Em cima da mesa do encontro entre o presidente chinês e o chanceler alemão estão temas como a invasão russa da Ucrânia, alterações climáticas e o desenvolvimento de laços económicos.

Xi Jinping afirmou esta sexta-feira a Olaf Scholz que os dois países necessitam de uma maior colaboração, numa altura em que os “tempos são de mudança e turbulência”.
Xi Jinping afirmou esta sexta-feira a Olaf Scholz que os dois países necessitam de uma maior colaboração, numa altura em que os “tempos são de mudança e turbulência”.© Kay Nietfeld - Reuters

"Também queremos abordar como podemos desenvolver a cooperação noutros temas, incluindo alterações climáticas, segurança alimentar e a crise de dívida soberana nos países em desenvolvimento", afirmou Scholz.

Esta é a primeira visita à China de um líder europeu e de um país do grupo G7 (sete maiores economias do mundo), desde o início da pandemia da covid-19, decorre num cenário de crescente desconfiança ocidental em relação ao país asiático.

No primeiro encontro desde que Scholz tomou posse, realizado no Grande Salão do Povo, Xi frisou que “como grandes Nações, a China e a Alemanha devem trabalhar em prol da paz mundial”, avançou a televisão estatal chinesa CCTV.

“Desde os princípios de respeito mútuo, a procura de uma base comum, deixando de lado as diferenças, e focando nos intercâmbios e aprendizagem mútua, as relações bilaterais não serão desviadas. E o ritmo do progresso será estável”, acrescentou o presidente chinês.

Segundo Xi, “atualmente a situação internacional é complexa. Como potências influentes, a China e a Alemanha devem trabalhar em conjunto em tempos de mudança para dar uma maior contribuição para a paz e desenvolvimento mundial”.

Scholz e uma delegação de empresários alemães foram testados à covid-19 ao aterrar em Pequim esta sexta-feira, com o pessoal médico, com equipamentos de proteção a entrar no avião para realizar os testes.Está previsto que o chanceler alemão se encontre com o primeiro-ministro cessante Li Keqiang, onde questões controversas como as questões dos direitos humanos, Taiwan e as dificuldades que as empresas alemãs enfrentam no acesso ao mercado chinês estarão em debate.

Após uma receção com tapete vermelho e guarda de honra, a delegação alemã foi transferida para a pousada estatal de Diaoyutai onde ficou a aguardar os resultados dos testes, que deram todos negativo.

A política rigorosa de covid zero na China e as tensões crescentes com o Ocidente inviabilizaram a visita de líderes mundiais ao país. O próprio Xi retomou recentemente viagens ao estrangeiro.

A visita de Scholz é bem vista pela liderança chinesa, que procura fortalecer as relações com o resto do mundo depois da conclusão do 20.º Congresso do PCC, onde Xi consolidou o seu estatuto.

Com uma inflação histórica e à beira da recessão na Alemanha, Scholz procura enfatizar a necessidade de uma cooperação contínua com a China.

Apesar de o Governo de Scholz ter já sinalizado um afastamento da abordagem puramente comercial em relação ao país asiático, cultivado pela antecessora Angela Merkel, o chanceler alemão foi acompanha por uma delegação empresarial, que inclui os presidentes executivos da Volkswagen, BioNtech ou Siemens.Visita debaixo de fortes críticas

A visita de Olaf Scholz a Pequim contrariou as críticas de ativistas, analistas e membros da própria coligação que forma o Governo.

China tornou-se o maior parceiro comercial da Alemanha em 2016, com o aumento das exportações principalmente de maquinaria e automóveis. Um estudo recente efetuado pelo centro de investigação Ifo mostrou que quase metade das empresas industriais alemãs dependem das vendas para a China.

Com a guerra na Ucrânia, a Alemanha despertou para o risco de ter uma economia que depende demasiado de matérias-primas fornecidas por um estado autoritário, com o exemplo do gás russo. Há a preocupação interna de que erro se repita.

"É extremamente importante que nunca mais nos tornemos tão dependentes de um país que não partilha os nossos valores", considerou a ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, quando questionada na estação de televisão ARD sobre a China.

Há também a preocupação no Ocidente, particularmente dos Estados Unidos, principal aliado de segurança da Alemanha, sobre as práticas comerciais praticadas pela China e pelo seu histórico de direitos humanos e ambições territoriais. Angela Merkel, antecessora de Olaf Scholz, visitou a China 12 vezes nos seus 16 anos no poder, cimentando a cooperação económica entre os dois países. Já a coligação que forma o atual governo, com o Partido Social Democrata (SPD), os liberais do FDP e os Verdes, comprometeu-se a reduzir a dependência económica e fortalecer as relações com os Estados democráticos da Ásia.

Na passada semana, Scholz conseguiu um acordo que permite que a estatal chinesa Cosco compre uma participação de 24,9 por cento em três terminais no maior porto da Alemanha, em Hamburgo.

Uma decisão que levantou várias críticas. O secretário-geral do FDP, Bijan Djir-Sarai, qualificou a decisão de "ingénua", criticando o momento da viagem de Scholz à China, acreditando ser "profundamente infeliz".

Também o líder dos democratas-cristãos da CDU, Friedrich Merz, disse ao jornal Augsburger Allgemeine que Scholz "não podia ter escolhido um momento pior" para realizar esta viagem.

"A guerra contra a Ucrânia e o lado unilateral da China a favor da Rússia tornam ainda mais urgente a revisão da nossa relação", acrescentou.China é um parceiro importante

Em editorial publicado pelo jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, na quarta-feira, Scholz justificou a viagem sublinhando que a China "é, e continuará a ser, um parceiro importante", realçando que: "se a China mudar, a forma como tratamos o país também deve mudar".

chanceler alemão enumerou as "questões difíceis" que pretende abordar, como "o respeito das liberdades cívicas e políticas, bem como os direitos das minorias étnicas", numa referência aos uigures, minoria muçulmana da região autónoma de Xinjiang.

Também referiu "a situação tensa em torno de Taiwan". "Tal como os Estados Unidos e muitos outros Estados, seguimos a política de uma só China", lembrou. "Mas isto implica que uma mudança no `status quo` só pode ser feita de forma pacífica e por acordo mútuo".

Em relação à guerra na Ucrânia, Scholz insistiu na "responsabilidade especial da China como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU" e que Pequim deve "falar claramente com Moscovo sobre o respeito da Carta das Nações Unidas e dos seus princípios".

Scholz lamentou também a falta de reciprocidade nas relações económicas entre a Alemanha e a China: "Estamos longe, demasiado longe disso, no que diz respeito ao acesso ao mercado das empresas, licenças, proteção da propriedade intelectual".

O líder alemão também apelou a Pequim para que fizesse um esforço relativamente à sua política ambiental: "Sem uma ação resoluta para reduzir as emissões na China, não podemos vencer a batalha contra as alterações climáticas".

c/ agências