OUTRAS NOTÍCIASTambém as há, mas é preciso procurá-las. Continuamos ainda tão marcados pelo tempo velho que aquilo que faz notícia continua a ser o económico. Como esta, por exemplo, da manutenção da
greve da função pública para amanhã pela Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública ( "Os trabalhadores sentem-se revoltados e humilhados", diz a coordenadora Ana Avoila), embora a Fesap (afeta à UGT) a tenha desconvocado. Mesmo assim, espera-se para hoje uma última reunião com o Governo para tentar travar a greve.
E economia continua a ser, embora falando de
saúde. O ministro da pasta diz que encontrou um
"buraco" de 230 milhões de euros (o anterior ministro, Paulo Macedo, falava de um défice de 30 milhões de euros) mas também que os
hospitais vão ter de recrutar mais pessoal para responder ao regresso às 35 horas (mais dinheiro?) mas, para os utentes, há uma boa notícia: os t
empos de espera nas urgências passarão a estar on-line em tempo real, de modo a que aqueles possam escolher.
Mas é também no capítulo da saúde que há notícias inquietantes: o
vírus zika, que está a alarmar o Brail,
chegou a Portugal, com cinco casos confirmados. Ja sabe, o zika pode provocar malformações nos fetos, em particular microcefalias. E é assustador ler este texto da Christiana Martins sobre o que se está a passar no Brasil: "Os médicos nunca viram nada assim,
há uma geração comprometida” naquele país, alertam. Assustados ficamos já nós.
E também mal dispostos, se atentarmos nesta outra:
Portugal continua sem progressos no Índice de Perceções de
Corrupção, segundo revelam os resultados publicados pela Transparency International (uma ONG anticorrupção representada em Portugal pela Transparência e Integridade). Entre os países lusófonos, o
Brasil foi o que mais caiu no índice de 2015, mas é
Angola o pior colocado. O campeão da transparência é a Dinamarca.
Disse
Dinamarca? O tal Estado ao qual nos habituámos a relacionar com bem-estar e boa educação, alto nível não apenas de vida, mas civilizacional? Pois é de lá que vem a mais escandalosa das notícias: o
confisco dos bens dos refugiados. Como diz a Atlantic, é um exemplo de
como não os receber. A
Suécia, entretanto, parece querer seguir-lhe as pisadas:
deu ordem de expulsão até 80.000 refugiados, enquanto a
Comissão Europeia acusa a
Grécia de negligenciar os seus deveres de fronteira (
e esta respondeu) e ameaça fechar as fronteiras com este país. O drama dos refugiados está a minar a Europa e dá origem a acontecimentos como este, em Calais, em
França, em que migrantes e habitantes locais se envolveram em conflito, obrigando à intervenção do exército. Como escreve o Daniel Ribeiro, em Calais nasce
uma "selva-chique", ao lado da "selva-selva". A
ministra da Justiça demitiu-se também por causa dos refugiados.
Em
Espanha, continua o impasse para a formação de um novo Governo, depois das eleições de dezembro, que deram um resultado de combinações múltiplas mas, até agora, todas impossíveis. Agora, falou o senador Felipe González: “Nem o PP nem o PSOE deveriam impedir que o outro governasse". Faz críticas a um e alerta para os perigos ao outro.
A ler.
Vendo o que se está a passar na Europa (e olhe-se para a
Polónia, que se está a transformar num Estado nacionalista, anti-ocidental e arquicatólico - e não sou eu que o digo, apenas cito a
Der Spiegel), só se pode dar razão ao jornalista Jean Quatremer, o mais bem informado dos correspondentes em Bruxelas (Liberation), que diz que
"crise após crise, a Europa mergulha no abismo". A
União Europeia passará de 2016?, interroga-se ele. Veremos. O pior é que não é o único a pensar assim.
Nos
Estados Unidos, é tempo de começar a pensar nas eleições presidenciais do final do ano. A quatro dias do início da escolha dos candidatos às Presidenciais nos EUA,
Hillary Clinton intensifica o apelo ao voto, enquanto o inefável
Donald Trump (republicano) boicota o debate televisivo de hoje à noite porque não gosta da moderadora (
Megyn Kelly).
Outro dado inquietante diz respeito a um relatório ontem divulgado pela Human Rights Watch, sobre os
Direitos Humanos em 2016. Diz: "A
Política do Medo Ameaça Direitos": “o medo de ataques terroristas e o fluxo massivo de refugiados estão a levar muitos governos ocidentais a reduzir a proteção dos direitos humanos. Tais medidas retrógradas ameaçam os direitos de todos, sem qualquer demonstração de eficácia em proteger as pessoas comuns". Não conheço melhor expressão para designar o que se vive hoje em tantas partes do mundo, a política do medo. O passado já demonstrou sobejamente ao que ela conduz.
Não menos perturbadores são os dados sobre
desigualdades, divulgados pela
Oxfam. Bastam estes números para saber de que falamos: Em 2015, apenas
62 indivíduos detinham a mesma riqueza que 3,6 mil milhões de pessoas, a metade mais afetada pela pobreza da humanidade (o link é em inglês, mas tem uma versão em português). Talvez fosse boa altura para a Europa começar a pensar em encetar uma política que leve a acabar com os paraísos fiscais, como sugere
este texto do EUobserver.
Será que é por causa disto tudo que essa invenção curiosa chamada
Relógio do Apocalipse foi adiantada agora em dois minutos pelos cientistas, ficando a três minutos do fim (23h.57)? Este relógio simbólico pretende indicar que vivemos uma situação tão perigosa como a da Guerra Fria. Doomsday Clock chamam-lhe os britânicos, cuja
BBC reporta que o último ano de crise grave foi em 1991. O Telegraph expõe-lhe
assim o problema.
FRASES"2016 é o ano em que a Europa irá navegar em mar alto, contra vagalhões. Esse risco (da desagregação) existe, no Reino Unido (com o Brexit), nos países de leste que fecham frotnerias unilateralmente",
Maria João Rodrigues, eurodeputada, à Visão
"Temos de deixar de considerar a Europa como a professora com a caneta vermelha e azul",
Matteo Renzi, primeiro-ministro italiano
"O nosso primeiro-ministro, que perdeu as eleições mas ainda assim ficou primeiro-ministro, esteve a sonhar um sonho cor-de-rosa durante estes dois meses, um cor-de-rosa de tintas bastante carregadas, um cor-de-rosa bastante avermelhado, e neste momento tocou um despertador”,
Assunção Cristas, candidata a líder do CDS
O QUE ANDO A LERUm livro curiosíssimo. Foi publicado há dez anos, mas só em 2015 chegou a Portugal, pela mão da Tinta da China. Chama-se
"Terra Nullius, viagem aos antípodas", do latim, terra de ninguém, e faz parte da coleção de viagens da editora.É um mimo e não posso recomendá-lo mais como essencial para os tempos que correm. É sobre a "cultura da segregação", retratada através de uma viagem por esse imenso continente que é a Austrália, onde a Europa cabe inteirinha e ainda sobra. Aprendi imenso sobre esse continente onde os aborígenes foram dizimados porque ocupavam terras cobiçadas, ou simplesmente por puro preconceito. Na transição do século XIX para o século XX, os aborígenes serviram a brilhantes intelectuais europeus, como Engels, Freud, Durkheim ou Kropotkin, cada um no seu ramo, como exemplo no estudo da evolução humana. Nenhum deles, todavia, viu um aborígene na vida e o seu conhecimento baseou-se nas notas de um curioso a quem um clã fez o favor de realizar algumas cerimónias no pátio traseiro de uma estação telegráfica. "O passado não é um lugar tranquilo", escreve Carlos Vaz Marques, coordenador da coleção. Não é, não. Leia, se puder.
E por hoje chegámos ao fim. Mas antes uma advertência. O Expresso Diário (e online) traz-lhe doravante uma novidade: os
web vídeos, que denominámos 2:59. Nestes escassos minutos, fenómenos da atualidade, complexos, são explicados com base em estudos e análises quantitativos, de modo a tornarem-se de compreensão simples. O Pedro Santos Guerreiro estreou-se a esclarecer porque é que apesar do
petróleo estar barato a gasolina é cara. E vai ficar mais ainda. Esperamos que lhe agrade e, sobretudo, que tire proveito. O saber não ocupa lugar, é certo, só um pouquinho de tempo.
Tenha um bom dia! Amanhã é a vez do Valdemar Cruz lhe servir um cimbalino!
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