Gianni Infantino, presidente da entidade máxima da modalidade, e Fatma Samoura, secretária-geral da organização, escreveram uma carta às 32 equipas participantes na competição a pedir que “não deixem que o futebol seja arrastado para todas as batalhas políticas e ideológicas que existem”

“Por favor, vamos focar-nos no futebol”: FIFA enviou uma carta às 32 seleções do Mundial pedindo que deixem o ativismo de parte
“Por favor, vamos focar-nos no futebol”: FIFA enviou uma carta às 32 seleções do Mundial pedindo que deixem o ativismo de parte© KARIM JAAFAR/Getty

O Mundial do Catar começa a 20 de novembro, mas as últimas semanas têm sido marcadas por notícias quanto ao posicionamento, mais ou menos firme, de algumas seleções em relação aos muitos problemas que rodeiam a competição. A Dinamarca anunciou que cada golo que as suas seleções marcarem valerá uma doação para os trabalhadores migrantes do torneio, a Austrália e o Canadá já fizeram apelos públicos de mudança no Estado do Médio Oriente, os Países Baixos, Alemanha, Bélgica, Dinamarca, França, Inglaterra, Noruega, País de Gales, Suécia e Suíça terão os seus capitães a usar uma braçadeira com um coração preenchido com as cores do arco-íris, numa campanha contra a discriminação.

Recorde-se que, de acordo com uma investigação do “The Guardian”, mais de 6.500 trabalhadores morreram na construção das novas infraestruturas do Mundial desde 2010, quando a FIFA atribuiu a organização do torneio ao Catar. Quase todas as vítimas são de origem sul-asiática e africana. Milhares e milhares de trabalhadores foram obrigados a pagar taxas de recrutamento ilegais e, chegados ao Catar, não faltam casos, denunciados por organizações como a Amnistia Internacional ou a Human Rights Watch, de quem fique privado dos seus documentos e obrigado a viver em condições insalubres. Maya Kumari Sharma, embaixadora nepalesa em Doha, disse em tempos que o Catar se havia tornado “numa prisão a céu aberto” para os trabalhadores do seu país.

Além disso, no Catar as relações homossexuais são proibidas, as manifestações de carinho desencorajadas e os direitos das mulheres desrespeitados.

Perante estas manifestações de algumas seleções e os pedidos de diversas organizações para que haja apoio de federações a algumas iniciativas — por exemplo, quanto ao pedido de indemnizações aos trabalhadores migrantes —, a FIFA veio, a pouco mais de duas semanas do arranque do Mundial, solicitar que os participantes deixem o ativismo de lado. Numa carta às 32 equipas que estarão no Catar que foi tornada pública pela “Sky News”, a entidade máxima do futebol deixa uma instrução clara: “Por favor, vamos focar-nos no futebol”.

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A mensagem é assinada por Gianni Infantino, presidente da entidade máxima da modalidade, e Fatma Samoura, secretária-geral da organização.

A FIFA assegura “saber” que “o futebol não vive numa redoma” e que há “muitos desafios e dificuldades de natureza política em todo o mundo, mas apela a que ”o futebol não seja arrastado para toda as batalhas políticas e ideológicas que existem". “Na FIFA, tentamos respeitar todas as opiniões e crenças, sem dar lições de moral ao resto do mundo. Uma das grandes forças do mundo é a sua diversidade e, se a inclusão significa algo, significa respeitar essa diversidade. Nenhum povo ou cultura é melhor que outro”, pode ler-se.

A organização pede que se “deixe o futebol assumir o palco principal”. Garantindo que o Mundial irá “abraçar toda a gente”, independentemente da “origem, religião, género, oritação sexual ou nacionalidade”, a entidade presidida por Infantino pede que se “una o mundo através da linguagem universal do futebol”.