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Por Ricardo Costa
Diretor de Informação da SIC
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29 de Julho de 2016 |
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Lembra-se do FMI? Qual FMI? O FMI! Ah, mas qual deles?
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O FMI é uma caixa de surpresas.
Nos últimos anos habituou-nos a alguma variedade de opiniões entre as
suas equipas técnicas, gabinetes de estudos e funcionários políticos.
Mas ontem conseguiu ir um pouco mais longe na sua esquizofrenia. Não é fácil ficar indiferente ao documento do Independent Evaluation Office,
um órgão independente do Fundo Monetário Internacional que faz
avaliações das suas políticas, e que produziu um relatório sobre os
programas conduzidos na zona euro durante a crise da dívida pública. Além do FMI Técnico, do FMI Académico e do FMI Político, temos agora o FMI Independente. E o que diz este último FMI sobre o trabalho que os outros FMI’s fizeram em Portugal nos últimos anos?
Diz mal, ou para ser mais preciso, diz muito mal. O programa foi mal
desenhado, mal pensado, mal aplicado, mal corrigido e teve maus
resultados. Nem sei bem por onde começar. Para
simplificar, basta dizer que se o documento tivesse sido encomendado
por alguém que detestasse a troika não teria conclusões muito
diferentes. Vamos aos cinco erros principais, elencados pelo meu colega João Silvestre no Expresso: a) as previsões económicas falharam completamente; b) o impacto da consolidação orçamental foi sempre subestimado; c) o pacote de financiamento foi excessivamente curto; d) houve insistência em estratégias erradas depois das metas falharem; e) a célebre desvalorização fiscal nunca existiu. Pois. Para quem, como eu, pôde assistir por razões profissionais a várias conversas à porta fechada com a delegação do FMI, este documento é ridículo.
Seja porque ridiculariza a ação do Fundo, seja porque diz com extrema
naturalidade aquilo que a maior parte dos críticos já tinha dito, seja
porque entra em contradição frontal com o que os funcionários do FMI
ainda dizem hoje. Não dá mesmo para usar outra palavra, a não ser
ridículo. Pronto, risível também serve. Se me esforçar um pouco ainda
descubro mais adjetivos, mas nenhum é simpático. Apesar de tudo, convém sublinhar as três vitórias apontadas ao modelo de ajustamento: a) regresso aos mercados; b) retoma económica e c)
reformas estruturais. O problema é o balanço entre as duas coisas. A
lista de insucessos é muito superior à dos sucessos. Pelo menos faz-nos
sorrir.
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OUTRAS NOTÍCIAS Hillary Clinton é oficialmente a candidata do Partido Democrata à Presidência dos EUA. É um momento inédito, com a primeira mulher a vencer a nomeação partidária para a corrida à Casa Branca. O marco histórico decorreu esta madrugada, na convenção dos democratas. Hillary fez um discurso a tentar combater a divisão no seu próprio partido e, claro, no país. As frases elogiosas para Bernie Senders foram muitas, porque a luta contra o seu ex-concorrente deixou feridas no partido. O ex-rival fez tudo para promover a conciliação, mas uma parte dos apoiantes do senador do Vermont não pareceram convencidos. Donald Trump
foi o alvo principal do discurso da candidata democrata, que sabe tem
um concorrente particularmente difícil pela frente. Trump respondeu de imediato no twitter – onde tem 10 milhões de seguidores –, com cinco mensagens. As ideias principais de Trump são estas:
- Hillary
recusa-se a mencionar o islão radical, que ameaça o dia dia americano, e
quer aumentar em 550% o numero de refugiados nos EUA
- Hillary não pode reformar Wall Street, porque Wall Street manda nela
- Hillary defede um mundo sem fronteiras, onde a classe trabalhadora não tem poder, emprego ou segurança
- Foi a guerra de Hillary no Médio Oriente que iniciou a onda de destruição e terrorismo do Daesh
- Ninguém tem pior capacidade de avaliação do que Hillary, uma candidata que anda de mão dada com a corrupção
Basta este pequeno exemplo das últimas horas para termos a certeza de que vamos assistir a uma campanha sem precedentes. As sondagens estão longe da unanimidade. Há mais estudos a dar a vitória a Hillary, mas vários apostam na chegada de Trump à Casa Branca. Após dois dias de reclusão no Palácio de Belém, onde recebeu os partidos e parceiros sociais, Marcelo Rebelo de Sousa saiu à rua. E o que disse o Presidente? Bem, afastou qualquer cenário de crise política e manifestou-se tranquilo em relação à aprovação do Orçamento do Estado para 2017. "Basta
terem ouvido aquilo que disseram os partidos e os parceiros sociais à
saída das audiências para terem percebido que não há crise política e
não vai haver crise política", sublinhou o PR, acrescentando que não vê "nenhuma razão de tensão adicional quanto ao Orçamento de 2017". Traduzindo, vão de férias e esqueçam as crises por uns meses, que eu tenho uma agenda preenchida e muitas condecorações a distribuir. Com o mês a chegar ao fim, o Diário de Notícias escolheu para a primeira página uma fotografia com um ano, quando a autoestrada entre Lisboa e o Algarve parou literalmente.
É bem lembrado porque hoje e amanhã é natural que se vejam imagens
parecidas nas estradas. Mas este ano já dá para caçar Pokemons enquanto a
fila não anda. Num sentido contrário, o JN recorda que até domingo devem chegar a Portugal cerca de 150 mil emigrantes. O jornal recorda que as remessas de dinheiro dos emigrantes estão em queda, depois dum pico de 1,2 mil milhões em 2015. José Sócrates revelou ontem que foi obrigado a pedir a pensão vitalícia, a que tem direito com ex-deputado e ex-membro do governo, num gesto de protesto contra o Ministério Público, que, segundo o ex-primeiro-ministro, o impede de trabalhar. O Correio da Manhã escreve hoje em manchete que o valor da pensão corresponde a €3800 mensais, cerca de €2550 líquidos. Aqui ao lado, a incerteza continua. As eleições espanholas já lá vão, aliás já lá vão duas, e ainda não se percebeu que governo vem aí. Mariano Rajoy foi ontem indigitado pelo Rei para tentar formar governo mas continua sem o apoio de nenhum outro grande partido.
A ideia de que o atual primeiro-ministro pode ter que sair para dar
lugar a uma nova liderança do PP que consiga um acordo está a ganhar
força, mas não se percebe se é ou não exequível. Para os mais
esquecidos, as primeiras eleições inconclusivas foram dia 20 de…
dezembro. A luta contra o terrorismo continua a agitar a política europeia. Em França, as alegadas falhas policiais que têm permitido ataques por pessoas já referenciadas continuam a provocar ondas de choque. Na Alemanha, a situação não é mais fácil para o governo,mas Angela Merkel voltou a dizer ontem, numa corajosa declaração, que se recusa a alterar a sua política para com os refugiados. Uma posição nada fácil. Uma das notícias mais extraordinárias e curiosas do ano envolve dois países nórdicos. É que a Finlândia está à beira de comemorar o seu 100º aniversário como país independente e a Noruega está a pensar oferecer ao país vizinho uma… montanha! Isso mesmo, a Finlândia tem mais de 180 mil lagos mas a natureza não foi nada generosa no que toca a montanhas e picos.
Foi esta evidência geográfica e a certeza de que as fronteiras foram um
pouco desenhadas à pressa em 1750, que levou o governo norueguês a
acolher a ideia de um geógrafo: basta mexer 40 metros na dita fronteira e a Finlândia recebe de prenda de anos o seu maior pico, com 1331 metros.
A generosa ideia tem alguns problemas jurídicos mas o governo norueguês
quer mesmo ultrapassá-los e avançar com a oferta. Se Marcelo sabe disto
ainda vai convencer o Rei de Espanha a devolver Olivença num aniversário da pátria. Não são 40 metros até ao Guadiana, mas tudo se arranja… FRASES “A crise política evaporou-se”. Marcelo Rebelo de Sousa a afastar um cenário de crise política, na sequência das reuniões que fez com os partidos e parceiros sociais “Carlos Costa não cometeu qualquer falha grave no caso Banif”. Eurico Brilhante Dias, relator da Comissão de Inquérito do Banif, em entrevista ao jornal i “Eu sou o Michael Jordan e apoio Hillary. Disse isto porque Donald Trump não conseguiria perceber a diferença”. Kareem Abdul-Jabbar, um dos melhores jogadores de sempre da NBA, no discurso de apoio a Hillary Clinton "Outro jogador disse-me que podia encontrá-lo ali, chamei um Uber e pedí ao condutor que conduzisse em círculos até o apanharmos". Nick Johnson, o primeiro jogador do mundo a terminar o Pokemon Go depois de fazer uma viagem de 110 km até Nova Jersey O QUE EU ANDO A LER Um livro muito pequeno que encaixa bem no que recomendei no meu último Expresso Curto: A grande evasão,
de Angus Deaton. Se o livro do Prémio Nobel da Economia de 2015 já era
interessante e polémico, com uma abordagem muito profunda aos índices de
desigualdade e de saúde em todo o mundo, este Sobre a Desigualdade, de Harry. G. Frankfurt é curto, seco e bem mais polémico. Harry Frankfurt é professor de Filosofia em Princeton e neste pequeno livro de 76 páginas desenvolve uma ótima (e muito discutível) tese sobre a melhor forma de combater a desigualdade.
Num estilo frontal e sem meias medidas, sustenta que a desigualdade não
se combate através da promoção da igualdade, mas sim pela luta contra a
pobreza. E sustenta que a ideia de igualdade acaba mesmo por promover a
desigualdade. Sobre a desigualdade (editora Gradiva) é um texto de filosofia moral, com profundo interesse económico e político e que vem contribuir para um dos mais interessantes debates contemporâneos, muito presente nos debates políticos nos últimos anos. Para quem gosta destes temas, sugiro ainda um dos livros que levo de férias, Pós-Capitalismo: guia para o nosso futuro, editado pela Objectiva. Neste livro,
que provocou acesso debate, no Reino Unido, Paul Mason prepara as
exéquias do capitalismo, apontando para todos os sinais de morte
iminente que nos rodeiam. Mason defende que o capitalismo está enredado num choque com a revolução tecnológica em rede e a sociedade do conhecimento e que isso abre oportunidades para uma nova economia e política. (pode ler aqui um artigo do meu colega Jorge Nascimento Rodrigues sobre o livro)
O mês está quase a acabar, mas o mundo gira à mesma velocidade em
agosto e é bom continuar de olho no Expresso Online e na SIC Notícias.
Ao fim da tarde chega o Expresso Diário e amanhã há Expresso nas bancas.
Bom dia e, já sabe, se encontrar alguém do FMI na rua, faça como no
frei Luís de Sousa e pergunte: "FMI, FMI, quem és tu?"
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