadinho, mas a partir dos 10, 12 anos, lá meu deu o clique e comecei a ir para a rua e a fazer amizades que ainda hoje perduram.

Da escola, gostava?

Licenciei-me, mas não fui um grande aluno, fui sempre algo preguiçoso, era sempre o "qb" para ir passando. Estudei sete anos anos no colégio Moderno, no Campo Grande, chumbei no sétimo e fui para o colégio Vasco da Gama, onde as minhas filhas andam atualmente. Fiz o secundário na escola pública na Portela de Sintra, porque já jogava no Sintrense.

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